28 março 2007

Três definições e três notas sobre o racismo

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Escolha a melhor definição para racismo e poste sua resposta nos comentários, justificando sua opção:

( )
"Racismo é quando uma maioria econômica, política ou numérica coíbe ou veta direitos de outros. A reação de um negro de não querer conviver com um branco, ou não gostar de um branco, eu acho uma reação natural, embora eu não esteja incitando isso. Não acho que seja uma coisa boa. Mas é natural que aconteça, porque quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou.
" (Ministra Matilde Ribeiro, Seppir)

( ) "O racismo se caracteriza na medida em que você impede que o outro cresça. Isso só pode ser feito por quem tem o poder. Como nós (negros) não temos o poder, não podemos ser racistas." (Waldemar Pernambuco Moura Lima, presidente do Movimento Quilombista Contemporâneo; Zero Hora, 28/03/2007, p. 31)

( )
"Racismo é a tendência patológica de fazer menções a raça nos assuntos em que isso não é relevante, somente em benefício próprio." (Mike Adams, professor de direito e colunista do Townhall.com)

Quer saber minha resposta? Vá aos comentários.

Em nome do ressentimento

Como se sabe, a ministra Matilde Ribeiro, titular de um ministério de nome politicamente corretíssimo – Secretaria Especial de Política da Promoção da Igualdade Racial (Seppir) –, afirmou em entrevista que a discriminação dos negros contra os brancos, “muito natural”, não se configurava racismo. Assim, se uma pessoa que se vê negra (não acredito em raças, muito menos no Brasil) se recusar a aceitar a presença de uma pessoa de cor mais clara, poderá manifestar seu desagrado sem medo de sanções penais; mas não o oposto. Chame isso de justiça, mas não conte comigo para chamar também.

E não, o argumento histórico não vale. A escravidão foi praticada tanto pelos brancos europeus que queriam comprar gente para trabalhar aqui quanto pelos africanos que queriam embolsar o dinheiro vendendo povos de tribos inimigas e socialmente inferiores às deles. O pecado veio de ambos os lados e teve uma motivação mais poderosa: cobiça. Na base da escravatura está, portanto, o fator econômico como preponderante, já que o processo dependeu de uma hierarquia entre povos de raça igualmente negra, subordinação típica de sociedades tribais. Se a Sra. Ministra crê como desculpável o desagrado do negro em relação ao branco em função do passado histórico, convém lembrar-lhe portanto que o açoite não foi praticado somente por mãos brancas. O racismo é uma condição secundária desse processo, e há pelo menos um sociólogo brasileiro, Demétrio Magnoli, que confirma o que digo em artigo no Estado de São Paulo: “O que existe é uma exclusão social e econômica dos pobres — entre os quais os de pele escura e também os de pele clara. É falso definir como problema racial o que é na verdade um problema social e econômico.”

Hoje, embora a progressiva miscigenação tenha diminuído bastante a chance de sentimentos racistas por parte do brasileiro – e ser racista no Brasil não é só burrice, mas perda de tempo –, não escapamos ao fato de que todas as épocas contam com um certo número de idiotas segregacionistas, com suas desculpas absurdas para atribuir uma inferioridade intrínseca não só ao negro, mas também ao pobre, ao nordestino, à mulher, ao gay. (NÃO É o que se faz na religião: o gay não é condenado como pessoa, mas a prática homo, sim. Assim como eu posso amar um filho mas deplorar nele o hábito de contar mentiras.) Com raras exceções, o racista brasileiro não costuma encontrar respaldo social para maltratar os outros. Porém, a depender de dona Matilde Ribeiro, a partir de agora encontrará: só o racista negro.

Isso, em nome de quê? Do ressentimento politicamente correto, resposta emocional bastante admirada e estimulada pela esquerda que domina o país. “Vinguem-se com o endosso do Estado”, parecem dizer os adeptos do pensamento PC. “Mas atenção”, frisam eles, “isso só vale se o negro quiser se vingar do branco, o homossexual do heterossexual, a mulher do homem, o pobre do rico.” Como se o pecado escolhesse raça, classe, sexo. Como se negros, homossexuais, mulheres e pobres não pudessem também cometer crimes de preconceito e atentado contra a honra.

