05 março 2007

O gosto pelo diferente


Reinaldo Azevedo escreve em seu blog que “Euclides da Cunha estava convicto, junto com os cientistas, que a miscigenação respondia, em boa parte, pela idiotia que constatava nos seguidores de Antonio Conselheiro”. Bom, não acho que a miscigenação seja causa de problemas mentais, mas devo me confessar um pouco racista sim – uma “racista estética”, se tal coisa existe.

Explico-me: sempre tendo a achar mais bonitas as raças... como direi? Não “puras” (como classificar a pureza? Impossível, desde a descendência de Caim), mas cujos traços são fortemente predominantes. Assim, fico embasbacada diante de um japonês esguio e delicado, um loiro branquelíssimo de olhos azuis ou um negro bem negro, alto, forte, rosto tipo Milton Nascimento, com aquele “bico”: a arcada dentária para a frente. Esses tipos me fascinam. Quando vinham à faculdade uns grupos de estudantes africanos para intercâmbio, eu sempre me permitia contemplá-los de longe – e sim, as roupas coloridas faziam parte do fascínio.

De onde tiro logo o autoquestionamento: gosto por raças que pelo menos parecem “puras” ou apenas um gosto pelo diferente? Porque, no país da miscigenação, os tipos fortes são raridades. O Brasil já me cansa: tudo tão misto, tão diluído – tão morno também, se pensamos nas idéias. Eu quero a diferença forte, os contrastes, as discussões acaloradas. Tudo é melhor que essa paz de plástico que nos rodeia.

Não, não quero racismo nem brigas; mas também não quero a indiferença do homem cordial, que contorna as diferenças sem aprender a amá-las.

P.S. Para quem ficou curioso, as personalidades que acho mais bonitas hoje não são George Clooney ou Rodrigo Santoro, mas sim David Bowie (o roqueiro inglês branco-azedo de olhos cada um de uma cor) e Gary Dourdan (o CSI negro e musculoso de olhos verdes). Dourdan é quase unanimidade, embora haja quem o compare ao ator-escritor casseta Hélio de la Peña – de fato, uma grande injustiça! Mas, quando falo em Bowie, as amigas costumam fazer careta e torcer o nariz. Tudo bem: fujo das unanimidades também estéticas, assumidamente.

14 comentários:

Paulo Cruz (PC) disse...

Ôh Norma, que brincadeira sem graça! Espantou todos os homens do seu Blog! (rsrs)

Ninguém comenta...

Nem eu! (rsrssss)

Paz,
PC

Norma disse...

Hahahahahahahaha!
Será que eu tenho mais leitores que leitoras? Hummmm...
Hahahahah!
Abração!

Anônimo disse...

Interessante: será mesmo que há alguma relação entre a miscigenação e essa passividade intelectual do brasileiro? Ou foi só coincidência?

Edson Camargo disse...

O importante é ser limpinho(a), né...

Anônimo disse...

Nada mais favorável a miscigenação que esse tal de "racismo estético" que acabou de inventar...

Minha bisavó é filha de sicilianos. casou com um filho de portuguêses... E meu avô nasceu um alemão, branquelo, loiro dos olhos azuis. Meu avô casou de novo com uma portuguesa... E meu tio ficou com cabelos brancos (ele sempre teve cabelos grisalhos) e olhos azuis. Ele casou com a filha de austriacos... E a raça ariana foi reafirmada.

Já me disseram que eu tenho cara de japonês... Eu tenho realmente os olhos puxados. Eu teria filhos bem japoneses com uma japonesa. Mas uma loira dos olhos azuis seria uma experiência genética, pra matar a curiosidade se eu tenho o gene Aa e guardo o traço dos olhos azuis, ou [i]AA[/i] dos olhos puramente castanhos. Poderia ser uma negra pra avacalhar de vez, ou uma branquinha pra manter o costume...

Anônimo disse...

eu sabia q vc curtia um negao!
hahaha

Mário Magalhães disse...

Norma, o q fico fascinado, além de sua inteligência é a facilidade e beleza do seu texto.
Portanto, o q vc escrever será uma obra de arte. Vc falou em algumas comunidades no Orkut. Participo de algumas sobre alguns temas. Poderia dar alguns nomes p eu participar também? Já vi q algumas incluem ceticismo pelo texto de alguém q postou. Um abraço.

Norma disse...

Oi, Thiago,
Eu li ontem no livro do Diogo Mainardi que os evangelizadores que chegaram aqui acharam os índios muito volúveis: convertiam-se com uma hora de pregação, prometiam parar de comer carne humana e dias depois já tinham esquecido tudo. Não digo que a culpa seja da miscigenação, mas dessa personalidade indígena molenga, é muito provável sim!

Francisco, muito obrigada!
Se você procurar por "Norma Braga", eu apareço logo na primeira página, numa foto laranja.
Abraços!

Eliot, você é bobo! :-D

Norma disse...

Edu: é verdade, na medida em que eu gosto de raças com traços fortes, se me caso com alguém assim o resultado nos filhos será uma bela de uma miscigenação.

Sou bem branca de cabelos castanhos, mas se pegar sol fico morena. O problema é que nunca pego... hehehe.

Na verdade, meu tipo é bem português, e estou longe de ser exótica. Há outros tipos que acho bonitos: árabe, indiano, alemão.

Só fiquei um pouco cabreira com uma palavra do seu comentário: "avacalhar". Avacalharia a tal da discutível "pureza", mas o resultado poderia ser deslumbrante, não? Quem sabe um filho negro de olhos verdes, como o Dourdan.

Norma disse...

Alice: negão, branquelo, pele "azeitonada" como os indianos... Hehehehe!

Mas, na verdade, meus critérios jamais são estéticos em primeiro lugar. Já namorei rapazes que muitos consideravam feios, e eu não...

Abraços!

Anônimo disse...

Norma,

Interessante a sua maneira maneira de enxergar e conceber a beleza...diria eu que é uma forma, digamos assim, pouco individualizada de perceber o belo......

Anônimo disse...

Porra Norma, a humanidade não é como o pedigree dos seus gatos!

Abraços!

Norma disse...

Quem falou em pedigree? :-)

Além disso, meus dois gatos são lindos SRD (Sem Raça Definida). E estou falando em estética, não necessariamente em genes, seu bobo! Aquele que parece "raça forte" pode muito bem ser o mais miscigenado dos seres, geneticamente falando...

Anônimo disse...

A idéia é que, mesmo miscigenados ainda podemos ter filhos assim "puros".

Eu poderia ter filhos branquinhos, bem japoneses pelos olhos puxados que tenho ou até, quem sabe, um alemãozinho. Mas com uma negra seria miscigenação. Avacalhar, ummm, usei avacalhar só para avacalhar, ué!