28 novembro 2013

A nobreza perdida

Amigos, neste final de ano está difícil cumprir a meta de postagens diárias. São muitos compromissos: as leituras e os trabalhos do mestrado do Andrew Jumper e as preparações de palestras me tomam bastante tempo. Vou voltar ao "posto quando der" por algumas semanas, certo?
Essa reportagem me deixou pasma: as estátuas greco-romanas originais eram pintadas! Reconstituídas em suas cores, elas não diferem em praticamente nada das imagens modernas que são fabricadas para adoração hoje (sobre a prática segundo a Bíblia, ver Salmo 115, Deuteronômio 4.28, Isaías 42.17, só para citar algumas passagens). Coloridos, esses monumentos perderam a "aura" de obra de arte que os modernos lhes atribuíram (André Malraux); perderam o distanciamento, a placidez e - ouso dizer - também a nobreza. Seus autores estão agora no mesmo bojo dos que, buscando imitar a realidade de modo mais vívido - como se pudessem com as próprias mãos trazer o que é espiritual para o campo do palpável - , caíram na condenação bíblica que zomba da insensatez que é adorar o inferior (Romanos 1.23), enquanto voltam as costas para o Deus verdadeiro, que é criador, perfeito, onisciente e onipotente.
Nós já sabíamos disso, mas as cores, recuperadas, tornaram tudo mais evidente. Veja por si mesmo:

5 comentários:

Hugo disse...

Boa noite, Norma.

Talvez eu esteja um pouco sensível demais, me desculpe se for o caso. Mas me parece que você está confundindo algumas coisas, conceitos básicos mesmo, que faz com que alguém inteligente como você pareça superficial.

"Imagens modernas que são fabricadas para adoração hoje"... Você realmente acredita que isso aconteça? Mais uma vez, talvez eu esteja enxergando fantasmas por já ter lido críticas parecidas diretamente endereçadas a católicos, e você esteja se referindo a outro público. Como você não fez questão de ser nominal, o que é uma pena, vou assumir que este seja o caso. Se seu alvo for outro, peço perdão.

Você acredita, para ficar no que se percebe na mais breve observação, que um católico que ao ver uma imagem de um santo amado e faz o sinal da Cruz esteja sendo idólatra? Não percebe nada de estranho nessa afirmação?

Me acompanhe: o sinal da Cruz fala diretamente de Deus: "em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo". É a primeira reação de um católico ao se deparar com a lembrança de um santo homem de Deus. É o amor ao santo que leva a se adorar a Deus, imediatamente, e só a Deus. Todo amor ao exemplo de um filho de Deus leva imediatamente à lembrança de Deus. Idolatria é exatamente o contrário: é quando se esquece de Deus ao se deparar com algo que deveria lembrá-lo. Católicos não são idólatras. Não nos trate assim, não nos enxergue assim, não nos julgue assim.

Norma disse...

Oi, Hugo,

Desculpe se feri sua sensibilidade. Não era meu intento. Você sabe que esse é um ponto bastante dolorido na história das discordâncias entre católicos e protestantes. Na verdade, a idolatria é algo muito mais presente na vida de todo ser humano - inclusive os que já foram alcançados por Cristo - do que imaginamos. Sempre que colocamos no nosso coração alguma coisa em primeiro lugar, esperando dela aquilo que só devíamos esperar de Cristo, estamos cometendo idolatria. Há um livro de Herbert Schlossberg chamado Idols for Destruction. Ele nem toca na questão das imagens, mas trata das idolatrias modernas às quais todos nós estamos sujeitos: a do poder, a do dinheiro, a da política e por aí vai, com suas consequências no nível macro, para toda a sociedade. Quanto às imagens, ainda que haja católicos que veem a coisa do modo correto, a própria existência delas sempre levará alguém mais simples a projetar nelas as esperanças que, segundo a Bíblia, só poderiam ser colocadas em Deus. Conheço os argumentos a favor delas mas de fato não creio neles. O coração humano é idólatra demais e, ao mínimo pretexto, já se desvia do Deus verdadeiro. Nossas diferenças são mais profundas; no catolicismo, o pecado não foi algo tão radical. Mas eu sei que sou pecadora, que tendo à idolatria, que a cada minuto estou pecando em algo contra Deus, e isso sem olhar para nenhuma imagem. Quisera eu que todos os que nos intitulamos cristãos tivéssemos uma consciência maior do tamanho do pecado em nossas vidas. Que Deus nos abençoe a todos e não nos deixe idealizar nossas próprias imagens. Abraços.

Hugo disse...

Boa tarde, Norma!

Obrigado por sua resposta! Só o fato de você ter disposto de alguns minutos para abordar minhas ponderações já me deixa feliz.

Quanto à idolatria em sentido amplo, tem uma frase de Orígenes, do século III, que deixa bem claro o tamanho do problema: "diante de uma tentação, um cristão ou sai mártir ou sai idólatra". Parece que se encaixa bem com o ponto que você quis enfatizar.

Quanto às pessoas mais simples, é importante esclarecê-las, mas não se preocupe em demasia com elas. Aliás, é nosso dever nos tormarmos simples, como crianças, e não o contrário. As pessoas que se perdem não são as simples, mas as complicadas.

Até mais,
Hugo

Nisia disse...

Querida Norma, é uma alegria encontrá-la novamente! E dedicada ao divino, ainda por cima.

O seu comentário sobre a pintura das esculturas é interessante porque diz respeito ao olhar sobre a arte.
A obra que olhamos ganha o significado que a ela atribuímos. Lembre-se que estamos tratando de obras que mudaram de aspecto apenas para nós, espectadores do século XXI. Tanto para seus criadores, que as esculpiram e coloriram, quanto para os renascentistas, que as encotraram já descoloridas, são as mesmas, e seu significado foi diferente para cada público.
Apenas nós, agora, estamos tendo esse choque, e sendo obrigados a repensar a antiguidade clássica, olhando para essas figuras não mais com os olhos renascentistas, mas procurando conhecer melhor o olhar antigo - ou pagão...
A sua afirmação de que "seus autores caíram (...) na condenação bíblica que zomba da insensatez que é adorar o inferior enquanto voltam as costas para o Deus verdadeiro", me suscita uma dúvida.
A mim, parece que a crítica era exatamente dirigida, isto é, a eles é que se referia a epístola aos Romanos.
Emfim, não foram as obras que mudaram. Fomos nós.
...
A respeito da idolatria, me abstenho de comentar, porque me falta conhecer a fundo o assunto. Mas vale o estudo.
...

Quanto às colocações de Hugo, eu as endosso. Especialmente a constatação de que quem corre mais risco de se perder somos nós, os complicados.

Um beijo imenso!
Nísia

Judson Rui de O.Mello disse...

Creio que a Bíblia Sagrada (para os que creem que Ela contém a Vontade de Deus aos homens) é a solução para o impasse.
Então falou Deus todas estas palavras, dizendo:
Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão.
Não terás outros deuses diante de mim.
Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.
Não te encurvarás diante delas, nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam.
e uso de misericórdia com milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos.