12 novembro 2005

O secularismo e o Islã


No dia 2 de novembro o assassinato ritual de Theo Van Gogh fez um ano. Achei hoje por acaso duas entrevistas da deputada holandesa-somali Ayaan Hirsi Ali, que trabalhou junto com Van Gogh no filme que motivou o ódio dos radicais islâmicos e resultou na extensão da Fatwa de morte também a ela. Ela relembra o que sofreu nas mãos da família e da sociedade como mulher muçulmana, forçada a se submeter à ablação do clitóris e a se casar contra a vontade. Enfrentou isso tudo, fugiu e renunciou à religião, tornando-se hoje uma das maiores opositoras do Islã, praticamente a única mulher em evidência nessa situação.

Se os europeus a ouvissem...

Entrevista ao Der Spiegel (em português)

Entrevista ao Die Welt (em português de Portugal)

Coerente com o que passou, Ayaan compreende o perigo da mentalidade islâmica para a democracia, e eu fico muito contente que ela tenha conseguido se libertar do jugo de uma cultura sufocante para denunciar seus males à sociedade ocidental. Porém, é triste constatar que o único Deus que ela conheceu foi o impiedoso Alá do islamismo. Desejo de coração que ela possa reencontrar sua religiosidade perdida nas mãos amorosas - e nada machistas - do Pai de Jesus Cristo, que nos aceita como filhos.


Desejo isto sobretudo porque sei que, escorada apenas no liberalismo e no laicismo, a luta de Ayaan se torna praticamente inócua contra a fúria do autoritarismo islâmico. Como cristã, sei que só o Deus da Bíblia é páreo para Maomé - com o acréscimo da verdadeira liberdade interior, do espaço para a subjetividade que o cristianismo, ao contrário do islamismo, proporciona a quem crê em Jesus. Certamente, é pela consciência da fraqueza do laicismo que os analistas mais perspicazes já vêem a Europa como fadada a se islamizar por completo - a "satisfação", segundo o jornal Le Monde, do Ministro do Interior Nicolas Sarkozy com a instituição da Fatwa pela UOIF para acalmar os levantes em Paris, sem entender o que isso significa para o Estado e suas leis, denota o quanto os europeus estão cegos para com o processo de islamização que se acelera a olhos vistos: seja pela ocupação espacial (o número de descendentes de muçulmanos aumenta em progressão geométrica comparado ao dos europeus, uma população envelhecida que quase não tem filhos), seja pelas conversões crescentes que vêm ocupar o vazio deixado pelo abandono maciço do cristianismo, funcionando como um (falso) antídoto para o desespero de quem se sente esmagado sob o peso do relativismo e da ausência de sentido preconizados pela modernidade.

A Europa não soube entender nem preservar o imenso tesouro que tinha nas mãos... e agora caminha, em silêncio, cegamente, para uma prisão religiosa que, diante da aridez do secularismo, lhe parecerá confortável demais - tristemente confortável.

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