Se não houvesse tantas cabeças pensando à moda de Marx, poderíamos deixar que a lei se encarregue de simplesmente punir injúria, calúnia e difamação, não importa de quem venha. Porém, escritas sob o calor do ressentimento, as novas leis – cotas em universidades, projeto de lei contra a homofobia não são leis: são vingança. De que forma? Ora, as cotas punem o branco estudioso e esforçado, enquanto a lei da homofobia ressuscita o famigerado delito de opinião ao criminalizar o religioso que crê na Bíblia. Nos dois casos, negros e gays são tutelados como se fossem intrinsecamente mais frágeis que os demais seres humanos. (O caso de mulheres e crianças é diferente, pois precisam mesmo de proteção especial.) Acho que todos os negros e gays deveriam se insurgir contra esse evidente erro de julgamento. Os que o fazem têm o meu respeito.

Ainda que houvesse justiça nisso, uma sociedade construída sob o signo da vingança não irá muito longe.
Uma história de racismo

Eu já fui discriminada por ser branca. Deixe-me contar como foi.

Eu tinha uns treze anos à época e tinha ido ao Mc Donald's com minha prima. Enquanto ela esperava atendimento na fila para comprar o lanche, eu guardava lugar para nós duas em um sofazinho. O lugar estava lotado e as filas, enormes.

Apareceu então uma senhora negra obesa, muito gorda mesmo, acompanhada de umas duas crianças também gordinhas. Ela me pediu licença para se instalar com a turma no sofazinho. “Deve achar que estou sozinha aqui”, pensei, olhando para aquele volume humano todo e calculando que minha prima, quando voltasse, não caberia no espaço: só a mulher ocuparia quase metade do assento! Na minha inocência, muito sem jeito (como me expressar sem chamar a mulher de gorda?), tentei explicar que logo viria minha prima para se sentar ali, e que nós todos não caberíamos no sofá.

Para meu horror, ela arregalou os olhos e começou a gritar impropérios, dizendo que eu não queria que eles se sentassem ali porque eram negros. Aquilo durou alguns minutos, até que ela se cansou e foi embora. Quando minha prima chegou, encontrou-me chorando desconsoladamente. Aos treze anos, eu tinha sido maltratada em público porque não tinha a mesma cor da pele daquela senhora! O julgamento dela me marcou para sempre.

Fico imaginando a mesma situação hoje: será que aquela senhora me processaria, ou a meus pais? Será que eu seria xingada por mais gente na lanchonete? Quem pode dizer até onde iremos com essas leis esquisitas, cujo único objetivo parece ser dividir e desagregar a sociedade em dicotomias que se odeiam? Pessoas não são mais pessoas, mas brancos contra negros, homens contra mulheres, heterossexuais contra homossexuais, classe dominante contra classe oprimida. É isso que os grupos politicamente corretos não entendem, vítimas daquele a quem a Bíblia atribui o epíteto de “deus deste século” (2Co 4:4), cuja finalidade é “matar e destruir”: a pessoalidade não pode ceder ao rótulo social sem que desçamos alguns degraus de nossa condição humana. Quando a preocupação jurídica com os processos for considerada a única forma de “amor ao próximo”, estaremos bem perto do fim do mundo. A quem acha que estou sendo dura demais, explico: a moralidade do politicamente correto não pode substituir o amor de Deus. Quando tentam fazê-lo, as pessoas que professam essa nova moralidade acabam compactuando com o demônio na destruição do verdadeiro amor. Simples assim.
Fifty-fifty


Meu dentista fez uma radiografia de perfil do meu maxilar. Eu me surpreendi com o resultado: parecia a radiografia do Milton Nascimento! “Esse 'bico' é normal em descendentes de portugueses, por causa da mistura com os mouros”, explicou ele.

Reparei então que, no meu rosto, não dá para ver um “bico” como no rosto do Milton; mas, prestando-se bastante atenção, há uma protuberância na área da boca. Um restinho de bico, digamos. Adorei saber disso! O tipo de africano que eu mais amo é o tipo com “bico” – como a Nina Simone, que eu acho lindíssima.

