13 agosto 2007

A menina sem estrela

A Revista Veja veicula essa semana uma matéria sobre Marcela, a menina anencéfala que está completando nove meses, contra todas as predições médicas. O texto se chama "A Menina sem Estrela", título feliz emprestado de uma crônica de Nelson Rodrigues. A menina sem estrela é a filha de Nelson, Daniela, que nasceu com um problema cerebral. Eu a conheci. É uma mulher linda, de uma brancura diáfana, traços fortes e perfeitos. Fica paradinha, olhos cerrados, cabeça ligeiramente inclinada. A mãe, Lúcia, diz que ela gosta de ouvir rádio. Daniela é linda, e mesmo com vida vegetativa possui uma dignidade de ser humano que nenhum eugenista irá tirar dela.

Leitores desaprovam Reinaldo Azevedo por defender a vida de Marcela. O lugar-comum sobre o caso fecha a matéria de Veja na espantosa frase de um pediatra: "É como se ela fosse um computador sem processador." Computador? A lógica do aborto é sempre reificadora. Pronunciar sentença de morte sobre um feto ou um idoso por doença é condenar a humanidade inteira ao aniquilamento. Assim é que, todos os dias, somos postos fora displicentemente, como aparelhos danificados que não prestam mais.

No entanto, apesar de sua anomalia congênita, Marcela não foi
jogada na vala comum dos objetos inúteis ou das sobras orgânicas de hospital. Teve direito a um nome, a uma certidão de nascimento e ao amor paterno. Tem seu lugar garantido na história, modificou a vida das pessoas à sua volta, deixou sua marca pessoal. Será sepultada como todo ser humano deve ser, mesmo os que não têm cérebro: com sua dignidade intacta. Deus seja louvado por isso!

35 comentários:

Paulo Silvano disse...

Cara Norma,

H� muito frequento o seu blog como visitante. Como se viu l� no O TEMPORA, percebe-se que temos diverg�ncias significantes. Devo dizer, entretanto, que admiro a sua postura, igual a minha, de rejeitar e combater o aborto criminoso e a pr�tica da homosexualidade, condenados por Deus. Ah, fiquei extremanente sensibilizado com o seu post "Maternidade"; ouvi in�meras vezes Dawn Upshaw e, como voc� chorei porque h� um ano eu e minha esposa vivemos uma linda hist�ria de amor com a vinda do baianinho Vinny, o nosso filho do cora�o, que fez um ano no dia dos pais.
Nessa tambem estou com vc: "N�o importa o que aconte�a, Deus seja louvado!".Agrada-te do Senhor e Ele satisfar� o desejo do seu cora�o. Se quizer ver o meu presente de Deus de um pulo l� no meu blog (Se for, n�o ligue pra outras coisas que est�o l�. Acredite, n�o quero provoc�-la).

Paulo Silvano

Norma disse...

Oi, Silvano!

Puxa, que lindo! Muito obrigada por ter me contado essas coisas!

Eu fico feliz demais por podermos conviver e aprender um com o outro, mesmo com as diferenças teológicas!

Vou lá no seu blog sim!

Grande abraço!

P.S. Não sei por que seu texto ficou truncado, mas se quiser pode tentar postar de novo, que eu apago esse e posto o outro.

Anderson Gonzaga disse...

Olá Norma,

É maravilhosa a lição que esse casal de pessoas comuns dá áqueles que são autoridade e podem decidir se alguém viverá ou não.

Mostra que não há barreiras quando se ama!

Seu post me trouxe a memória um texto que li, me parece no blog do Júlio Severo dizendo que, na Holanda, há uma institucionalização da eutanásia e que chega ao cúmulo de em alguns casos, os médicos poderem decidir sem consultar a família do doente. Os idosos temem ser internados em serviços de "saúde".

Evidentemente que eles chegaram lá gradualmente, no modelo que está sendo proposto aqui: apostasia dos cristãos, criminalização de "homofobia", descriminalização de: aborto, drogas, eutanásia......

Lutemos para que esse nosso governo de loucos não nos leve a isso.

Anderson.

Norma disse...

Sim, Anderson, você tem toda razão. Se o Brasil ainda não legalizou o aborto, é porque ainda somos saudáveis em alguma escala. Tomara que o PT veja frustrados todos os seus principais planos.

Abraços!

Anônimo disse...

Carissima Norma:

Parabéns pelo texto e pela sensibilidade.

Gostaria de discutir sua viagem à França, lá na lista dos 8, mas no momento me encontro impossibilitado. Meu Outlook deu pau, perdi mensagens de anos e agora meu micro vai para o estaleiro. Mas assim que tudo estiver ajustado, conversaremos sobre a sua experiencia francesa, que me fez lembrar os dias que passei na Alemanha.

