01 outubro 2005

Desarmamento: vote NÃO (3)


A medida vai muito além de uma simples vontade política de diminuir os crimes por armas de fogo (e, como vimos, para isso ela não funciona): está enraizada em uma mentalidade daninha, que atribui ao Estado poderes que ele não deveria ter. Não é à toa que o presidente Lula, sempre que fala do Estado, usa a palavra "pai" para descrevê-lo; mas, em vez de um pai que possibilita crescimento aos seus filhos, emancipando-os por fim, o "pai-Estado" das esquerdas, na melhor das hipóteses, é um pai que mantém para sempre o filho sob sua tutela - isto quando não o engole, tal como Saturno na mitologia grega... Em regimes brandos, ou pré-totalitários, o pai-Estado impede os "filhos" de tomarem iniciativas por conta própria (exemplo: impostos abusivos aos empresários; recompensas e melhores salários para o burocrata estatal), infantilizando a população. O desarmamento é mais uma evidência disto: proibindo o cidadão pacífico de comprar armas, o Estado o trata automaticamente de incapaz ou descontrolado. Por que não parece ser suficiente a adoção de medidas para garantir que o comprador de armas seja alguém emocionalmente seguro de seus atos e tecnicamente hábil em manejar uma arma? Na verdade, isso já é praticado no Brasil, onde para se obter uma arma é preciso ser maior de 25 anos, sem antecedentes criminais, com residência e emprego fixos, além de ter passado em exames psicológicos e de aptidão. As estatísticas mostram que os crimes por armas de fogo não atingem esse contingente, mas sim os menores envolvidos com tráfico de drogas. Por aí se vê que o desarmamento, além de abusivo, é sem sentido.

No Brasil, cuja população já tem sido tão infantilizada por décadas a fio não só pelo modo paternalista de governar, mas por uma educação insuficiente e por uma mídia de entretenimento cada vez mais fútil e centrada na sexualidade - hoje, até sorvete e refrigerante são vendidos por meio de apelos ao desejo sexual - , o desarmamento só reforça a tutela do Estado, que se disfarça em pai controlador (como se dissesse "só estou fazendo isso pelo seu bem") para cravar mais profundamente suas unhas nas costas do povo. Se aprovado, o desarmamento não mudará em nada o panorama da criminalidade, mas será apenas mais um item no progressivo controle estatal, com prometedoras visões de totalitarismo. Quem viver verá.

10 comentários:

Roneyb disse...

Oi Norminha,

Eu ia votar não até a semana passada. Os argumentos de quem era pelo sim não me convenciam e eu achava que as pessoas devem ter direito de ter uma arma para esporte, caça ou defender a própria casa enquanto o Brasil não resolve os problemas com a segurança pública.

Acontece que os argumentos cheios de mentiras e malícia dos grupos que defendem o comércio de armas me levou a mudar meu voto para sim. Sinto que 90% ou mais dos grupos articulados pelas armas tem fortes tendências à promoção do caos e certamente usarão as armas para isso.

Os dados que você divulgou abaixo não são verdadeiros não, viu? Eu já revirei a Internet várias vezes e só achei estes dados em sites comprometidos com a campanha a favor das armas. Em toda fonte mais oficial que achei vi que a morte por armas de fogo caiu depois do controle de armamentos com destaque para a Austália. Mas a Alemanha também instalou um estatuto para as armas semelhante ao brasileiro, mas sem a proibição do comércio de armas.

Em suma, por causa de argumentos como os que vc dá a favor das armas eu me senti obrigado a mudar meu para sim...

Só espero que:
- O não vença e eu esteja errado ou
- O sim vença e você esteja errada, digo, a NRA já que ela parece ser a fonte da maioria destes fatos que vc citou.

Norma disse...

Oi, Roney,

Eu, sinceramente, não conheço nem sei da atuação de nenhum desses "grupos poderosos" que você citou. Pelo contrário, as pessoas de quem recebo textos e notícias contra o desarmamento acreditam que a coisa vai ser implantada de qualquer jeito, e ficam, com seus blogs e páginas pessoais, tentando fazer uma diferençazinha no panorama geral. Não são nem "poderosos" nem lucrarão coisa alguma com venda de armas. O pessoal do Mídia sem Máscara, por exemplo. Já lhe contei que conheço muitos deles pessoalmente e que sei que eles não ganham bulhufas com o site? Se houvesse algum lobby de armas no Brasil, seria um contato ideal, não acha? Mas eles continuam se apertando, altruisticamente, para manter o site no ar. Não ganham um centavo com ele.

