A sua cabeça é como o ouro mais apurado, os seus cabelos,
cachos de palmeira, são pretos como o corvo.
Cântico dos Cânticos, 5:11
As comparações falham em descrever o Senhor Jesus, mas a esposa utilizou a melhor expressão que estava a seu alcance. A cabeça de Jesus pode ser entendida como uma referência à sua divindade, pois a cabeça de Cristo é Deus (1Co 11:3). O lingote de ouro mais apurado é a melhor metáfora concebível, porém é muito pobre para descrever Aquele que é infinitamente precioso, puro, querido e glorioso. Jesus não é uma pepita de ouro; Ele é um vasto universo de ouro, um tesouro tão precioso que os céus e a terra não podem exceder. As criaturas são apenas ferro e barro; todas elas perecem como a madeira, a palha e o feno. Mas o eterno Cabeça da criação de Deus brilhará para sempre.
Os cachos de palmeira retratam o vigor varonil de Jesus. O Senhor Jesus é o mais varonil dos homens. Ele é corajoso como um leão, laborioso como um boi e rápido como uma águia. Toda beleza concebível e inconcebível tem de ser encontrada em Jesus, embora Ele tenha sido o mais desprezado e rejeitado pelos homens. Agora, o Senhor Jesus está coroado eternamente com majestade incomparável.
Os cabelos pretos indicam frescor de juventude, pois Jesus tem sobre Si o orvalho de Sua juventude. Outros se tornam velhos com o passar dos anos. Jesus, porém, é um Sacerdote eterno. Outros nascem e morrem, mas Ele permanece como Deus, em seu trono, para sempre. Nós O contemplamos e O adoramos neste momento. Os anjos estão com seus olhos fitos nEle, e seus redimidos não podem retirar seus olhos dEle. Onde mais encontraremos um amado como esse? Senhor Jesus, atrai-me, eu tenho de ir ao seu encontro.
C.H. Spurgeon
Leituras diárias vol. I
Editora Fiel
16 comentários:
"No capítulo 5 do Cântico encontramos a seguinte cena: a esposa se encontra em seu leito e dorme, porém seu coração vela. Logo depois, um rumor a desperta; o amado chama: “Abri-me, minha irmã!” A esposa resiste: “Já retirei a túnica. Como voltar a vestir-me? Já lavei os pés. Como voltar a sujá-los?”
Aqui começa a reflexão de Santo Agostinho. O amado que chama à porta da esposa é Cristo, o Senhor. A esposa é a Igreja, são as almas que amam ao Senhor. Porém- disse Santo Agostinho- como podem se sujar os pés que saem ao encontro do Senhor, se vão abrir a porta? Como poderia nos sujar os pés o caminho que conduz a Cristo, o caminho que lava nossos pés? Diante de semelhante paradoxo, Santo Agostinho descobre algo decisivo para sua vida de pastor, para resolver seu dilema entre seu desejo de oração, de silêncio, de intimidade com Deus, e as exigências do trabalho administrativo, das reuniões, da vida pastoral. O Bispo disse: a esposa que resiste em abrir são os contemplativos que buscam o retiro perfeito, apartam-se por completo do mundo e querem viver exclusivamente para a beleza da verdade e da fé, deixando que o mundo siga seu caminho. Mas chega Cristo, ressoam seus passos, desperta à alma, chama à porta e diz: “Viveis entregue à contemplação, mas me fechais a porta. Buscais a felicidade para uns enquanto fora cresce a iniqüidade e o amor da multidão esfria...” Chama, pois, o Senhor, a retirarem-se de seu repouso aos santos ociosos e grita: “Aperi mihi, aperi mihi et praedica me!” A bem da verdade, quando abrimos as portas, quando acudimos ao trabalho apostólico, sujamos inevitavelmente os pés. No entanto os sujamos pela causa de Cristo, porque aguarda lá fora a multidão e não há outro modo de chegar a ela que não metermo-nos na imundície do mundo, no meio da qual ela se encontra. "
Olá Norma
Se eu não me engano o texto de Cantares exegeticamente não pode ser associado a Cristo e a Igreja...
Abraços
JP
Ah, mas que lindo!
Bom domingo, Norma!
Beijo,
Maya
: )
JP, depende da exegese que se faz. Cântico dos Câncitos não diz respeito necessariamente a Cristo e a Igreja, mas essa foi a forma clássica de interpretá-lo. Até porque essa mesma imagem é abundante nas Escrituras.
Abraços.
JP, você precisa renovar sua leitura da Bíblia! :-)
Abraços!
Vamos lá
Levanto esse ponto, uma vez que, em algumas passagens o erotismo é muito forte, principalmente no original hebraico.
Associar essa passagem a Igreja ou Cristo talvez não sido uma influência da visão bramanica no cristianismo, uma vez que em termos da concepção de corpo judaico, cantares pode se referir a um livro que discute a relação homem e mulher...
O que vcs acham...