Um fraterno abraço,

D. Fernandinho disse...

Parabéns pelo texto. Cheguei até seu blog pleo programa do Olavo de Carvalho. Estou te adicionando nos links do meu blog. Abraço.

Fernando

Anônimo disse...

Olá Norma,

Lembrei-me de como os abortistas têm uma vida vazia porque a presença de Marcela Jesus os incomoda bastante. Observe que esse nome "Menina sem Estrela" foi escrito por Nelson Rodrigues em homenagem à sua filha, depois que descobriu que ela era cega. Lembro-me também de como ele se expressou diante da atitude de Lúcia, a mãe da menina, disse algo como: "uma mulher que dá à luz uma criança, deve ser amada; uma mulher que dá à luz uma crinça cega deve ser amada mais ainda". Os abortistas são donos disso: emprestam a suas apologias infames títulos que defendiam o dom da vida em todas as suas situações. Outro caso é o documentário "Morte e Vida Severina" que roubou o título de João Cabral de Melo Neto sobre o auto de natal onde a esperança que um recém-nascido trazia, contagiava a vida de muitos Severinos por aí. Mas, na ótica severina, é um ótimo nome para sua palhaçada abortista, onde induziam duas pessoas ignorantes a matar o próprio filho que sofria de anencefalia. Uma tristeza.

Saudações,

Emanuelle Moura

UM CANTINHO SÓ MEU disse...

Norminha,


Mais uma vez, vc arrasou. Eu concordo com você plenamente. Essa menina é a prova viva de que Quem dá a vida é Deus. Outros fariam o aborto por entender que ela ñ viveria, pois não tem o cérebro. Mas contrariando expectativas, ela vive e bem. Ainda que queiram falar que ela só "vegeta"!

Leo Lama disse...

Biologicamente falando, vida é calor. Metafisicamente falando, vida é Luz. Não é o calor e a luz que a falta de Fé tenta abortar em nós? A Chama Viva do Amor basta, sem cérebro, sem palavras, sem a irracionalidade que nos assola. Resistência.

Unknown disse...

Deus seja louvado.

Marcos Rangel

O Tempo Passa disse...

Norma,
quero te mandar uma "carta". Poderia me dar teu email?
Obrigado

M. V. M. de Arruda. disse...

Muito interessante você Elucidar o título da Veja, e depois mostrar a verdadeira intenção do autor - original -, feito em homenagem a filha, e não elucidando a sua "incapacidade".
Meu amigo sempre me ensinou;"Texto sem contexto, pretexto para heresia"; faz sentido!
Os pai e mãe simples que "agradecem a Deus" pelo fato de sua filha estar viva, diante das impossibilidades me faz querer realmente ser simples de coração.Enquanto talvez eu estaria maldizendo, eles agradecem e mostram a sua gratidão!
Ótimo blog, Deus lhe abençoe!

Anônimo disse...

Norma,

Parabens pelo texto. Magnífico. Essa menina é uma dádiva de Deus para todos nós.

Patola disse...

Mas no que essa menina com anencefalia prova? Que é possível ela ter vida "vegetativa" sem cérebro? Isso é possível e acho que ninguém discorda. Mas e daí? Não é possível ter vida humana. Essa menina não tem consciência, não tem pensamentos, não tem nada. Tem só reações automáticas, instintivas. Considerar isso como um argumento contra os direitos reprodutivos da mulher é um non-sequitur - "não se segue". Somente se se assumir como premissa que o aborto da menina seria algo errado é que se pode concluir que ele é algo errado, um argumento circular. Vocês não conseguem mesmo pensar "fora da caixa" pra entender como pessoas que discordam de vocês raciocinam?

Concordo que se deva dar o direito aos pais de terem todos os custos pra ter essa menina anencéfala e criá-la como se fosse um ser humano - assim como tem gente que cria plantas e peixinhos de aquário e conversa com eles -, o que não é justo é a partir do exemplo das pessoas que fizeram uma escolha dessas achar que todo mundo tem o dever de seguir essa escolha. Isso, sim, é de uma crueldade inimaginável.

Samuel Braz disse...

Norma, concordo contigo em gênero e grau. De fato não temos o direito de questionarmos aquilo que o Soberano determina para nossa vida.

É lógico, que nesse mundo em que a filosofia situacionista determina as regras, não é de se espantar que se acabe com a vida de alguém simplesmente por esse alguém ser diferente, ou constituído por anomalía ou deformação genética.