Pois então: diante dessa mistureba toda, é ainda possível falar-se em “raças”? Com base em quê, a quantidade de melanina na pele? Não faz sentido.

É preciso reconhecer que muitas vezes a “luta pela igualdade racial” assume um teor contraditório: seus militantes alegam que “somos todos iguais”, mas na prática um bom número de ações afirmativas se caracteriza por atribuir à pele negra um valor intrínseco que muitas vezes parece superior ao da pele branca. Duvidam? Pois prestem atenção nos dizeres de uma camiseta já famosa que diz “100% negro” e pensem no seu correlato, “100% branco”. Esse correlato é ofensivo? É, muito. Na mentalidade contemporânea, “100% branco” é ofensivo porque parece significar “não tenho sangue negro no meu sangue”: uma conotação racista. Já “100% negro” não ofende, mas afirma o valor da raça negra, por causa das teorizações da ação afirmativa que formataram as consciências. Porém, o raciocínio que imbui os dois dizeres não é o mesmo? Não para os militantes, que alegam motivos históricos para alguém querer ser 100% negro e não 100% branco no Brasil. Para eles, as pessoas mais claras deveriam se penitenciar até hoje por seus antepassados racistas, enquanto as que têm mais melanina na pele podem se sentir orgulhosas da cor. Que esquisito. E racista, evidentemente: um racismo ao contrário. Se vejo um negro com uma camiseta “100% negro”, fico imediatamente triste porque, por causa da minha cor clara, sei que ele me vê como uma inimiga ou pelo menos uma descendente do inimigo. Entendeu como funciona? É o fator desagregador-demoníaco de que falei aqui.

Odeio a idéia do 100% branco ou 100% negro – a não ser, como falei em outro post, por motivos estéticos, e isto com relação a todas as raças. A maioria dos brasileiros de pele clara ou morena-clara tem negros na família e fica absolutamente transtornada com declarações e decisões de dona Matilde Ribeiro e demais membros do governo petista. “Temos que tomar partido?”, parecem perguntar. “É a cor que vale? A melanina? Mas eu tenho 'bico', minha pele escurece ao sol, meu bisavô era negro. Não posso ser a favor dos dois? Fifty-fifty? Por favor...

23 março 2007

Peter Singer e o infanticídio

Um leitor me escreveu em protesto ao post anterior, aludindo às qualificações e à fama do sr. Peter Singer. Porém, estranhamente, não tocou no assunto do infanticídio. Comecei a tecer considerações sobre isso nos comentários, mas o texto ficou tão extenso que resolvi publicar outro post.

Singer é um obcecado com a dor. A parte mais controversa de sua filosofia se baseia nesse pressuposto: se viver traz mais dor que alegrias, é melhor pôr fim à vida. Esse é o argumento que usa para defender tanto a eutanásia quanto o infanticídio em caso de doença grave, como medidas de caridade para com o próximo. Tal visão, porém, já traz inúmeros problemas. Os menos óbvios (falarei depois dos mais gritantes) decorrem da classificação de "doença grave" e da quantificação da dor alheia. Você conhece portadores de síndrome de Down felizes? Eu conheço. E pessoas com doenças degenerativas como a de Charcot, que paralisa progressivamente todo o corpo? Eu conheço alguém não só feliz, mas famoso e intelectualmente ativo: Stephen Hawkins. E esquizofrênicos, autistas, borderlines, cadeirantes, surdos, cegos... Eu conheço, conheço, conheço. E posso garantir que nenhum deles quer ser morto ou pensa em suicídio.(1)

Mas alguém há de objetar: certamente um filósofo tão renomado e reconhecido como Peter Singer considera doenças graves apenas aquelas gravíssimas mesmo, que impossibilitam qualquer manifestação de autonomia do sujeito. Certo? Errado. Singer considera graves doenças perfeitamente contornáveis, como hemofilia e infecção urinária. Hemofilia e infecção urinária? Sim, leitor, você entendeu direito. Se for incurável e um pouco debilitante, o problema entra para a categoria singeriana de "doença grave" e passa a ser motivo suficiente para que os pais e a sociedade possam dispor da vida de uma criança ou um idoso como seres descartáveis, que passam à condição de "não-pessoas", nos dizeres do próprio Singer.

