19 outubro 2007

A arte moderna e o mundo como idéia


Hoje está em voga nas galerias o tipo de exposição que se chama “instalação” – um gênero artístico esquisito, inspirado no famoso urinol assinado por Marcel Duchamp (foto), em que as idéias substituem as obras de arte: objetos cotidianos são arranjados de modo a representar uma determinada idéia do artista, e a idéia se torna a verdadeira vedete do acontecimento. A idéia tem de tal modo substituído a arte que já se viu um pouco de tudo. Listo aqui todas as manifestações sobre as quais já li ou presenciei:

- Artista vendendo as próprias fezes em saquinhos;

- Artista expondo uma reprodução de seu próprio quarto após uma noite de sexo: uma cama desarrumada, louças sujas, camisinhas pelo chão;

- Artista pintando quadros com o próprio vômito, depois de ingerir tinta;

- Artista trazendo cadáveres para exposição ou esculpindo estátuas com matéria-prima de corpos mortos;

- Artista se jogando em cima de uma tela gigantesca para que, de sua morte, nasça sua última “obra”, hoje exposta em um museu de Tóquio.

É no mínimo intrigante perceber um fio comum que une essas manifestações: a insistência na escatologia, um fenômeno complexo que tenho tentado compreender, que me parece caracterizar mais uma manifestação daquilo que René Girard chamou “transcendência desviada”. Nesse caso, desviada para a arte: as instalações tentariam atravessar o tabu da morte, dessacralizá-lo, exorcizá-lo. Aquilo que, sabemos, apenas Jesus pôde fazer – a vitória sobre a morte (At 2:24) – se vê falsamente representado em um grotesco desfile de dejetos do corpo e cadáveres, em nome da tão elástica noção atual de “arte”.

O que pode ser mais tabu que a morte? O artista que o atravessa simbolicamente parece ganhar contornos de semideus. Só isso explica a popularização absurda da instalação, mas sobretudo das instalações “escatológicas”. E só isso explica as justificativas que recebeu um artista costa-riquenho, Guillermo Habacuc Vargas, por expor e deixar morrer de fome na galeria um cão doente recolhido nas ruas de Manágua, com a cruel ironia de um letreiro, acima dele, com a frase “Você é o que você lê” escrita com rodelinhas de ração coladas na parede. Justificativas como essa: “Pessoas morrem todos os dias de fome, drogadas, por xenofobia [sic] ou por estúpidos burgueses que ignoram e não se responsabilizam pela putrefação da vida atual. Bravos pelo prêmio, agora o cão está no céu, e o melhor é que morreu como uma obra de arte e não no silêncio das ruas.”

Morreu como uma obra de arte e não no silêncio das ruas. Sim, mas poderia ter sido recolhido para tratamento e adoção, como fazem tantas queridas amigas minhas, dedicando-se à causa dos animais abandonados. Poderia ter tido anos de vida feliz. Em vez disso, foi sacrificado em público para ser divinizado em nome da religião “arte moderna”, e para que seu sacerdote, esse “artista” Habacuc, seja alçado à categoria de profeta da modernidade.

E por que profeta da modernidade? Porque sua história resume a maior tragédia do nosso tempo: ele estava preocupado com o cão “como idéia”, e não com o cão real, faminto e doente, a seu alcance. É a preocupação com o ser humano genérico que substitui a ação real e eficaz nos regimes comunistas; senão, como explicar que, em nome do amor e de “um mundo melhor”, tenham sido feitas tantas vítimas, na casa dos milhões? Da mesma forma, é a preocupação com a idéia dos oprimidos - pobres, mulheres, negros, gays - que caracteriza a ação dos militantes politicamente corretos hoje; senão, como compreender que sua militância se concentre no Ocidente, e não no Oriente, onde não só mulheres e gays são assassinados e mutilados, mas também milhares de cristãos sofrem e morrem diariamente por causa de sua fé?