Deus determina quem vive, e Deus determina quem morre.Ele é Soberano!
Graça e Paz!

Unknown disse...

Norma, quando citei o exemplo dessa linda criança em um debate na faculdade sobre abordo, o professor fugiu da questão! Eles sempre fogem! Essa luta é grande...
Muito bom o seu blog.

Gutierres Siqueira
www.teologiapentecostal.blogspot.com

Norma disse...

Cláudio,
Mudanças no discurso não provocam mudanças na realidade. Chamar o aborto de "direito reprodutivo" e as palavras contra o aborto de "cruéis" é inverter as coisas. No aborto, há quem mate e há o bebê que morre assassinado. Nada irá mudar isso. Se você acha cruel reforçar a culpa da mãe ou dos médicos, bem, pense que é uma culpa real, não imaginária. O bebê estava ali, vivo, e ia nascer se não fosse essa intervenção. Cruel é não ter culpas ou não ter respaldo social para confessá-las nem para si mesmo. SUgiro que leia mais sobre seqüelas psicológicas do aborto.

A morte provocada JAMAIS pode ser uma escolha validada socialmente. Por mais inteligentes que sejam os jogos de palavras de Peter Singer et caterva (viu, também sei usar latim!!!!). :-)

Patola disse...

Essa "culpa" que você coloca como tão absoluta não é algo da natureza - é algo totalmente do campo das idéias. Tudo isso depende da verdade de onde você define como o "início da vida humana". Se você já assume que é na concepção e que a partir daí temos algo que é 100% uma pessoa humana, suas conclusões estão certas. Por outro lado, você definiu arbitrariamente um limite - que é algo bastante variável entre culturas diferentes, indo desde de antes da concepção até bem depois do nascimento (digamos, até o batismo). Nesse limite se encerra toda a questão, e nossa mente descontínua tem dificuldade em aceitar que certas coisas não aparecem de uma hora pra outra. É possível pensar em uma gradual transição do estado de "não-pessoa" pra "pessoa" durante a gestação. Mesmo os mais ferrenhos defensores do aborto em nossa sociedade moderna concordam contigo que matar um feto no nono mês é um assassinato vil. O problema é antes disso.

Você concorda que matar um espermatozóide - que o corpo masculino produz aos milhões todo dia e que se não forem usados serão simplesmente mortos e reabsorvidos pelo corpo - não tem nada de mais? Ora, mas se formos seguir o seu raciocínio, eles são seres humanos potenciais, só falta mesmo encontrar qualquer óvulo. Ou se o problema é raridade, falemos do óvulo da mulher: eles têm mesmo que ser usados? Cada um? Toda oportunidade de levar uma gestação até o fim deve ser aproveitada? Esse raciocínio é non-sequitur também - uma coisa não implica a outra.

O papo da intervenção, sim, é que é um artifício lingüístico para implicar em que a vida de uma não-pessoa deve ser considerada mais importante do que a vida da pessoa do qual o desenvolvimento do primeiro depende.

De novo, limites arbitrários não adiantam. Até mesmo a natureza não estabelece coisas descontínuas como suspeitamos - por exemplo, a mistura de material genético não ocorre no óvulo feminino fecundado (aliás, a palavra óvulo é errada: no momento da entrada do espermatozóide, aquilo é um ovócito-II). Ocorre somente depois da segunda divisão. Se formos arbitrários como você quer, deveríamos começar a coçar a cabeça: "peraí... definimos o começo da vida como a entrada do espermatozóide no óvulo ou a mistura de material genético? Se definirmos o segundo, então quer dizer que o anticoncepcional DIU agora está OK?"

É lógico, um dos truques ao qual você pode apelar é a autoridade da religião: "ei, mas a minha religião diz que a alma vem pro corpo no momento da concepção" - mas aí você estará agindo fora da lei: para discutir sobre dilemas de uma sociedade que não é teocrática e portanto pode ter qualquer religião que lhe convier (inclusive ateísmo), você tem que usar de argumentos necessariamente laicos ou seculares (não-religiosos). Essa é a regra.

Norma disse...

Claudio,

Eu sou uma ferrenha opositora ao aborto e considero-o assassinato desde sempre. Afinal, não importa quando começa a vida, o que importa é que essa vida não vai realizar sua destinação, que é fora do útero.

Isso é uma falácia de quem defende o aborto: achar que o tempo é um fator ontologicamente relevante. Não é. Se eu mato o feto de Joãozinho com 1 mês, 2 meses ou oito meses, Joãozinho continua sendo interrompido antes de deixar o útero. Isso é nonsense e só poderia mesmo ser argumento tão utilizado hoje em dia, quando a maioria das pessoas substitui a descrição da realidade por palavras de efeito.

