Kick-boxing
Na hidroginástica, o professor declara que vai trazer para a aula os mesmos movimentos de vários esportes. Depois do vôlei, em que fizemos o saque Jornada nas Estrelas (viva Bernard!), várias manchetes e várias defesas de cortadas, foi a vez do kick-boxing. “Pense em alguém que você detesta! Os políticos, seu chefe, sua sogra”, animou-nos o professor. Depois de alguns minutos sem me concentrar em ninguém – eu digo que não faço desafetos e as pessoas não acreditam – , veio-me a imagem de Hugo Chávez; principalmente agora, o Hugo Chávez do socialismo declarado e deslavado.
Ah! Mas ele apanhou muito. Socos e chutes de frente, socos e chutes de lado, todos dirigidos a ele. “Tome isso, por cercear a liberdade de imprensa na Venezuela! Tome mais isso, por ter tentado impedir o Alejandro Peña Esclusa de vir ao Brasil! Mais isso, por bancar o Hitler latino e abusar da democracia para implantar a ditadura! Mais isso, por querer transformar a América Latina em uma Cuba...”
Inútil dizer que, quando o kick-boxing da aula acabou, reclamei junto com a turma: “Aaaahhh....”
Disputas por minha alma
“Acontece com todos aqueles que buscam o diálogo”, solucionou a questão um grande amigo meu. É fato: a real abertura que tenho dedicado a pessoas queridas com uma visão do cristianismo diferente da minha tem suscitado oração, exortação e/ou argumentação incessantes, da parte delas, para que eu migre da fé protestante presbiteriana calvinista para a católica, a ortodoxa, até a swedenborguiana (sim, existe!). Que Deus me ajude: é preciso mil vidas para estudar cada um desses assuntos devidamente, mas só um coração amoroso e sincero para receber do Pai a orientação no caminho da verdade. Eu me aquieto: Ele sabe como apascentar suas ovelhas. Não se preocupem, pois, amigos: minha alma é de Jesus. Amém!
Pertencer
Para quem já leu com atenção a maioria dos profetas do Antigo Testamento, há uma imagem recorrente que compara o povo israelita à mulher adúltera, quando os judeus esquecem o Deus verdadeiro, que os libertou da escravidão do Egito, para adorar entidades estranhas. É como se Deus, nosso querido Deus, fosse o bom marido que é vítima de traição, perdoando muitas e muitas vezes quando a esposa volta, arrependida e precisando de cuidados.
Uma passagem em especial me chama a atenção, em Jeremias 2:25, quando Deus, como um marido desalentado, pede à esposa: “Guarda-te de que teus pés andem desnudos e a tua garganta tenha sede.” Ele já sabe que não será atendido: “Mas tu dizes: Não, é inútil; pois amo os estranhos e após eles irei.”
Não consigo deixar de pensar que a lascívia, pulsão por trás de todos os adultérios compulsivos, é essa gana de amar os estranhos, colecionar pessoas não-pessoas, em uma paixão pelo desconhecido que faz o homem ou a mulher adúlteros suspirarem pela variedade de gostos, cheiros, toques, caras, jeitos. Logo que se torna mais familiar, o objeto de lascívia perde a atração, e a busca recomeça: não por pessoas, mas por corpos vazios que portem o novo. A intimidade e o bem que permanecem são trocados pela excitação aventuresca de momentos isolados e frágeis. O mesmo mecanismo da droga: a surpresa do instante em lugar da vida em continuidade. E a mesma conseqüência: morte e perda de sentido, pois momentos soltos não constroem uma história nem solidificam o amor verdadeiro, possível apenas quando conhecemos e reconhecemos o ser amado, devotando-lhe a presença permanente.
Não vou após os estranhos; quero pertencer, pois não há outra forma de amor. Nem entre homens e mulheres, nem entre a humanidade e Deus.
11 comentários:
Norma,
um pastor que trabalhou comigo aqui em Cosme Velho me aconselhou a treinar boxe para dispensar energias. Eu não pratiquei o conselho do colega mas achei até uma boa idéia: dar uns socos pensando em teólogos liberais (risos). Claro que é uma brincadeira!
Por falar em liberais, no seminário lembro de debates acerca da inspiração das Escríturas e até a divindade de Cristo. Eu orava pela minha alma e a de meus colegas e mestres. Tô contigo, minha alma é de Jesus! Ele pagou seu sangue por ela (Mc 10:45).
