09 janeiro 2010

Interpretações (2)

E junto à cruz estavam a mãe de Jesus, e a irmã dela, e Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena. Vendo Jesus sua mãe e junto a ela o discípulo amado, disse: Mulher, eis aí teu filho. Depois, disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. Dessa hora em diante, o discípulo a tomou para casa. (João 19.25-27)

No imprescindível “comentário das bolinhas” (da série Cultura Bíblica, Vida Nova) do Evangelho de João, F. F. Bruce cita uma curiosa interpretação desse trecho por Bultmann (em The Gospel of John, p. 673):

“A mãe de Jesus, que se demora junto à cruz, representa o cristianismo judaico que suporta a ofensa da cruz. O discípulo amado representa o cristianismo gentílico, que é encarregado de honrar o outro como mãe de onde veio, assim como o cristianismo judaico é encarregado de ‘sentir-se em casa’ dentro do cristianismo gentílico, sendo todos membros de uma só grande comunidade da Igreja.”

Essa é uma leitura alegórica que pode levar a vários enganos. Não podemos examinar isoladamente João e Maria sem estender tal olhar a todos os personagens da Bíblia. E, se consideramos que todo personagem bíblico remete necessariamente a um arquétipo, corremos o risco certo de perder de vista o sentido básico do texto, não só deixando de considerá-los pessoas como nós, mas fatalmente caindo em subjetivismo. Se há algo que aprendi na Faculdade de Letras, é isso: toda interpretação textual das partes de um texto deve ser sustentada por seu todo. Se o texto inteiro – no caso, a Bíblia – não justifica essa abordagem, melhor deixá-la de lado, por mais bela que possa parecer (e Bultmann me leva a concluir que, mesmo falsa, uma interpretação pode ser extraordinariamente bela!).

É Calvino (Comentários, p. 232, tradução minha do inglês) quem expressa melhor algo que eu sempre intuí da leitura desse trecho:

“É como se Jesus dissesse a João: ‘De agora em diante, não serei mais um habitante desta terra, e tenho o poder de passar para você os deveres de filho; assim, coloco esse homem em meu lugar, para que desempenhe o papel que desempenhei.’ [...] Cristo pretendeu mostrar que, após ter completado o curso da vida humana, abandona a condição em que viveu e entra no Reino celestial, onde exercerá domínio sobre anjos e homens; pois sabemos que Cristo estava habituado a evitar que seus seguidores olhassem para a carne, e isto era especialmente necessário em sua morte.”

Enough said
.

26 comentários:

Andreza disse...

Acho que existe certa confusão entre alegoria e aplicabilidade. J. R. R. Tolkien, por exemplo, seguidamente teve que explicar, como visto em algumas de suas cartas que sua história em O Senhor dos Anéis não era uma alegoria de qualquer tipo, seja religiosa ou política (dada a situação na Europa da Segunda Guerra); ele mesmo não gostava de alegorias. Mesmo assim, ele concordava que obviamente sua ficção poderia ser aplicável em situações no mundo real, assim como quaisquer outra boa história.

Abraços.

Norma disse...

Oi, Andreza,

É verdade, Tolkien detestava o modo com que Lewis usava a alegoria em seus livros de ficção. Isso está em um belíssimo livro chamado O Dom da Amizade, de Colin Duriez. Quem gosta de Lewis, Tolkien e, como não podia deixar de ser, literatura, não pode perder.

Abraços!

Cristiano Silva disse...

Eita, só agora que eu vi que eu comentei com o usuário da minha esposa, "Andreza", hehehehehe

Mas tudo bem, ela concorda comigo neste ponto... acho... :)

God bless.

Gustavo Nagel disse...

Embora Lewis negasse veementemente que suas crônicas fossem alegóricas, e acho até que com alguma razão. Dizia ele que seu esforço havia sido o de imaginar como se daria a redenção de um universo como o de Nárnia, não o de transfigurar cada personagem bíblico envolvido na redenção do nosso. Pelo pouco que me lembro, essa correspondência perfeita não existe mesmo. Enfim. O livro do Duriez é de fato ótimo.

