29 agosto 2009

Mulheres que Não Têm Tempo

Eu já fui uma Mulher que Não Tem Tempo. Quantos fins-de-semana perdi completando revisões em casa! Recebia telefonemas de amigos para sair e respondia sempre com a invariável e desalentadora frase: “Não dá, tenho trabalho.” Aos poucos foram parando de me ligar.

E tudo isso, para quê? Eu morava com meus pais, não precisava de tanto. Mas queria gastar em roupas e sapatos. Livros, também, embora os mais caros nunca fossem eles. Curioso é que, apesar de tanto trabalho, não conseguia guardar o que ganhava. Excedia-me nas atividades, excedia-me ainda mais nos gastos. Mesmo depois de convertida, a mania por cheques pré-datados me perseguiu. Chegava a passar tantos que ficava sem dinheiro para as coisas mais simples do mês: pegar um ônibus, fazer um lanche na rua. Não me programava e nem queria – cálculos significavam limites.

Ao longo dos anos, e com muito choro diante de Deus, fui me endireitando. Compreendi a equação que bastante gente se recusa a efetuar: não a clássica, pragmática e perversa “tempo é dinheiro”, mas sim sua inversão, “dinheiro é tempo”. O que eu estava perdendo – camaradagens, passeios, leituras preferidas – equivalia às roupas que muitas vezes sequer chegava a usar, sapatos que no fim me machucavam, excessos que não apenas me entupiam o armário, mas me roubavam vida? Certamente que não.

Hoje, com a graça de Deus, tenho ajustado cuidadosamente meu orçamento para não ser forçada a trabalhar demais. Não se trata somente de ganhar tempo para prazeres: aos poucos, quero me recolher da frenética sucessão de atividades profissionais para abrir em minha vida o lugar de esposa e mãe no futuro. Esse lugar não é feito somente de lavagens de roupa e trocas de fralda, de acordo com distorções modernas; inclui, sobretudo, sondagens emocionais infinitas, de si e dos amados, acompanhadas da orientação, da compreensão e do acolhimento de que somente a mulher é capaz. Quando o frenesi lá fora parece esmagar a subjetividade, é a mulher que percebe o olhar perdido dos seus e os traz para casa, para o ambiente íntimo em que o valor intrínseco do ser é reafirmado.

Mas, se não tem tempo, a mulher está tão perdida quanto todos à sua volta. Sua função se esvai. E quem a substituirá? Essa é uma das tragédias mais pungentes do nosso tempo: a preferência pelo viver exteriorizado, sob o pretexto de uma igualdade de funções sociais entre homem e mulher, está matando a todos nós. Sem que a igreja se manifeste substancialmente sobre a questão ou aja de modo a ser melhor modelo, só vejo deriva com relação a esse assunto. Quanto a mim, estou em um dos níveis mais baixos de aprendizado, se é que de fato estou aprendendo alguma coisa (a prática o dirá). Que Deus me ajude a ser diferente e a abordar de forma apropriada o tema nos próximos posts.

P.S. Gostaria de agradecer a todos os leitores que oraram por mim sobre trabalhar menos. Depois de um período difícil em que praticamente todas as minhas horas de vigília estavam tomadas por aulas e revisões, Deus nos ouviu: neste mês, passei a atuar somente como autônoma. Precisei de coragem para sair de onde estava e Deus deu graça: não apenas estou conseguindo gerenciar melhor meu tempo e minhas finanças, mas nunca estive tão feliz!

15 comentários:

Roberto Vargas Jr. disse...

Querida Norma,

Sou pai (relativamente) fresco! rs. Isso até me rendeu uma postagem devocional, uma das primeiras do meu blog: Paternidade, um devocional experenciado.
Por isso, uma frase sua me chamou a atenção: "aos poucos, quero me recolher da frenética sucessão de atividades profissionais para abrir em minha vida o lugar de esposa e mãe no futuro". Meu filho nasceu quando minha esposa cursava o último semestre do curso de odontologia. Ela tem trabalhado um ou dois dias por semana desde então, sem necessidade de fazer dinheiro, apenas para manter a mão. Isso porque queremos que ela se dedique ao nosso Lucas enquanto ele é tão pequeno. E, quem sabe, ao irmãozinho ou irmãzinha que a mãe pretende dar a ele! rs
Mas você tem idéia de quanta gente diz que o que fazemos é um absurdo? Dizem que deveríamos colocar nosso filho em uma creche e que a Raquel tem mais é que fazer dinheiro... Entre nossas relações não cristãs isso nem é tanto de se estranhar, mas vemos essa visão espalhada por todo lugar, inclusive entre cristãos. E isso é algo que me entristece profundamente.