Acho que a linha principal da minha argumentação está clara, mas principalmente neste terceiro post. Por outro lado, não achei clareza nenhuma na sua argumentação. Você fala em grupos articulados e eu, sinceramente, não vejo nenhum.

Quanto aos dados contemporâneos sobre o aumento ou a diminuição do crime, eles são da revista Veja. Tem certeza de que não achou? Não gosto particularmente da revista, apenas acho que ela não mentiria em dados tão técnicos. Dizer que "não são verdadeiros" só porque você não achou na internet é um pouco demais, não acha?

Norma disse...

Continuação...

Se você me citar o nome de alguns desses grupos, descrevendo sua atuação, aí talvez eu já comece a acreditar na existência deles. Mas, em nome da nossa amizade, sei que você vai acreditar em mim se eu digo que não conheço nem pertenço a nenhum desses grupos, né? ;-)

Beijos,

Norma

Edson Camargo disse...

Oi Norma!

Que tal inventarmos um alvo com as caras de Lênin, Marx, Pol Pot, do Derrida (esse último autografado por você) para treinar tiro ao alvo? Iria vender bem, não acha?
Abraço do Eliot!

Norma disse...

ÓTIMA IDÉIA, Eliot!!! Eu incluiria também o Foucault e a Marilena Chauí, que tal? Beijos!

Roneyb disse...

Norminha, não falei em nenhum grupo poderoso. Lê de novo o que escrevi.

Não tenho motivos para achar que há grupos poderosos por trás do crescimento do fascismo no Brasil, quem fala em grupos poderosos é o pessoal da extrema direita que afirma haver uma conspiração internacional para proibir as armas no Brasil e instalar uma ditadura comunista no país. Está lá no Mídia Sem Máscara.

O que acredito é que as classes A e B no Brasil estão desenvolvendo espontaneamente uma ideologia fascista. Vejo preocupado muitos conhecidos e até amigos meus caminhando para isso. Basta ver o artigo Brasil Fascista que escrevi recentemente lá no meu site.

Roneyb disse...

Ah, tem uma coisa que não entendo, se estamos fazendo um referendo para decidir o que o povo quer então de onde vem a idéia de que o governo está tentando tirar as armas do povo? Quem está decidindo somos nós, uai!

Lembrei de outra coisa, Até onde pude ver a maioria dos grupos que defendem o não (1) também eram contra o novo estatudo das armas que aumentou a idade mínima para ter armas e trouxe a exigência de teste psicológico que só valia para o porte para a posse de armas.

Norma disse...

Quando você chama o pessoal do MSM de fascista, você me ofende também, porque eles são meus amigos e eu também tenho um artigo publicado lá.

Escrevi pessoalmente a você sobre o que eu penso da denominação absurda de Umberto Eco para o termo fascismo: ele acha que é fascista todo aquele que não compartilha do pensamento politicamente correto. Ora, um esquerdista deveria ter muito cuidado ao usar esse adjetivo, já que o partido de Hitler era nacional-socialista. Só aqui no Brasil as pessoas continuam crendo que o nazismo era de "extrema-direita", e pior, usam o termo "direita" como xingamento. Triste mesmo.

Norma disse...

OK, então não são poderosos, mas são grupos que "defendem o comércio de armas" com argumentos "cheios de mentiras e malícia". Você só consegue citar o Mídia sem Máscara como exemplo? Pois lhe garanto que não há neles mentira ou malícia, e nem têm eles nada a ganhar com o comércio de armas. Acho que realmente não atribuímos os mesmos nomes às coisas: para mim, mentiras e malícias são abundantes mesmo nos critérios de Umberto Eco para a denominação de "fascistas". Um dia pego o livrinho que você usou no seu artigo e demonstro por que uma obra como essas não deveria jamais ser levada a sério, a não ser como um exemplo gritante de desonestidade intelectual usada em favor, isto sim, de "grupos articulados" em torno de muitos interesses políticos e econômicos.

Norma disse...

Ele e a torcida do Flamengo, Claudinho... :-( Assim como o Umberto Eco considera "fascista", entre outras coisas, quem:

- Cultiva a tradição
- Recusa a modernidade

Sendo assim, no Brasil, que nos resta - a nós, que não gostamos do rumo que as coisas estão tomando - a não ser esperar que, calcados em autores como Eco (Cinco escritos "morais" - as aspas são minhas), as pessoas mais cultas do país não nos ouçam, mas nos chamem de fascistas?

Fonte: http://www.roney.com.br/content/view/212/39/