30 dezembro 2014

Rossini e Ray Conniff



Desconheço peças instrumentais tão engraçadas quanto as de Rossini ou Ray Conniff. Apesar das muitas características que os distinguem - época, estilo, o primeiro compositor e o segundo arranjador - , ambos são mestres em apresentar aos ouvintes o ridículo inerente à condição humana. (Aqui penso, sobretudo, na abertura de La Gazza Ladra - vídeo acima - e em Brazil.) Mas assinalo uma diferença fundamental: enquanto Rossini me emociona, Ray Conniff apenas me faz rir. E, à parte as qualidades musicais, talvez seja dessa natureza o abismo que os separa - o ridículo de Conniff, provavelmente inadvertido, resulta do contraste que há na abundância sentimentalista executada com perfeição formal; já o ridículo de Rossini é multifacetado como uma cosmovisão, com seus aspectos heroicos, trágicos, líricos, e subjaz às narrativas de todos nós.

24 dezembro 2014

Natal com Bach





Não pretendo afirmar que é errado comemorar o nascimento de Jesus. (...) Sim, dou graças a Deus pela época do Natal; graças a Deus pelo amolecimento que ela traz aos corações duros; graças a Deus pela identificação que proporciona às crianças pequenas a quem Jesus tomou em seus braços; graças a Deus, até mesmo, pela tristeza estranha e doce que nos traz, juntamente com suas alegrias, quando pensamos nos entes queridos que se foram. Sim, é assim que devemos celebrar o Natal, e que Deus nos dê sempre um coração de criança para que possamos celebrá-lo corretamente. Mas, sobretudo, meus amigos, não é o Natal o maior aniversário da igreja cristã. Não é tanto o nascimento de Jesus que a igreja comemora, mas sim, de modo principal, a sua morte.
Essa citação de Gresham Machen exprime perfeitamente bem meus sentimentos sobre o Natal. Faço um jantar especial e troco presentes, sim, mas tenho muito vívidas em meu coração as palavras de Jesus na última ceia (Lc 22.19-20) - mais um dos estranhos e lindos paradoxos da fé cristã, inserido no paradoxo maior que declara: só vivemos porque nos alimentamos de sua morte! Para ajudar você a refletir nisso, ofereço aqui o vídeo legendado de "A Paixão segundo São Mateus", do nosso irmão luterano Johann Sebastian Bach, que em sua música harmoniza como poucos verdade, bondade e beleza.

Feliz Natal!

10 dezembro 2014

Homeschooling: vote sim!

Há uma pesquisa no site do Senado que indaga:

"Você concorda com o projeto que prevê a possibilidade de a educação básica ser feita em casa?"

Se você está alarmado com a má qualidade da educação no Brasil e deseja que os pais brasileiros tenham um direito já garantido em vários outros países, vote SIM!

Na verdade, a proibição ao ensino em casa é ilegal, de acordo com Henrique Cunha de Lima, procurador do Ministério Público de Contas do Estado do Rio de Janeiro: o Brasil assinou tratados internacionais que são superiores ao ECA e à LDB (veja aqui). Mas precisamos de mais facilidade jurídica, pois muitos juízes não estão dispostos a abrir mão da ideia de que o Estado é o mais importante educador das crianças brasileiras - o que é um absurdo e deve ser tratado como tal. O que começou como direito não pode se transformar em obrigatoriedade!

Liberdade para homeschooling já!


02 dezembro 2014

Ódio à verdade

Eu sei que faz tempo, mas não dá para esquecer Jean Wyllys fantasiado de Che Guevara para uma foto. Consta que ele ficou bravo por ser criticado. Eis o que ele disse:

O argumento de que "Che Guevara era homofóbico" além de empobrecer uma rica biografia e de simplificar uma personalidade complexa – e só ignorantes são capazes desse reducionismo constrangedor – não leva em conta que em sociedades capitalistas como a nossa e dos EUA os homossexuais são vítimas não só de discursos de ódio, mas de homicídios numa proporção assustadora...

A coisa já começou mal: "O argumento de que ‘Che Guevara era homofóbico’..." Não se trata de um "argumento", mas sim de um fato, que não escaparia ao conhecimento de Wyllys caso ele fizesse questão de conhecer melhor a pessoa por trás do símbolo. O escritor cubano Guillermo Cabrera Infante, em Mea Cuba (editado no Brasil pela Companhia das Letras), conta uma história que ilustra o ódio que Guevara nutria por homossexuais. Na década de 1960, em visita ao embaixador cubano na Argélia, Che viu na estante da biblioteca as Obras completas do poeta Virgilio Piñera e esbravejou "Como você pode ter o livro dessa bicha na embaixada?", jogando um volume contra a parede. Temeroso, o pobre embaixador jogou os livros no lixo.

Eu só fico pensando... Os militantes do lobby gay têm os cristãos como grandes inimigos, porque cristãos consideram a Bíblia sua base de fé e acreditam que o homossexualismo é pecado - um dos muitos pecados que fazem parte da natureza humana desde a queda. Trata-se de uma categoria TEOLÓGICA que tem sido objeto de muito malentendido por aí. Dizer que o homossexualismo é pecado não equivale a aprovar qualquer tipo de violência ou repressão contra os gays, pois sabemos muito bem que só Deus pode lidar satisfatoriamente com o pecado humano. Chamar o homossexualismo de "pecado" significa apresentar a possibilidade de perdão a pessoas que não estão felizes com suas pulsões homossexuais.

Dificilmente você vai encontrar um cristão esclarecido que aja como Guevara agiu. Pode perguntar a qualquer cristão que goste de literatura: você deixaria de ler Marcel Proust, Oscar Wilde e Tennessee Williams, por exemplo, só porque esses autores são gays? A resposta será um sonoro NÃO. 

No entanto, Jean Wyllys - sim, o aguerrido lobista LGBT Jean Wyllys - desculpa Che Guevara com as palavras "rica biografia", "personalidade complexa" e "reducionismo constrangedor", mesmo tendo ele feito algo que nenhum cristão digno de seu Mestre sonha em fazer: condenar um poeta gay à lata do lixo.

Dois pesos, duas medidas. Claro, porque o símbolo rende muitos dividendos ideológicos e deve ser preservado a qualquer custo. Sacrifique-se a verdade, por que não?

E ainda querem poder para legislar "crimes de ódio" no Brasil, inocentando um assassino que censura poetas e agride leitores, mas condenando um pastor inofensivo que pregue em Romanos 1 sobre pecado e perdão.


26 novembro 2014

Da telinha aos livros

 
Em meados dos anos 1970, por causa da tv, eu já estava familiarizada com os personagens do Sítio do Picapau Amarelo quando, na casa da minha avó, encontrei pelos cantos os livros antigos de Monteiro Lobato que haviam sido do meu pai. Claro, comecei a ler imediatamente: eram histórias do Sítio! Estavam amarelados, com alguns buraquinhos de traça, e tinham um cheiro característico que passei a amar. Continham apenas duas ou três ilustrações em preto e branco: eram os singelos desenhos de André Le Blanc, que eu admirava não apenas pelos traços (mais realistas, se comparados a outros desenhos infantis), mas porque sua Emília, ao contrário da figura coloridíssima que aparecia na televisão, era fiel à descrição do autor em Reinações de Narizinho: morena de cabelos curtos espetados e vestido simples, feinha até. O texto vinha em uma ortografia antiga que me fazia sempre tropeçar na pronúncia das palavras desconhecidas, pois não havia acento em nenhuma proparoxítona. (Foi com espanto que, anos depois, soube como se diziam algumas delas!)

Faz anos que não vejo televisão, mas desconfio de que não há hoje programas para crianças com essa finalidade tão nobre e desinteressada: levá-las da telinha aos livros, inclusive dotando-as de capacidade crítica pela inevitável comparação.

E, apesar das diferenças ortográficas, nunca me cansarei de dizer que o autor a quem mais devo meu português continua sendo Monteiro Lobato.

 

 

20 novembro 2014

Rosa e as pirâmides

Guimarães Rosa aconselhava jovens escritores: "Façam pirâmides, não biscoitos." Ainda era vivo quando Nelson Rodrigues colocou na boca de um personagem o seguinte comentário: "O que é a obra de Guimarães Rosa, senão uma pirâmide de confeitaria?" Tremendamente injusto, mas muito engraçado.

Lembrei-me disso agora, ao comprar para Kindle dois livros do Rosa: Tutameia e Estas estórias. Estão por um preço ótimo na Amazon! "Meu tio o Iauaretê", em Estas estórias, é um dos melhores textos literários que já li na vida. Mas fiz essa avaliação aos vinte e poucos anos. Quero ver o que vou achar agora (algo me diz que continuará sendo um dos melhores textos literários que já li na vida).




11 novembro 2014

Reminiscência

Organizando meu iTunes, fui criar uma lista com músicas de Paul McCartney, quando me deparei com um leve mal estar: não combinava misturar as músicas que eu ouvia quando menor (Another Day, Pipes of Peace, Coming Up) com as músicas que passei a conhecer mais recentemente (Ram On, The Back Seat of my Car), mesmo que fossem da mesma época.
Por quê? Pensei melhor e construí rapidamente uma pequena teoria - que, na pior das hipóteses, só se aplica a mim mesma. Quando somos menores (infância e parte da adolescência), o contato com a cultura é também uma busca identitária. Nós nos projetamos para nos encontrar no outro. No caso específico de Paul ou dos Beatles, quando ouço aquelas músicas marcadas pelo tempo, sinto bastante prazer ainda, mas preciso estar em uma certa "onda" nostálgica. Ou narcísica: é como se a música estivesse se entranhado tão profundamente em mim que eu a ouço vinda do meu próprio corpo, não das caixas de som. Como quem revisita antigos cadernos e lembra de certos sentimentos, certos cheiros, detalhes esquecidos de certos ambientes.
É um processo totalmente diferente da escuta atual, que não me parece tanto uma projeção, mas o movimento inverso: de acolhimento de um outro que se agrega em mim, mas permanece outro. E esse processo coincidiu, no meu caso, com a entrada na fase adulta. Por exemplo, ouço Dave Brubeck desde os meus dezoito anos, e ainda ouço do mesmo jeito. Mas a maioria das músicas dos Beatles, que comecei a ouvir aos nove anos (e era beatlemaníaca aos quatorze), talvez sejam para sempre reminiscência.

03 novembro 2014

Reeleição e lições de Downton Abbey

Fiquei em silêncio durante a maior parte da fase de propaganda eleitoral. Não acompanhei debates, nem dos candidatos, nem dos formadores de opinião. Considerei que já havia falado tudo o que se havia para falar, em todos esses anos de blog. Munidos dos princípios expostos ali, meus leitores saberiam o que fazer; eu não precisaria ser explícita. E assim procedi. Cuidando das necessidades mais concretas de minha casa, permaneci calada, aguardando qual seria a vontade de Deus para o país.