E termino contigo também! Nada de idolatria lasciva! Se o Senhor abriu nossos olhos espirituais, cabe a nós lutarmos contra a idolatria em nossas mentes e corações.
Bom ler seus posts novamente, também retornei a blogsfera.
Bjão,
Juan
Adorei o seu Kick-boxing. Acho que se agente pudesse bater, mesmo que imaginariamente, em quem merece umas pancadas, também sobrariam sopapos para o Lula, para a turma vendida e perdida do PFL (que não tem mais nem cheiro de liberalismo)... sopapos para Kajuru (um sei-la-quê, não-sei-de-onde, que só me lembra porque estamos falando de sopapos)... além de sopapos, escarros na lápide de Fidel Castro.
Ah... sinto-me melhor agora.
Marcelo Hagah
João Pessoa-PB
Olá Norma, td bem?!
Pow, sou irmã do Nagel! Sou suspeita pra falar pq faço boxe, hehe. E não entendo mto de teologia,mas concordo com vc quanto questão da idolatria...
Gostei do texto! :)
Um abraço!
I am not going to allow spam in English in my blog. You are losing your time.
Oi, Nathalia!
Por ser irmã do Nagel, você só pode ser gente boníssima! Beijão e volte sempre!
Juan e Marcelo: bater é bom, mas com moderação. :-D
Abraços!
Cara Norma,
O cara deve ter ficado todo machucado.
E essa parte do "pertencer" está muito boa.
Você já reparou que as pessoas não querem conhecer em profundidade, por ser trabalhoso? Por isso os sucessivas paixões pelo desconhecido: é mais fácil!
Continue assim!
q bom q ta de volta
Prezada Norma,
Eu já ia falar que imaginar bater no Hugo Chávez é exagero, mas lembrei-me da ira que sinto (e de algumas palavras que disse) cada vez que penso nele; eu não poderia atirar-lhe a primeira pedra. Duro, entretanto, é ouvir e ver louvores a ele (inclusive por atos como a cassação de canais de rádio e TV que assumem a democrática posição de oposição) partindo de pessoas cultas, como meus colegas de trabalho. É a constatação mais triste da profunda doutrinação gramsciana de que Olavo de Carvalho (que conheci graças a você) tanto nos fala, que não dá ao incauto meios para sequer imaginar que está sendo ludibriado. Oremos e trabalhemos para que o "bolivarianismo" não nos destrua também em nossa terra.
Quanto a quem queira que você mude de pasto, asseguro-lhe que não sou um dos que oram ou instam para que você deixe o protestantismo calvinista presbiteriano e se torne uma protestante não-exatamente calvinista batista como eu. Tendo Jesus como nosso único e suficiente Salvador por meio da fé, considero-a plenamente minha irmã, que estará no mesmo Céu que eu, quando nosso Pai nos chamar e nosso Pastor nos receber nos lugares que já nos preparou. Não sei se você faz idéia de quanto eu aprendi e cresci através do que li aqui ou, por intermédio deste blog, no "O Tempora, o Mores" e em outros sites indicados. Se oro por você, oro para que Deus lhe dê mais do fruto do Espírito, que a console, que a anime e que a faça como Ele, nunca como eu. Eu não sei exatamente como é ser como Ele, ou como a mente dEle funciona, ou até que ponto Ele nos delega autonomia, mas sei que Ele guarda o seu tesouro e o meu até o dia final.
Um abraço.
Paulus Alessandrae (<-- meu pertencimento!)
Obrigada, Cfe, Anônimo, Paulo! O encorajamento de vocês é muito importante para mim. Continuem escrevendo!
Abração!
"Pertencer" é muito bonito. Creio que seja também um certo medo da plenitude a inspirar estas variações sobre o nada (apud Bloy). Mas acertaste em cheio na coleção ilusória das novas e velhas bocas. Flusser vê o D. Juan inclusive na loucura da leitura sem fim e sem sabedoria. Deixo, contudo, um desafio: será possível escrever uma boa estória de um casal que envelheça junto até o derradeiro encontro com Ele? Os lances romanescos dependem desta romântica alteração do comum. Sim, pois comum é amar o mesmo. Nada tenho contra o comum, aliás. Mas, vejamos, ou a Beatriz subiu a céus distantes ou jaz para sempre. Trai o herói ou o herói acha que ela trai (Desdêmona), ou se mata, vide Ofélia, ou se conciliam na morte, vide Romeu e Julieta. Penélope que espera, Capitu que se exila. Não li I Promessi Sposi, mas talvez seja um caso único, não?
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