Há tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo que, se eu tivesse de escrever um post para cada uma, seriam mais de um por dia. Dois desses acontecimentos, sob a forma de declarações, dão muito no que pensar, e ambos convergem para o mesmo ponto. Vou comentá-los aqui, como fazem os colunistas:
1- "É só uma oportunidade, no caso de se precisar", declarou a primeira-dama Marisa Letícia da Silva, a galega de Lula, respondendo ao fato de ter pedido (e obtido) a nacionalidade italiana para si e todos os filhos. Uma esposa de um Presidente da República buscando nacionalidade estrangeira? Pois é. O caso gerou uma repercussão escandalosa, aqui e na Itália.
A pergunta que não quer calar: o que Dona Marisa sabe e nós não sabemos? Será que há uma força revolucionária por baixo dos panos que está descontente com Lula por motivos que também não sabemos, mas que certamente têm a ver com um pulso mais fraco do que gostariam? Será que presenciaremos um golpe de esquerda no Brasil?
Sim, pois não é possível que Lula tema um golpe de direita. Todos nós sabemos que não há oposição de fato no Brasil. Só se, de tanto mentir, ele acabou acreditando na própria mentira. Mas acho pouquíssimo provável.
De qualquer modo, uma esposa de presidente que se preocupa com a saída permanente do Brasil só evidencia que nem a “esquerda salvadora” crê mais neste país. Joga-se a bomba e bate-se em retirada. É mico, mas, bem mais que um mico, o acontecimento fornece preciosos indícios para a análise do que está acontecendo. Com a imprensa parcial e cooptada, nós, os cidadãos comuns, precisamos proceder como quem casa as peças de um quebra-cabeças. E a figura que está se formando é muito, muito feia.
2- "A gente precisa abandonar a mania de pensar que tudo se resolve por lei e que, mudando a lei, se muda a realidade." Essa afirmação, vinda de quem veio, seria suficiente para destituir a pessoa do cargo, se estivéssemos em um país sério. Sua autoria é de ninguém mais, ninguém menos que o Ministro da Justiça – Ministro da Justiça, senhoras e senhores! – , Márcio Thomaz Bastos, em público, durante o Fórum Nacional do BNDES, no Rio. Segundo a revista Primeira Leitura, ele ainda disse que o Brasil vive o “fim de um ciclo institucional” e precisa renovar todas as suas instituições. Que diabos é isso, senão um anúncio de quebra das prerrogativas do Jurídico? E quem sabe “renovar todas as instituições” não significa o encaminhamento de um golpe, novamente?
Essa declaração de um Ministro da Justiça "descrente" das leis se correlaciona de imediato, na minha mente, com a conversa entre Fernando Henrique Cardoso e Cristóvam Buarque, publicada parcialmente no Globo em 29 de novembro de 2004 (disponível no site do próprio Cristóvam) e encontrada na íntegra aqui. Ambos falaram no Judiciário da mesma maneira: como uma entidade que atrapalha o rumo das coisas. Para quem não lembra, vou postar aqui o trecho da entrevista que fala de "choque social".
CRISTOVAM: Não está na hora de a gente dar um choque social no Brasil?
FERNANDO HENRIQUE: Se não fizermos alguma coisa rápido, haverá danos à democracia. [No sentido das esquerdas, não esqueçamos que “democracia” é uma palavra adulterada, compatível com autoritarismos.] Se o resultado vai muito devagar, é uma tragédia. Se não anda, pior ainda. Andar para trás é inaceitável. Eu resumiria dizendo: mais investimento em infra-estrutura e um choque social.
CRISTOVAM: Com uma carga fiscal de mais de 30% do PIB já dá para fazer...
FERNANDO HENRIQUE: Aumentou muito a arrecadação. (...)
CRISTOVAM: Mas para dar esse choque, não é preciso ter um compromisso (a palavra pacto não é boa)?
FERNANDO HENRIQUE: Não devemos falar de pacto porque dá má sorte. Digamos uma convergência. Tem de ser uma coisa suprapartidária. A sociedade tem de comprar a idéia. E tem que pegar gente influente na mídia, porque hoje não existe nada sem mídia. Na política atual, parafraseando Descartes (“Penso, logo existo”), é “estou na TV, logo existo”. Se você não é virtual, você não existe.
CRISTOVAM: A imprensa a gente até traz, agora a Justiça é que difícil trazer...