E, nos momentos de descanso, comecei a assistir à série britânica Downton Abbey. Justo no dia das eleições, terminei a primeira temporada e vi o primeiro episódio da segunda, em que se inicia a Primeira Guerra Mundial. Emblemático. [Atenção: segue SPOILER do final da primeira temporada] Na casa de Lady Grantham, um dos personagens que se mostram mais vis, o volante Thomas, alegra-se porque vê no caos uma oportunidade de mudança. Sua visão pragmática e egoísta combina com seu comportamento até ali: valia tudo para conseguir alguma ascensão social. Tentara chantagear o amante aristocrata e derrubar com mentiras o colega que o vira roubando vinho. Sem sucesso, sente-se atraído pelo trabalho no corpo médico do exército. Não dá mostras de patriotismo nem solidariedade: sua esperança é deixar de ser criado. O sofrimento que advém do conflito não parece comovê-lo - assim como não o comovem minimamente as mortes da criança que nasceria na casa, nem da mãe de outro dos criados.

Mais matizadas são as personagens Mary e Edith, filhas do casal Grantham. São moças com seus caprichos, mas capazes de atos desinteressados. Porém, a rivalidade que nutrem entre si é tão grande (Mary é a preferida e provoca a desdenhada Edith) que as leva a decisões odiosas. Antes de deflagrada a guerra, Edith havia conseguido estragar a reputação de Mary espalhando um segredo; em retaliação, Mary conta uma mentira ao pretendente da irmã que o faz desistir da proposta. Quando vem a grande guerra, ambas estão sozinhas e sem perspectivas - a guerra menor entre elas havia promovido destruição. 

Nesses tempos de coletivismo e acirramento de conflitos, eu queria que não esquecêssemos que, para Deus, todas as guerras têm a mesma importância. Ou melhor: que todas as guerras derivam daquela fundamental, inaugurada na Queda e travada no coração contra o próprio Deus. Sim, precisamos nos engajar, de modo honesto e sem pecado, na "guerra" da oposição a este mundo, e isto inclui lutar contra as cosmovisões que mentem sobre Deus e os homens - a mais poderosa delas, hoje, insiste que o Estado deve ter o poder sobre tudo, inclusive a consciência, ideia encarnada, infelizmente, pelo partido que venceu esta eleição. Por outro lado, nada nos fará mais infelizes e nos deixará mais longe da vontade de Deus que enxergar somente as guerras exteriores, fantasiando-nos de soldados enquanto permanecemos alheios à inimizade que faz cama dentro de nós, solapando crescimento espiritual, relacionamentos e atos de bondade.

Um dos primeiros atos da presidente reeleita foi retirar símbolos cristãos de seu gabinete - um sinal inequívoco de que a cordialidade forçada com católicos e protestantes logo cederia a declarações de guerra. Visto que boa parte dos evangélicos se opôs ao partido governista, podemos esperar vislumbres da face irada de Leviatã. Na série, Matthew diz a Thomas: "A guerra tem um jeito de separar as coisas que importam daquelas que não importam." Grande pensamento para nós, cristãos, diante da perspectiva de mais quatro anos de PT no governo.

Acima de tudo, lembrar-se disso a partir deste fatídico outubro de 2014 - "aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor" (1Jo) - será um antídoto poderoso contra o esfacelamento social e moral promovido pelas convicções socialistas do governo reeleito. Nada de ecoar as inimizades entre ricos e pobres, brancos e negros, heterossexuais e homossexuais, paulistas e nordestinos, mas sim repudiar com todo conhecimento de causa o "politicamente correto", produtor de bodes expiatórios e violência. Se não queremos sucumbir em uma atmosfera de perpetuação de conflitos e fortalecimento estatal, devemos orar e buscar que toda ação, toda palavra, todo desejo e todo pensamento brotem de um interior renovado por Deus. Só assim nossa oposição terá chances de êxito.


* * *

Em um blog petista, as coisas são ditas às claras: o Estado se apresenta como o deus mais poderoso, que deve controlar as instituições religiões de um país. Isso você não vai ouvir tão cedo da presidente, nem do líder do partido, mas quem estuda de fato o socialismo sabe que é assim. Veja:
Precisamos salvar o Brasil do atraso, e fazer a defesa enfática de um Estado laico, que só será possível com a eleição de Dilma Rousseff. A Igreja é que deve se submeter ao Estado, e não o contrário. Este caminho já foi traçado pelo companheiro Hugo Chávez na Venezuela: depois de sofrer uma campanha sórdida como a que estamos sofrendo agora, decretou a laicidade do Estado, e agora é o governo venezuelano que controla sua própria Igreja.
Tempos difíceis se delineiam à frente. É hora de apegar-se à Rocha com todas as nossas forças.

02 outubro 2014

"Olhos coloridos", Sandra de Sá





Lutar contra o racismo pregando o orgulho racial é um tiro no pé: só aprofunda a dicotomia. Essa música é de uma época em que os manifestos antirracistas não passavam obrigatoriamente pelo ódio desagregador do politicamente correto. Afirma a nossa humanidade em comum. E é linda!



A verdade é que você
Tem sangue crioulo
Tem cabelo duro
Sarará crioulo

15 setembro 2014

Facebook fast food

Quando você lê - Coisa boa, coisa ruim, coisa engraçada: há uma absurdamente veloz alternância de assuntos na Timeline. Você fica no máximo 10 segundos lendo cada publicação e suas emoções seguem o fluxo. Resultado: você nunca pensa nem reage profundamente. Perceba qual o seu estado mental descendo o mouse: em menos de um minuto você lê "Ufa, cheguei cedo hoje!", "Olha que lindo esse vídeo do gatinho!" e "Comunico a todos que nossa irmã faleceu de madrugada". Por estarem sempre na montanha russa, as emoções suscitadas pelo FB acabam buscando um modo mais estável, e esse modo é a insensibilidade.

Quando você escreve - No Facebook, tudo o que passa pela sua cabeça durante o dia é passível de publicação: desde torcer para o seu time até reflexões filosóficas sobre um tema preferido. Escrever pensando em publicar no Face significa que você vai ajustar o que pensa para o modo "fast food" - não só pelo pouco espaço disponível, mas porque tem todo tipo de gente na sua Timeline e você quer que todos leiam e reajam imediatamente, se não, escreveria em outro lugar. Percebe o automatismo? Preparar "comida" para todo mundo, a todo momento, gera banalização. E, quanto mais você passa seu tempo no Facebook, mais você desenvolve a mania de exteriorizar para esse faceless public tudo o que você pensa. Logo você começa a pensar exclusivamente no "modo Facebook", e todos os seus pensamentos viram fast food. Sua vida interior, em vez de Estação Gourmet, vira barraquinha de hambúrguer. 

E o lado positivo? - Por sua própria estrutura, o Facebook acaba treinando você para a insensibilidade e a banalização das relações. Isso é o contrário do que ele se propõe a fazer. Mas, é claro, há aspectos positivos na rede social: encontrar gente que não se vê há muito tempo, manter contato com leitores (no meu caso), centralizar conversas em torno de temas de interesse etc. O problema é que é muito fácil cair na armadilha da compulsão, quando todos os aspectos negativos superam os positivos.

Então eu tenho que sair do Face? - Não acho que necessariamente você deva sair do Face. Mas, se você já consegue identificar insensibilidade e superficialidade nas suas interações facebookianas, é urgente o movimento inverso: o Facebook precisa sair de dentro de você.

Mas o que eu faço? - Dedique menos tempo ao Facebook. Não esqueça da vida rolando o mouse para baixo, nem pense em publicar toda hora. Perca a compulsão pelas reações imediatas dos leitores: os melhores pratos precisam de tempo para ser preparados e degustados. Se você gosta de escrever, mantenha um caderno só para você e busque registrar reflexões mais longas e pausadas. Preserve sua vida interior e dedique-se mais a quem você pode encontrar pessoalmente. Se está em casa com a família ou amigos, evite o Facebook e dê-lhes a máxima atenção. Ao sair com alguém, não fique consultando o celular a cada minuto; de preferência, coloque no silencioso e esqueça-o. Sempre que sobrar um tempinho de lazer, não corra para o Facebook, mas leia um livro. E, se der vontade de compartilhar tudo o que você está lendo no Facebook, anote no próprio livro seus pensamentos e depois, se achar pertinente, publique - mas depois de já ter lido um bom pedaço. Assim como ir ao McDonald's, o Facebook deve ser exceção na sua vida, não regra.

Para ler mais (em inglês): até o Steve Jobs controlava o uso da internet em casa. Ele conhecia de perto os danos do vício em computadores. Artigo inspirador!

05 setembro 2014

Contra-revolução

Nancy Pearcey postou hoje em seu Facebook um texto impressionante. Trata-se do testemunho de Mallory Millet, irmã da ativista Kate Millett, que escreveu Sexual Politics e lançou as bases do movimento feminista. Vejam o que ela conta:
"Estávamos em 1969. Kate me chamou para a casa de Lila Karp, sua amiga, para uma reunião que elas chamavam de 'consciousness-raising-group' (conscientização em grupo), um típico exercício comunista, algo praticado na China maoísta. A gente se sentava a uma mesa enorme e a líder começava uma recitação, como uma litania, tipo de oração feita na Igreja Católica. Mas aquilo era marxismo, a igreja da esquerda, imitando práticas religiosas: 
'Por que estamos aqui hoje?', ela perguntava.
'Para fazer a revolução',  o grupo respondia.
'Que revolução?'
'A revolução cultural!'
'E como nós fazemos a revolução cultural?'
'Destruindo a família americana!'
'E como destruímos a família americana?'
'Destruindo o patriarcado americano!'
'E como destruímos o patriarcado americano?'
'Tirando o poder dele!'
'E fazemos isso como?'
'Destruindo a monogamia!'
'E como destruímos a monogamia?'
A resposta do grupo me deixou pasma, sem fôlego, com dificuldade de acreditar no que eu estava ouvindo. Que planeta era aquele? Elas bradaram: 
'Promovendo a promiscuidade, o erotismo, a prostituição e a homossexualidade!'
Então, iniciaram uma longa discussão sobre como implantar esses objetivos com o estabelecimento de uma Organização Nacional da Mulher. Ficou claro que elas desejavam nada menos que a completa desconstrução da sociedade ocidental. Concluíram que a única maneira de realizar essa ambição era 'invadir e permear cada uma das instituições americanas com a revolução: mídia, educação em todos os níveis, conselhos escolares; e em seguida, o judiciário, os legisladores, os poderes executivos e até mesmo as bibliotecas."
Texto completo (em inglês) aqui.