No totalitarismo vitimário moderno, desloca-se ou inventa-se uma vítima somente para que, em seu nome, sejam justificados os sacrifícios de incontáveis outras vítimas - essas, tão reais quanto o animal deixado para morrer como “obra de arte” no canto de uma galeria em Manágua. Confrontado sobre sua “arte”, Habacuc explicou que a presença do cão foi uma homenagem a Natividad Canda, morto por um rottweiler. Suas sentenças são reveladoras: “Me reservo o direito de decidir se é certo ou não que o cachorro morra”, desafiou, refletindo a atual inversão que submete até a vida a desígnios íntimos. E completou: “O importante para mim é a hipocrisia das pessoas: um animal assim se converte em foco de atenção quando o coloco em um lugar onde as pessoas vão ver arte, mas não quando está envolvido na morte de um homem, como aconteceu com Canda.” Além de mentirosa - pessoas mortas por animais são sempre assunto de destaque na mídia -, sua desculpa apenas evidencia o caráter expiatório, substitutivo, do sacrifício do cão. Arvorando-se em juiz, Habacuc achou justo que morresse um cachorro para expiar o ato de outro, apresentando essa morte em público, orgulhosamente, como arte, como idéia digna de ser chamada de arte. É sempre o mesmo processo: os sacrifícios arbitrários da modernidade precisam se escorar em uma vítima qualquer para que o sacrificado se torne merecedor da morte que lhe foi destinada. O pobre cãozinho, tão inofensivo que tinha sido capturado por crianças, sem nada compreender do que lhe acontecia, foi oferecido em libação simbólica à ânsia vingativa que parece ter tomado conta da humanidade com força especial nesses últimos dias - ânsia que se absolutiza como Idéia desencarnada, acima do bem e do mal, travestindo-se de justiça e roubando a forma da arte para se positivar.

Na figura de um pobre cachorrinho batizado Natividad, a quem foram negadas comida e água para que, reificado, continuasse servindo como objeto à causa Idéia, cumpriram-se mais uma vez os propósitos macabros de nossa época: a idéia substituiu não só a arte, mas a vida.
Veja as fotos da exposição e acompanhe os comentários assustadores que os defensores do artista postaram lá.

Assine a petição para que Habacuc seja confrontado com o justo limite para sua "arte": o limite sagrado da vida. Eu assinei: sou o número 21792.

E não deixe de ler:

Obras de René Girard;
O mundo como idéia, Bruno Tolentino, poemas
Desconstruir Duchamp, Affonso Romano de Sant'Anna, crônicas sobre a arte moderna

25 comentários:

Guilherme Arruda disse...

Oi Norma, tudo bem?

Muito bom ler seus escritos, sempre oportuna, conseguiu sintetizar o pensamento atual mais uma vez, que valoriza a coisa, a idéia, neste caso, em detrimento da vida.
Esse modo de ver a vida não é novo, já houve quem proibisse de se curar no sábado né?!!

Até quando as pessoas vão matar para pedir a paz?

Grande abraço!!!

Anônimo disse...

Realmente , um crime contra o cão. Deveria ser processado e preso, no mínimo a ser condenado a passar alguns meses tratando de animais. Seu texto sobre a elevação das idéias sobre a realidade das coisas é muito elucidativo, e realmente mostra que Baudrillard está correto: não existe mais diferença entre um signo e um simulacro. A dor não é mais algo real, é uma ideia.

Embora não tenha nada a ver com o comunismo, porque o sistema atual e globalizante não só perpetua e aumenta a miséria humana em escala global como o é justamente o próprio responsável pela separação entre signo, linguagem e realidade; entre imagem, idéia, e vivência.

Por outro lado, conquistamos um grau de liberdade que explica o porquê que menorias oprimidas como negros, mulheres e gays apenas militam no Ocidente. Talvez eles também quisessem ser ouvidos no oriente, mas lá nem voz eles têm.

Tirando esses dois pontos em que penso de maneira diferente, achei seu texto exuberante Norma.

Anônimo disse...