Da mesma forma, se eu impedir alguém de matar um espermatozóide, ele jamais se transformará em uma pessoa. Mas impedir o desenvolvimento do óvulo fecundado é matar a pessoa antes de nascer. Senão, para quê o aborto? O que motiva o aborto é justamente a recusa da paternidade. Se o óvulo fecundado não se tornasse pessoa, ninguém se importaria em decretar sua morte.

Vê-se o quanto a maioria de seus argumentos é jogo de palavras. Não importa aqui a questão religiosa. Abortar é suprimir um ser humano do mundo, ponto. Aprovar esse ato é aprovar essa supressão. Daí para o infanticídio e a eutanásia é um pulo - até Peter Singer reconhece isso.

Patola disse...

Norma,

Não é uma falácia. Se você notar bem, o problema está na sua definição de que a vida começa no momento da concepção, sim. Antes da concepção: coisa. Depois da concepção: pessoa integral, com tudo o que vem junto, inclusive todos os direitos humanos. Não percebeu que quando falo do problema da mente descontínua estou tratando justamente disso?

Uma definição arbitrária não é uma descrição da realidade. Vou repetir com outras palavras: você definiu a qualidade de pessoa pra um aglomerado de células que nem órgãos tem, e ao chamar de falácia minha contestação dessa sua definição, impôs uma defesa que é refratária a argumentos.

Não existe jogo de palavras em meus argumentos. Se estou usando de sofismas, como algum tipo de apelo à autoridade, negação do antecedente, afirmação do conseqüente ou outros, é fácil, se você conhece, mostrar exatamente o lugar onde acontecem no meu discurso. Estou usando de racionalidade, mas algumas questões envolvem princípios básicos que são por natureza difíceis de discutir. Especialmente difíceis quando uma pessoa resiste a entender os argumentos de outra.

Do mesmo modo que você diz que eu uso jogos de palavras, posso dizer o mesmo de você. Você usa palavras como assassinato, matar, que também são - quer queira ou não - palavras de efeito que ratificam e reforçam seu ponto de vista.

Aliás, ambos os lados da questão do aborto usam disso. "Pró-vida" e "pró-escolha" são os nomes escolhidos; quem seria louco de se opor a direitos humanos tão básicos, "vida" e "escolha"? Existem eufemismos e imposições de ambos os lados.

Por isso que digo. Se você quer realmente discutir racionalmente o aborto, tem que largar a posição de "considerá-lo assassinato desde sempre". Tem que pelo menos ouvir os argumentos do outro lado, entendê-los principalmente. Caso contrário o que era pra ser diálogo vira dois monólogos.

Quanto a daí para o infanticídio e eutanásia ser um pulo, esse é exatamente o dilema que estamos tratando - e que se configura exatamente como um sofisma (ou falácia), aquilo do qual você me acusa, e tem um nome: ladeira escorregadia (há alguns anos atrás, eu traduzi uma excelente coletânea de sofismas do Stephen Downes, mas infelizmente eles foram embora com meu HD que pifou, juntamente com um excelente artigo do Carl Sagan sobre a questão do aborto). A questão é exatamente ser gradual a passagem de não-pessoa pra pessoa, e a dificuldade da mente descontínua continua aparecendo.

No fundo, repeti o que já havia dito. Não sei se você vai querer discutir ou também repetir o que disse. Se não quiser publicar esta minha última réplica eu entenderei, mas se publicar e responder dizendo o mesmo, deixarei você ter a última palavra.

Abortar não significa necessariamente suprimir um ser humano do mundo. Pode ser, dependendo do estágio, suprimir um aglomerado de células, um organismo incipiente ou algo equivalente a um girino. Ou até mesmo um ser humano, claro. Mas isso normalmente só nos estágios finais. Esse é meu argumento, e o melhor jeito de demonstrá-lo é esmiuçando cada parte do desenvolvimento do bebê.

Esses meus argumentos são muito superficiais, ainda. Eu já li muita coisa boa sobre aborto, e existem muitas esferas diferentes a considerar. Ética, biologia, direito, política social, política econômica, sexualidade e tantas outras coisas estão envolvidas. Não é à toa que a maioria das pessoas deu um enfoque mais emocional e pessoal a esse assunto do que racional como deveria ser.

Anônimo disse...

Sim, minha cara amiga, há uma lógica de coisificação que prospera nos Temporão e cia. Enquanto isso, o Brasil doente espera o Ministro dito da Saúde.
Amizade renovada
Beto.