Será que devemos renovar nossa leitura da bíblia....os socialistas fazem bem isso....ahahahahahahah
Abraços
JP
Bem, se a linguagem erótica é forte no texto de Cantares, que tal pensar no mistério da relação entre Cristo e a Igreja da forma como foi simbolizada pelo apóstolo Paulo. Ele a tratou no mesmo nível da relação entre marido e mulher e, segundo alguns bons eruditos (espero que não se escandalizem!), abarcando a idéia completa da relação conjugal (deu para entender?).
Não seria, por outro lado, o livro de Cantares um testemunho da sacralidade do amor entre um homem e uma mulher na dimensão vista por Deus, e não com o olhar pornográfico resultante dos efeitos da Queda?
Em outras palavras, o homem e a mulher, através do casamento, foram feitos para se amarem no sentido mais humano da existência, da conjunção física, para se darem um ao outro, uma entrega prazeroza e sem reservas, com todo o erotismo (há alguma palavra melhor?) que isso encerra.
Pois é. É assim que o Senhor ama a sua Igreja e espera ser correspondido. Então, Cantares pode, sim, simbolizar o Amado de nossas almas e a Noiva que o aguarda ansioso para o grande encontro nupcial. Enquanto isso, temos de sujar os nossos pés e, tal como a garça que pesca o seu peixe sem sujar as penas, manter alvas as nossas vestes pelo poder do Espírito Santo.
(Ah... Não sou socialista).
Influência da visão brâmica sobre o cristianismo? Mas há na própria tradição judaica essa interpretação espiritual do texto...
Bramânica. E não "brâmica".
Pastor Geremias do Couto,concordo com seu último post. Temos liberdade em Deus para falar que uma relação homem-mulher deve ser amorosa e erótica. Quando o casamento deixa de trazer "delícias" aos cônujuges, e isso não só no plano sexual, mas em todos eles, abre-se a porta para o adultério, o divórcio, o desequilíbrio da vida conjugal. Não só em Cantares a Palavra nos adverte que devemos estar atentos a isso. Quem tem olhos para ler, leia...
JP, quer dizer que quando nos permitimos falar de assuntos tabus com liberdade em Cristo (estamos aqui falando de casamento, relação marido-esposa)somos socialistas?
Abraços,
Maya
(Ah... sou socialista!)
E quem inventou que o sexo, no casamento, serve apenas à reprodução foi a Igreja Católica Romana... Ora, por favor...
Olá a todos
Eu comentei anteriormente, mas acho que me equivoquei e não enviei...
A interpretação de cantares é de fato controversa ao longo da história. Assim como existe a interpretação da relação de "Cristo" e "Igreja", alguns judeus interpretam como a relação entre "Israel" e "Deus".
O que me deixa um pouco ressabriado com essa interpretação histórica, (mas isso não significa que eu acho que seja errada) é o teor erótico de alguns termos no original. Comentaristas entendem que determinados termos deixariam qualquer rabino velhinho corado!! E por favor não estou falando de pornografia....fala sério!!!
Com relação ao socialismo quis apenas dizer que quem "renova a interpretação da bíblia", em geral são os adeptos da Teologia da Libertação ou teólogos liberais.
Para discutirmos: as vezes acho que muitos que interpretam (não todos) o livro de Cantares alegorizam a relação de Salomão e a Sulamita em termos do romantismo "puro" e "idealizado" de hoje, sem levar em consideração qual seu significado naquele momento e como era a visão judaica do ato sexual....
E essa relação romântica atual acaba sendo transpassado para relação "Igreja" e "Deus"....
Abraços
JP
Norma:
Quando Deus perguntou a Adao, porque se escondera no bosque do Paraiso, respondeu-lhe:
Senhor, olhei para mim, vi-me NU, por isso temi e me escondi.
Trabalho fisico pesado e' incompativel com hedonismo. Talvez por isso os Puritanos nao fossem particularmente adeptos do erotismo... Alem disso, seus lideres religiosos nao aprovavam qualquer manifestacao de erotismo. E essa tradicao foi mantida ate' o dias da Rainha Vitoria, ou seja ate' ante-ontem. Sem que fosse necessaria, para essa atitude a intervencao da Igreja Catolica, como quer a Maya ao dizer que o "sexo no casamento so' e' para reproducao" ser uma invencao da Igreja Catolica.
Mas a sociedade dos dias de hoje e' um grande caldeirao de consumidores de pornografia e de hedonistas. Sexo foi refeito segundo a imagem de Hugh Hefner: com Eros rebaixado do status de um deus grego para o de um palhaco bufao. A cultura pornografica nao e' uma na qual material pornografico e' publicado e distribuido. A cultura pornografica e' aquela que aceita a ideia sobre sexo na qual a pornografia se baseia.