Avalio o idealismo contemporâneo da seguinte forma: a partir do século XVI, quando o platonismo "matematizante" invadiu a ciência experimental e expulsou toda a Física medieval para as "trevas" do fanatismo, a inteligência humana se dirgiu cada vez mais para a medição e para a redução do objeto estudado a alguns aspectos calculáveis. Foi o triunfo do abstrativismo, da maluquice erudita, da burrice iluminada. Não se buscava mais o "quê" das coisas, e sim as suas figuras e medidas. E aí veio Descartes, que considerava todos os homens (menos ele) autômatos, já que não conseguia demonstrar que eles existiam. Sua linda descoberta do "eu pensante" veio numa situação um pouco estranha: Descartes estava fumando maconha quando pensou em escrever o Discurso do Método. É sério. Impulsionado por ele, espalhou-se pelo mundo o que eu chamo de "barato espiritual": o idealismo filosófico, o entorpecimento da intuição humana, o desprezo pela existência efetiva. Essa verdadeira droga é criminosamente traficada em nossas universidades, e transforma sujeitos saudáveis, que só queriam ter um ensino superior, em viciados ansiosos por destruir as estruturas da realidade em nome de uma utopia, imaginando que o indivíduo é apenas uma conseqüência da sociedade. E, além disso, o abstrativismo também estimula e faz apologia da feiúra, como se afirma nesse post.

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Parabéns, Norma! Gostei da referência ao Bruno Tolentino!

Anônimo disse...

28169 é o meu. Abraço Norma.

Anderson Gonzaga disse...

Quando as pessoas sentem prazer em contemplar o bizarro, a bestialidade, a tortura e a morte, fica fácil pra essas figurinhas decrépitas serem exaltadas e usurparem uma honra que não lhes pertence.

Nossa cultura do "quanto pior melhor", gera filhos cada vez mais anômalos.

Penso, logo desisto!

Abraços,
Anderson.

bee disse...

33852.
porque a boca fala do que está cheio o coração, né? (queria mesmo saber por onde anda esse versículo na minha Bíblia...).
às vezes me pego com o coração negro e sujo e peço perdão logo de uma vez, que é pra ser tratada rápido.
esse tratamento é geralmente indolor e cheio de amor.
mas quando me deparo com um coração desses (cavernoso), confesso que não sei nem como orar.
oro em línguas mesmo.
me machuca menos.

Norma disse...

Que bom, os números da petição estão andando rápido! :-)

Jesus nos preveniu sobre a quantidade dos corações cavernosos que pululariam nos últimos dias. Quando me deparo com algo assim, sempre penso nisso, sempre lembro que o amor esfriará. Outros sinais são: a prática corriqueira do aborto e quantidade de bebês abandonados nas ruas por suas próprias mães. Quando até o amor materno esfria, é porque outras formas de amor estão congeladas há muito tempo.

Beijos, Deb!

Anônimo disse...

Norma,

Você leu no Figaro a respeito da exposição das obras de Courbet? Já na época dele prevaleciam a aberração e a feiúra na arte. É cada obscenidade e artificialidade!... O amiguinho do Baudelaire era uma espécie de guru dos modernos artistas glamourizados pela mídia.

Mystic Horseman disse...

Também nunca entendi o significado destas tais instalações nem o conceito de arte que estas pessoas tem para si mas até aí tudo bem, achava isso estranho, assim como você, mas isso passou dos limites.

Muito bom o seu blog ! Parabéns !

Norma disse...

Oi, Pedro,

Eu vi algumas obras de Courbet no museu d'Orsay em Paris. Gostei muito de "L'Atelier", quadro imenso que atesta uma série de preconceitos dos artistas à época. Também gostei muito de ver Baudelaire retratado nesse quadro e em um outro, do qual não lembro o nome. São pinturas interessantes para quem estuda literatura e conhece um pouco do século XIX francês. Agora, realmente, "L'origine du monde" é muito grotesco... Para quem não viu, trata-se simplesmente de um close bastante explícito em um órgão sexual feminino. "A origem do mundo": que ironia boba!

