03 fevereiro 2007

Três assuntos

Kick-boxing

Na hidroginástica, o professor declara que vai trazer para a aula os mesmos movimentos de vários esportes. Depois do vôlei, em que fizemos o saque Jornada nas Estrelas (viva Bernard!), várias manchetes e várias defesas de cortadas, foi a vez do kick-boxing. “Pense em alguém que você detesta! Os políticos, seu chefe, sua sogra”, animou-nos o professor. Depois de alguns minutos sem me concentrar em ninguém – eu digo que não faço desafetos e as pessoas não acreditam – , veio-me a imagem de Hugo Chávez; principalmente agora, o Hugo Chávez do socialismo declarado e deslavado.

Ah! Mas ele apanhou muito. Socos e chutes de frente, socos e chutes de lado, todos dirigidos a ele. “Tome isso, por cercear a liberdade de imprensa na Venezuela! Tome mais isso, por ter tentado impedir o Alejandro Peña Esclusa de vir ao Brasil! Mais isso, por bancar o Hitler latino e abusar da democracia para implantar a ditadura! Mais isso, por querer transformar a América Latina em uma Cuba...”

Inútil dizer que, quando o kick-boxing da aula acabou, reclamei junto com a turma: “Aaaahhh....”


Disputas por minha alma

“Acontece com todos aqueles que buscam o diálogo”, solucionou a questão um grande amigo meu. É fato: a real abertura que tenho dedicado a pessoas queridas com uma visão do cristianismo diferente da minha tem suscitado oração, exortação e/ou argumentação incessantes, da parte delas, para que eu migre da fé protestante presbiteriana calvinista para a católica, a ortodoxa, até a swedenborguiana (sim, existe!). Que Deus me ajude: é preciso mil vidas para estudar cada um desses assuntos devidamente, mas só um coração amoroso e sincero para receber do Pai a orientação no caminho da verdade. Eu me aquieto: Ele sabe como apascentar suas ovelhas. Não se preocupem, pois, amigos: minha alma é de Jesus. Amém!


Pertencer

Para quem já leu com atenção a maioria dos profetas do Antigo Testamento, há uma imagem recorrente que compara o povo israelita à mulher adúltera, quando os judeus esquecem o Deus verdadeiro, que os libertou da escravidão do Egito, para adorar entidades estranhas. É como se Deus, nosso querido Deus, fosse o bom marido que é vítima de traição, perdoando muitas e muitas vezes quando a esposa volta, arrependida e precisando de cuidados.

Uma passagem em especial me chama a atenção, em Jeremias 2:25, quando Deus, como um marido desalentado, pede à esposa: “Guarda-te de que teus pés andem desnudos e a tua garganta tenha sede.” Ele já sabe que não será atendido: “Mas tu dizes: Não, é inútil; pois amo os estranhos e após eles irei.”

Não consigo deixar de pensar que a lascívia, pulsão por trás de todos os adultérios compulsivos, é essa gana de amar os estranhos, colecionar pessoas não-pessoas, em uma paixão pelo desconhecido que faz o homem ou a mulher adúlteros suspirarem pela variedade de gostos, cheiros, toques, caras, jeitos. Logo que se torna mais familiar, o objeto de lascívia perde a atração, e a busca recomeça: não por pessoas, mas por corpos vazios que portem o novo. A intimidade e o bem que permanecem são trocados pela excitação aventuresca de momentos isolados e frágeis. O mesmo mecanismo da droga: a surpresa do instante em lugar da vida em continuidade. E a mesma conseqüência: morte e perda de sentido, pois momentos soltos não constroem uma história nem solidificam o amor verdadeiro, possível apenas quando conhecemos e reconhecemos o ser amado, devotando-lhe a presença permanente.

Não vou após os estranhos; quero pertencer, pois não há outra forma de amor. Nem entre homens e mulheres, nem entre a humanidade e Deus.

11 comentários:

Anônimo disse...

Norma,

um pastor que trabalhou comigo aqui em Cosme Velho me aconselhou a treinar boxe para dispensar energias. Eu não pratiquei o conselho do colega mas achei até uma boa idéia: dar uns socos pensando em teólogos liberais (risos). Claro que é uma brincadeira!

Por falar em liberais, no seminário lembro de debates acerca da inspiração das Escríturas e até a divindade de Cristo. Eu orava pela minha alma e a de meus colegas e mestres. Tô contigo, minha alma é de Jesus! Ele pagou seu sangue por ela (Mc 10:45).

E termino contigo também! Nada de idolatria lasciva! Se o Senhor abriu nossos olhos espirituais, cabe a nós lutarmos contra a idolatria em nossas mentes e corações.