A descrição assusta: mais de 40 anos depois, parece que a "revolução" foi bem-sucedida. Estamos de fato em uma época que exalta a promiscuidade, o erotismo, a prostituição e a homossexualidade. Mas, nessa cultura cada vez mais mórbida de desvalorização do casamento, supervalorização da carreira profissional, divórcios, adultérios, filhos abortados ou abandonados, só há UM MODO de fazer a diferença: ser discípulo de Jesus Cristo e ser cada vez mais conforme à Sua imagem. Note que eu escrevi ser: de nada adiantará focar todas as suas energias em crítica cultural e ativismo político, se você mal luta contra as tendências pecaminosas que herdamos de Adão e Eva e que nos fazem, no íntimo, desejar corresponder aos padrões deste mundo. Coloque seu conservadorismo sob a santidade que Deus requer de Seus filhos e efetua em nós segundo a Sua graça. É essa santidade que vai resplandecer neste panorama sombrio e possibilitar a eficácia de todas as suas ações externas abençoadoras, inclusive a crítica cultural. Se você sente que está vivendo uma vida cristã muito exteriorizada, ou seja, que está mais preocupado com os pecados dos outros do que com os seus, confesse isso ao Pai e peça para tornar-se mais sensível à voz do Espírito Santo. Essa é a verdadeira revolução; as demais vão passar, mas essa tem peso de eternidade.

Às minhas leitoras: desconformar-se com o mundo e adotar os padrões de Deus (Rm 12.1-2) significa conhecer muito bem a Palavra para saber o que Deus pensa sobre o que é ser mulher e o que é o casamento, aplicando-a ao seu coração. Desconfie da obsessão moderna com o currículo, os cursos acadêmicos, o salário de todo mês - essas coisas são importantes e têm seu lugar, mas não devem ocupar o coração mais do que o cuidado (exterior e interior, paciente e amoroso) com as pessoas mais importantes da sua vida.

01 setembro 2014

Caricatura

Quer a sua? Fale com Armando Marcos! (Obs. Essa postagem não é patrocinada, mas sim uma expressão de agradecimento pelo desenho tão bonito e expressivo!)

14 agosto 2014

Palestra sobre apologética

No próximo sábado, André Venâncio e eu estaremos na Igreja Presbiteriana de Pirangi, em Natal, para falar sobre apologética. Se você mora na cidade, não perca!


07 agosto 2014

"Você se torna aquilo que adora": painel com G.K. Beale





Estou completamente apaixonada pelo livro Você se torna aquilo que adora, de G. K. Beale. Para uma "criatura literária" como eu, uma abordagem global da Bíblia, com comparações minuciosas entre textos, é uma festa! Nesse painel do Congresso Vida Nova, Beale explica a ideia central do livro, contida no título e defendida a partir das relações entre Isaías 6.8-10 e outros textos, sempre sob o tema da idolatria. Em seguida, Mauro Meister e Franklin Ferreira discorrem sobre, respectivamente, a origem da idolatria em Gênesis 3 (que eu sempre abordo ao falar para mulheres) e decisões simples para reduzir a possibilidade da idolatria no culto público (pois é, porque mesmo os crentes ainda caem em situações idólatras!). Para finalizar, Beale trata da importância do tema da idolatria para nós, cristãos de hoje. Tanto o vídeo como o livro são simplesmente IMPERDÍVEIS. Estou quase chegando à metade da obra de Beale e, assim que terminar, escrevo uma resenha para o blog. Posso dizer que está me abençoando muitíssimo, e certamente terá sido um dos melhores livros de teologia que já li na vida. Aguarde (e não deixe de ler)!

04 agosto 2014

Animais, crianças e adultos

O pai se distraiu com o filho pequeno no zoo e o menino mais velho pulou para dentro da área proibida que dá para a jaula do leão e do tigre.

- Vi que a situação estava sob controle, o leão estava muito tranquilo - contou o pai.

O pai DEIXOU o menino ficar dentro da área PROIBIDA do leão e do tigre. O menino atiçou os animais, enfiou o braço pela grade e o tigre o atacou.

- Acidentes acontecem. Podia ter sido com o filho de qualquer pessoa -, comentou a mãe.

O pai DEIXOU o menino ficar DENTRO DA ÁREA PROIBIDA do leão e do tigre. O menino perdeu o braço. A opinião pública culpa o zoo.

- Eles têm a obrigação de proteger os consumidores de eventuais acidentes -, sentenciou o advogado.

O PAI DEIXOU o menino ficar DENTRO DA ÁREA PROIBIDA DO LEÃO E DO TIGRE. A opinião pública não só culpa o zoo, mas responsabiliza o animal, exigindo:

- Sacrifiquem o tigre!

O PAI DEIXOU O MENINO FICAR DENTRO DA ÁREA PROIBIDA DO LEÃO E DO TIGRE. O menino, de braço amputado, pede:

- Não matem o tigre!

Moral da história: O animal agiu conforme a natureza e a criança compreendeu isso. Já os adultos abdicaram de qualidades humanas basilares: respeito aos pais e às leis; imposição de limites na educação dos filhos; relação entre causa e efeito na infração das regras; capacidade de avaliação diante do erro; correta atribuição da responsabilidade; compaixão pelo mais fraco. E coroaram o processo de desumanização elegendo justamente o ser mais fraco - sem raciocínio e sem liberdade - como bode expiatório. Como se o tigre devesse saber que não podia atacar o menino, mas o pai não devesse saber que ensinar o filho a obedecer é um ato de proteção.

Em uma sociedade que não sabe mais como educar suas crianças, um pai dificilmente se responsabiliza quando o filho, não obedecendo, precisa arcar com as consequências de seus atos. Mas esse pai é responsável. E provavelmente será responsabilizado diante da lei.

Da próxima vez em que você pensar em enaltecer a cultura brasileira contemporânea, lembre-se dessa história e se envergonhe como eu me envergonhei...

29 julho 2014

"Armadilhas do vocabulário político" no Teologia Brasileira

Direita e esquerda, capitalismo e socialismo... Em uma época um tanto acéfala, esses termos parecem hoje mais confundir que esclarecer. Compartilho aqui o artigo de estreia do meu marido, André Venâncio, para o site Teologia Brasileira, que lança uma luz mais que bem-vinda sobre a questão.

Boa leitura!

24 julho 2014

Por que NÃO VOTAR no PT

Atenção: o texto abaixo NÃO É MEU, mas de MARCUS VINICIUS MOTTA, publicado no Facebook hoje. Resume por que nenhum cristão deveria votar no PT - nem em nenhum outro partido da esquerda brasileira que defenda as mesmas ideias: comunismo, socialismo, terrorismo.


* * *

O Brasil emitiu uma nota grosseira e ridícula contra Israel e a favor do Hamas. Chegou ao cúmulo de convocar o embaixador em Tel Aviv para esclarecimentos, o que em linguagem diplomática significa um passo antes do rompimento de relações.

Enquanto isso os embaixadores em Cuba, Venezuela, Síria, Irã, Sudão e, pasme, até CORÉIA DO NORTE, continuam com suas bundas sentadas nas cadeiras, porque, na visão do PT, nestes países tudo está perfeitamente normal.

Em resposta Israel disse que o Brasil é "irrelevante" na política externa mundial. Eu achei sensacional eles terem colocado essa política externa de fanfarra no seu devido lugar. Mas você ficou chateado com isso?

Direito seu, só não culpe Israel, reclame com o Sr. Lula e sua política externa praticada de quatro para qualquer aiatolá ou bolivariano que aparecesse, e com a "doutora" Dilma e sua leniência (pra não dizer paixão) por ditadores, genocidas e terroristas islâmicos.

Temos uma ditadura em formação (e quase completa) aqui do lado. Opositores são presos naquele país por fazerem discursos, deputados cassados sem que nada exista contra eles, uma suprema corte dominada, a justiça eleitoral corrupta. Parece até o enredo da trama que o PT engendra para o futuro do Brasil, mas já acontece hoje na Venezuela.

Os terroristas do ISIS crucificam cristãos, ordenam a mutilação genital de mulheres. O ditador Assad, na Síria, usa armas químicas contra o seu povo. O Irã tortura e estupra opositores nas suas masmorras. A Arábia Saudita trata mulheres pior do que trata cães. A China censura a internet. A Rússia patrocina terroristas ucranianos que derrubaram um avião civil com centenas de pessoas. Evo Morales ROUBA uma refinaria da Petrobrás. Rafael Correa persegue jornalistas independentes. Cuba deixa dissidentes apodrecendo em prisões. Fora o resto.

Sabe o que o governo brasileiro tem a dizer sobre isso? Nada, zero, nothing, zilch. Apenas o silêncio e a concordância covarde, pusilânime, cúmplice, que envergonha todos os brasileiros porque essa diplomacia de galinheiro fala também em seus nomes.

O Hamas joga diariamente centenas de foguetes no território israelense. Não querem saber se vão acertar escolas, sinagogas, hospitais, casas de civis. Se lixam para a vida dos outros porque se lixam para as próprias vidas, já que utilizam escolas, mesquitas, hospitais e casas de civis como escudos para esconder seus foguetes.

O que o governo brasileiro disse sobre isso? Novamente, NADA. A política externa do Partido do Mensalão alinhou o Brasil a Kadafi, Omar Bashir, Manuel Zelaya, Hugo Chávez, os irmãos necrófilos Fidel e Raul Castro, Nicolás Maduro, Daniel Ortega, Ahmadinejad e agora ao Hamas.

Tudo o que não presta, o que signifique fome, ódio, morte, supressão de liberdades, confisco, intolerância religiosa, perseguição, luta de classes, guerra, vergonha, violação de direitos, etc., etc. tem o apoio automático do lulopetismo. O problema é que o lulopetismo hoje tomou o Itamaraty de assalto, se infiltrou ali como um parasita que tudo destrói. E é o nome do Brasil que vai para o mesmo ralo, o mesmo esgoto, a mesma lata do lixo histórica em que o PT merece estar.

Vamos ser bem claros nesse momento: ignorando o que ocorre na Síria, Iraque, Sudão, etc. e hostilizando abertamente Israel, o PT deixa claro: cristãos e judeus que se danem, estamos ao lado da JIHAD. É isso. Não existe outra interpretação que não seja mera distorção e mentira.

Se fosse preocupação com os "direitos humanos", esta seria demonstrada de forma ampla e irrestrita e não seletiva e canalha como é. Sorte do PT que a maioria no Brasil é muçulmana. Se fosse cristã e judaica eles poderiam levar uma merecida surra na eleição. Não? Temos maioria cristã? Então o PT merece uma boa resposta e logo.