No mais, administrar o tempo (e a grana) é uma tarefa hercúlea no século em que vivemos. Quanto a isso, porém, Deus nos tem dado bênçãos sem fim (muitas que nem pedimos, como costumo dizer). Mas também não posso dizer que estejamos um passo sequer adiante de você neste aprendizado.
Que o Senhor nos abençoe a todos!

NEle,
Roberto

Norma disse...

Caro Roberto,

Muito me alegra inaugurar a página de comentários deste post com o seu texto! Você nos trouxe um exemplo lindo de como manter certos desejos vivos (no caso, o talento de sua esposa para a odontologia) sem sacrificar o mais importante. Tenho certeza de que o Lucas levará consigo com muito carinho, para o resto da vida, esse modelo tão necessário nos dias de hoje!

No meu caso, sinto-me extremamente feliz e agradecida a Deus por só ter me permitido um compromisso sério tarde na vida, para me dar tempo de repensar essa questão. Antes disso, eu não seria nem boa esposa nem boa mãe, pois meu senso de prioridades também estava invertido. Por isso sinto-me no dever de alertar a igreja sobre os filhos praticamente órfãos que a mentalidade moderna tem gerado, inclusive entre casais cristãos.

Quando ouvirem mais bobagens, alegrem-se: sua esposa escolheu a parte mais importante, aquela para a qual não há substituição possível!

Grande abraço aos três!

Roberto Vargas Jr. disse...

Minha cara,
Alegra-me que meu comentário tenha sido recebido como um exemplo, como você o descreve.
Fiquei também contente com sua visita e comentário no meu blog. Sua presença lá me honra e você será, sempre que quiser aparecer, muito bem vinda!
No amor do Senhor,
Roberto

@igorpensar disse...

Norma,

Pelo amor de Deus, escreva mais... Transforme sua vida em um grande laboratório antecipador do Reino de Deus e coloque aqui seus insights, seus sentimentos, suas experiências de tentar ser um pouco mais como Ele é. Precisamos disso, precisamos montar uma rede de pessoas que querem viver Cristo para além das ideologias, da cultura de massa, da alienação religiosa generalizada... Tenho visto vários blogs desta natureza, junto-me a eles. Isso me dá alívio e esperança, sei que Ele virá, mas enquanto isso, vamos tornar a terra digna de sua vinda!

Parabéns!
Igor

Norma disse...

Oi, Igor!

Traga para cá os links dos blogs! Hehehe!

Grande abraço!

Nilson Junior disse...

Olá Norma!!
Leio sempre as coisas que você escreve e aprendo muito.
Identifiquei-me com o que você escreveu, mas ainda não tomei "aquela" difícil decisão. Realmente, administrar o tempo e as finanças não são tarefas das mais fáceis.
De qualquer forma, ao ler seu texto, me senti mais animado e desafiado à continuar buscando aquele equilíbrio cristão.
Um grande abraço e continue escrevendo!!

Missão Venezuela disse...

Norma,

Graça e paz,

Te acompanho a algum tempo, e confesso que gosto muito dos seus textos, e gostaria de te parabenizar especialmente por este, o que me chama a atenção é seu envolvimento de forma muito pessoal com o texto. Isso é muito bom, sobre a familia, filhos, saiba que isso é maravilhoso, casado a 10 anos, com 2 filhos um de 3 e uma bebê de 1 ano e 3 meses, posso te dizer que é algo muito bom ter nosso conjuge, filhos...
Desde aqui de Venezuela receba meu carinho e orações.

Rodrigo Allan
Venezuela

Simone Quaresma disse...