Para falar a verdade, depois de ficar mais de quatro horas no Orsay (porque fui sozinha), concluí que prefiro mil vezes os quadros pré-impressionistas. Foi uma descoberta perceber que achei, no geral, o impressionismo propriamente dito (Van Gogh, Monet...) muito supervalorizado. (Aos desavisados: ISSO É ABSOLUTAMENTE PESSOAL.) Quadros pré-impressionistas me fizeram paralisar por horas e/ou me levaram às lágrimas, principalmente os de temática bíblica: "Jérusalem", Gérôme (chorei!); "Saint Sébastien Martyr", Ribot (chorei - o sentimento das mulheres que têm o corpo do santo nos braços é contagiante); "L'hiver", Daubigny (não consegui sair da frente); "Les romans de la décadence", Couture (voltei três vezes para diante da tela). Porém, os impressionistas não me impressionaram: deixaram-me fria, não me prenderam por mais de um minuto. Alguns até mesmo me pareceram borrões ao vivo, como "Les Nymphéas", de Monet, que costuma ficar bonito nas reproduções. Isso foi bem decepcionante.

Mas minha paixão foi o Renascimento, no Louvre. Que êxtase! Ali eu vi que, em matéria de artes plásticas, os pintores renascentistas são imbatíveis. Não sei explicar, mas minha reação foi do mais puro enlevo. Cada um daqueles quadros merecia contemplação por horas. Cada um deles era um maravilhamento. O que mais amei (dos que pude ver: tive que correr no Louvre, pois não fui sozinha) foi "Le Christ et la femme adultère", de Lorenzo Lotto. Vale a pena procurar todas essas reproduções na internet. (P.S. "Saint Sébastien Martyr", na internet, não é nem sombra do que é no real. Aconselho a nem procurar essa. O sentimento das mulheres não aparece! Deve ser porque o quadro é bem escuro, tem que ver ao vivo mesmo.)

Norma disse...

Ei, Horseman, obrigada! ;-)

Anônimo disse...

Favor desconsiderar o outro comentário (escrevi uma palavra errada)

Nooooorma Brava!!
Eu "tava" comendo... :=(
Aguardo um artigo sobre escatologia, mas Bíblica (não é uma boa idéia) !!!

Eca Que nojo!!

Quem faz isso está possesso de espírito imundo e isso literalmente falando.

Abraços assim mesmo !!
:-)

Anônimo disse...

Pois é... O Courbet aplicava na pintura o que o Baudelaire concebeu para a literatura: glamourizar o horrendo, cobrir o que é grotesco de purpurina. Antes, os pintores tinham muito mais preocupação com o Belo e a fidelidade ao real.
Mas, sinceramente, há algumas obras "idealizadas" que me hipnotizam. As de Mantegna, por exemplo. O homem era meio maluco, mantinha as figuras paralisadas, sem vida... e isso é aliciante! É preciso ter cuidado com a Idéia, pois ela é uma dama muito sedutora. O andídoto aos seus feitiços está nos quadros mais sinceros e humildes, aqueles que nos comovem docemente. Recomendo o Tintoretto. Ele sempre me recupera quando estou hipnotizado... :-)

Anônimo disse...

Norma:
excelente seu texto! O que eu penso da "arte moderna" eu ja' disse em posts anteriores, e nao vou me repetir.

Queria chamar sua atencao para um pintor ingles victoriano, usualmente catalogado como Pre-Raphaelita, mas que transcende essa categoria. Me refiro a Edward Burne-Jones (1833-1898). Mas ele era mais do que um pintor: desenhou tapetes, vitrais,(as cores de seus vitrais ultrapassam minha capacidade de descricao), ladrilhos, mosaicos, e ilustrou livros (destaque para o Kelmscott Chaucer, "uma catedral de bolso"). Muitas dessas atividades foram em parceria com seu amigo William Morris.

Eis como Burne-Jones definia um quadro:

"I mean by a picture, a beautiful romantic dream of something that never was, never will be - in a better light than any light that ever shone - in a land that no-one can define or remember, only desire - and the forms divinely beautiful."

Como protesto contra o materialismo e o cientificismo de sua epoca, ele pintava anjos e mais anjos. As asas dessas criaturas espirituais simbolizavam a sua libertacao do peso da materia.

Foi precisamente o movimento impressionista como moda artistica que eclipsou a fama de Burne-Jones no fim de sua vida. Seus quadros, pintados com a tecnica e a perfeicao de um Miguel-Angelo, deixaram de ser apreciados, para perda das geracoes futuras corrompidas pelos diversos "ismos" do seculo XX.

