09 outubro 2011

Um balanço da Conferência Fiel 2011

Como trabalho em casa, em uma tradução e, agora, em meu livro para a Vida Nova, pude assistir por internet a quase todas as pregações e os workshops da Conferência Fiel sobre Evangelização & Missões deste ano. Vou tentar descrever em poucas linhas o quanto esses dias foram abençoadores para mim.

No dia 4 de outubro, o pr. Mauro Meister trouxe uma palavra primordial para quem se interessa pelo tema, apontando com vigor um erro corrente entre nós: as missões não são a razão principal da igreja; a glória de Deus, sim, vem em primeiro posto. Por que precisamos sempre repetir essas coisas? Por termos a tendência de considerar as missões (campanhas de evangelização, pregações em estádios, implantação de igrejas em terras distantes, o próprio pastorado etc.) como A missão. É como se o pai de família, que nunca saiu nem de sua cidade, que cuida bem de sua casa, da esposa, dos filhos - principalmente no aspecto espiritual, pastoreando com amor seus corações -, não estivesse glorificando tanto a Deus quanto um megaevangelista em cruzadas internacionais. Somos criaturas com tendência para valorizar o exterior mais que o interior; há um fariseu à espreita em cada um de nós (e se você pensou agora, “em mim não”, cuidado, hein!). Na verdade, no momento em que o ladrão na cruz dirigiu aquele pedido a Cristo, ele glorificou a Deus, tanto que Cristo o levou consigo para o céu. E o que ele fez? Nada, e, ao mesmo tempo, tudo: creu em Cristo e acolheu a vida eterna no coração. Precisamos lembrar sempre nossa verdadeira finalidade, que é glorificar a Deus, seja silenciosamente, seja sob os holofotes. Além disso, se as missões fossem a razão principal da igreja, seríamos pobres legalistas pragmáticos, só pensando em fazer-fazer-fazer, imprestáveis para a adoração e o amor – sequer teríamos tempo para a quietude com Deus e o pastorear íntimo dos nossos queridos (e muitas vezes não temos mesmo: por isso é tão importante rever nossas prioridades!).

Essa ênfase na glória de Deus, algo fantástico e tremendamente necessário em uma conferência sobre missões, foi confirmada novamente na pregação de Piper sobre o primeiro pedido de Jesus no Pai Nosso: “santificado seja o Teu nome”. Tudo ocorre primeiro no coração. A interioridade deve ser o primeiro local da santificação do nome de Deus; depois, levamos isto para fora, para as "missões". Por isso, um trabalho imenso de sondagem de ídolos deve ser feito, todos os dias. Se nosso propósito último não for glorificar Seu nome, precisamos pedir para que seja. Oh Deus, sonda e destrói os ídolos do nosso coração!

A pregação do pr. R. W. Glenn também buscou guardar-nos do farisaísmo, descrevendo a sutileza das armadilhas demoníacas que podem transformar nosso amor pela Palavra em um indicador de autojustiça. Anotei quase palavra por palavra de alguns trechos: “Nossa tendência é ver a correção doutrinária como algo que nos dá uns ‘pontinhos’ diante de Deus. Somos tão facilmente afastados da graça, confiando na autojustiça! Nós nos sentimos culpados quando as coisas vão bem em um dia em que pecamos; sentimos a necessidade de compensações pelo pecado; tentamos muitas vezes apaziguar nossa consciência culpada com nossos próprios recursos. Tudo isso é um substituto para Cristo. Temos que nos arrepender dessa autojustiça. Temos que nos arrepender por ficarmos desanimados com nossos pecados, pois esse desânimo é um sinal de nossa recusa ao que Deus fez por nós na cruz.”

Muito ainda haveria por dizer das demais pregações de Augustus Nicodemus, Franklin Ferreira e Stuart Olyott. Mas, para não me estender muito, passo a dizer de forma geral como essas palavras maravilhosas me impactaram. Chorei com várias pregações, vibrei com outras, fui inspirada por outras a escrever trechos de meu livro para a Vida Nova. Descobri dentro de mim um certo culto ao conforto emocional, que me faz sentir paralisada e temerosa quando penso em perseguições e martírios, e com muita tristeza pedi a Deus para me livrar desse ídolo. Ontem, confessei pra mim mesma que estou com saudade de ler mais a Bíblia (a gente faz culto doméstico, eu estudo em casa, mas faz tempo que não me entrego a uma leitura por horas, e tive saudade disso). Esses foram alguns dos frutos da Conferência - fora os que não sei, e só Deus sabe. Que Ele seja louvado!

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Uma bronca: li em redes sociais por aí algumas reclamações sobre a Conferência. A pior delas foi: "não teve novidade". De fato, a ênfase na glória de Deus em primeiro lugar não é novidade alguma. A Bíblia, então, está por aí há uns dois mil anos… Novidade, de fato, não tem. Mas tem a “novidade de vida” que o apóstolo Paulo nos recomenda: “Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida” (Romanos 6.4). Ora, o que é andar em novidade de vida? É matar todo dia o velho homem dentro de nós, lançando mão dos meios de graça que Deus nos proporciona: a oração, a comunhão, o contato com a Palavra. É cuidar para que permaneçamos firmes na graça de Deus, sabendo que essa graça nunca é totalmente experimentada e nossa tendência natural é fugir dela. Morrer para a morte do pecado, morrer com Cristo e ser ressuscitado por Ele, espiritualmente e, no final dos tempos, fisicamente – essa é toda a novidade de que precisamos! Se não vibramos mais com a única e maior novidade para nossas almas, devemos não apontar acusadoramente para o pregador, mas para a possível frieza de nosso coração. Já passei por uma fase assim, de “tédio espiritual”, e acabei concluindo que no fim o problema era meu mesmo. Esse é o primeiro ponto. O segundo é que as redes sociais precisam ser utilizadas para algo mais edificante. Não acho nem bom, nem justo, nem proveitoso esse tipo de crítica em público. Fica a dica para quem esquece que as redes sociais são palcos diante das multidões, e fala como se estivesse na sala de casa, de pijama e chinelos.

P.S. Não deixe de ler o empolgante relato de Augustus Nicodemus sobre as pregações de Piper no Brasil!