A nossa cultura popular ja' foi bem mais adiante da mera propaganda da fornicacao. Este pecado parece hoje em dia quase inocente. O que ela produz e distribui e' agora propaganda de todo tipo de perversao e obscenidade imaginavel. Um passeio pela Internet mostra isso sem nenhuma dificuldade. E o que passa por musica? A industria da musica de hoje conseguiu reduzir um dos maiores triunfos da humanidade - uma linguagem quase universal de pura transcendencia - para um monturo de grunhidos e gestos obscenos, capazes de expressar apenas as formas mais sem sentido da violencia e as formas mais brutais de sexo. Rock e rap sao absolutamente pobres em comparacao com swing ou jazz; e sao absolutamente incapazes de expressar ternura, gentileza ou amor. E as bandas de rock ou rap nao se aproximam, nem de longe, `as melodias de George Gershwin, Irving Berlin ou Cole Porter. "Se a musica de Bach e' o som de Deus pensando, entao Gershwin e', pelo menos, o som de Santo Antonio de Padua assoviando enquanto trabalhava." (Michael Bywater, The Spectator, May 13, 1995, p.44)
Isto e' o que a visao liberal da natureza humana nos legou: a ideia que os homens sao naturalmente bons e racionais, criaturas morais sem necessidade de fortes restricoes externas. Hoje temos um mercado crescente e ansioso pela depravacao. A resistencia vem daqueles que ainda vivem do capital moral acumulado por geracoes previas, fossem elas Puritanas ou Catolicas. Mas este capital vai se esvaindo dia a dia. A menos que haja um vigoroso contra-ataque, o prospecto e' o de uma sociedade caotica e infeliz, seguida de, talvez, uma sociedade tiranica e infeliz.
Termino com uma citacao do Padre Vieira, num de seus Sermoes:
Nao e' miseravel a Republica onde ha' delitos, senao onde falta o castigo deles: que os Imperios nao os arruinam os pecados por cometidos, senao por dissimulados.
Maya: ao singularizar para critica a Igreja Catolica, quando vc tinha bem debaixo do nariz os Puritanos, e tb John Knox e Joao Calvino, que certamente reprovariam a erotizacao do casamento, vc procedeu como autentica marxista que e': para provar uma tese, vc escolhe cuidadosamente o que vai deixar de fora nas hipoteses. Por que singularizar a Igreja Catolica, a nao ser por mero preconceito e/ou odio ?
Hereticus, hereticorum malleus.
ou seja,
Hereticus, o Malho dos hereticos.
Olá, pessoal,
Sobre a hermenêutica de Cantares: na Bíblia, as associações entre o casamento e a adoração ao Deus verdadeiro são freqüentes (e lindamente ricas), assim como seu corolário negativo, o adultério e a idolatria a falsos deuses. Ambas as analogias são tratadas pelos autores bíblicos com a clareza e a crueza necessárias, e eu não vejo por que ignorar isto. As palavras do pastor Geremias resumem o que penso: "Não seria, por outro lado, o livro de Cantares um testemunho da sacralidade do amor entre um homem e uma mulher na dimensão vista por Deus, e não com o olhar pornográfico resultante dos efeitos da Queda?" Creio que a profundidade da união entre Cristo e a igreja só poderia ser melhor compreendida por nós na alusão ao laço mais profundo de que a humanidade dispõe: o casamento. Amizades acabam, mas Jesus diz que o divórcio não é permitido. Assim é (é e será) nossa união com Deus: profunda, íntima, verdadeira e indissolúvel.
Hereticus, adorei o que você disse sobre a música e assino embaixo. Porém, apenas uma palavrinha de consolo: música ruim sempre houve em todas as épocas. Lembre-se da polca comercial no século XIX, só para agradar as massas, mencionada por Machado de Assis em um de seus contos mais divertidos... Está certo que hoje a tal "música das massas" está incrivelmente pior, mas a novidade é que a arte continua de pé - os tempos piorarão, mas a graça de Deus ainda tem nos suprido!
Grande abraço a todos!
Norma:
discordo de vc !
A polca comercial do seculo XIX mencionada por Machado de Assis era mera mediocridade. Ela nao vendia sexo, pornografia, violencia, vulgaridade, ataques `as formas tradicionais de autoridade, perversao. Esta comparacao nao me da' nenhum consolo... A cultura popular mudou, e a mudanca foi para muito pior.
A fixacao no ego comecou com o rock 'n' roll, que evoluiu para o "hard" rock. "O extrovertido, o hedonista, o louco, o criminoso, o suicida, e o exibicionista podem agora elevar-se `a categoria de herois no rock, pelas mesmas razoes que Byron ou Raskolnikov eram herois romanticos: profligacao e assassinato sao expressoes de uma intensidade emocional que desafia os limites impostos pela natureza e pela sociedade." (Robert Pattison, The Triumph of Vulgarity: Rock Music in the Mirror of Romanticism, Oxford University Press, 1987)
Agora ja' temos o rap: seus cultores nao so' exaltam os criminosos, alguns deles sao criminosos. O que nao parece diminuir a sua popularidade.
Sodoma e Gomorra estao no virar da esquina. Talvez a cultura popular seja inevitavelmente vulgar, mas a de hoje em dia e' muito mais vulgar do que em qualquer epoca do passado. Por isso encontro tao pouco consolo na comparacao que vc fez.
Seu irmao em Cristo, este sim nosso consolo.
Hereticus.
PS. Ja' li seu novo post. Vou meditar sobre o que vc escreveu, e depois comento. Desde ja' concordo com a sua posicao.
Oi, Hereticus,
Sei disso. Foi só uma vã tentativa... :-)
Abraços.
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