Abração.

Cristiano Silva disse...

Olá Gustavo,

O que você disse à respeito do Lewis é verdade também. Eu havia pesquisado algo sobre isso e colocado uma citação dele mesmo neste sentido, disponível aqui.

E o livro de Duriez é ótimo também.

God bless.

Eduardo Medeiros disse...

Norma, com certeza a interpretação alegórica pode ver qualquer coisa em qualquer texto bíblico. Mas isso pode acontecer com qualquer linha de interpretação. Da minha parte, deve-se distinguir a interpretação "espiritual" ou "pastoral" ou "devocional", da interpretação por exemplo, histórico crítica. O texto bíblico é tão rico de significados que os métodos mais históricos não podem esgotá-lo.

Norma disse...

Eduardo,

Não é bem assim. A alegoria possui uma abertura bem maior para interpretações abusivas, já que toma diversos elementos do texto (personagens bíblicos, objetos como água, fogo etc.) como símbolos, ou seja, remete-os para uma instância superior de significados.

Acredito que somente o texto, com seus limites, pode autorizar o uso de alegorias. Esqueci de incluir isso no post, mas lembro agora que topei uma vez com uma série de grupos de discussão no Google Grupos assim: "O simbolismo da água no Novo Testamento", "O simbolismo do fogo na Bíblia" etc. É complicado padronizar as coisas desse modo. Por exemplo: Jesus é o Leão de Judá, mas "leão" não pode ser absolutizado para significar "Jesus", já que o diabo também foi comparado a um leão que anda ao redor para devorar as ovelhas de Deus. Símbolos existem, mas sua aplicação não pode forçar as fronteiras do texto.

Abraços.

Eduardo Medeiros disse...

Concordo com você. Mas é verdade que a bíblia está repleta de símbolos e também de linguagem mitológica (talvez não seja esse o seu entendimento).

Mas como ler literalmente que a serpente do paraíso andava ereta e falava? Aliás, falava que lingua mesmo? hebraico?

O que aconteceu em momentos da exegese bíblica é que a interpretação alegórica, como você disse, extrapolou os limites do razoável.

Mas temos que levar em consideração a linguagem bíblica que não é a linguagem científica nem a linguagem histórica, ou sociológica como modernamente entendemos.

A linguagem bíblica é antes de tudo, teológica e religiosa.

E a linguagem da religião é o símbolo, daí eu ter dito que os métodos históricos não podem esgotá-la.

abraços

Cristiano Silva disse...

Olá,

Sobre a relação Mitologia x Bíblia, lembro do bom texto do Rev. Nicodemus sobre o assunto, disponível aqui.

Mas além dele, o Rev. também publicou um texto do C. S. Lewis sobre o assunto, que pode ser visto aqui. Eu também o li, e é muito legal.

Aliás, se algum de vocês souber a referência deste texto, me avisem!

Sobre a outra questão da serpente, achei uma pergunta interessante; nunca tinha pensado nisso, sobre qual ou como seria o idioma usado pelo Diabo na fatídica conversa no Éden. Será que a própria Comunicação antes da Queda era diferente? Mas, no fim, é apenas uma curiosidade de um momento que, aliás, considero histórico.

Abraços.

Eduardo Medeiros disse...

Oi Cristiano, já tinha lido o texto do professor Nicodemos e apesar de toda a sua cultura teológica, ele pensa a partir de uma teologia fundamentalista que não aceita o mito como meio legítimo de transmitir verdades espirituais.

Mito não quer dizer mentira. Ler certos relatos bíblicos literalmente, em minha opinião, é tirar totalmente os significados interiores e espirituais dos mesmos, é redicularizar o texto.

Não é a toa que alguns inimigos da fé acusam os cristãos de acreditarem em estorias da carochinha.

abraços

André disse...

Caro Eduardo, não vejo contradição alguma entre uma leitura literal e uma plenitude de "significados interiores". A menos que alguém possa provar que o homem é o único ser que pode realizar um ato com significado simbólico, ou seja, que Deus não pode fazer isso.