Porque um cristão que apóia terrorista muçulmano deveria ter vergonha na cara e se auto-excomungar, se é que isso existe, se não existe que inventem.

O PT passa quatro anos tentando liberar o aborto indiscriminadamente por baixo dos panos, a maconha, enfiando o tal kit gay pela goela dos outros abaixo, criando crackódromos em São Paulo, afrontando os pagadores de impostos, aí chega a eleição e vão tomar a bênção do padre. Mas agora passou dos limites.

Essa gente que o PT corre em socorro usando o nome do Brasil é a mesma gente que persegue, realiza conversões forçadas e assassina pessoas em nome de uma tal "religião da paz".

Vergonha tem limite e o país já foi humilhado o bastante por este Exército de Brancaleone que sequestrou o Itamaraty.

A política externa do Brasil sob comando do PT é tão bonita, saudável e elegante quanto o sorriso do Marco Aurélio Garcia, o chanceler paralelo. Não vou agredir sua visão colocando a imagem aqui, mas procure no Google, é inesquecível.

Chegou a hora de uma limpeza geral.

18 julho 2014

Politicamente correto: tédio

As duas notícias que estão por toda parte desde ontem:

1 - O chef Jamie Olivier diz que brigadeiro e quindim são uma porcaria; a opinião é considerada "xenofóbica"

2 - Moça de cabelo Black Power não consegue tirar a foto para o passaporte e fica arrasada; o sistema (que tem dificuldade em reconhecer baixo contraste) é considerado "racista"

E o que você faz quando adora brigadeiro e quindim, acha Black Power lindo mas morre de tédio com essas "notícias"? Agora só acontecimentos com potencial de aproveitamento politicamente correto é que viram notícia? Antigamente, em tempos mais sábios, seriam considerados faits divers.

Não seria o caso de aceitar a opinião do chef (que aliás, todo mundo sabe, odeia junk food, simplesmente) e solicitar um sistema de fotos mais inteligente (sem chamar o computador de "racista")? Não, é necessário sair à caça dos culpados. Promover quebra-quebra moral. E lotar de ressentimento a internet, as revistas, a televisão.

Politicamente correto: tédio!

15 julho 2014

A fuga de Shin: horrores do comunismo nortecoreano





Esse vídeo apresenta um excelente resumo do livro Fuga do Campo 14, do jornalista Blaine Harden, que registrou a história impressionante de Shin Dong-hyuk - a primeira pessoa a conseguir escapar de um campo de concentração comunista tendo nascido lá. O comunismo nortecoreano tem uma característica própria que é inédita nos demais comunismos que conhecemos: à odiosa ideologia que dá poder total ao governante no poder, é incorporado um elemento que atribui hereditariedade ao mal. Isso significa que os dissidentes são punidos junto com suas famílias: os descendentes dos inimigos do governo são considerados inimigos também. Shin foi um bebê do campo de concentração e as regras que aprendeu ali foram a única formação de sua infância. Como mostra o livro, para os presos nos campos os laços de confiança são construídos em torno dos guardas do campo, não em torno dos parentes; Shin foi instruído a crer que devia obedecê-los acima de tudo, e por isso chegou ao cúmulo de denunciar sua mãe e seu irmão às autoridades. Foi obrigado a assistir à execução de ambos e apenas depois de algum contato com culturas de fora daquele ambiente fechado é que pôde experimentar e externar sentimentos de culpa. Creio que esse é o aspecto mais pungente de sua história.

Todo livro que narra a vida de sobreviventes do comunismo funciona como um ensaio a explicar como esses regimes assumem aspectos de ápice do mal humano. Mas Fuga do Campo 14 acrescenta a isso a grande estupefação de alguém que, desde pequeno, não conheceu outra realidade. Agora vivendo na Coreia do Sul, Shin ainda luta para ser feliz e adaptar-se a um mundo que não foi artificialmente fabricado. É impossível ler sem orar para que a realidade de Deus passe a brilhar em sua alma, dando-lhe enfim a verdadeira e sonhada libertação.



P.S. No Brasil, infelizmente, há apoiadores do regime nortecoreano. Manifeste nas urnas seu repúdio a essa posição: NÃO VOTE em nenhum candidato do PC do B, nem em partidos políticos que simpatizem com regimes comunistas.

09 julho 2014

Aprendendo com a derrota na Copa: um post quase coletivo

Reuni alguns amigos no Facebook para conversar sobre a derrota fragorosa de 7 a 1, ontem, para a Alemanha. Constatei antes que técnico e equipe estão perdidos, não sabem o que aconteceu. Mas, para quem entende de futebol internacional e acompanha a política brasileira, basta ligar uns pontinhos: nosso futebol refletiu o agravamento de aspectos pesados de nossa cultura. Entre os apontados, estão:

- Falta de reavaliação

Desde que perdeu a Copa em 2002, a Alemanha vem trabalhando pesado por um bom futebol. Detectou o que estava errado - um futebol calcado na força apenas - e avançou. O Brasil não conseguiu identificar seus problemas e ficou para trás.

- Falta de espírito de grupo

A Alemanha percebeu que seu futebol era monotemático: consistia em colocar toda a esperança em um bom centroavante, que devia apenas receber todas as bolas dos outros e correr para o gol. O Brasil ainda não reconheceu que precisa atuar como um time, sem que um ou dois tentem carregar todo o peso. Foi bom poder contar com Romário, Ronaldo, Ronaldinho, e agora Neymar, mas o futebol dos outros países cresceu e a tática do "um sozinho" não adianta contra um time que é todo bom.

- Falta de planejamento e preparo

Na Alemanha, escolas sérias se dedicam a formar jogadores desde pequenos. Investem em técnica, em clubes, em estádios, em preparo físico. Há um trabalho constante com estatísticas e muito estudo dos oponentes, com elaboração de táticas específicas para o time trabalhado e contra o time adversário. Por exemplo, para esta Copa, cinquenta estudantes da cidade de Colônia analisaram minuciosamente cada um dos jogadores brasileiros. Dados foram coletados durante dois anos! E o Brasil? Aposta quase que exclusivamente no improviso. Resultado: enquanto o futebol europeu se aprimora, o nosso se torna obsoleto.

- Egocentrismo e estrelismo

O meio futebolístico brasileiro, de acordo com o que me disseram, "é uma ciranda onde uma meia dúzia de técnicos está sempre assinando contratos milionários e ninguém está preocupado com gastos, receita, despesa, eficiência etc." (Rodomar Ramlow). Ganha-se muito dinheiro, muita fama, e o foco se perde. Ou seja, nosso futebol ainda está vivendo de glórias passadas, o que impede o realismo.

Agora transponha todo esse arrazoado para a política. Aqui temos uma falta de reavaliação (o socialismo continua sendo o modelo ideal para quase todos os partidos), uma esperança desmesurada na figura do governante ("Lula vai acabar com a pobreza no Brasil!") e uma mentalidade que não vislumbra o longo prazo, porque não avalia o que dá certo nos outros países e não conta com princípios econômicos e políticos confiáveis. Além disso, o egocentrismo nos leva para o buraco sob a forma da ganância, da corrupção, do marketing e da preservação da imagem acima de tudo. Não vivemos de glórias passadas porque nunca as tivemos, mas ainda somos "o país do futuro", esperando magicamente por algo que não sabemos conquistar desde já.

Não torci para o Brasil perder, mas agradeço a Deus por permitir que uma derrota tão humilhante, em casa, nos faça pensar melhor no que ocorre conosco. Ainda que não seja para mudar toda a política, pense, leitor: em que medida você reflete a sua cultura naquilo que ela tem de pior? Vamos confessar a Deus nossa falta de disciplina e foco, nosso oba-oba, nossa desonestidade, nossa dificuldade em refletir nos erros e em tomar decisões de mudança. Aproveite bem a derrota: pode ser a melhor coisa que nos acontece em muitos anos.

Update: Vale muito a pena ler esse artigo, que analisa taticamente o que aconteceu. Um dos comentários (do próprio autor) observa a estupidez da triste frase: "Brasileiro não tem capacidade de entender tática."

Agradecimentos: Rodomar Ramlow, Reginaldo Amaro, Suva Coelho, Rodrigo Bahiense Rosa, Lucas Quaresma, Roberto Vargas Jr. Desculpem se não citei todos!

27 junho 2014

J.O. Brizola: "O plano era fazer algo como a revolução cubana"

Saiu no Jornal Zero Hora do dia 21 de junho de 2014 uma entrevista imperdível com João Otávio Brizola, filho do famoso político do RS. Entre outras coisas, fiquei sabendo que Leonel Brizola esteve envolvido em uma tentativa de instalar a revolução cubana no Brasil durante os anos da ditadura, recebendo treinamento e dinheiro de Cuba para isso. A informação confirma o que outros têm dito aqui e ali, como Fernando Gabeira: esses movimentos não eram simples organizações de estudantes lutando pela liberdade, em "reação" ao poder militar. Eram grupos comunistas, com apoio do exterior, tentando implantar o sistema no país.

Esse é o ponto mais importante da entrevista, mas eu fiquei também triste ao saber que Neusinha Brizola, a filha cantora que fez sucesso na década de 1980, morreu em 2011, de hepatite C (quem lembra de Mintchura, mintchura?). Católica, seu último pedido foi a extrema-unção.


Vale a pena ler tudo. São palavras muito reveladoras tanto do modus operandi da esquerda brasileira quanto dos efeitos da ideologização na criação dos filhos. Assinalei em vermelho os trechos específicos sobre a tentativa de revolução (posto tudo aqui porque links às vezes expiram).


A entrevista do Jornal Zero Hora
Por Diane Kuhn

O arquiteto João Otávio, 61 anos, é o único filho de Leonel Brizola que sempre fugiu dos holofotes e da imprensa. Ao contrário de seus dois irmãos, José Vicente — o mais velho, morto em 2013 — e Neuzinha — a mais nova, morta em 2011 —, nunca brigou ou desafiou publicamente o pai. Era o filho com quem Brizola, nos últimos anos de vida, vinha conversando, reavaliando decisões políticas, como se estivesse fazendo um inventário de sua trajetória pública e privada.

Brizola foi prefeito de Porto Alegre, deputado e governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro. Morreu há 10 anos, em 21 de junho de 2004, aos 82 anos, vítima de infarto. Por ser testemunha privilegiada de momentos cruciais da vida do pai, João Otávio decidiu escrever um livro de memórias — ainda sem editor (confira um trecho abaixo).