Quanto ao Louvre: seu amigo Morris insistiu que ao visitar esse museu Burne-Jones fechasse os olhos, e nao os abrisse ate' chegarem em frente `a "Coroacao da Virgem" de Fra Angelico. Para isso Morris conduziu o amigo como a um cego ao longo dos corredores, ate' chegarem onde esta' esse quadro.

Tive a ventura de visitar em Nova York a exposicao do centenario da morte de Burne-Jones. Reunidas estavam suas principais obras, trazidas de diversos museus ingleses e escoceses. Pude apreciar a gigantesca tapecaria "A estrela de Belem" (ou "Adoracao dos Magos"), de 3 metros de altura por 6 metros de comprimento. Pura poesia. Dois dos reis magos estao imberbes, enquanto o mais idoso, e lider do grupo, ostenta longa barba branca: e' um auto-retrato de Burne-Jones. Em Nova York ha' uma igreja que tem diversos vitrais originais de Burne-Jones.

Fraternalmente, Hereticus.

Anônimo disse...

Hereticus,

Maravilhoso! Os desenhos de Edward Burne-Jones parecem muito com as ilustrações de William Blake. Este último era um monstro em tudo o que fazia, e seus poemas e quadros admitem tantos significados espirituais e simbólicos que ele foi menosprezado, por não seguir a "moda". Acho que Edward aprendeu com Blake: as imagens de anjos são altas e vibrantes, as túnicas são verticais e simples, e as poses são firmes. Um deleite!

Anônimo disse...

Pedro:

Quando perguntaram a Burne-Jones se ele acreditava na historia da visita dos reis magos, e sua adoracao do Menino-Deus, ele respondeu: "E' bela demais, para nao ser verdadeira."

A vida sentimental de Burne-Jones influenciou muito seus quadros. Seu tragico romance com Maria Zambaco esta' presente em diversas de suas obras primas, e e' responsavel pela tristeza que envolve muitas delas. Na exposicao de Nova York de 1998 figurava o retrato dela com Cupido abrindo uma cortina. Nesse retrato Maria tem um livro nas maos, aberto numa pagina ilustrada com uma reproducao do quadro "Le Chant d'Amour" do pintor. A flecha de Cupido repousa sobre a mesa de leitura, e esta' envolta num pedaco de papel onde se pode ler: "Maria Aetat XXVI August 7th 1870 EBJ pinxit." O rosto de Maria Zambaco embeleza numerosas telas do pintor. Impossivel esquece-la em "O enfeiticamento de Merlin", ou nas duas versoes de "Phyllis and Demophoon". Na lenda grega Phillis se mata por amor de Demophoon, e e' transformada numa amendoeira, que floresce quando ele a abraca. Ao enviar a primeira versao da tela para a Royal Water Colour Society em 1870, Burne-Jones acompanhou-a com uma citacao inglesa tirada da narrativa dessa lenda por Ovidio:
"Tell me what I have done, except to love unwisely."

A mulher de Edward perdoou a infidelidade, mas ao escrever as suas memorias do pintor, em dois volumes, ela omite tudo o que aconteceu no ano de 1869 e nunca menciona o nome daquela que foi modelo e musa do pintor.

Hereticus.

Mystic Horseman disse...

Norma !

Tenho um presente para você em meu blog !

Espero que gostes !

acesse o link abaixo :

http://mystichorseman.blogspot.com/2007/10/vale-pena-conferir.html

Abraços, luz e paz
HorseMan

Anônimo disse...

Norma:

vc que gosta de ver como a literatura e as artes interagem, vai apreciar saber algo mais sobre a citacao de Ovidio feita por Burne-Jones ao enviar sua tela para a RWCS:

"Tell me what I have done, except to love unwisely"

Ela ocorre numa carta que a infeliz Phyllis teria escrito para Demophoon, ameacando matar-se; portanto seria uma mensagem de Maria Zambaco para ele Burne-Jones. No latim de Ovidio:

"Dic mihi quod fecit? Nisi non sapienter amavi."