Concordo com você quanto a um mito não ser uma mentira necessariamente. Um mito só se torna mentira quando quem o conta não diz que é um mito e o apresenta como verdade histórica. O problema é que muita gente considera mitológicas certas narrativas bíblicas que são claramente apresentadas como história.

Não vejo motivo para admitir que a "linguagem da religião" é necessariamente simbólica. A Bíblia contém linguagens de vários tipos, e essa diversidade deve ser levada em conta na interpretação. Não há sentido em reduzir tudo a um bloco ou outro. Não é por acaso que um demitologizador eminente como Bultmann tenha cometido um erro interpretativo tão grosseiro quanto esse que a Norma apontou no post. Uma vez removida a preocupação com o sentido literal, a imaginação pode ir tão longe quanto se queira, e o resultado será sempre a invenção de novos mitos.

Assim como o Cristiano, também não acho importante saber qual era o idioma oficial do Éden. Mas note que a Bíblia não diz que a serpente caminhava ereta. Só dá a entender que não rastejava. Se caminhava ereta, voava ou andava de quatro, ou mais de quatro, não está dito. Contenha seus impulsos de atribuir ao texto os conteúdos de sua imaginação.

Abraços!

Cristiano Silva disse...

Oi Eduardo,

Como leitor e estudioso das obras de Tolkien e Lewis, sei muito bem que um mito necessariamente não significa uma transmissão de mentiras, e que mensagens boas e verdadeiras podem ser transmitidas através de histórias inventadas. E como cristão, tenho o discernimento dado por Deus para separar o real da imaginação, e desta forma, não me enveredar por caminhos errados.

Não sei dos gostos pessoais do Rev. Nicodemus, mas creio que ele também é capaz de fazer esta distinção. Contudo, seu texto enfrenta o pensamento de se equiparar o relato bíblico com os mitos, com histórias inventadas, o que seria o mesmo de dizer que a Bíblia não tem a revelação objetiva e direta de Deus na História, mas uma mera coletânea de invenções humanas com o propósito de se transmitir uma mensagem espiritual. Da mesma forma, ele destaca o trabalho dos apóstolos e profetas que tiveram que lutar contra isso em sua época, vivendo em sociedades onde os mitos eram aceitos como sendo verdades históricas, contra a revelação de Deus.

O que, aliás, acontece até hoje...

É o que o André resumiu muito bem: "Um mito só se torna mentira quando quem o conta não diz que é um mito e o apresenta como verdade histórica. O problema é que muita gente considera mitológicas certas narrativas bíblicas que são claramente apresentadas como história". Isso é um erro tremendo.

Se os inimigos da fé me acusarem por isso de acreditar em "estórias da carochinha", whatever. Minha fé é sustentada e testificada pelo próprio Deus, mediante o Seu Espírito, e isso não depende e nunca dependeu deles. Além do mais, se eu fosse ouvir e basear a minha vida no que eles dizem...

Fico maravilhado com o texto bíblico: dentre outros estilos, narra fatos reais, que aconteceram no Espaço e no Tempo, e mesmo assim cheios de verdades profundas, "significados interiores e espirituais" como você mesmo disse, que servem de base de vida para todos os cristãos em todas as épocas. Não poderia esperar menos, uma vez que sei quem é o seu Autor.

Abraços.

Gustavo Nagel disse...

Duas coisas. Primeira: O André disse: « Um mito só se torna mentira quando quem o conta não diz que é um mito e o apresenta como verdade histórica.» Posso estar enganado, naturalmente, mas quer me parecer que não há mito que não se apresente como história. Os poucos que me lembro de ter lido não esclareciam previamente que eu estava diante do fruto da imaginação de alguém. E se o fizessem, imagino, perderiam o efeito de mito. Deixariam de ser o «nada que é tudo», na definição de Pessoa. Segunda: Como o Cristiano indicou o texto do Lewis sobre a questão, faço lembrar que, embora este não admitisse mitos no Novo Testamento - conforme o argumento do ensaio -, os julgava presentes no Antigo.