Bom ler seus posts novamente, também retornei a blogsfera.

Bjão,
Juan

Marcelo disse...

Adorei o seu Kick-boxing. Acho que se agente pudesse bater, mesmo que imaginariamente, em quem merece umas pancadas, também sobrariam sopapos para o Lula, para a turma vendida e perdida do PFL (que não tem mais nem cheiro de liberalismo)... sopapos para Kajuru (um sei-la-quê, não-sei-de-onde, que só me lembra porque estamos falando de sopapos)... além de sopapos, escarros na lápide de Fidel Castro.

Ah... sinto-me melhor agora.

Marcelo Hagah
João Pessoa-PB

Anônimo disse...

Olá Norma, td bem?!

Pow, sou irmã do Nagel! Sou suspeita pra falar pq faço boxe, hehe. E não entendo mto de teologia,mas concordo com vc quanto questão da idolatria...

Gostei do texto! :)


Um abraço!

Norma disse...

I am not going to allow spam in English in my blog. You are losing your time.

Norma disse...

Oi, Nathalia!

Por ser irmã do Nagel, você só pode ser gente boníssima! Beijão e volte sempre!

Norma disse...

Juan e Marcelo: bater é bom, mas com moderação. :-D
Abraços!

Anônimo disse...

Cara Norma,

O cara deve ter ficado todo machucado.

E essa parte do "pertencer" está muito boa.

Você já reparou que as pessoas não querem conhecer em profundidade, por ser trabalhoso? Por isso os sucessivas paixões pelo desconhecido: é mais fácil!

Continue assim!

Anônimo disse...

q bom q ta de volta

Anônimo disse...

Prezada Norma,

Eu já ia falar que imaginar bater no Hugo Chávez é exagero, mas lembrei-me da ira que sinto (e de algumas palavras que disse) cada vez que penso nele; eu não poderia atirar-lhe a primeira pedra. Duro, entretanto, é ouvir e ver louvores a ele (inclusive por atos como a cassação de canais de rádio e TV que assumem a democrática posição de oposição) partindo de pessoas cultas, como meus colegas de trabalho. É a constatação mais triste da profunda doutrinação gramsciana de que Olavo de Carvalho (que conheci graças a você) tanto nos fala, que não dá ao incauto meios para sequer imaginar que está sendo ludibriado. Oremos e trabalhemos para que o "bolivarianismo" não nos destrua também em nossa terra.

Quanto a quem queira que você mude de pasto, asseguro-lhe que não sou um dos que oram ou instam para que você deixe o protestantismo calvinista presbiteriano e se torne uma protestante não-exatamente calvinista batista como eu. Tendo Jesus como nosso único e suficiente Salvador por meio da fé, considero-a plenamente minha irmã, que estará no mesmo Céu que eu, quando nosso Pai nos chamar e nosso Pastor nos receber nos lugares que já nos preparou. Não sei se você faz idéia de quanto eu aprendi e cresci através do que li aqui ou, por intermédio deste blog, no "O Tempora, o Mores" e em outros sites indicados. Se oro por você, oro para que Deus lhe dê mais do fruto do Espírito, que a console, que a anime e que a faça como Ele, nunca como eu. Eu não sei exatamente como é ser como Ele, ou como a mente dEle funciona, ou até que ponto Ele nos delega autonomia, mas sei que Ele guarda o seu tesouro e o meu até o dia final.

Um abraço.
Paulus Alessandrae (<-- meu pertencimento!)

Norma disse...

Obrigada, Cfe, Anônimo, Paulo! O encorajamento de vocês é muito importante para mim. Continuem escrevendo!
Abração!

Zé Luis disse...

"Pertencer" é muito bonito. Creio que seja também um certo medo da plenitude a inspirar estas variações sobre o nada (apud Bloy). Mas acertaste em cheio na coleção ilusória das novas e velhas bocas. Flusser vê o D. Juan inclusive na loucura da leitura sem fim e sem sabedoria. Deixo, contudo, um desafio: será possível escrever uma boa estória de um casal que envelheça junto até o derradeiro encontro com Ele? Os lances romanescos dependem desta romântica alteração do comum. Sim, pois comum é amar o mesmo. Nada tenho contra o comum, aliás. Mas, vejamos, ou a Beatriz subiu a céus distantes ou jaz para sempre. Trai o herói ou o herói acha que ela trai (Desdêmona), ou se mata, vide Ofélia, ou se conciliam na morte, vide Romeu e Julieta. Penélope que espera, Capitu que se exila. Não li I Promessi Sposi, mas talvez seja um caso único, não?