05 fevereiro 2006

O Antianticristo

Querido amigo e irmão em Cristo, além de companheiro de ênfases antiesquerdistas, Henri Levinspuhl passou de discípulo de Nietzsche a seu mais diligente detrator ao se converter. Escreveu O Antianticristo, em que combate aforismo por aforismo da obra do filósofo. Não deixe de ler. Aqui, deixo aos leitores um trecho do prólogo, que trata do desprezo pela verdade que caracteriza nossa época. Fica como um aviso sobre a triste possibilidade de adesão involuntária aos conteúdos que eu denuncio neste blog: o esquerdismo, que corrompe o desejo transcendente pelo bem ao positivar meios escusos para fins imaginários e reforçar maximamente o poder humano; o imanentismo, que declara a ausência de valores eternos e, imune a todo modelo, chama belo ao feio; e o relativismo, que destrói a inteligência ao atentar, em linguagem e em atos, contra o verdadeiro.

É um tenebroso momento na história da humanidade, com populações inteiras convertidas em esquadrões inconscientes na luta para extirpar, do coração humano, o apreço pelo que mais lhe convém. E quem ainda não notou o quanto interessa à astúcia alistar a sinceridade no exército da mentira, deve começar a precaver-se, não lhe suceda confiar na astúcia, e assim propagar a calúnia; não lhe suceda transmitir, e como se fora a maior das verdades, o engano que o calunioso sabe fraudulento. Porque deveras convém à maquinação que, em seu lugar, alguém transmita a mentira sinceramente, e mesmo inflame-se com sentimento de justiça inconformado, ao passo que imputa à verdadeira justiça algo medonho. E embora atrair a sinceridade para o apostolado da calúnia seja a obra de uma velhacaria rematada, a sinceridade só se entrega a um servicinho sujo desses se contaminada de malícia.

27 comentários:

Anônimo disse...

O relativismo eh a chave mestra de toda essa manipulacao social, mental e espiritual.
Sem eliminar (imediatamente) as posicoes contrarias (conceitos absolutos), vao minando as conviccoes dos mais desatenciosos, utilizando uma linguagem pseudo-inteligente e o prestigio popular de ser conhecido como "formador de opiniao"...assim tornam a maxima da mentira a unica expressao aceitavel:
"TUDO EH RELATIVO"
Fica mais facil ser aceito quando o discurso nao ofende, nao rejeita, etc etc...
Podemos comecar a bater na tecla do absolutismo (claro que seremos chamados de fundamentalistas), Jesus foi absolutista e fundamentalista Basta ver que ele disse:
"Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha.".
Mat 12:30
Quer mais absoluto que isso??

Alguem conhece algum movimento (como o de Jesus), mas mais contemporaneo que tenha dado certo, dentro desse contexto?

Davi Lago disse...

Foto nova!
legal..
bjão

Norma disse...

Obrigada, Davi!
Enjoei da outra...
Beijão!

Anônimo disse...

Alô, Norma.

Nessa nova foto você parece outra pessoa. Mais nova mas, para quem acostumou-se à antiga foto, parece outra Norma. Se bem que era na outra que você estava disfarçada, de óculos escuros.

Um abraço.

Anônimo disse...

Realmente o Anti-Cristo de Niestzche é só xilique e calúnia, não aguentei nem ler o livro todo (risos).

Faço as palavras do rapaz Davi ai em cima as minhas sobre sua foto.

Valeu!

Márcio S. Sobrinho disse...

Norma, é interessante como diferentes abordagens chegam ao mesmo ponto: há um artigo de Hermisten Maia, "Deus em Nietzsche", em que depois de apresentar por mais de 10 páginas o que Nietzsche disse a respeito de Deus e do cristianismo, ele conclui seu último parágrafo dizendo:

“Mas o leitor mais atento poderia perguntar: Onde está a crítica ao pensamento de Nietzsche? A resposta é simples: Nietzsche em nenhum momento apresentou argumentos contra o Cristianismo, ele apenas falou mau, expressou o seu ódio e angústias, sem que por um instante sequer provasse qualquer uma de suas teses... Ora, contra sentimentos, angústias, ódios e ressentimentos, não há argumentos!”

Não cito isto pra desmerecer o trabalho de Levinspuhl, que me pareceu fascinante, pelo contrário: é incrível como mesmo não dizendo nada, Nietzsche goze de tanto crédito... :(

Norma disse...