Pai de João Eduardo, João Otávio vive hoje entre o Rio de Janeiro e o Uruguai, onde administra a fazenda que era da família e uma academia de ginástica. É incentivador da carreira política dos sobrinhos, a deputada estadual gaúcha Juliana Brizola, o vereador do Rio Leonel Brizola Neto e o ex-ministro Carlos Daudt Brizola (conhecido por Brizola Neto). Os três são filhos de José Vicente. Durante passagem por Porto Alegre, ele aceitou, pela primeira vez, dar uma entrevista. Falou por duas horas com Zero Hora sobre a relação com o pai, os problemas da família e os erros e acertos de Brizola.

Por que escrever um livro sobre seu pai?
Eu tinha uma história para contar. Não tem mais muitas testemunhas vivas para falar de todos os períodos da vida de meu pai. Minha mãe e meus irmãos (José Vicente e Neuzinha) já morreram. Resolvi contar do ponto de vista da nossa relação.
Ser filho de Brizola ajudou ou atrapalhou?
As duas coisas. Ajudou no crescimento profissional. Soube aproveitar as oportunidades que me foram dadas. Mas tem um legado desagradável de ser filho de um político de esquerda, particularmente dele. Tudo o que se fala e se falou de Brizola é política pesada. É política a ferro e fogo. Ou amavam ou detestavam ele. Era assim no Rio e no Rio Grande do Sul. Ainda que no Rio Grande do Sul ele tenha se transformado em figura histórica respeitada já anos antes de morrer. O que não acontecia no Rio. O legado negativo é toda a falta de ter um pai, a dificuldade de relacionamento, associada a cobranças e ameaças para que fôssemos perfeitos.
Como eram essas cobranças e ameaças?
Meu pai e minha mãe (Neusa Goulart Brizola) eram pessoas muito diferentes e, ao mesmo tempo, muito iguais. Eles se amavam muito, mas cada um tinha seu gênio. Ela vinha de uma família rica, sempre teve tudo que quis. Quando tinha 22, 23 anos, o pai dela morreu. Minha mãe teve de assumir os negócios da família junto com meu tio Jango (João Goulart, ex-presidente da República). Era uma moça bonita, elegante, inteligente e rica. Meu pai veio de família pobre, se formou à custa de muito trabalho e se fez sozinho. O casamento tinha amor, mas também teve muita conveniência política. Ela tinha surtos de poder e ele querendo conter isso. Ela estava acostumada a ter empregados. Na fazenda, eram mais de 20 famílias que viviam ali pela comida, coisas do período da escravidão. A família Goulart era vizinha de Getúlio Vargas. Tudo isso proporcionou um mundo de prosperidade e de poder para minha mãe e para o tio Jango. Por isso minha família tinha contradições muito grandes.
Que contradições?
Minha mãe queria uma coisa e meu pai queria que a gente parecesse outra. Quando pequenos, morávamos na Rua Tobias da Silva (no bairro Moinhos de Vento). Toda a família da minha mãe frequentava o Leopoldina Juvenil. Mas nós tínhamos de ir para o Grêmio Náutico União porque era mais popular. Quando o pai virou governador, foi ainda pior. Ele só queria que fôssemos num clube ainda mais popular, o Grêmio Náutico Gaúcho. Lembro que teve uma competição de natação de 50 metros. Fui participar todo animado. Só tinha um na raia, geralmente se colocavam uns cinco ou seis na raia. Esse único que competia parou na metade da prova para deixar eu ganhar. A mãe se deu conta e ficou furiosa. Ela disse "vocês nunca mais pisam aqui". Tudo porque tínhamos de fazer a imagem. Todos da família da minha mãe eram gremistas históricos. Nós tínhamos de ser colorados para parecer mais populares. E todas essas contradições apareceram mais tarde, criando problemas para mim e para os meus irmãos.
Que tipo de problemas?
De se rebelar contra ele. Eu, talvez, tenha tido um destino diferente dos meus irmãos por causa de minha madrinha, a dona Mila Cauduro, que me influenciou muito. Já o José Vicente e a Neuzinha se rebelaram muito contra o pai. Esse foi o lado ruim. O pai sempre dizia que tínhamos de lutar para conseguir as coisas, porque ele lutou, mas não se dava conta de que morávamos num palácio. Era outra realidade. E a minha mãe lutando contra isso, contra esse lado forte dele. Era difícil.
E o lado bom dos pais?
Sem dúvida que houve. Minha mãe era muito carinhosa. Ele também sabia ser quando queria.
Brizola se dedicava aos filhos?
Muito pouco. Quando morávamos em Porto Alegre, geralmente os domingos eram dedicados à família. A imagem que ficou é do pai e da mãe discutindo, e era muito desagradável. Ele adorava acampar no alto do Morro da Polícia. Uma vez, quando era prefeito da cidade, parou numa estrada que cruzava por Gravataí ou Viamão, não lembro bem. Parou na esquina e montou acampamento, fez fogo. Passamos a noite numa barraca. (risos) Meu pai era um homem do campo. E a minha mãe era a dona do campo. Essa é a história.
Eles brigavam muito?
Muito, tinham fúrias. Principalmente depois que fomos para o exílio. Ali os problemas afloraram. Eles não se davam conta, mas em Porto Alegre a gente estudava num colégio de primeira, o Farroupilha. Chegamos a Montevidéu e fomos para um de terceira categoria. De repente, estávamos num colégio onde as pessoas até roubavam dos outros. Não sabíamos direito o que estava acontecendo. Foi um choque. Não tínhamos documentação, então tivemos de ir para onde nos aceitavam. Como escrevo em meu livro, passamos de principal família dirigente de um país para bandidos fugindo da lei. Já meus primos, filhos do Jango, foram para um colégio americano. Acho que toda a natureza das histórias de contradição vem daí. Pensando bem, minha mãe casou com meu pai para fazer frente ao Jango. Já Jango casou com a Maria Thereza para fazer frente à família dele. Maria Thereza não era a pessoa que os Goulart queriam. Ela mesma dizia que caiu de paraquedas. Vai entender.
Ao contrário de José Vicente e Neuzinha, você sempre fugiu dos holofotes. Por quê?
A Neuza Maria sempre foi problemática. Era a queridinha de meu pai, filha mulher, acostumada a ter tudo o que queria. Quando era contrariada, queria virar a mesa. E assim cresceu. Lá pelo quarto ano de exílio, tive de ir para a Inglaterra fazer uma cirurgia de correção no fêmur (em razão de um acidente de trânsito), e ela foi junto. Ficou interna num colégio. Lembro que fomos visitá-la, certa vez, e Neuzinha tinha engordado muito. A mãe ficou apavorada, quis tirá-la de lá, pois estava achando horrível. Acho que foi um erro da mãe, ela estava engordando mas não tanto assim. E a Neuzinha não queria sair de lá, estava se sentindo bem. Acabaram levando de volta ao Uruguai. Colocaram a Neuzinha numa escola britânica em Montevidéu. De lá, ela foi expulsa e nunca mais engrenou. Em seguida parou de estudar.
E José Vicente?
Com ele foi diferente. A briga dele com o meu pai sempre foi mais política. O Zé Vicente sempre foi muito desastrado, não conseguia fazer as coisas direito, parou de estudar. Chegou a ser deputado federal (eleito em 1990), mas numa época em que meu pai elegia até um poste. Não me dava muito bem com ele, embora nunca tenha rompido. Com minha irmã, a relação era mais fácil. As loucuras dela não eram comigo, eram mais para atingir meu pai. No Brasil, bem ou mal, tínhamos uma vida traçada. Depois do golpe militar, tudo mudou radicalmente. Minha mãe várias vezes entrou em crise. Talvez meus pais não se dessem conta de que nós não éramos eles, que a gente ia sofrer com toda essa mudança. Faltou um pouco de psicologia.
No início do exílio, Brizola tentou voltar por meio da guerrilha. Como foi esse período?
Ele conspirou muito, recebeu dinheiro, não tenho dúvida disso.
Dinheiro do governo de Fidel Castro?
Certamente, até porque não tinha outro para dar. Cuba era o país que estava deixando o mundo nervoso. Meu pai se agarrou no primeiro cipó. Durante os primeiros quatro meses, estava tudo tranquilo. Meu pai e Jango eram muito amigos, se frequentavam o dia inteiro. Mas o pai querendo conspirar. Tinha um grupo político forte lá, de umas 300 pessoas. Darcy Ribeiro e Waldir Pires foram a Cuba fazer essa gestão (de buscar o dinheiro para a organização da guerrilha). Quando eles voltaram, lembro que era tudo em moedas de 50 pesos mexicano. Eram umas moedas de ouro. Não sei como era o trato disso. Ele montou em uma chácara perto de Montevidéu um centro de treinamento de guerrilha. No fundo, ele via a realidade que acontecia na época com muita clareza. O país levou muito tempo para acordar.
Você chegou a frequentar essa chácara?
Fui umas três, quatro vezes. Eram os piqueniques de domingo. Esse era o motivo. Daí eu via que tinha armas lá. Ele me ensinou a atirar, eu atirava em pombas. Mas, logo depois, me desinteressei. Várias vezes chegavam cargas de armas lá. Uns três meses depois, ele brigou com meu tio de forma definitiva, romperam publicamente.
Como foi esse rompimento com Jango?
Segundo meu pai contava, ele tinha um plano de explodir o entreposto da Deal (Departamento Estadual de Abastecimento de Leite), em Porto Alegre, tinha toda uma operação montada para isso e que foi abortada. E o Jango foi contra essa operação. Lembro da minha mãe dizendo que o irmão dela não participaria e que ela não queria que meu pai também participasse. E aí romperam. Só reataram em 1976, pouco tempo antes de Jango morrer. Meu pai começou a deixar o governo uruguaio muito nervoso, a pressão do governo brasileiro para confiná-lo era grande. Acabaram confinando ele no Balneário de Atlântida (nas proximidades de Montevidéu). Isso foi em fevereiro de 1965. Era um balneário deserto. Em seguida, meu pai alugou um edifício, tinha uns 20 apartamentos. Era a base perfeita, ele driblava a polícia uruguaia. Lembro dos movimentos estranhos. A emprega tinha de entregar 20 pratos de comida, dar três batidas na porta e depois sair correndo porque não podia ver quem estava lá. Nós éramos totalmente proibidos de ir do sexto andar para cima.
Você presenciou alguma cena da guerrilha?
Teve um episódio em que ele me chamou para ir junto. Foi numa praia, à noite, ao fundo uma luz piscando e daí surgiu uma lancha de motor rápido e encalha na areia. Começaram a baixar caixas de armas, entregaram um saco de dinheiro para um cara, a lancha voltou para o barco que fazia sinal e a gente foi embora. Eu perguntava o que estava acontecendo. Meu dizia "não te interessa". Ele sempre dizia assim: "Especula, especula". No final de 1966, ele fechou tudo, decidiu comprar uma fazenda perto de Atlântida e montou um tambo de leite, que nunca deu certo. Daí começou a trabalhar, passamos por uma fase de tranquilidade. Em 1968, fui para a Inglaterra fazer a cirurgia. Nos últimos anos, os negócios estavam dando certo, ele estava comprando terras, ficando mais próspero.
Quanto veio de dinheiro de Cuba?
Dizem que foi US$ 1 milhão.
Ele falava abertamente sobre isso?
Falava, mas eu tinha de arrancar. Lembro de um baú de madeira enorme com moedas de ouro. Ele se trancava nos quartos e, certa vez, eu entrei e vi um monte de moedas. E não era pouco. Outra vez, ainda em Atlântida, cheguei a uma lanchonete e havia três brasileiros bêbados falando que eram do esquema do Brizola em Caparaó. Muito tempo depois, eu perguntei para ele se havia esse plano de armar uma guerrilha na Serra do Caparaó (divisa entre Minas e Espírito Santo). Ele disse que havia o plano de fazer algo como a revolução cubana (que começou por Sierra Maestra). Mas logo viu que o povo não iria aderir, não tinha a menor chance de dar certo. As próprias pessoas que chegavam para ser treinadas vinham de terno e sapato. Para fazer uma operação de campo como essa tinha de ter experiência em montanhas. Tanto que só durou três, quatro dias.
E o que foi feito com todo esse armamento?
Ele sempre teve paixão por armas. Tanto que quando morreu encontramos em um armário do apartamento de Copacabana vários rifles. Deu trabalho se livrar dessas armas. Como você vai justificar? Chamamos um coronel da PM que era da nossa confiança e pedimos para dar um jeito. Os últimos exemplares estão lá num contêiner na fazenda. Tem uns três ou quatro. Da grande parte do armamento ele deve ter se livrado, mas sempre guardou alguma coisa.
E o que foi feito do dinheiro?
É complicado dizer exatamente, porque eu não sei. Minha mãe tinha terras em São Borja, eles tinham uma fazenda em Mostardas, conhecida como Pangaré, e que depois ele deu metade para um projeto de reforma agrária. Minha mãe, com razão, xingou ele a vida inteira por ter feito isso. Logo que veio o golpe de 1964 essas terras foram compradas a preço de nada. No Uruguai, tinham uma fazenda de 2 mil hectares, um apartamento. Eles viviam apertados, o orçamento era limitado. Já com Jango era mais folgado, até porque ele sabia fazer negócios. Meu pai sabia mais era fazer política.
De que forma seu pai se referia a Jango?
Depois do rompimento, Jango era o satã. Tanto que em uma determinada época, eu tinha uns 16, 17 anos, quis me aproximar de meu tio para ver se era isso mesmo. Foi uma das melhores coisas. Meu pai sempre chamava os adversários daquilo que eles não eram. Com o meu pai tinha de ser do jeito dele ou de jeito nenhum. Já o Jango era conciliador, queria resolver as coisas numa boa. Ficava difícil os dois conviverem pacificamente. Tanto que tomaram caminhos diferente. A mais afetada por essa briga deles foi a minha mãe. Ela era muito amiga do irmão, cresceram juntos. No início do exílio estava tudo bem, as famílias sempre juntas, mas depois, com o rompimento, ela começou entrar em baixa, a ficar deprimida, a beber.
Brizola sabia lidar com a situação?
Foi difícil. Ela precisou ser internada várias vezes, tinha crises. E ele fica muito mal, às vezes transferia a depressão, as frustrações dele para nós. E a gente não sabia para onde ir.
Como foi a expulsão do Uruguai e viagem para Nova York?
Nessa época estávamos todos muito mais maduros. O Uruguai estava ficando difícil, Jango já tinha morrido (em dezembro de 1976) e o meu pai se sentia seguido. Era uma ditadura feroz. Estava exilado há 13 anos, quieto, numa vida mais tranquila e um dia chegou um decreto do governo determinando cinco dias para sair do país. Eu já estava estudando no Rio de Janeiro, o Zé Vicente estava em Porto Alegre e a Neuzinha morava com eles. Fui para Montevidéu. Cheguei lá e senti o clima estava tenso. Quando o pai vinha voltando do escritório do governo uruguaio, após assinar o documento da expulsão, ele decidiu entrar na embaixada americana e pedir asilo. E daí é a história que todos conhecem. O pai sempre dizia que foi o próprio Jimmy Carter (presidente americano) quem decidiu pela entrada dele nos Estados Unidos.