Certa vez ajudei uma amiga a arrumar os armários de casa, e me impressionou a quantidade de entulho, roupas sem uso, papéis velhos e inúteis e intermináveis coisas que ela nem sabia que estavam ali...Ela, casada e mãe de 3 filhos, profissional competentíssima e ocupadíssima. Lembro do eu que disse a ela na época:"seus armários são um espelho da vida de seus filhos...quem não tem tempo de saber o que tem dentro de casa, certamente não terá tempo de olhar com cuidado para o coração pedinte de um filho!"
E esta triste realidade, de filhos de crentes sendo criados(e consequentemente moldados) por ímpios, tem assolado o povo de Deus.
E aí vai uma dica que aprendi com mamãe: tirar uma soneca, mesmo que curta à tarde, entre lavar uma louça e buscar as crianças na escola(dentre milhões de outras atividades que o papel de mãe nos impõe), nos deixa dispostas para a chegada dos meninos no fim do dia; para realizarmos o culto doméstico com a família, abrindo espaço para perguntas e conversas deliciosas sobre a Bíblia ou sobre a vidinha deles e também para receber o maridinho com um belo sorriso no rosto, doida para saber de seu dia, e para contar-lhe o seu! O casamento agradece!!!!
E você Normitcha, não está no nível mais baixo de aprendizado nada!! Refletir sobre o assunto e ter a coragem de falar sobre ele com tanta profundidade, mostra o quanto você será uma excelente esposa e mãe!!!! Escreve mais, escreve mais!!!! Adorei!

Norma disse...

Nilson, muito obrigada pelo animado (e animador) feedback! Deus o abençoe em sua decisão.

Olá, Rodrigo! De fato, agora que sinto perceber melhor a vontade de Deus para a família, a vida a dois e a maternidade - apesar de grandes desafios - têm me parecido realidades cada vez mais doces. A modernidade secular cria falsos dilemas, acompanhados de muita angústia, mas Deus nos ajuda, através de Sua Palavra, a encontrar saída para todos eles. Ainda que com alguma (ou bastante) renúncia, mas sempre alegria diante dos frutos produzidos com o tempo.

Norma disse...

Simone querida!

Sim, sou apenas uma aprendiz (ainda), pois é na realidade do casamento que serei "testada" no que sei e penso hoje. Mas não tenho do que reclamar, pois - e digo isso até hoje ao André - tive de fato com quem aprender: sua família é o meu maior modelo, que levarei comigo para toda a vida.

Adorei a dica da soneca! ;-)

Beijos cheios de saudade!!!

Cristal disse...

Oi Norma, a paz amada!

...verdadeiros escritores "falam" nas entrelinhas daquilo que sonham, vislumbram ou raramente vivem. Contudo, profetas e servos no sentido maior da expressão, são ungidos não apenas a testemunhar, mas tbém como o próprio Senhor Jesus, Oséias, Habacuque e tantos outros a darem suas vidas como prova viva do amor, cuidado e misericórdia de Deus. Amei seus textos, repassei (com créditos) as irmãs daqui...

Deus te abençoe cada dia mais,

Bjos

Professora disse...

Norma!

Parabéns pelo seu blog, que acabei de descobrir.

É raro encontrar o equilíbrio entre sensibilidade e pieguismo; entre crítica e maledicência; impacto e delicadeza; entre ser transparte e querer "aparecer". Entre razão, fé, emoção; papéis, missões e sub-missões da mulher moderna... e isso, ao meu ver, é um diferencial altamente sofisticado do seu blog.

Que Deus a abençoe, mais ainda.

Rossana

Norma disse...

Queridas Geisa e Rossana,

Muito obrigada pelas palavras tão amáveis!

Deus as abençoe!

Maya Felix disse...

Olá, Norma,

Há tempos não vinha em seu blog. É bom ler seus textos, quando venho.

Escrevo para dizer que nunca recebi nem sequer uma receita, daquela corrente... E fiquei esperando, mandei a minha e nada...

De qualquer modo, estou de dieta, talvez o não recebimento das receitas tenha sido providencial.

Abraços,

Maya

Mulher na Polícia disse...

Oi flor!!!

Às vezes a gente passa a servir o que deveria existir para servir-nos. Não é?

Eu acho que em determinados períodos os sacrifícios são justificáveis. Tipo aquela história da formiga e a cigarra. Sabe?

A licença maternidade do serviço público em alguns casos chega a ser seis meses! Acho que isso isso mudou agora no governo Lula. Na iniciativa privada as mães precisam abrir mão desse período tão importante, sob pena de perder o emprego.

"Sem que a igreja se manifeste substancialmente sobre a questão ou aja de modo a ser melhor modelo, só vejo deriva com relação a esse assunto".

Coincidência... também procuro modelos femininos aqui na minha área... mas tá difícil.
: )

Enquanto isso no Vaticano, tá liberado o uso de camisinha para casos excepcionais...

Beijo, linda.
(Parou o sangramento? Tá tudo bem com você)