12 agosto 2010

Sentidos do casamento (I)

Eu me converti aos 24 anos, já tendo vivido vários insucessos amorosos. Nascido em família cristã, André nunca pôs o pé para fora da igreja e, apesar de diversas tentações, nunca havia namorado. Estávamos em situações bastante díspares, quase opostas, do ponto de vista mais superficial — e alguém poderia facilmente dizer que eu pequei muito mais que ele nesse campo. Mas, graças a Deus, não é assim que nos enxergamos, nem eu, nem ele. Porque a verdade é que o pecado não é o que fazemos, mas o que nos constitui, e André recebeu sabedoria do Senhor para achar-se “o pior dos pecadores”, mesmo com sua experiência praticamente zerada em relacionamentos. Nunca se sentiu superior a mim por isto, e eu louvo ao Pai por nunca ter me sentido inferior também (embora muitas vezes me considerasse indigna da importância e da responsabilidade implicadas em tamanho amor). Nosso Pai trabalhou pesado tanto em mim quanto nele para que nos encontrássemos já com a perspectiva correta de pecado e necessidade — igual — de santificação mútua.

Desde que estamos juntos, temos percebido com progressiva clareza que a relação entre homem e mulher, com seu ápice no casamento, é um meio privilegiado de dispensação da graça de Deus para a santificação. Não há intimidade maior que aquela partilhada por um casal, e esse contato íntimo e contínuo, quando vivido com intensidade e na presença de Deus, é a chave que, ao possibilitar o aprofundamento do amor, também se desdobra na descoberta das maiores torpezas ocultas. Se na Bíblia há uma correlação “misteriosa” (segundo Paulo) entre o homem e a mulher, de um lado, e Cristo e a igreja, de outro (sendo a igreja a “noiva de Cristo”), tenho para mim que preciso desenvolver a transparência absoluta com meu marido, assim como busco desenvolvê-la com Cristo. Assim, André sabe de todos os meus pecados, passados e presentes, ou pelo menos de todos aqueles que eu mesma tenho na consciência; sabe também de meus medos e tristezas mais profundos, que até então só tinha exposto (em toda a sua crueza) a Deus. É um processo edificante em todos os aspectos: partilho com ele os sentidos que Deus produziu em minha vida através das várias histórias de pecado, arrependimento, confissão e perdão; e, ao mesmo tempo em que conhece melhor minhas fraquezas — as vencidas e as que ainda restam por vencer —, André pode dividir comigo a alegria de louvar ao Senhor por tudo isso.