E a chegada em Nova York?
O Jornal Nacional fez uma reportagem mostrando o desembarque dele. A partir dali, não sei direito por que, começou a contagem regressiva para a volta dele ao Brasil. Na minha opinião, foi a jogada mais inteligente que o meu pai fez na vida dele, a de entrar na embaixada americana e pedir asilo. Foi total feeling dele. Ele sempre disse isso, que queria testar a política de direito humanos do governo Carter. E funcionou.
Em algum momento o Brizola realmente se sentiu ameaçado de morte?
Nos últimos dias no Uruguai, sim. Mas nunca teve um atentado contra ele nesses 15 anos de exílio.
Brizola retornou ao Brasil com a Lei da Anistia, em 1979, dando início a uma terceira fase da vida. Como foi a volta?
Tão logo se instalou no Rio, o pai começou a montar o partido, a se movimentar politicamente. E minha mãe voltou a entrar em depressão. Dizia que não era isso que esperava, que queria voltar para a fazenda no Uruguai. Ela adorou o período em que estiveram em Nova York, porque lá estava ao lado dele o tempo todo. No Rio ela não conseguiu acompanhá-lo, e daí não se recuperou mais, nunca mais voltou a ser a mesma. Por pouco eles não se separaram. Ela não conseguia seguir o tranco dele. Ainda por cima ele era muito chegado a mulher, mulherengo.
A Neusa sabia dos relacionamentos dele?
Sabia. Ele negava sempre, mas estava na cara. Ficava difícil ela controlar a situação. Eles retornaram ao país no final de 1979. Entre 1980 e 1981, o pai se dedicou a montar o PDT. Na eleição de 1982 (a primeira eleição direta para governador após quase duas décadas de ditadura), o pai só passou a ser o favorito na disputa nos últimos dois meses de campanha, mas a mãe já estava em Nova York em tratamento. A situação estava ruim. Ela retornou ao Brasil três meses depois de ele ter tomado posse. Tentou assumir algumas funções assistenciais.
Que tipo de tratamento ela fez?
Psiquiátrico, para tentar superar toda essa mudança. No Brasil, não tinha a menor condição. Quando ela voltou, teve um período de recuperação, mas, em seguida, ela parou de acompanhar ele. Eu já estava trabalhando numa construtora como arquiteto recém-formado. Era residente de uma obra. Meu pai saltou nas pesquisas, e a construtora viu que eu tinha que ter outras funções. Sem falar que já juntava gente para me pedir emprego. Não tinha mais condições de eu continuar naquele escritório. Pedi para sair, para a grande decepção deles. Fui ajudar meu pai, mas ele também não deixava eu chegar muito perto dele. Até que surgiu a possibilidade de eu contribuir no projeto de construção do sambódromo.
Por que ele não deixava você chegar perto?
Ele achava que não era da nossa conta. Quando a gente perguntava alguma coisa, a resposta era a mesma: "Isso não é da sua conta". Como se quisesse nos proteger. Dizia "você tem de aprender muito para chegar até aqui, olha quem eu sou e olha quem tu és". No fundo, era uma pessoa muito carinhosa, como todo bom político. Nos tratava como aliados políticos ocasionais. E não éramos, né?
O sambódromo foi a primeira missão que ele lhe deu?
De trabalho, foi. Ele disse que eu poderia ser o fiscal da obra. Ali cresci profissionalmente, já estava com 27 anos. No fim, já estava dirigindo a obra toda. Mas, antes disso, ainda no exílio, fui várias vezes para Portugal (onde Brizola morou por um tempo), fazia ligações para ele, já gerenciava os negócios no Uruguai. Ele sempre manteve o José Vicente distante disso tudo. Tanto que ele montou um negócio totalmente separado para ele no Uruguai.
Por que Brizola confiava mais em você?
Ele via que eu não gastava dinheiro, que me preocupava com o equilíbrio econômico dos negócios. Eu tinha outra visão. Mas, na infância, não foi assim. O pai e a mãe davam muito mais coisas para o Zé Vicente porque ele era o primogênito. Na família da minha mãe sempre teve o culto ao primogênito. Não sei de onde veio isso, nem todas as famílias do Rio Grande do Sul faziam isso. Então o maior sempre tinha os privilégios e era o dono da verdade. E o meu irmão sempre teve um caráter violento, eu brigava muito com ele. Eu sempre levava a pior, a razão sempre estava com ele. E isso foi me distanciando um pouco deles. Isso fazia eu ir muito na casa da minha madrinha (Mila Cauduro). Ela me ensinava etiqueta, coisas que, para meu pai, eram mundanas demais. Comecei a ver o mundo de uma forma diferente. Ela me ensinou que o dinheiro não vinha fácil e era preciso saber gastar. Ela me influenciou muito. Tenho certeza de que optei pela arquitetura por causa disso.
O segundo mandato de Brizola como governador do Rio (1991-1994) foi muito contestado. Foi ali que ele soube que o sonho de chegar à Presidência estava sepultado (Brizola concorreu para presidente nas eleições de 1989 e 1994)?
Não. O sonho de chegar à Presidência foi sepultado em 1989. Foi uma eleição muito estranha. Eu acompanhei bem porque ali já tinha voz ativa, sempre dentro dos limites que ele permitia. Mas cada vez ele me ouvia mais. Às vezes, tinha uma atitude debochada, tipo "você não sabe de nada, tem muito que aprender". E adorava fazer isso na frente dos outros, para a minha desgraça (risos). Mas. voltando a 1989, ele mesmo dizia que tinha uma coisa que prendia ele para trás. O general Golbery (do Couto e Silva, chefe da Casa Civil dos governos militares de Geisel e Figueiredo) foi muito inteligente. Até hoje a política brasileira vive de suas decisões e ensinamentos. Ele criou esse modelo partidário que está aí, dividindo o sindicalismo, deixando ascender o Lula, uma pessoa que não era comprometida com o passado. Lula era muito mais fácil de ser digerido em 1989. Os militares botaram uma carga de negativismo em cima do legado de Getúlio, Jango e Brizola. Principalmente no modelo sindical criado por Getúlio. Eles queriam sepultar a história. Meu pai tentou se aproximar de Lula diversas vezes, mas ele sempre o hostilizava. Então a esquerda ficou dividida em 1989. Ainda colocaram as candidaturas de Ulysses Guimarães e Mário Covas para tirar votos da esquerda. Já a direita se uniu em torno de Fernando Collor. Foi ali que meu pai se convenceu que era muito difícil se tornar presidente.Como era a relação de Brizola com Lula?
O pai tentou muito se aproximar dele. O ponto mais próximo foi na eleição de 1998 (quando Brizola concorreu como vice de Lula), mas não tinham chance de vencer. Depois, quando Lula ganhou, em 2002, o José Dirceu (braço direito de Lula, que viria a ser ministro) não deixou que meu pai fosse ministro de nada. Disse que era para colocar Brizola como embaixador no Uruguai. Primeiro cogitaram que ele fosse ministro da Agricultura, depois, da Educação. Acabou não ficando com nada.
O convite para ser embaixador foi feito?
Sim, foi feito. Mas o pai me dizia: "Ainda vou ter de ficar apertando a mão desse cara (José Dirceu) na pista do aeroporto de Montevidéu como se fosse empregado dele". As relações entre Brizola e Lula terminaram muito mal. (Quando Brizola morreu, ambos já estavam rompidos politicamente)
Quais foram os maiores acertos do seu pai?
Ele manteve as finanças nos eixos, sempre com arrecadação eficiente. Foi assim no governo do Rio Grande do Sul. Nos governos dele, sempre havia dinheiro para investir em projetos sociais. Sou suspeito para falar, mas não teve nenhum outro governo brilhante no Rio Grande do Sul depois do dele. Já nos dois governos do Rio foi mais difícil, tinha oposição do governo federal. Mesmo assim, fez um plano de investimentos que poucos fizeram até hoje. A eficiência administrativa era muito boa. Praticamente não havia endividamento.
E os maiores erros políticos?
A minha visão foi que ele subestimou o poder dos Estados Unidos antes do golpe militar. Ele achava que o poder dos americanos era só nas armas. Não era. O poder estava também em Wall Street e em Hollywood. O primeiro comanda a engrenagem financeira, o outro comanda como o mundo pensa e se comporta. Pouco antes de morrer, conversando com ele na fazenda, perguntei se ele não tinha se dado conta disso. Mas ele não aceitava. Nunca compreendeu que era muito difícil fazer as reformas de base da maneira que queria. Estava claro que quem mandava eram os Estados Unidos. Daí vem um gaúcho querendo implantar reformas. Outro erro estratégico ocorreu quando ele voltou ao Brasil (em 1979, depois de um exílio de 15 anos). Poderia ter chegado à Presidência e feito parte das reformas que tanto queria se tivesse sido um pouco mais flexível, se tivesse se aberto mais para a direita.
Que avaliação você faz do PDT?
A avaliação é muito ruim. Tudo se desvirtuou muito. De um lado, tem os meus sobrinhos, com suas aspirações legítimas. São jovens, têm o gene da política. Por outro, todo esse grupo que controla o PDT. Toda essa briga é devastadora. Meu medo é que, nas próximas eleições, a resposta venha. O partido não tem mensagem, simplesmente quer se juntar com outros para ter cargos. Nunca foi o que o pai quis fazer. Meu pai sempre preferiu ficar no ostracismo a fazer composições. Me pergunto por que o Carlos Lupi (presidente do partido desde que Brizola morreu) não sai candidato nas eleições se ele está tão bem, tão firme, tem tantos diretórios na mão? Meu sempre dizia que o partido tem de ser controlado por quem tem votos.
Os seus sobrinhos carregam o DNA do avô?
Cada um tem um pouquinho. Todos os três são inteligentes. A mãe e a avó deles (Nereida e Dóris Daudt) fizeram muito o caráter deles. Tudo que talvez o José Vicente não tenha dado, elas conseguiram. Também tiveram a chance de conviver com meu pai. Eles têm tudo para serem grandes políticos. Eu não tive esse DNA.
Por que você não teve esse DNA?
Talvez porque me identificava mais com o estilo de meu tio (João Goulart) do que com o de meu pai. Minhas natureza é mais calma, conciliadora. E isso não era aceito. A maneira de fazer política para o meu pai era fazer do jeito que ele queria.
O seu irmão, José Vicente, chegou a ser deputado, mas não vingou como político.
Não, não vingou. Ele só foi deputado porque a situação era muito fácil. O Zé Vicente se elegeu em 1990, quando meu pai se elegeu pela segunda vez governador do Rio, com 60% dos votos válidos. Minha mãe trabalhou todo tempo para eleger o filho. Lembro que ela renasceu naquele período.
Você leu o livro sobre a sua irmã, Neuzinha?
Não li todo. Mas a Laila (filha de Neuzinha) quis fazer o livro a partir de depoimentos gravados da mãe. Não conheço o autor do livro, mas minha irmã sempre foi de uma imaginação fértil demais. Gostava de aumentar as histórias. Tem vários episódios em que não dá para acreditar. Que ela tinha problemas com drogas toda nossa geração teve, uns mais, outros menos. É um relato da vida dela, da imaginação dela.
Você sente saudade do seu pai?
Sinto. Sinto falta, mas, em outras horas, não sinto, por tudo que passei. Vou contar uma coisa importante. Alguns anos antes de ele morrer, começou a pedir para eu retornar dos Estados Unidos (João Otávio morava em San Diego, onde tinha uma empresa de construção e reforma de casas). Ele dizia: "João, está na hora de você voltar para casa, de ficar por aqui". Também não sabia se aquele era o meu projeto de vida ficar construindo casas. Quando voltei, em 2002, passei a conviver mais com ele. Viajávamos todos os meses para o Uruguai. Virei um companheiro de viagem. Tudo acontece por uma razão. Aproveitei esses momentos juntos para falar sobre tudo, como se tivesse saneando minha relação com ele. Falei sobre todos os assuntos bons e ruins.
Que tipo de conversa?
Eu perguntava coisas como "você nunca pensou que seus filhos cresceram num palácio e que jamais poderiam estudar numa escola rural ou ser engraxates na Galeria Chaves, que a nossa educação era outra, que não adiantava forçar para parecermos mais do povo?". Ou "por que vocês nos criaram com tão pouco amor próprio?" Ele respondia: "Porque eu não sabia fazer melhor, achava que era o certo". Aos poucos, fui entendendo o outro lado. Consegui conversar de uma forma que jamais conseguira.
Por que ele rompeu com seu irmão mais velho, José Vicente?
No auge da briga dos dois (entre 2000 e 2003), o pai me mostrou um álbum de fotografias em que aparecia uma foto dos três filhos pequenos sentados em um murinho da casa de Capão da Canoa. E ele me perguntou como se não soubesse a resposta: "Nós criamos vocês a pão-de-ló, como pode seu irmão ter saído assim?" Ele me perguntava querendo saber onde foi que errou, sem admitir que sabia onde tinha errado. Eu disse que ele tinha nos criado sem muito amor-próprio em função da sua profissão, sempre querendo que as coisas estivessem no lugar que ele queria. Nós éramos uns brinquedinhos. Falei para ele da atitude de querer ralhar com a gente na frente dos outros para dar exemplo. Essas conversas foram saneando nossa relação.
Alguma vez você rompeu com seu pai?
Nunca, mas ficaram muitos danos. E isso fazia com que eu tivesse bloqueios. O pai e a mãe nos dividiam, quando crianças, para poder nos controlar. Isso deixou os irmãos muito desunidos.
Quando você foi se dar conta disso?
Só depois de adulto. Tanto que, uma vez, eu disse a ele que não adiantava mais falar mal do Zé Vicente para mim pois eu não poderia resolver os problemas dele. O pai tinha dificuldade de fazer a gente conhecer o mundo como ele realmente era. A relação era de muita nitroglicerina, piorada com o exílio. Ele tinha só 42 anos quando foi obrigado a deixar o país. Eu tinha 11, o Zé, 13, e a Neuzinha, nove. Do dia para a noite, a sorte e a fortuna da família mudaram radicalmente.
Brizola, em algum momento, no final da vida, admitiu os erros familiares que cometeu?
Uns 15 dias antes de morrer, ele chamou minha prima, a Denize (filha de João Goulart). Queria pedir desculpas para ela, em nome de meu tio, da minha mãe e dele, por tudo que eles fizeram de errado na relação com os filhos e sobrinhos. Era como se estivesse passando a vida a limpo. E, em seguida, ele se foi. Só soube dessa conversa depois que ele morreu.