Anônimo disse...

Claudio

A Norma já havia argumentado, em outras mensagens, sobre os motivos que a levam a considerar um embrião como um ser humano. Eu creio também na humanidade do embrião, por outros argumentos: A natureza espiritual do homem. Mas, entendendo que você não aceite este argumento. Mas perceba bem, a maioria da população aceita a natureza espiritual do ser humano.

Mas, se formos discutir o aborto em termos de desenvolvimento do bebê, é certo que o este, logo antes de nascer, tem o mesmo nível (ou quase) de desenvolvimento de um bebê recém nascido. Uma pessoa que utilizasse este argumento necessariamente teria de estar preocupada com a proteção de fetos bem desenvolvidos, os quais serão considerados necessariamente como humanos, mesmo por quem é a favor do aborto. O argumento do desenvolvimento, que você usa, deveria levar-lo a conclusão de que um aborto tardio é um infanticídio.

Entretanto, em todo lugar, busca-se sempre a legalização do aborto até o 9º mês. Isto nos faz imaginar que aqueles que defendem o aborto, utilizam o argumento do desenvolvimento apenas para por em questão a humanidade do feto. Aprovado o aborto, a mesma máquina política que utilizou este argumento do desenvolvimento, procura "avançar os direitos da mulher" e aprovar o aborto sem restrições.

Fica a percepção de que o movimento abortista é profundamente desonesto. Não acuso você especificamente. Digo apenas que esta é a estratégia profundamente desonesta do movimento abortista (e muitas outras mais).

Renato

Anônimo disse...

Esses 'argumentos' dos abortistas já são bem antigos. É sempre a mesma coisa. Primeiro, querem ter a autoridade de serem ouvidos para que isso "possibilite uma discussão racional"; depois de ganharem o (in)devido espaço, chamam aqueles com quem estão debatendo de irracionais e fundamentalistas. Que saco.

Quanto ao 'aglomerado de células', que supostamente tira o caráter humano do embrião, devo perguntar ao ilustre Cláudio se ele também não seria um aglomerado. Sei que a continuidade sublime de sua mente foi erguida penosamente, com esforços hercúleos em prol da razão, do laicismo e de Carl Sagan. Tal descontinuidade não falharia em responder a uma pergunta tão simples.

Em segundo lugar, a transformação do não-humano em humano, que Claudio ContinuousMind alega na defesa de suas idéias, é uma besteira sem tamanho, injustificável logicamente. Ele, que sabe falar o latim aprendido nos manuais de Carl Sagan, deveria perceber que se A1 sofre uma mutação para A2, é porque tinha uma potência para ser A2 e não possía uma dessemelhança completa com A2. Qualquer moleque sabe disso. Até eu.

Norma disse...

Obrigada, caro Altair!

Vou aderir, sim! Mas deixe-me só terminar minha pós. Entrarei então em contato direto para saber melhor sobre isso.

Abraços!

Anônimo disse...

Eu concordo em parte com o que claudio disse, tudo passa pela questão de saber onde começa a vida, se um ovócito nao pode ser considerado um ser humano, então nao há problema em destruí-lo, mas se for o contrário então é um assassinato. A questão é que considerar o espermatozoide e um ovulo nao fecundado como uma possibilidade de vida é forçar a barra, lembra a questão dos homunculos da idade média. Quando um espermatozoide fecunda um ovulo é inegavel que se dah inicio a um processo bem diferente do que a simples existencia de um ovulo ou espermatozoide, nenhuma dessas celulas em separado gerarao um ser humano, mas juntas sim. Mas será que deve-se considerar o ovócito um ser humano? Bom, eu estou inclinado a aceitar a vida humana de um ovócito, tanto por motivos religiosos quanto racionais, mas se é um motivo racional que se quer, entao tb vou falar latim, jah q isso estah em alta por aki. "In dubio pro reo" se nao é possivel xegarmos a uma prova inconteste d quando a vida humana começa, devemmos considerar que os argumentos dos anti abortistas faz sentido tanto quanto o dos abortistas, podendo qualquer um dos 2 estarem certos até que alguem prove tal como 2+2=4 onde a vida começa. Até lá devemos dar ao embrião (o reu nesta discussão) o beneficio da dúvida e nao destruí-lo em sua forma mais primária.

Anônimo disse...

gostei muito do seu blog, muito mesmo, estou linkando com o meu tah..
beijos e fica com Deus.

Anônimo disse...