Abraços.

Cristiano Silva disse...

Olá Gustavo,

O mito em si não se apresenta como história imaginada, inventada, mas tanto eu e o André estávamos nos referindo a quem os conta: ele pode transmitir verdades, mas se alguém o apresentar como sendo algo que realmente tenha ocorrido, historicamente, contrapondo com o que diz a Bíblia, está enganado - as religiões pagãs faziam isso. Assim como erra quem toma fatos bíblicos como história inventada; o mito deve ser tratado assim, como algo imaginado, e não real, pois se for tratado como real, incorremos em erro.

Quanto ao Lewis, sua posição em relação a alguns pontos no AT é uma das coisas que eu discordo veementemente dele, dentre outras, mas não acho que isso invalidou sua bela defesa do NT - mostra que homens de Deus também erram. Discordo também de Tolkien em algumas coisas, principalmente pelo fato dele ser católico, o que não o invalida de ter dito coisas que considero corretas à luz da verdade bíblica. Mas valeu mesmo por lembrar, pois é verdade mesmo.

Abraços.

André disse...

Olá, Gustavo!

De fato, nenhum mito de que me lembro se apresenta descaradamente como não-histórico. Mas não é bem isso o que eu tinha em mente. É que há textos narrativos - como fábulas ou parábolas, por exemplo - que não se vinculam fortemente (ou nem mesmo fracamente) a episódios ou contextos históricos conhecidos, e neles, portanto, a questão da historicidade é pouco ou nada importante. Além disso, há ficções que não precisam ser declaradas como tais, pois os leitores ou ouvintes já sabem que não são narrativas reais, mesmo quando inseridas em contextos conhecidos. É o caso, por exemplo, da maioria dos filmes e romances que vemos hoje em dia. Não se enquadra em nenhum desses casos a maior parte do que alguns consideram ser mitológico na Bíblia. O que temos ali, quase sempre, são narrativas fortemente ligadas à história conhecida, contadas dessa forma pelos narradores e assim também entendidas pelos que as ouviam ou liam.

Quanto ao segundo ponto, também é verdade, e talvez os critérios de Lewis fossem semelhantes aos que expus acima. Por exemplo, ele considerava mitológico o livro de Jonas, cujas conexões históricas com a narrativa principal do Antigo Testamento são relativamente tênues. O que, no entanto, não basta para me fazer concordar com ele.

Abraços!

PS: Escrevi as palavras acima antes de ler o último comentário do Cristiano, de modo que elas acabaram ficando um pouco repetitivas.

PPS: Esqueci de dizer algo sobre a última frase do Eduardo: "Não é a toa que alguns inimigos da fé acusam os cristãos de acreditarem em estorias da carochinha". Isso é uma coisa perfeitamente normal e esperada. O problema é quando alguns que se consideram amigos da fé nos lançam a mesmíssima acusação.

Eduardo Medeiros disse...

André e Cristiano, tudo bem? estive ausente por um tempo pois estava sem computador.

Mas só para esclarecer, o problema não é quem conta o mito. Todo mito foi criado a partir de uma realidade objetiva e experimentada por homens ainda em idade pré-científica.

O mito explicava e dava sentido ao mundo primitivo. E não há como não ver mitos na bíblia. Só quem não os vê é por que não conhece de fato a importância existencial que o mito teve outrora, ou está cego pela falsa concepção (em meu modo de ver) que a Revelação perde importância se for transmitida mitologicamente ou ainda que seja, interpretativamente.

Eu não leio a Bíblia como se estivesse lendo o que "deus escreveu", mas a leio como a interpretação que cada um fez da Revelação; o evento original não pode mais ser conhecido, apenas sua interpretação.

Mesmo por que se a Revelação fosse cabal e inquestionável, os próprios cristãos não estariam divididos em várias correntes teológicas.

abraços

André disse...

Olá, caro Eduardo!