Oi, Paulo, obrigada!

Essa é a "Norma verdadeira". :-) Ano passado, quando um amigo virtual me conheceu pessoalmente, tomou um susto: me achou muito novinha! E me deu uma bronca: "Tira aquela foto do teu blog, ela te deixa mais velha!" Mas só quando tirei as fotos novas é que percebi isso. As pessoas costumam me dar dez anos a menos do que eu tenho. Quando eu tinha uns 20 e poucos, perguntavam se eu era maior de 21. Hoje, acham que eu tenho 25, 26. :-)
Abraços!

Norma disse...

Oi, Márcio!

Acredito, sim, que os argumentos em Nietzsche contra o cristianismo são fracos e que ele chega mais perto da persuasão que da argumentação racional. O fato é que o filósofo é bem virulento mesmo. Ele parece escrever com raiva. Por isso o trabalho de Levinspuhl é tão acertado: opondo-se a cada um dos aforismos, ele drena o veneno do texto de Nietzsche de forma contundente.
Aliás, "veneno" é a palavra certa para a maioria dos textos dos filósofos modernos: veneno contra a lógica, contra os processos cognitivos, contra a verdade, contra a realidade, contra o conhecimento objetivo. Mas Nietszche parece ser o campeão de adesões entusiastas nas faculdades brasileiras.
Abração!

Anônimo disse...

Oi, Norma:

Gostei muito do texto do Henri: descreve esta maldade difusa que cresce dia a dia entre os seres humanos.

um abração,
Cláudio

Augustus Nicodemus Lopes disse...

Norma,

Além do novo retrato, gostei mais do seu prefácio ao prefácio do livro do seu amigo do que da perícope selecionada. Refiro-me especialmente à sua definição dos conteúdos que denuncia no seu blog. Senti falta apenas de uma menção ao neoliberalismo teológico que você combateu competentemente em posts anteriores...

Um abraço

Edson Camargo disse...

Normitcha querida

Você tá sendo boazinha com Nietzsche! Chamou-o de filósofo! Nietzsche, perto de gigantes como Eugen Rosenstock-Huessy, Constantin Noica e Martin Buber, não passaria de um colunistinha de jornaleco de província.

Não costumam chamar C.S. Lewis ou G.K. Chesterton de filósofos, que como sabemos, argumentam de forma muito mais consistente, honesta, e cujos pensamentos, se devidamente organizados e hierarquizados, estariam muito mais perto de se tornarem um autêntico sistema filosófico do que a verborréia raivosa desse grande inspirador de Hitler, de outros açougueiros e de embusteiros como Derrida (aliás, você precisa fazer um post sobre essa figurinha..) e Foucault.

Bjo do Eliot.
Aquele que viu o quanto você parece mais novinha ao vivo, he he he.

Anônimo disse...

Preciso confessar que ja estava acostumado com a outra foto....

... disse...

Norma!!
Você é uma menina!!
rsssss
abraço magro,
(também sofro do mesmo mal. Receber menos idade do que tenho)

... disse...

Norma, estava vendo sua coluna "Estou lendo" e me perguntei...

Onde você compra dias com mais de vinte quatro horas?? Eu também quero :(

Norma disse...

Gente, perdoem-me a demora na postagem dos comentários de vocês e nas minhas respostas. Minha internet está muito deficiente (de rádio) e às vezes fica fora do ar o dia todo. Devido a esse contratempo, não responderei a todos enquanto a situação durar. Mas continuem postando, pois leio tudo e tenho muita alegria pelas palavras de todos, bem como pelo diálogo que suscitam.
Abraços!

Augustus Nicodemus Lopes disse...

Norma,

Assim não dá. Proponho a todos os comentaristas de plantão da Flor de Obsessão que façamos uma vaquinha e demos de presente à Norma uma assinatura do Speedy ou outro provedor de banda larga. A não ser que ela more no alto da floresta da Tijuca onde só com rádio mesmo...

Um abraço.

Norma disse...

Oi, Rodrigo!
É simples: "estou lendo" significa "estou dando conta, bem devagarinho, de cada um desses livros". Isto porque tenho aulas a dar, além de traduções e revisões a fazer. É duro!
Grande abraço!

Norma disse...