Confira um trecho do livro de memórias que João Otávio está escrevendo:
"Nós nos mudamos para um apartamento no centro de Montevidéu ao lado da Casa do Governo, apenas a sete quadras de distância da escola. No primeiro ano, fomos sempre levados para a escola por um motorista, por razões de segurança, mas, como as coisas se acalmaram, tornou-se possível se comportar mais como cidadãos normais. Às vezes, nossa mãe nos levava a pé para a escola no período da manhã . Em uma dessas vezes, vi um amigo da minha ex-escola no Brasil caminhar no sentido oposto com sua mãe.
— Mamãe, olha — eu falei, animadamente
— É o Pedro!
— É mesmo. Vamos lá e dizer 'olá' — disse minha mãe.
Naquele momento, a mãe do Pedro nos viu e eu nunca vou esquecer o olhar de horror que atravessou seu rosto enquanto Pedro levantou a mão para acenar. Ela agarrou o braço dele e os dois fugiram tão rápido quanto eles podiam. Ela sequer tentava fingir. Embora eu não entendia o que estava acontecendo, minha mãe entendeu completamente. Para qualquer brasileiro, naqueles tempos, ser associado com alguma coisa a ver com Leonel Brizola era arriscar prisão, literalmente e socialmente.
— Vamos para casa — disse ela, dando-me um abraço.
E eu vi que ela estava chorando.
— Leonel — ela gritou, logo que entrou em casa.
— Você não vai acreditar no que aconteceu ...
Eu comecei a entender um pouco melhor o que estava acontecendo. Fui até o meu quarto. Meu pai tentou acalmá-la e, depois de um tempo, veio e sentou ao meu lado na cama, colocando o braço em volta dos meus ombros.
— Você tem que entender, João, que essas coisas são tão precisas quanto um cálculo estrutural. Quando você está no poder, você atrai muita gente, todos querem chegar perto de você. Mas, quando você está exilado, eles vão fugir de você, verão apenas seus defeitos. Você vai ver na vida que, quando se está no governo, todo mundo é seu amigo e tudo é belo, mas quando você está fora, todos vão estar à procura de razões para evitar você. Eles são como abutres, circulando no céu, observando e esperando você tropeçar antes de atacar e se alimentar do seu cadáver.
Como um engenheiro, ele foi sempre soube explicar as coisas em termos precisos."