Por aqui está tudo bem, sim. Não há problema algum com sua demora, não se preocupe.

Não sei se foi isso o que você quis dizer, mas não creio que o fato de os autores da Bíblia (ou de qualquer outra coisa) terem vivido numa era pré-científica torna automaticamente mitológico tudo o que escreveram. A Antiguidade é cheia de historiadores eminentes. Considero particularmente importante essa sua frase:

"O mito explicava e dava sentido ao mundo primitivo."

Mas daí não se segue de modo algum que a única maneira de explicar e dar sentido ao mundo seja a invenção de uma narrativa que não aconteceu de fato. Não há conexão alguma entre uma coisa e outra. E não concordo quando você diz que "não há como não ver mitos na bíblia", especialmente se você define "mito" como algo sem base histórica factual. Se você não consegue deixar de ver mitos na Bíblia, talvez isso se deva às limitações de sua visão. Não se trata de desconhecer a "importância existencial" do mito, e sim em saber se esse papel não pode ser preenchido sem a invenção de narrativas. Não tenho motivo para crer que não possa, e você não apresentou nenhum. Quanto à "falsa concepção [...] de que a Revelação perde importância se for transmitida mitologicamente", creio que não é bem isso. Apenas não me parece que o caráter do Deus revelado na Bíblia seja compatível com a apresentação como história de narrativas sem fundamento histórico.

Também não vejo motivo para crer que "o evento original não pode mais ser conhecido, apenas sua interpretação". Do meu ponto de vista, é uma suposição gratuita e, portanto, desnecessária.

Quanto à sua última frase, já a refutei em outro lugar, de modo que sua repetição aqui constitui uma circularidade.

Abraços!

André disse...

Acho que posso esclarecer um pouco melhor o que eu quis dizer com "não me parece que o caráter do Deus revelado na Bíblia seja compatível com a apresentação como história de narrativas sem fundamento histórico". É que alguns falam como se o Deus da Bíblia tivesse pensado: "Eis aqui uma verdade sublime demais para a mente desses primitivos. O que fazer? Ah, já sei! Vou contar uma mentirinha para deixá-los satisfeitos e não perder a clientela, e reservarei a verdade para a pequena elite de iluminados que terão capacidade para tanto." Isso não me parece, como eu disse, compatível com o caráter do Deus cristão. Por outro lado, é perfeitamente compatível com as divindades relativistas e pragmáticas do hinduísmo, do islamismo e das diversas modalidades de paganismo.

Ricardo Mamedes disse...

André e Eduardo,

Pois pra mim, tentar dar cores mitológicas à revelação é uma forma sutil de desconstruir as verdades bíblicas. Não é a toa que foi dito que o Evangelho é loucura para alguns (Deus revela aos humildes o que não revela aos sábios).

A gênese de tudo, segundo a minha compreensão, está na própria revelação e tem a ver com a fé tal como formulada em Hebreus 11. O liberalismo, de alguma forma, vê na revelação algo não palpável, construindo, segundo a sua interpretação, mitos (oh quanta dificuldade para aceitar a verdade!). Sim, o que Nicodemus se referiu foi exatamente isso, se bem me recordo do artigo, ao analisar o pensamento de Bultmann.

Nessa vertente, o absoluto deixa de ser absoluto, tornando-se a Palavra e as verdades bíblicas, apenas "mitos", para exemplificar uma outra, que também dever ser uma "suposta verdade", já que não há mais qualquer certeza.

Em Cristo,

Ricardo.

Eduardo Medeiros disse...

André, eu não disse que "tudo" na bíblia é mito.

Não disse que o "único" modo de dar sentido ao mundo é o mito.

Não disse que o mito é uma mentirinha.

E o "caráter" do deus revelado na bíblia, só tem "caráter" porque a religião do AT é histórica, e o deus do AT rege a história, logo, é um deus que chora, que pune, que se vinga, que se divorcia do povo, que reata o casamento com o povo... Mas isso é teologia.

O que prova isso é que a cada novo evento que provocava espanto no povo judeu sua teologia era adequada ao novo momento histórico. Ou vou vê uma homogeneidade na teologia bíblica?

