10 novembro 2005

Paris 2005 = guerra civil do Líbano!

Comentário esclarecedor e comovente de um libanês, postado em destaque por um blog francês sobre a questão árabe

Tradução minha

"Uma palavrinha para dizer a vocês que no Líbano ninguém está surpreso com a situação atual na França. Todos aqui esperavam por isso e infelizmente nós acreditamos que será pior nos próximos anos. Os acontecimentos são parecidos com os dos anos de 1969-1970 quando os habitantes dos burgos - os palestinos - começaram a promover agitações, queimar carros, fazer reféns etc. E a reação da França é a mesma do Líbano de trinta anos atrás.

Os partidos de esquerda vêem a solução no social; viu-se no entanto que não pode ser assim: milhares foram gastos no Líbano, mas isso só reforçou as reivindicações dos revoltosos. Eu espero que as coisas se acalmem nos próximos dias, mas sei também que esses acontecimentos trazem as premissas de uma guerra civil nos próximos anos. Pois, diante de um Estado fraco que não envia suas tropas em campo (foi o caso do Líbano nos anos 70), os revoltosos se tornam mais confiantes e melhor equipados, e os habitantes acabam pegando em armas para se defender. O resultado é a criação de milícias e fracasso total. Esse cenário é "triste" mas infelizmente foi o que ocorreu aqui. Não vejo por que não ocorrerá na França, diante dos fatos:

1- Mais de 10 000 veículos [ver nota 1, lá embaixo] queimados em 10 dias. Esse número ultrapassa o de veículos queimados em 15 anos de guerra no Líbano!

2- As autoridades sunitas [nota 2] na França emitiram uma Fatwa [notas 3 e 4] para conclamar os revoltosos à calma. Isso é muito perigoso, pois a qualquer hora pode ser emitida uma Fatwa para levá-los a se manifestarem contra ou a favor qualquer um ou qualquer coisa. Dá a impressão de que se está no Irã ou na Arábia! Nem no Líbano isso aconteceu durante a guerra.

3- Igrejas e escolas foram atacadas. É preciso reconhecer a realidade de que não se trata de uma luta de classes, é bem mais perigoso que isso. Tudo o que está acontecendo me é doloroso, até porque conheço onde isso pode dar e e não queria que vocês vivessem o que eu já vivi.

Abraços,
C.C."
Nota 1: Os jornais franceses disseram que iam "parar de noticiar esse tipo de dado por causa de sensacionalismo", que em novilíngua significa "peneira tentando tapar sol". Você pode não achar esse número em lugar nenhum.

Nota 2: Trata-se da UOIF - União das Organizações Islâmicas da França. Você sabia que existia essa entidade?
Nota 3: Atenção, segundo os blogueiros, este fato não está saindo no noticiário nem na França, imagine aqui. Se eu achar em algum lugar além da web, será raridade.
Nota 4: Ordem dirigida a muçulmanos por autoridades do islã, que precisa ser obedecida em nome de Alá. Costuma ser usada também para decretar a morte de um "infiel". O escritor Salman Rushdie recebeu uma dessas em 1989, que vale até hoje. A análise do autor do comentário é pertinente, pois, se os muçulmanos devem seguir a ordem para a paz - sem que isso seja contrariado pelas autoridades francesas, com amplo respaldo social - , por que não a seguiriam, se fosse para a guerra ou o assassinato? Note, igualmente, que a maioria dos insurgentes é composta de descendentes de muçulmanos, e supõe-se que eles a cumpram. Isso significa uma segunda separação entre eles e o país: além de não se verem como franceses, não se sentem aptos a cumprir a lei francesa, mas a islâmica - como de fato muitos deles têm afirmado durante os conflitos.
A situação é mesmo feia. O Estado francês será clivado, a não ser por um milagre.

3 comentários:

Edson Camargo disse...

Olá, Norma.

"além de não se verem como franceses, não se sentem aptos a cumprir a lei francesa, mas a islâmica - como de fato muitos deles têm afirmado durante os conflitos".

Então, que voltem para o lugar que de onde vieram. Se não são capazes de valorizar a acolhida, o recebimento de cidadania francesa e de se submeter às leis do país, o que todo francês nato deve fazer, que peguem seus camelinhos, tirem-o da chuva, façam sua caravana e voltem aos seus califados teocráticos de origem.

Agora, se quiserem ficar, que preservem a lei e a ordem. Se se comportarem como animais, a polícia francesa terá todo o direito de tratá-los como animais.

É simples assim.
Abraço do Eliot.

Anônimo disse...

Cheguei ao seu blog por causa do nome "Flor de Obsessão". Sou fascinado pelo Nelson Rodrigues.

[]s

Anônimo disse...

Norma, adorei o blog. Voltarei sempre. Um grande beijo.