Veja como ele leva a mentalidade pragmatista às últimas conseqüências em uma citação sua sobre o infanticídio:

When the death of a disabled infant will lead to the birth of another infant with better prospects of a happy life, the total amount of happiness will be greater if the disabled infant is killed ... killing a disabled infant is not morally equivalent to killing a person. Very often it is not wrong at all.

Tradução: "Quando a morte de uma criança deficiente levar ao nascimento de outra criança com melhores perspectivas de uma vida feliz, a quantidade total de felicidade será maior se a criança deficiente for morta... matar uma criança deficiente não se equivale moralmente a matar uma pessoa. Com muita freqüência, isso não é errado."

Há muitas inferências que podem ser feitas dessas afirmações, todas terríveis. Para o sr. Singer:

- O que conta é a "quantidade total de felicidade": algo indiscernível e abstrato demais diante do valor maior que é a vida de um ser humano. Temos aqui a subordinação da individualidade (pessoal) a uma mera abstração (impessoal).

- A doença torna alguém menos gente. Um hemofílico, um cadeirante, um portador de Down e um esquizofrênico são, para Singer, inferiores intrinsecamente: seres humanos de segunda categoria - ou melhor, de categoria nenhuma, já que são "não-pessoas".

- O assassinato se torna uma solução viável dependendo do contexto. Matar é justificável sob certas circunstâncias.

A civilização ocidental inteira foi construída sobre a moralidade tanto dos Dez Mandamentos - "não matarás" é um deles - quanto das regras máximas de Jesus: amar ao próximo como a ti mesmo e não fazer ao outro aquilo que você não gostaria que fizessem com você. Há algumas posturas que, por romperem a regra, ameaçam a vida e, portanto, a civilização. Por exemplo: o aborto. Você já foi um feto, certo? Gostaria que fosse abortado? Claro que não. Já foi criança? Sim, todo mundo foi. Gostaria de ser morto na infância? Duvido.

Não passa pela pragmática mente do senhor Singer - não posso escrever o nome dele sem me lembrar de que singe, em francês, é "macaco" - que, se algum outro cientista brilhante tivesse tido a mesma idéia antes dele e a implantado, o próprio Singer poderia ser morto na infância se tivesse um problema congênito qualquer. Isso é aterrorizante: alguém defender uma idéia e não considerar sua aplicação a si próprio. É fascismo, nazismo, comunismo: dispor da vida do outro como se você não tivesse parte na mesma humanidade que está no outro.

Não quero viver em um mundo onde os defeitos humanos não são suportados(2), onde evitar a dor seja um imperativo a ponto de se sobrepor ao valor maior da vida(3). Não quero viver em um mundo onde as pessoas terão liberdade para matar crianças e idosos doentes achando que os libertam de um "sofrimento inútil", brincando de Deus. Ou a vida é o valor máximo pelo qual todos nós devemos lutar, ou não vale a pena viver neste mundo e lutar pelo que quer que seja.

Além disso, só alguém muito cego não vê que as idéias do filósofo Peter Singer são apenas um trampolim para tiranias maiores. Como aconteceu com o aborto: no começo, o procedimento era benquisto apenas no caso de estupro ou ameaça à vida da mãe. Depois, estendeu-se a malformações fetais e agora abortam-se crianças até com síndrome de Down - doença com a qual se convive perfeitamente bem! Da mesma forma, na Holanda, a eutanásia foi legalizada e hoje os velhinhos desesperados estão correndo para a Alemanha, fugindo dos próprios parentes. Não duvide: a defesa do aborto, da eutanásia e do infanticídio(4) seguirá o mesmo caminho de abertura, até chegarmos a fazer como os gregos - jogar bebês aleijados no despenhadeiro.

Abra o olho para essas idéias(5) pragmatistas e aparentemente "humanitárias"! Não somos Deus e não podemos brincar com a vida.