Mas enfim, sei também que ver a revelação como evento original, palpável, verdade, é uma questão de fé. E como eu acho que já te falei, eu não discuto fé.

grande abraço.

André disse...

Caro Eduardo, quanto às três primeiras coisas, sei que você não as disse, e tampouco eu disse que você disse. O que eu apontei é que as duas primeiras, embora sejam absurdos patentes, são premissas ocultas em sua argumentação, enquanto a terceira decorre logicamente dela. Se você não percebe as implicações do que diz, tanto pior.

Não entendo o que você quis dizer com "Mas isso é teologia". Não é. É apenas ler o texto e entender o que está escrito.

Sim, vejo uma homogeneidade surpreendente no caráter de Deus revelado ao longo da Bíblia. A heterogeneidade está, isso sim, nas atitudes e comportamentos do povo judeu, e é daí que decorrem algumas diferenças de ênfase que, entretanto, não chegam a arranhar a imutabilidade divina.

Sei que a recusa a "ver a revelação como evento original, palpável, verdade" é uma questão de fé, no sentido irracionalista e subjetivista que você dá ao termo. A diferença é que eu discuto fé e admito isso, enquanto você vive discutindo-a - neste blog, por exemplo - ao mesmo tempo em que nega fazer isso.

Abraços!

*******

É, caro Ricardo, acho que você resumiu a questão muito bem.

Abraços!

Eduardo Medeiros disse...

André, eu só quero que antes de encerrar essa nossa conversa, que você saiba que em nenhum momento eu quis ser grosseiro em minhas palavras. Se fui, desculpe-me. Também não estou dizendo que você tenha percebido tal suposta grosseria, é so no caso de ter acontecido.

Eu não disse nenhum absurdo, e tal homogenidade não existe. O deus que permitiu um urso comer uma criança a pedido de Elizeu é o mesmo que "amou o mundo de tal maneira..."??

Mas vejo e posso estar enganado, uma "arrogância teológica" muito forte em você e em outros por aqui. Também tenho minhas arrogâncias teológicas, mas procuro apenas trocar ideias, mas é difícil fazer isso com alguém que não consegue olhar para além das suas certezas.

Talvez isso seja uma virtude. Mas para mim não é, visto que não tenho certeza teológica nenhuma, pois todas as teologias são passíveis de serem descontruídas e é isso mesmo que vem acontecendo desde os primordios da igreja.

E por mais que você não queira, você crê em uma teologia, em uma construção, e é normal que seja assim.

A nossa diferença é que eu não tenho nenhum problema de descontruir a teologia, seja ela qual for.

Quando digo que não discuto fé quero dizer o seguinte: se você me diz que crê que Jesus é Deus, tudo bem, eu não discuto a questão da fé.

Mas se você quiser me provar a questão da fé por meio da cristologia, aí uma discussão é possível. Pois como você sabe, não há "a teologia" ou "a cristologia", o que há é teologiaS e cristologiaS.

Sou uma pessoa que procuro ao máximo ser equilibrado, ser amigo e se possível, não ter nenhum inimigo, muito menos inimigo teólgo...rssss

Receba um abraço deste ex-fundamentalista que apreciava muito o calvinismo, mas que acabou descobrindo que Deus é insistematizável.

André disse...

Caro Eduardo, não tive nenhuma impressão de grosseria de sua parte. O que tive, e continuo tendo, foi a impressão de que você está aqui para demonstrar a nós, fundamentalistas de mente estreita, o quanto é superior o seu livre pensamento justamente por não se julgar superior a nada. E seus textos são rechados de provocaçõezinhas bobas destinadas a evidenciar essa superioridade. O efeito geral é cômico, ainda mais porque você visivelmente não possui a cultura necessária para ter o direito intelectual de zombar da ignorância alheia. Sua argumentação é repleta de inconsistências, contradições e falsidades facilmente demonstráveis, e cede até à mais leve pressão, como é característico de quem tomou uma posição sem ter refletido devidamente e analisado bem todas as questões envolvidas no assunto.

