Um esforço, com a graça de Deus, de recolocar o cristianismo na via dos debates intelectuais. Não por pedantismo ou orgulho, mas por uma necessidade quase física de dar nomes às minhas intuições e contornar o status quo das idéias hegemônicas deste mundo.
06 outubro 2005
O Chávez é uma "pessoa maravilhosa"!
Depois da entrevista com o Hugo Chávez no programa Roda-Viva, cheguei à conclusão: o atual presidente da Venezuela é uma "pessoa maravilhosa"! Não na acepção comum, claro, mas segundo o epíteto que Olavo de Carvalho atribui aos esquerdistas high society - ou que eles mesmos se atribuem, mimando uns aos outros automaticamente apenas por pertencerem ao petit noyau de la gauche sophistiquée (no caso do Brasil, um petit bem grand...). Nesse sentido, Chávez é um revolucionário charmosão e simpaticão incensado pela classe artística brasileira, muito bem representada nas fileiras socialistas. Não havia um Duda Mendonça visível a quem se pudesse parabenizar pela boa impressão que ele dava na roda: além de responder a todos com sorrisos, por mais incisiva que fosse a pergunta, chegou a mandar beijos no ar com a mãozinha para a Beth Carvalho, que tinha feito a ele uma pergunta gravada em vídeo - ainda acrescentando que se lembrava bem "daquele passeio à Mangueira"! Nada protocolar, hein?
Em suma, mostrou-se muito bem adaptado ao estilo espontaneísta do esquerdismo chique. Ele se alinha menos com a figura de Fidel (truculento, feio, com aquele barbão e aquele charuto) e mais com a de Caetano, Gil, Chico e toda a galeritcha esquerdinha maravilhosa do Brasil. Encarna todo o espírito paz e amor do Politicamente Correto (tendo inclusive citado a "liberação das mulheres" como um dos aspectos da mobilização popular que está fomentando na América Latina). Falou maravilhas de Cuba mas desconversou lindamente, sem agressividade, quando um dos jornalistas mencionou a violenta censura que vigora na ilha. Todas as perguntas eram respondidas com a voz calma, mas com rapidez de raciocínio, com muitos dados numéricos e um toquezinho pessoal - um comentário engraçado, um gestual simpático. Parecia que havia ensaiado a resposta a cada uma delas, de tão bem dadas. (Será que não as recebeu antes?)
Só surgia uma truculência calculada no momento em que falava do imperialismo americano e das "oligarquias venezuelanas". Mas com isto os esquerdopatas brasileiros estão acostumadíssimos: o único momento obrigatório de revolta da "pessoa maravilhosa" é quando cospe impropérios contra a direita e os EUA. Fez questão, porém, de manifestar a esperança de que o "povo americano reflita bem na escolha de seu próximo dirigente"... De resto, afirmou tudo aquilo que já sabemos de sua "lenda pessoal": que se vê como um revolucionário, que admira Che Guevara e Jesus Cristo como revolucionários, que a saúde e a educação na Venezuela deram um salto em seu governo, que está investindo em armas por pura "defesa" - essa, Girard explica - contra uma possível guerra com os EUA (dando como exemplo a relação deste país com o Paraguai, "suspeita", segundo ele), que busca um "equilíbrio" do planeta com a união de países da América Latina, da Europa, da Ásia; negou relações com as FARC a não ser como tentativas de apaziguamento, relatou indignado que empresas de petróleo venezuelanas nos EUA não mandavam um centavo de lucro para a Venezuela e que isso acabou em seu governo, confirmou que o governo Lula é sim de esquerda e que está chegando "lá" e que Lula é um grande homem e dirigente... Tudo isso com muitos sorrisos e um tom agradável na voz. Terminou a entrevista com uma piada, ao ser perguntado sobre se acreditava em Deus: depois de explicar que o socialismo que eles queriam no continente é um "socialismo cristão", disse que Cristo havia sido o primeiro socialista da História, e Judas Iscariotes, o primeiro capitalista, por tê-lo vendido... todos riram e a entrevista acabou assim. Ponto para ele.
Fiquei impressionada com o quanto o presidente Chávez "cabe" direitinho na imagem de "líder maravilhoso" por que o brasileiro esquerdoca chique está ansiando na América Latina. Impressionada. E com medo. Esperava algo mais populacho, mais burralhão, mais sem glamour, mais... Lula. Só que o cara parece ter tomado lições de "maravilhosidade". Cruzes.
Em tempo: para desmascarar boa parte do que Chávez disse, leia o post de Graça Salgueiro sobre a entrevista, no blog Notalatina. Diante dos fatos, todo o glamour chavista desaparece num piscar de olhos.
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2 comentários:
Buenas,
Estoy de Estados Unidos y no hablo espanol bien.
I was surfing the blogspots and found yours! :-)
I posted an entry about Senor Chavez also. Here it is.
Democracia e capitalismo. Um dia a América Latina conhecerá essas coisas...
Bjo!
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