Notas

1 Muitos crêem que as idéias de Singer são "bem argumentadas", demonstrando com isso a incapacidade de se contrapor a experiência ao discurso, ou de aplicar-se a lógica à vivência pessoal. Sequer lembram que conhecem deficientes felizes, o maior contra-argumento ao simplismo homicida singeriano. Homicida e alienado ao outro. Afinal, todo ser humano tem direito à sua vida e ao seu quinhão de dor, e ninguém pode decidir por ele se aceita ou não esse quinhão, que é aliás universal e não se restringe somente às limitações físicas.


2 Sobre a intolerância à idéia da precariedade humana e suas implicações, leia o excelente ensaio de Reinaldo Azevedo: Você é um homem ou um urso branco? E também recomendo ler o livro de Tolentino citado por ele,
O mundo como idéia, que trata poeticamente do mesmo tema.

3 Se uma das obsessões modernas é o evitamento da dor não só física, mas também emocional, talvez isso explique a onda gigantesca de ações por danos morais e a elaboração de leis e mais leis para impedir a mais simples expressão de uma idéia objetiva que possa por acaso "ferir a sensibilidade" pró-aborto ou pró-homossexualismo. Mas isso é assunto para muita pesquisa e outro post.

4 Alguns autores, muito cheios de si, afirmam que quem chama Singer de "abortista e infanticida" não entendeu nada do que realmente ele queria dizer em seus livros. Se alguém vier para cima de você com esse argumento estúpido, meu mui sábio leitor, devolva com um "auto-retrato filosófico" escrito pelo próprio Singer, que confirma o aborto como "eticamente justificável" e diz com todas as letras: "
Na Alemanha, minha defesa da eutanásia ativa para recém-nascidos com deficiências sérias gerou grande controvérsia." Abortista e infanticida, pois.

5 Vou começar a me dizer "filósofa". Não é por nada não, mas eu penso melhor que esse cara.



21 março 2007

Escândalo na universidade pública

O blog de Reinaldo Azevedo traz este mês um post sobre um teste de acesso ao curso de filosofia da Universidade Federal de Pernambuco para quem já tem um diploma. Só esse fato já é esquisito, porque para cursar uma segunda faculdade basta pedir o que chamam "reingresso", e não me consta que haja prova além desse pedido. O teste, porém, além de conter erros absurdos de português e conteúdo, parece querer medir não o preparo do estudante para o curso de filosofia, mas sim seu grau de ideologização. As questões que o compõem são aterradoras e oferecem ao leitor a dimensão do tipo de "profissional" que invadiu o ensino deste país. Como professora e estudante de pós-graduação, estou muito chocada e indignada. Precisamos apenas saber como protestar de modo eficaz para que a educação pública não só cresça em qualidade e pertinência, mas se desvencilhe de vez da ideologia - pois, quanto mais política fizer, menos interessada estará no verdadeiro conhecimento.

Não deixem de ler: Uma prova da Universidade Federal de Pernambuco e a revolução cultural do ministro Haddad

Comentário que deixei ao post:

Reinaldo,

"Ela" é a ecologia. A pessoa que elaborou a questão quis que o aluno fizesse uma associação entre o enunciado e as opções de resposta, assim: cristianismo e a primeira sentença, a Ecologia e a segunda (que começa com "Ela"), ética ambiental e a terceira. Nada muito didático, nem muito bonito, nem muito harmonioso. E ainda há os erros terríveis que você apontou: erro de conteúdo, de ortografia, a redação ruim e a politicagem despudorada que demoniza alguns autores para santificar outros.

Porém, o que me salta aos olhos com horror - e que você não mencionou - é também o endosso indireto que essa universidade dá a Peter Singer, um cientista que defende o infanticídio! Como pode um infanticida ser leitura obrigatória para uma prova de acesso à universidade?

A julgar por essa prova, será que chegaremos um dia a ter de reconhecer que a universidade brasileira é predominantemente politiqueira e anti-ética, além de oferecer um ensino de má qualidade? Será que esse dia está perto? Será que já chegou? Eu temo, temo muito.

Observação: Na prova toda (veja aqui), de 25 questões, CINCO se referem diretamente a Peter Singer. Se isso não é um endosso indireto, não sei o que é. E ainda pretendem poder discernir "homens éticos" depois de recomendar um infanticida como um grande filósofo. Isso é que é "filosofia engajada"... no que não presta, definitivamente.