25 junho 2014

O ídolo da beleza

Triste notícia: "Mulheres passam por cirurgia para encurtarem os pés".

O pecado não muda essencialmente, só ganha novos formatos ao longo dos tempos. Antigamente, sem poder de decisão, as meninas chinesas eram submetidas ao encurtamento dos pés para conformarem-se à moda da época. Sem isso, corriam o risco de não obter bons casamentos. Eram obrigadas a usar sapatos pequenos demais, que deformavam os dedos e muitas vezes chegavam a causar gangrena. Tinham dores horríveis pelo resto da vida e perdiam facilmente o equilíbrio quando de pé - o que aliás era considerado um charme pelos chineses de então. Esse aspecto trágico da sociedade chinesa antes do comunismo é bem documentado em formato narrativo pela escritora Jung Chang em Cisnes selvagens - um livro apaixonante sobre três gerações de mulheres antes, durante e depois da Revolução Chinesa. E a vida de nenhuma delas foi fácil.


Hoje, em plena valorização do que é "natural" (a maquiagem, por exemplo, busca reproduzir um visual fresco e iluminado), há moças ocidentais, com bastante poder de decisão, que se submetem voluntariamente a um procedimento cirúrgico que, segundo elas, deixará seus pés mais bonitos e mais adequados aos caríssimos Louboutin que desejam comprar. Segundo os especialistas, há riscos de dor constante, assim como ocorria com as chinesas. Mas, como sempre, o adorador se extasia à vista do ídolo e não consegue se deter nos sacrifícios. E a destruição, dessa vez, é autoinfligida.


Para as mulheres contemporâneas, tem sido quase impossível escapar do culto ao ídolo da beleza. Falarei mais disso no futuro.

24 junho 2014

16 junho 2014

Eu e André em Mossoró nesse fim de semana!

Programação

QUINTA - 19.06
* 19h30m às 21h – Pb. Da Hora Jr.
Pregação - Culto de Abertura
SEXTA - 20.06
* 09h às 10h40m – Rev. Macena
Fiel a Deus em um mundo de transformações (Exposição de Ester)
* 11h às 11h30m – Preletores
Roda dos Esclarecedores
Debate, com temas e perguntas formuladas pelo auditório
* 19h30m às 21h – Rev. Samuel
Vivendo um ministério eficaz
(2ª Timóteo 4:1-5)
SÁBADO - 21.06
* 09h às 10h40m – Rev. Macena
O nascido de Deus vence o mundo
(Exposição de 1ª João)
* 11h às 11h30m – Preletores
Roda dos Esclarecedores
Temas e perguntas do auditório
* 19h30m às 21h – André e Norma
O papel dos homens e das mulheres segundo as Escrituras:
"A masculinidade segundo a Bíblia" - André
"A feminilidade segundo a Bíblia" - Norma
DOMINGO - 22.06
* 09h às 11h – André e Norma
"Os ídolos da ciência e a cosmovisão cristã" - André
"Os ídolos da pós-modernidade e a cosmovisão cristã" - Norma


13 junho 2014

Les Gymnopédies: Satie-Beethoven e Frame-Poythress





Copa, greves, manifestações, escândalos... E a alma da gente vai sendo jogada de uma exaltação a outra.

Que tal parar tudo e começar bem o fim de semana? Encontrei este tesouro hoje: as Gymnopédies de Erik Satie, que eu já amava só no piano, orquestradas belissimamente por Claude Debussy. Se você gosta de Clair de Lune, vai se identificar também com essas peças.

Esse vídeo acima, do You Tube, traz uma versão muito parecida com a que encontrei hoje. Mas só tem a terceira e a primeira Gymnopédies (a primeira é a mais conhecida).

Nunca achei as Gymnopédies tristes, como muitos acham, mas elas me emocionam sempre. Talvez por estarem no outro extremo do espectro que imagino: de um lado, visualizo a música de Beethoven; de outro, a de Satie. Enquanto o primeiro nos leva a contemplar a imensidão lá fora e a grandeza de Deus, fazendo-nos sentir ínfimos, o segundo nos transporta para o lugar interior mais secreto, onde Deus também está - o que aponta para aspectos diferentes do Deus cristão, tal como o conhecemos através da revelação da Trindade.

Se você se interessa por saber como o mundo, como criação divina, remete analogamente à Trindade, recomendo com alegria os livros da dupla John Frame e Vern Poythress. O site traz os livros em pdf, em inglês. São transformadores!

06 junho 2014

Bíblia "Free Style": libertinagem gratuita e sem estilo

O pastor reformado Ageu Magalhães esteve em um programa de entrevistas na TV para debater com o pr. Ariovaldo Júnior (não é filho do pr. Ariovaldo Ramos!), autor da chamada "Bíblia Free Style". As impressões do pr. Ageu sobre o entrevero (muito polido, por sinal) são descritas aqui. Recentemente, Yago Martins e Felipe Cruz fizeram um vídeo que contribuiu para a discussão, abordando pontos que ficaram de fora na entrevista. Não resisti e resolvi também, como profissional do idioma, apresentar minhas contribuições ao assunto.

Primeira. A linguagem que escolhemos usar está sempre em estreita correlação com a mensagem que pretendemos passar. A paródia free style, em primeiro lugar, não é free style ("estilo livre"), mas adota um "style" só: o de uma linguagem chula, descuidada e vulgar, que nas situações de vida real só surge em contextos muito específicos de informalidade, intenção humorística, desejo de chocar ou insultar o interlocutor. Ao uniformizar todas as situações de discurso da Bíblia (que contém momentos de ensino, exortação, argumentação filosófico-existencial etc.) fazendo-as caber em contextos descontraídos - como se todos os personagens bíblicos estivessem sempre na praia, de roupas de banho, conversando com amigos íntimos e ocasionalmente falando palavrão -, o autor da "free style" demonstra um desconhecimento completo do conceito linguístico da ADEQUAÇÃO. Por utilizar somente um registro informal e chulo, a versão deve ser considerada imprópria por todo aquele que tem não só amor pela Bíblia, mas também amor pela linguagem, pura e simplesmente. Não se trata só da presença de palavrões (falei sobre eles aqui). A formalidade, a contenção, o cuidado com a correspondência entre o que se diz e como se diz (para sentidos altos, palavras respeitosas), tudo isso faz parte da vida e necessariamente se reflete na linguagem. O tradutor que nega isso acaba negando a própria realidade, com toda a sua dinâmica e relações multicolores, plurais.

Segunda. Ao chegar aos evangelizáveis com essa informalidade excessiva, alegando ser esta a linguagem do público-alvo, os utilizadores da "free style" caem em um erro grave. Será que toda prostituta, todo presidiário, todo viciado em drogas e todo morador de rua usam necessariamente, o tempo todo, com todo mundo, uma linguagem chula, descuidada e vulgar? Claro que não. (Que mico: é como abordar todo mundo na rua com risadas e tapinhas nas costas. Coisa de quem quer forçar a amizade.) E será que todas essas pessoas realmente preferirão ouvir pregações bíblicas em uma linguagem chula, descuidada e vulgar? Muito menos! Quem se expressa impropriamente sabe que o faz e provavelmente não gostaria de ver essa linguagem imprópria misturada com pregação religiosa. Sem medo de errar, conhecendo várias experiências de missões urbanas, afirmo que, nesses grupos, a maioria não responderá positivamente a isso. Ao demonstrar tremendo descaso com a Palavra de Deus, envolvendo em baixo calão a mensagem de um Deus santo, tais idealizadores rebaixam ainda mais o que creem ser o padrão linguístico de seus evangelizados. Nas palavras de um amigo, "o Ariovaldo se torna pior que o desbocado comum por querer sacralizar o palavrão como socialmente aceitável em termos absolutos, coisa que nem o xingador comum faz". Ora, o contraste entre obscenidade na forma e santidade de conteúdo é chocante, evidentemente; com isso, os defensores freestylianos se inserem na velharia de uma cultura que, há pelo menos cinquenta anos, agride orgulhosamente o que considera tradição e bom senso com sua pretensa "liberdade". De fato, seria mais honesto que parassem de usar o campo missionário como pretexto para essas atividades textuais grotescas e tivessem a coragem de admitir o que me parece arbitrária preferência pessoal.

Prostitutas, moradores de rua, usuários de drogas e presidiários, como alvos da pregação do Evangelho, merecem exatamente o mesmo tratamento que qualquer outra pessoa. Escolher uma linguagem de baixo nível para essas pessoas na atividade de evangelização é, com todas as letras, preconceito. Se não é conveniente que o cristão use tal linguagem, não a utilizemos de modo algum. Não só porque é pecado, nem apenas em respeito pela Bíblia, mas também por amor aos evangelizados, que em missões urbanas dificilmente serão amigos íntimos. O argumento de que, nesses grupos, muita gente precisará de uma linguagem mais simplificada é respondido de modo também simples: cabe ao evangelista comunicar a Palavra de Deus com suas próprias palavras, personalizando-a de acordo com cada ouvinte, como muitos já fazem; e, caso haja necessidade de uma versão bíblica mais acessível, elas existem e não cedem um milímetro à vulgaridade de uma "Bíblia" que, dizendo-se free, enreda de saída os possíveis novos convertidos em uma atmosfera mundana da qual eles deveriam ser incentivados a se libertar.

04 junho 2014

Da universalidade da teologia: fala, Poythress!

Há quem fale sobre desenvolver teologias africanas ou latino-americanas como se essas teologias tivessem que recomeçar do zero para que sejam autênticas em suas respectivas culturas. Mas as verdades que a Reforma detectou na Bíblia são de fato verdades, o que significa que são verdadeiras e aplicáveis a todas as culturas do mundo. Pensar nas implicações para um novo contexto não significa desprezar os insights da Reforma. Da mesma forma, esse desprezo pelos frutos da teologia ocidental é uma espécie de etnocentrismo reverso, fomentando orgulho e isolamento nos cristãos do Terceiro Mundo. A unidade do corpo de Cristo não implica o isolamento de várias teologias locais, mas sim uma apropriação cultural cruzada, da Europa para a África, da África para a Ásia, da Ásia para a Europa etc. Se não, estaremos negando a unidade da fé (Ef 4.5). Cada verdade encontrada em cada contexto, se realmente for uma verdade, será universal.

Vern Poythress em In The Beginning Was The Word, depois de ter exposto o erro contrário, de imposição cultural na evangelização.