O que estou tentando mostrar com tudo isso é que você não se portou com seriedade suficiente para ter o direito de exigir um tratamento sério. Sua impressão de "arrogância teológica" não se justifica; sempre respondo no tom que me parece apropriado ao tom do interlocutor. Também prefiro um diálogo respeitoso com gente que não fica o tempo todo substituindo a argumentação sólida por acusações diretas ou indiretas de fundamentalismo e estreiteza mental. Mas, já que no caso em questão não tem jeito, procuro demonstrar as inconsistências de sua argumentação da maneira mais sucinta possível e fornecer elementos que lhe permitam perceber o tamanho das bobagens que diz. Cabe a você aproveitar essas dicas ou não. Parece que não tem aproveitado, já que se ignorou completamente meu comentário final na postagem anterior e veio repetir aqui a mesmíssima choradeira, colocando-se no papel de pobre-livre-pensador-vítima-da-intolerância-dos-fundamentalistas. E sua pretensão de procurar "apenas trocar ideias", como se as provocações bestas não tivessem partido de você mesmo, é simplesmente patética. Você não sabe conversar, pois não tem conteúdo e é obrigado a trocá-lo constantemente por piadinhas que fazem pouco da capacidade mental do interlocutor. Espanta-me que você ainda se surpreenda com o resultado.

Bem, o resto do que você disse são apenas variações das mesmas bobagens já refutadas inúmeras vezes ao longo de nossa conversa nos tópicos anteriores, de modo que não me julgo no dever de dizer tudo de novo. Até porque isso daria a você a impressão de que está argumentando. Restringir-me-ei, portanto, à unica novidade que você introduziu em seu último comentário: sim, o Deus de Eliseu e o de Jesus são o mesmo. Aliás, a Bíblia não fala nada sobre "um urso comer uma criança a pedido de Eliseu", e sim sobre duas ursas que despedaçaram 42 membros de uma gangue de adolescentes que zombaram do Senhor ao desrespeitar seu profeta. É exatamente o mesmo padrão que encontramos no Novo Testamento. Já que você citou João 3.16, veja o que dizem os versículos 17 a 19: "Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más." O padrão é, pois, exatamente o mesmo.

Não se preocupe, você não encontrará em mim um "inimigo teólogo", pois não sou nenhuma das duas coisas. Abraços!

Norma disse...

André e Eduardo,

Já que o debate não está andando - e verifico que é por culpa do Eduardo, já que prefere desclassificar o interlocutor a argumentar - , prefiro encerrar por aqui.

Abraços!

Eduardo Medeiros disse...

Norma,

Como eu poderia desclassificar alguém tão inteligente como o André? Por favor, isso não é uma ironia!!!! Se o fiz, peço mil perdões.

Procurei argumentar sim, o problema que vejo é que para vocês a única argumentação possível é aquela que tenha sido originada nos pressupostos teológicos que vocês absolutizam como verdade última e definitiva.

Por favor, isso também não é uma ironia!!!! Também eu posso cair no mesmo erro, mas quando quis me apresentar como um livre pensador em teologia, fui eu sim, desqualificado como alguém que deixa a "imaginação solta" ao interpretar a Bíblia e outros termos menos adequados a pessoas educadas.

Mas uma vez, se cometi o mesmo erro que aponto em vocês (querer desqualificar o outro, procurando provar que o que o outro pensa é uma asneira), perdoem-me!!

André, se você me permitir, gostaria de zerar tudo, e voltar a conversar com você de preferência via e-mail. Creio que podemos discutir em bases mais respeitosas um com o outro e com argumentos mais sólidos de minha parte,visto que esse é o pecado que segundo vocês eu cometi - não argumentar.

Diga-me apenas se aceita ou não.

Um abraço

André disse...

Olá, Eduardo!

Fique à vontade. Meu endereço está no meu perfil. Acho que é uma boa ideia, e prometo responder assim que puder.

Abraços, e até logo!