12 março 2007

Novo blog, novo nome

Amigos e leitores do blog,

Esses dois anos como autora do Flor de Obsessão foram maravilhosos. Exerci minha verve crítica e literária, materializei minhas inspirações, descobri o prazer de pesquisar para escrever, aprendi bastante, ganhei a confiança dos leitores. Também fiz novos e excelentes amigos através deste espaço, e posso dizer sem medo de errar que alguns deles são os mais próximos que tenho hoje.

Com o blog, confirmei a necessidade, bastante antiga, de expressar-me de modo cotidiano pela linguagem escrita: minha vocação. Quando adolescente, sentia que me faltava apenas conteúdo e uma razão para escrever que me ultrapassasse. Encontrei-a em Deus, no Deus da Bíblia, há pouco mais de dez anos.

Depois desse tempo muito prazeroso e recompensador, este blog pede uma mudança. É Deus quem me chama para uma fase nova, de visão mais acurada, em que me afirmo como nunca uma cristã protestante conservadora. Um momento identitário importante, na contracorrente das fusões e indistinções modernas.

"Ora, mas você nunca negou que era cristã protestante", alguns de vocês dirão. É verdade. Mas o blog sempre olhou em várias direções, desde o início. A maior evidência disso é o nome Flor de Obsessão, uma homenagem a Nelson Rodrigues. Católico mais assumido no fim da vida, Nelson detestava os crentes ainda por cima. Os textos que me inspiraram quando mais nova e quase convertida - artigos da coletânea O óbvio ululante - dedicavam-se sobretudo a marretar as idéias de esquerda. Ora, marretar idéias de esquerda sempre fará parte do que tenho a dizer, mas nem de longe pretendi que fosse minha meta principal.

E qual minha meta principal? Anunciar Jesus como Aquele que deve ser amado com todo o coração, toda a força e todo o entendimento, sabendo que esse versículo se desdobra em muitas implicações - das quais a que mais me salta aos olhos é a ausência de fronteiras entre o amor-sentimento, o amor-atos e o amor-razão. Com a graça de Deus, quero ajudar os cristãos brasileiros a unir as pontas do que se afigura, muitas vezes, como uma incurável esquizofrenia. Essa tarefa é grande - implica desvelar as formas de esquizofrenia que também estão em mim, à luz da graça de Deus - e a considero a mais importante, sempre. Nelson Rodrigues, por mais genial que tenha sido, não fez isso. Muitos conservadores não fazem isso. Dedicam-se demais à política e se esquecem do essencial, daquilo que vai ficar por toda a eternidade: o conhecimento de Deus, possível apenas para quem ultrapassa a barreira inicial das meras informações sobre o cristianismo e se lança na aventura - íntegra - de andar com Ele. Porque é preciso andar com Deus para adquirir esse conhecimento a uma só vez absoluto e pessoal, tendo a certeza louca, desvairada (para o mundo), de que falamos com Deus e de que Ele nos fala. Eu tenho essa certeza. Não porque haja algum mérito nisso, mas porque Ele foi poderoso para me salvar e me reconciliar com Ele mesmo, convidando-me a uma vida de santidade. Simples assim.

Nascido sob a égide de uma crítica política e cultural, portanto, este blog desabrochará sob a profundidade da revelação de Deus em Jesus Cristo. Isso não significa, de modo nenhum, que passarei a amar aquilo que odiava; não duvidem, não houve mudança alguma nesse sentido. Significa, sim, que passarei a falar mais do que amo - uma ênfase mais que feliz, arrebatadora, parte de uma autocrítica ruminada há quase um ano, cujos frutos colho agora. Quero e preciso fazer essa correção de rota, algo como uma operação de miopia, recebendo de Deus todo o necessário para enxergar - e mostrar - melhor.

Outro nome sinalizará então essa mudança. Ainda não sei bem qual é; enquanto isso, dedico-me à tese durante os próximos meses.


Portanto, não os abandonarei, queridos leitores. Apenas aguardem e continuem se inscrevendo no grupo de difusão. Eu volto.