Oi, Augustus!
Escrevi uma resposta imensa a você sobre o neoliberalismo ausente do post, e na hora de enviar... a internet cai, deixando-me com a opção de salvar no word meu texto! Está lá em casa, de onde ainda não posso acessar a internet. Por isso, adorei a idéia do presente! :-)
Assim que der, eu trago o texto do word para cá.
Abração!

Norma disse...

Opa! Chego em casa e... surpresa! Internet funcionando! Bom, enquanto eu posso, vou postar aqui rapidinho a mensagem grande que escrevi no Word em resposta ao Augustus, sobre o neoliberalismo.

Oi, Augustus!
Por que não mencionei o neoliberalismo? Hmm... Creio que por dois motivos. O primeiro é que eu vejo mesmo o neoliberalismo teológico como um filhote da modernidade, uma espécie de subproduto fiel aos conteúdos relativistas (aprendidos com filósofos modernos, desde Descartes) e às tendências esquerdistas (cujo humanismo atrai seus partidários). Não que, com os termos “filhote” e “subproduto”, eu esteja menosprezando seu poder destrutivo (muito pelo contrário, dói-me demais pensar nisso), mas apenas por crer que o neoliberalismo conjuga, de fato, relativismo e esquerdismo, disfarçando-se de cristianismo no seio da igreja. Sabemos que não é por acaso que o liberalismo teológico surge no Iluminismo, quando a “razão científica” passa a ser a medida de todas as coisas e, como afirma Francis Schaeffer, a fé é vista como separada e oposta à razão. A modernidade se vale da mesma cisão para aprofundar o subjetivismo (que é o outro lado da moeda do racionalismo, a meu ver, reação fruto da mesma esquizofrenia), e creio que o neoliberalismo (até onde entendo) acaba sendo uma mistura entre ceticismo científico (o que leva à negação dos milagres bíblicos) e subjetivismo moderno (o que alarga a interpretação dos textos até o infinito, diluindo a mensagem bíblica). Como eu combato a coisa em si (a separação esquizofrênica, que dá tanto no racionalismo quanto no subjetivismo), independente de onde ela esteja, não me ocorreu mencioná-lo.
O outro motivo, acho, foi pura modéstia: como minha formação específica não é em teologia (fiz um ano de seminário mas não terminei), seria um pouco pretensioso de minha parte dizer que meu blog combate, expressamente, o neoliberalismo. No entanto, por tudo que eu disse, o que acaba acontecendo é que combate, sim: opondo-me ao relativismo e ao esquerdismo, a luta contra o neoliberalismo vai por si, direto na base que o sustenta.
Uma imagem pitoresca me ocorre: é como se eu ficasse na porta da igreja detectando e denunciando a “coisa”, tentando impedi-la de entrar, enquanto você, Solano e Mauro combatem-na já lá dentro, onde quer que ela se esconda entre os bancos da igreja. (Aos leitores mais apressados: a “coisa” não é a pessoa, o liberal, mas sim o cabedal teórico anticristão que ele sustenta – o que faz a diferença entre pecador e pecado.) (O que não me impede de, de vez em quando, entrar para caçar lá dentro também, mas meu trabalho principal, por enquanto, tem sido fora.) (Quantos parênteses neste texto!) Por isso, para mim é muito evidente que nós lutamos rigorosamente a mesma luta, contra as mesmas coisas, mas em locais e sob fantasias diferentes. Essa convergência me deixa muito feliz, tanto quanto nosso constante diálogo.
Grande abraço!

Moita disse...

Normacita

Eu vou terminar me convertendo.

Muito bom o texto. vc deve ser escritora.

Um beijo

Norma disse...

Oi, Moita! Amém! :-)

Anônimo disse...

Norma voce saberia dizer porque esta havendo esse movimento neoliberal com tanta enfase nas igrejas evangelicas agora?
Tem algum sentido de estar politicamente alinhado com o governo? ou seria um movimento que se desenvolve independente de um governo de esquerda?
Tenho amigos em varios estados do Brasil e todos eles me falam a mesma coisa, que as igrejas estao pregando "mensgens estranhas", como pode isso ter se alastrado tanto em tao pouco tempo, eu sai do Brasil ha 7 anos e so havia uma sombra dessa teologia, como ela foi "vendida" e "comprada" tao facilmente?
Voce pode me responder algumas dessas questoes, estarei voltando em breve e com o meu diploma de "pastor" na mao...acho que vou precisar de ajuda pra poder encontrar uma "igreja pura", nao sem pecados, nas com equilibrio doutrinario....
Um abraco,
(Augustus, entro todo dia no "o tempora, o mores" e nao vejo um "postezinho" pra me deliciar, quando vira o proximo??? abraco pra vc tb!!!