Prezado Cláudio,

Você é certamente uma pessoa articulada, mas algumas de suas colocações me assustaram um pouco, não apenas pelo tom categórico (por exemplo, quando você fala de uma passagem gradual do embrião de um estado não-humano para um estado humano), mas também porque, meditando nelas, vemos que elas constituem um dos tipos de ad hominem, uma vez que, em mais de uma oportunidade sofrem do mesmo mal que pretendem denunciar, e sua autoridade residual, se existe, é apenas pela força das palavras.

Começo colocando sobre a mesa sua afirmação mais categórica. Cientificamente falando, é um fato que o material genético da célula ovo é exatamente o mesmo do indivíduo plenamente desenvolvido. Geneticamente, portanto, se o embrião não é humano, é o quê? O fato de não estar ainda desenvolvido não tira o seu potencial de desenvolver-se. Esse potencial apenas não se realizará se um aborto ocorrer, quer por razões naturais (ou, contextualizando para este blog, e também de acordo com o que eu creio, por desígnio divino), quer por intervenção humana.

Eu fiquei um tanto surpreso de ver sua menção comparativa do embrião a girinos. Eu não sei se é o seu caso, mas eu, como muita gente da minha geração, aprendi tal tolice no colégio: algo no estilo de "no processo de gestação, os seres humanos passam por uma fase anura" e que, em outro momento, chegamos a ter brânquias. Tal sandice tem raízes acadêmicas, das importantes observações mas com extremamente infelizes conclusões de Haeckel sobre embriões de diferentes espécies. Seu erro grosseiro foi considerar que o aspecto vísivel do embrião em algumas fases da gestação tinha alguma relação com aquilo que ele era no momento. Em sua defesa tardia, poder-se-ia alegar que a ciência Genética ainda não estava desenvolvida, mas argumento semelhante não se pode usar em favor dos loucos que me diziam tais asneiras nos bancos escolares há apenas duas décadas, e muito menos dos que fazem alusão a coisas desse tipo em discussões atuais.

Suas colocações sobre "mente descontínua" são muito fortes, mas afastam-se da realidade justamente por causa do excesso de força. Sobre muitos aspectos, a dificuldade da mente humana para apreender certos fenômenos é justamente ser contínua demais. Isto é particularmente verdadeiro para a Matemática, mas é muito mais crítico para a Física, porque, se aquela é abstrata por natureza, esta é justamente a ciência por excelência da realidade palpável – nenhum de seus fenômenos é abstrato, mas muitos deles são descontínuos (e não faço aqui referência apenas à Física Quântica; muitas mudanças de estado na Física Clássica ocorrem repentinamente).

Relacionadas à questão de continuidade da mente, suas palavras sobre limites arbitrários têm problemas. Como você concilia um suposto "raciocínio contínuo" com a possibilidade de determinar um limite seguro -- que você não diz qual é, mas dá a entender que existe, sem sombra de dúvidas -- para a não-humanidade do ser que está sendo gerado? Você certamente já viu -- e provavelmente tem dela discordado -- a argumentação conservadora que, partindo do reconhecimento do indivíduo recém-nascido como plenamente humano, vai retrocedendo gradualmente no tempo para mostrar, por indução e a despeito de qualquer consideração genética, que não é possível ter certeza do momento em que a situação de plena humanidade é alcançada e que, portanto, o aborto não deve ser realizado, como única forma de se ter certeza de que não se está cometendo assassinato. Entretanto, você parece sugerir a abordagem análoga inversa: assumindo que o ovo não é humano, progride no tempo, sem fixar limite seguro a priori, preservando a condição não-humana ao longo da gestação, para, também por indução e sem levar em conta qualquer aspecto genético, concluir que o aborto não é assassinato. Perdôe-me, mas se você discorda da primeira argumentação, cuja premissa é inquestionável, tem necessariamente, para ser coerente, que descartar a segunda, já que se trata de analogia com algo que você invalidou. Mas o problema a versão "pró-escolha" é ainda mais grave: a premissa de não-humanidade do ovo é completamente arbitrária e, na melhor das hipóteses, insondável.

Nos seus textos, você aponta pontos na lógica conservadora que identifica como arbitrários. Entretanto, já vimos aqui várias arbitrariedades também nos argumentos em defesa do aborto. A crítica geralmente feita àqueles que são contrários ao aborto diz que eles se fundamentam em posições pré-concebidas, fruto de suas crenças religiosas. Mas já vimos, em poucas linhas, vários exemplos de argumentos cujas premissas são também pressupostos sem qualquer respaldo científico real – e contrário ao conhecimento científico existente, do campo da Genética –, o que os coloca também na categoria de crenças, embora nenhum dos seus propugandores tenha a decência de assumi-las como o que são.