09 março 2007

Vale a pena ler e reler

Como o personagem Jason dos filmes de terror, algumas questões sempre voltam, e tratar sempre dos mesmos assuntos pode ser muito entediante. Ao mesmo tempo, não posso dedicar-me a temas sérios e copiosos agora - o blog ainda está em um semi-recesso, digamos. Preciso então requentar posts antigos (sorry, amigo leitor) ou indicar autores competentes para manter o blog na arena, enfrentando as leoninas bobagens seculares que insistem em fazer circular.

Recomendo que leiam, então:

- Meu post sobre o Projeto de Lei contra a "homofobia": tudo o que eu poderia dizer sobre esse projeto e as implicações de sua iminente aprovação está ali.

- O artigo do Dr. Paul L. Maier, Ph.D e Litt.D do Departamento de História da Western Michigan University, sobre a "recente descoberta" (há mais de vinte anos!) da "tumba de Jesus" (hahaha). Só alguém excessivamente crédulo na mídia moderna pode achar dignos de atenção esses sucessivos revivals de notícias e documentários pseudocientíficos que, todos, pretendem destruir a credibilidade do cristianismo com um peteleco e muito papel celofane marqueteiro em volta. Resta-nos sacudir os ombros ante a pobreza das "evidências" e dos argumentos do lado de lá e também nos indagar sobre a autoria desses ataques: mero sinal dos tempos ou algum Big Brother da mídia mundial? Mistério.

- A tradução de minha autoria do artigo de Armando Valladares sobre as arbitrariedades e os sofrimentos por que passou em uma prisão cubana, sob Fidel Castro. Agora que a morte do ditador se anuncia, não devemos deixar que a falta de informação que nos circunda sobre a ilha-gulag dê ensejo a que Fidel seja alçado à categoria de mártir pela causa da liberdade.

05 março 2007

O gosto pelo diferente


Reinaldo Azevedo escreve em seu blog que “Euclides da Cunha estava convicto, junto com os cientistas, que a miscigenação respondia, em boa parte, pela idiotia que constatava nos seguidores de Antonio Conselheiro”. Bom, não acho que a miscigenação seja causa de problemas mentais, mas devo me confessar um pouco racista sim – uma “racista estética”, se tal coisa existe.

Explico-me: sempre tendo a achar mais bonitas as raças... como direi? Não “puras” (como classificar a pureza? Impossível, desde a descendência de Caim), mas cujos traços são fortemente predominantes. Assim, fico embasbacada diante de um japonês esguio e delicado, um loiro branquelíssimo de olhos azuis ou um negro bem negro, alto, forte, rosto tipo Milton Nascimento, com aquele “bico”: a arcada dentária para a frente. Esses tipos me fascinam. Quando vinham à faculdade uns grupos de estudantes africanos para intercâmbio, eu sempre me permitia contemplá-los de longe – e sim, as roupas coloridas faziam parte do fascínio.

De onde tiro logo o autoquestionamento: gosto por raças que pelo menos parecem “puras” ou apenas um gosto pelo diferente? Porque, no país da miscigenação, os tipos fortes são raridades. O Brasil já me cansa: tudo tão misto, tão diluído – tão morno também, se pensamos nas idéias. Eu quero a diferença forte, os contrastes, as discussões acaloradas. Tudo é melhor que essa paz de plástico que nos rodeia.

Não, não quero racismo nem brigas; mas também não quero a indiferença do homem cordial, que contorna as diferenças sem aprender a amá-las.

P.S. Para quem ficou curioso, as personalidades que acho mais bonitas hoje não são George Clooney ou Rodrigo Santoro, mas sim David Bowie (o roqueiro inglês branco-azedo de olhos cada um de uma cor) e Gary Dourdan (o CSI negro e musculoso de olhos verdes). Dourdan é quase unanimidade, embora haja quem o compare ao ator-escritor casseta Hélio de la Peña – de fato, uma grande injustiça! Mas, quando falo em Bowie, as amigas costumam fazer careta e torcer o nariz. Tudo bem: fujo das unanimidades também estéticas, assumidamente.