28 junho 2017

Uma palavra sobre submissão feminina e igualdade

Um texto do Renato Vargens veiculado no Facebook, junto com outro do Pedro Pamplona compartilhado pelo Yago Martins - sobre os congressos femininos que sempre batem nas mesmas teclas - formam um quadro que quer nos dizer alguma coisa muito importante.

É crucial reintroduzirmos na igreja o ensino sobre submissão feminina (que não tem nada, nada a ver, com todo o sentido negativo que a palavra ganhou em nossos dias). Ao mesmo tempo, é crucial diferenciar muito bem a submissão bíblica da submissão que caracterizou determinadas épocas e que, por exemplo, gerou a imagem tão estereotipada (e detestada hoje) da mulher dos anos 1950 para trás, que deveria só cuidar do lar e não participar da vida pública de modo algum.

Nos tempos idos, como ideal, a mulher não votava, tinha pouca expressão intelectual e a vida pública lhe era vedada. Havia uma separação radical entre o mundo lá fora e a esfera familiar. A "rainha do lar" existia para comunicar beleza e ordem ao marido e aos filhos, e o resto era o resto. A feminilidade foi cortada de dimensões mais amplas e a masculinidade foi deturpada, confundida com uma força absoluta em comparação à fragilidade da mulher, também considerada absoluta.

Não é difícil entender por que esse ambiente tóxico, ao ser rejeitado, levou-nos a outro ambiente tóxico. Hoje, a mulher participa plenamente da vida pública, mas opondo-a radicalmente à esfera familiar - como se tivesse caído no conto daquela masculinidade deturpada e aceitado viver no outro extremo. Nunca a vida interior, a intimidade conjugal e a criação de filhos foram tão desprezadas como em nossos dias. Vivemos de exterioridade em exterioridade; só beleza física, carreira profissional e status social importam.

A Bíblia apresenta uma ideia muito mais bela e equilibrada da complementaridade dos sexos. A mulher não é o sexo frágil, e sim o MAIS frágil (1 Pe 3.7). Isso significa que a dimensão da fragilidade humana, universal, é expressada por ela de um modo mais íntimo e particular. Essa é uma missão muito necessária em um mundo que perdeu de vista a importância da humildade diante de Deus e da vulnerabilidade nos relacionamentos. Da mesma forma, a prioridade dada à família é para ambos, não só para a mulher - se assim não fosse, Paulo jamais teria dito a Timóteo que os candidatos a cargos na igreja deveriam antes ser bons cuidadores do lar (1 Tm 3.4). Quem inverte a prioridade, abandonando a família para cuidar da igreja, já está desclassificado. E, sempre que trata de liderança, em todos os níveis, a Bíblia deixa claro que somente Deus tem a prerrogativa da liderança absoluta: em Cristo todos nós somos iguais (Gl 3.28). A submissão feminina bíblica, portanto, é funcional e não absoluta, pois não nega essa igualdade: homens e mulheres são "co-herdeiros da mesma graça de vida" (1 Pe 3.7).

Só a cosmovisão bíblica nos faz escapar, ao mesmo tempo, da opressão machista e da deturpação do feminino - que no final são dois lados da mesmíssima moeda, uma moeda que muitas vezes não tem sido reconhecida como um instrumento duplo. Ao clamar contra o feminismo, faça-o de modo bíblico: não tire do homem a prioridade da família nem a vida pública das mãos da mulher. Na prática, isso significa que congressos femininos devem tratar de teologia e todos os assuntos correlatos - não só modéstia no vestir, submissão e criação de filhos. Significa igualmente que homens precisam se interessar tanto quanto as mulheres pela questão da feminilidade e da criação de filhos.

Complementaridade não significa separação nem oposição, mas cooperação em amor.

(Quando eu terminar o Jumper, escreverei mais sobre esse assunto, se Deus assim permitir.)

26 junho 2017

Decadência cultural

É interessante como a gente se acostuma com algumas formas culturais. A primeira vez em que vi Friends, na casa dos meus pais, achei os personagens tão apalermados quando abriam a boca que me espantei. Que diálogos eram aqueles, de gente que parecia lobotomizada? Décadas depois, ao assistir à série com o André, nos envolvemos com as tramas e lamentamos quando acabou. Do mesmo modo, "Sonífera Ilha", dos Titãs, soou amadora e grosseira quando ouvi, assim que lançada, mas hoje é uma sinfonia se comparada a Weslley Safadão e outros inferninhos musicais. Será que estamos nos rendendo à decadência da cultura e nem estamos percebendo? Em parte, creio que sim. Mesmo que vivamos em um bunker particular, somos modificados pelas ênfases do tempo, por essa simplificação excessiva, essa brutalidade formal, em suma, esse deslocamento do intelectual refinado para a crueza emocional. Nosso bunker (meu e do André) é recheado de música clássica, jazz, rock e MPB antiga, além de boa literatura e bons livros teóricos, mas não está imune aos seriados da Marvel (alguns são bons pra valer!) nem a livros mais bobinhos, daqueles que se leem de uma sentada numa viagem de avião (não consigo ler nada teórico em avião e fico dispersa demais para um Dostoievski com seus inúmeros personagens). E é para isso que servem textos como este abaixo - não para condenar a cultura popular, como espero ter ficado claro até aqui, mas sobretudo para nos lembrar de que é absolutamente impossível não participar da decadência cultural da nossa época em alguma medida. Somos seres culturais. Mesmo crentes em Cristo, somos seres culturais. Bem mais permeáveis do que imaginamos. E isso não é para lamentar (às vezes sim, mas não de modo absoluto), mas para, de modo sábio e consciente, buscar equilibrar o novo com o velho, o atual com a tradição, o fácil com o difícil, o superficial com o profundo, sempre submetendo tudo ao senhorio da Palavra que sai da boca de Deus.
Quanto aos nerds: amigos como Joey e Chandler podem ser preciosos, mas a vida fica mais agradável quando estamos cercados de gente que consegue nos ouvir até o final.
Ainda uma obs: no texto, os palavrões também indicam capitulação à época. Existe coisa mais atual, decadente e emocionalmente carregada que escrever, dar palestra, dar aula etc. com um monte de palavrão?