A diferença fundamental entre as "arbitrariedades" e crenças de quem é contrário ao aborto e as que embasam sua livre prática é que as primeiras evocam a preservação da vida, em geral, e da vida humana, em particular, ao passo que os argumentos abortistas tentam tirar o foco da questão da vida, e mais ainda da questão humana.

Nesse diversionismo, qualquer expediente vale, dependendo da audiência: vale dizer que é coisa, vale dizer que é animal mas não é humano, vale dizer que é sub-humano, vale dizer que é plenamente humano mas deficiente, e vale dizer que é plenamente humano mas simplesmente indesejado. Pouco importa que as possibilidades de discurso sejam contraditórias entre si (com que satisfações a dar se importaria um movimento cujo ponto de partida é terminar vidas sem sentir-se culpado?). Se falta respaldo moral ou ético para tais discursos e ações, subverta-se a moral e invente-se uma nova ética. Não importa sequer o que diga a ciência – a ciência só vale como ferramenta de respaldo para aquilo que já estamos inclinados a pensar; caso contrário, pode-se até mesmo formular novas teorias científicas, até porque a "popularidade" dessas novas teorias científica, mesmo no meio acadêmico (citei um exemplo concreto e real, aqui), nem sempre precisa de respaldo qualitativo, mas freqüentemente apenas da impressão "correta" sobre o público alvo.

Caro Cláudio, você tem todo o direito de acreditar no que quiser – eu não tenho o poder de determinar que você vai ser contrário a favorável a isto ou aquilo. Saiba, entretanto, discriminar as coisas sobre as quais você pode ter real certeza daquelas em que você pode meramente acreditar. Se prestar bastante atenção, verá que apenas acredita em mais coisas do que poderia pensar num primeiro momento.

Votos de que Deus o abençôe.

Paulo

Maya Felix disse...
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Gustavo Nagel disse...
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Anônimo disse...

2Tm 3.1-5: “Sabe, porém, isto, que nos últimos dias sobrevirão tempos penosos; pois os homens serão amantes de si mesmos, gananciosos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a seus pais, ingratos, ímpios, sem afeição natural, implacáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando-lhe o poder. Afasta- te também desses.”

Goel

Anônimo disse...

Norma, não tem nada com este assunto, mas é importante.

O PT MOSTRA A CARA.
DURANTE ANOS DISSERAM QUE OLAVO DE CARVALHO ERA MALUCO, QUE O FORO DE SÃO PAULO NÃO EXISTIA. AGORA ADMITEM ABERTAMENTE:

http://www.youtube.com/watch?v=VNPjm0qfByc

Renato

Norma disse...

Pois é, Augustus... Fico me perguntando agora se ela está feliz de ter sido publicada aqui. Bom, melhor nem saber.

E é bem verdade o que Gustavo Nagel falou: quem gosta de ler Gondim e Caio Fábio não pode ter noções básicas do que seja um texto de qualidade. Na verdade, ela não gosta é do conteúdo - mas falar da forma é mais fácil, claro, ainda mais quando se está em cima de um pedestal acadêmico.

O fato é que, além de impostores teólogicos, esses dois são a verdadeira encarnação da impostura intelectual. Tenho pena do nosso povo mais letrado, envernizadinho pela academia, que se deixa seduzir por tão pouco. É onde os simples e incultos levam ampla vantagem. Em duas linhas de leitura dos citados, o Seu João, pedreiro que trabalha para meus pais - que é crente de verdade e não tem nem o primeiro grau completo - rejeitaria com toda propriedade e segurança a comidinha envenenada deles, só com base na Bíblia. (Ele entende à beça de Bíblia e sempre tem uma palavra abençoada para as pessoas!) Mas a Madame Cinco Idiomas, viajadíssima, engole tudo como se fosse o manjar dos manjares. Bleargh.

Repito o que falei em outro post: a fé cristã é para os simples. Sutilezas interpretativas, que rejeitam o sentido primeiro para satisfazer à cobiça do coração, não podem vir do Pai das Luzes. Não digo que tudo na fé cristã seja fácil de entender - pelo contrário, a verdade é inesgotável. Mas se os paladinos das novas teologias acreditam que, para ser cristão, é preciso aderir à última moda dos malabarismos interpretativos, bom, aí já é um pouco demais. Mas Deus guarda os seus, sempre.

Norma disse...