Augustus Nicodemus Lopes disse...

Wilson,

Obrigado pelas visitas ao nosso blog. Acho que até domingo sai mais uma contribuição, mas apesar dos protestos da Norma, vou deixar os liberais em paz dessa vez e falar doutra coisa...

Um abraço

(Misericórdia, agora é que vi que na nova foto sai banguelo...)

Norma disse...

Augustus: banguelo? CADÊ?

Saiu banguelo nada, está tudo direitinho. :-) A foto anterior era mais engraçada (você parecia desafiar o interlocutor, olhando-o por cima dos óculos), esta é mais bonachona. :-))

Wilson, acho que um teólogo especialista em história da igreja e que esteja se voltando para as questões atuais pode responder com mais propriedade a essa pergunta. No entanto, sei que a convergência entre cristãos e esquerdistas nunca dá em boa coisa, porque o esquerdismo se vale do imanentismo para se afirmar, desde o berço, sendo antitranscendente e, mais especificamente, anticristão. Lênin dizia: "Sou o inimigo pessoal de Deus." E ainda: "O marxismo deve ser materialista ou, de fato, inimigo da religião." O próprio Marx afirmou: "Estraguei meu céu, não posso negá-lo." As correntes que derivam do marxismo costumam ter horror ao cristianismo e à idéia da verdade universal. O "marxismo cristão" encontrado na Teologia da Libertação e entre os evangélicos progressistas é loucura, pois torna-se impossível tirar do marxismo o seu conteúdo anti-religioso - já que ele serve para atribui poder máximo, religioso mesmo, ao Partido, ao Estado que toma o poder. Os cristãos verdadeiros que colaboram com isso o fazem porque ainda não entenderam direito o que é o esquerdismo.

Já está difícil encontrar um evangélico no Brasil que não seja esquerdista, por causa da gigantesca propaganda marxista-gramscista nas escolas, na mídia, na universidade. Dê uma busca no site do Olavo de Carvalho (sobre o esquerdismo no Brasil - especialmente Gramsci) e do Julio Severo (sobre a associação entre igreja evangélica e esquerdismo), onde há boas e amplas informações. Ainda é cedo para entender com exatidão o histórico disso, mas podemos começar aos pouquinhos.

Norma disse...

Wilson, vá ao blog do meu amigo Eliot Chambers (Profeta Urbano). O último post dele fala exatamente sobre isso!
Abraços!

João Emiliano Martins Neto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Ja vi que por estes lados esta-se contra o imanentismo e relativismo e deveras a favor da verdade universal e do transcendente, mas vi poucos argumentos em favor das vossas teses, apenas animosidade contra Nietzsche, Foucault e suponho que Deleuze tambem e todos os teoricos da Contracultura...Não há nenhuma verdade universal, a natureza humana é ao mesmo temmpo real e ideal. Essas defesas de verdade universal sao o melhor motivo para os democratas ocidentais debelarem as restantes culturas. Pois se houvesse uma verdade universal, acaso seriam as manifestaçoes culturais do homem tão diferentes? O nietzsche está repleto de contradiçoes, mas a sua critica aos valores ocidentais mantem-se firme..Os valores são uma criação nossa, dependem do nosso contacto com a vida, da nossa epoca...nao ha tabuas de valores inalteraveis, assim como nao ha positivismo cientifico que pretende estudar o objecto separado do sujeito...LEiam Deleuze e o seu conceito de maquinas desejantes...Deleuze e Foucault lutaram contra o poder e a opressao sobre todas as formas, ate sobre o racionalismo cientifico do ocidente. Devemos nos questionar acerca desta asserçao de Cristo « Escutai o vosso coração, onde ele estiver ai estara o vosso tesouro» e perguntar se nao sera ela um ensinamento relativista, que manda ao homem buscar os valores na sua consciencia e nao num adivindade alheia...Nada tem sido mais pernicioso ate hoje que os valores defendidos de forma impessoal, que os dogmas...E dentro de si que o homem busca a verdade,a verdade varia...