Veja agora como Shakespeare usa a frase de Ovidio em Otelo, ato V, cena II, (versos 398 e 399 da edicao de Yale), numa fala do mouro Otelo:

[........]. Then must you speak
Of one that lov'd not wisely but too well;

True love, Hereticus.

Maya Felix disse...

Horrível, Norma, e você ainda consegue pensar racionalmente sobre iso. Poderia fazer uma análise desse discurso, provavelmente muito parecida com a sua em alguns trechos, mas fiquei enojada com essa história. E fico com tantas outras.

Abraço,

Maya

P.S.: Vou incluir o link para o seu blog no meus "recomendados", como te disse ontem.

Unknown disse...

Os politicamente corretos da pós-modernidade são os mais incorretos homens da história; pois pessoas que desprezam o Absoluto, acabam com a base moral que há no universo. Sendo assim, onde elas podem chegar?! Dá até medo!
Norma, estou com os livros "O Bode Expiatório" e "Lições de René Girard na UniverCidade". Qual é o melhor, que eu deveria ler? Quero conhecer mais o pensamento de Girard, pois gostei da estrevista, que ele concedeu e que há no link de seu blog.

Gutierres Siqueira
www.teologiapentecostal.blogspot.com

Anônimo disse...

Norma,

O blogueiro português Pedro Guedes comentou essa "obra de arte":

http://ultimoreduto.blogspot.com/2007/10/natividad.html

"Natividad, por esta graça respondia o cão que observam vosselências na fotografia. A razão dele estar aqui é simples: foi o cachorro perseguido nas ruas de Manágua por um filho da puta - desculpam-me os meus caros amigos a falta de gentileza, mas não conheço termo mais apropriado -, que, convencido que é "artista", entendeu matá-lo à fome e à sede numa "exposição" defendendo a "obra" intitulada “Un perro enfermo, callejero”. Como é próprio dos tempos, a modernidade encontrou-lhe merecimento e foi o tipo elevado à categoria de génio, assim lhe cabendo a representação da Costa Rica na "Bienal Centroamericana Honduras 2008". Bem tenho procurado por aí uma petição que se propusesse fazer a folha a Guillermo Habacuc Vargas - assim se chama o personagem. Não a tendo encontrado, convido-vos, nem que seja por favor, a assinar esta outra, que visa impedir que a criatura meta as patas nas Honduras. Sinto-me, nestes casos, a defender o último reduto dos homens decentes."

Anônimo disse...

Assinei a petição. Sou o 183256.

Marcelo Hagah
João Pessoa-PB

Norma disse...

Good! Tá crescendo bem rápido.

Anônimo disse...

Norma,
parece que ocão não morreu na exposição. Veja isso: http://www.galeriacodice.com/index.php?id=30

Alceu Lourenço disse...

Olá, Norma.
Cheguei aqui por meio do Tempora-mores (meus "chefes" ;-)), e estou apreciando muito seus textos. Acabei de me formar no Seminário Presbiteriano JMC, e o grande desafio é fazer a ligação etre nossa Teologia e nossa sociedade - coisa que seu blog faz muito bem.
Quanto ao post, vemos que, conforme mergulhamos na rejeição de absolutos e na impessoalidade do pós-modernismo, a arte tem sido esvaziada de pretensão à beleza, e o artista da pretensão ao talento (Warhol). O resultado aparece nesta tendência que você chamou escatológica, que se manifesta mesmo sem recorrer às instalações (que a priori, bem poderiam apresentar outros conceitos). E note o papel do subjetivismo nesta "arte": já que a reação do espectador é planejada como parte integrante da obra, quanto mais intensa a reação, melhor é a obra! O que conta é o impacto, mas se a própria noção de beleza foi rejeitada como "burguesa", "opressora" e "hipócrita", resta-nos apenas causar horror!!
Protestemos e subscrevamos, mas não ignoremos a verdade misturada à hipocrisia de Habacuc: não apenas um artista, mas também um curador, alguns críticos de arte, inúmeros visitantes, etc.: este episódio é uma ilustração clara de como a sociedade inteira caminha para o absurdo intelectual, moral, espiritual.
Desculpe se me alonguei.