Goel, você tem razão. Olhe o que recebi hoje:

"Não repreendas o escarnecedor, para que te não aborreça; repreende o sábio, e ele te amará. Dá instrução ao sábio, e ele se fará mais sábio ainda; ensina ao justo, e ele crescerá em prudência." Provérbios 9:8b,9

Acho que tenho lançado pérolas aos porcos sim... Mas é uma pena não poder dialogar com todo mundo. Tenho dado atenção demais a muitos escarnecedores que vêm aqui. Que Deus me ajude a agir mais apropriadamente das próximas vezes.

Anônimo disse...

Memorias de Hereticus:

queria hoje compartilhar com vc Norma e outros leitores do seu blog, algumas memorias evocadas pelo seu post.

1)Andre' Weil, um dos maiores matematicos de todos os tempos, disse uma vez no distante ano de 1961: "A Universidade e' o lugar onde perolas falsas sao jogadas a porcos verdadeiros."
Nao posso dar uma referencia bibliografica, porque essa frase eu a ouvi da propria boca de Andre' Weil, numa de suas visitas ao Rio de Janeiro. Nessa epoca, Weil ja' era membro do Institute for Advanced Studies de Princeton, onde dialogava com Albert Einstein e com Kurt Godel a respeito de Deus.(Vc Norma talvez tenha ouvido o nome de Simone Weil: ela era irma do Andre'.) O que mais agradava a Andre' Weil no Institute for Advanced Studies era o fato de seus membros nao terem nenhuma obrigacao academica...

2)Mas o que me trouxe a este seu post foi fato de que eu tb fui visitado por uma menina sem estrela. Seu nome e' Isabella, e e' minha neta. Nasceu num Domingo De Pascoa, e tem hoje 13 anos. Logo sua mae verificou que Isabella e' um desses Anjos de Deus, cujo unico dom e' o da sua inefavel presenca. Na sua cadeira de rodas, cega e incapaz de falar, devido `a paralisia cerebral que a vitimou desde o nascimento, Isabella ainda assim interage com sorrisos quando algum som lhe agrada.

3)Quatro anos depois do nascimento da Isabella, seus pais tiveram a alegria de ter outra filha.

4)Mas uma nova visita inesperada da fragilidade da condicao humana viria ter comigo seis anos atras: nascia Andre', primo da Isabella.
Para nosso horror, ele nasceu com hidroencefalia. Depois de varias cirurgias no cerebro, ele agora tem uma valvula ("shunt" em ingles) que transporta o liquido intra-craniano para a cavidade abdominal. Depois do susto das varias cirurgias, Andre' leva agora uma vida quase normal do ponto de vista fisico, a nao ser por leve deficiencia fisica muscular do seu lado esquerdo. Para compensar, Andre' e' extremamente inteligente e adora musica.Com seus seis anos ja' foi aceito num programa universitario de ciencias na cidade americana onde mora com seus pais, e estuda violino com entusiasmo.Adora cantarolar a Ode `a Alegria de Beethoven (ele so' dorme se o CD com a Nona Sinfonia estiver tocando...) Ele tb adora ouvir "Jesus alegria dos homens" de Bach.

So' posso agradecer a Deus por tantos dons vivos, que por meio dos meus filhos Ele fez chegar ate' mim. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo. E que Ele se apiade de Mayalu, e a converta.

Norma disse...

Querido Hereticus,

Ri a valer com a frase genial de André Weil, e chorei com seu relato dos dois anjinhos. Mortifica-me pensar que tanta gente, organizada em grupos endinheirados e fanatizados, queira a morte intrauterina de pessoas lindas como Daniela, Isabella, André. Se o mundo se transformar como querem os pró-aborto, eles três estão livres por já terem nascido; mas, se o mundo começasse a seguir os desígnios do facínora Peter Singer - sim, facínora!!! - , tão lido e defendido pela universidade, Daniella, Isabella e André estariam destinados à morte. Mais do que qualquer outra coisa, isso tem o poder de me deixar rangendo os dentes de raiva! Se eu encontrasse Singer na rua, não me conteria, sinceramente. Alguma coisa teria de dizer a ele, e não seria algo muito agradável.

Taí; talvez Singer seja a pérola falsa mais podre de toda a universidade, e os porcos, que a comem com deleite, os mais porcos de todos, porque escondem sua porcaria com máscaras de humanidade.

Hereticus, Deus lhe deu a graça de conviver com dois anjos lindinhos que trazem tanta alegria a suas famílias. Que Ele continue aprofundando em seu coração a visão correta em Cristo, que comovia-se como ninguém com a fragilidade humana e jamais concordaria nem com a destruição de um bebê dentro do útero, nem com a morte eugênica dos que se encontram debilitados fisicamente, mas muitas vezes fortalecidos espiritualmente.

Grande abraço!