FERNANDO HENRIQUE: As classes dirigentes, dominantes, e mais do que as classes, as mentalidades dominantes e as culturas tradicionais estão encasteladas na Justiça.
Depois dessas palavras (“choque social”, “convergência suprapartidária”, “trazer a imprensa”) e da conotação negativa que se atribui à Justiça – “inimiga da revolução”, só faltou dizer - , já dá para imaginar o que o hoje Ministro da Justiça (Ministro da própria!) queria dizer com “renovar todas as instituições”. Leia ainda:
- A polícia está ficando desarmada por causa da dificuldade de comprar munição.
- O comando subversivo continental é quem manda no país.
- O que temos de mais organizado no país é o crime!
- A verdadeira face do PCC
8 comentários:
Oportunas observações, Norma. Louvável teu esforço, a que me reúno, para colocar o cristianismo no centro, nestes tempos de relativismo.
Outro dia, lendo teu blog, vi que tens interesse sobre a obra do René Girard. Convido-a a dar uma olhada num post em meu blog ("A violência cai como um raio"), no endereço http://moacirleon.blogspot.com.
Um abraço,
Moacir
Não vejo como não considerar como voz da sabedoria as palavras de Marcio T. Bastos.
Obrigada, Moacir! Dei uma olhada. Ótimo texto! Assim que terminar o doutorado, pretendo ler o Girard todo, que é verdadeiramente um achado.
Hehehe, Hernan! Sabedoria do demo, you mean, huh? :-)
Bom, não conheço o contexto em que foram proferidas as tais palavras, mas, isoladamente, concordo com elas. O que precisa de mudança é o coração e a mente das pessoas, coisa que não acontece "por força de lei".
Embora não concorde com as idéias do seu blog, reconheço a legitimidade de sua iniciativa em promover o debate em que haja esclarecimentos e, eventualmente, mudanças de pensamento por parte dos que, como eu, discordam de suas idéias. Assim é que as coisas devem acontecer. Acredito que você mesma não gostaria que suas idéias se tornassem lei. Eu, pelo menos, não admitiria tal coisa.
Lembremo-nos de que "a força do pecado é a lei". Se o próprio Senhor prescindiu da lei como instrumento de salvação e transformação que, a despeito de ser "boa", causava-nos mal, pois por ela era incitado o "pecado que habita em mim", como poderei eu crer que a lei pode mudar alguma coisa, senão apenas superficial e contingencialmente?
Por isso concordo com o Ministro nessas palvras.
Mudanças verdadeiras e, portanto, profundas, não acontecem "por força de lei".
Hernan, você sabe que sou cristã evangélica. Como cristã evangélica, é CLARO que jamais contestaria o que você disse. Mas atribuir um sentido evangélico ("graça, e não lei") às palavras de alguém como MTB é, no mínimo, ingenuidade. A profundidade que você lhe atribuiu advém da SUA leitura bíblica, não das palavras de MTB, conhecido advogado de criminosos - incluindo-se o senhor Marcola, pasmem, leitores.
Perdoe-me a franqueza, mas quisera eu que os evangélicos brasileiros não olhassem para o mundo com olhos de avestruz que de vez em quando ergue o pescoço da terra. Muitas vezes penso que o crente deste país confunde o "Sola Scriptura" com uma determinação férrea de SÓ LER a Bíblia - nem outros livros, nem jornais. No entanto, Jesus não nos chamou para dividir o mundo em profano e santo, mas sim para viver nossa santidade em compromisso com a denúncia do mal. Se você ler o texto de novo, verá que eu deixo claro que, para segmentos significativos da esquerda brasileira, o Judiciário é o maior entrave para o que eles chamam de "culturas tradicionais". A mídia e a universidade já estão profundamente secularizadas, e nesse sentido o Judiciário seria uma espécie de último obstáculo para que a secularização e, a reboque, o relativismo e a ineficiência legal e moral atingissem toda a sociedade - contexto perfeito para o totalitarismo, que se apresenta sempre como uma solução miraculosa para o caos social. Esse é o contexto em que deve ser entendida a frase de MTB, creio eu. Avilte o Judiciário, e você estará derrubando a última fileira contra o totalitarismo e o abuso de poder.
(Se os senhores Cristóvam Buarque e Fernando Henrique Cardoso pudessem apresentar à sociedade uma interpretação diversa do que pareceram dizer nessa entrevista, eu agradeceria muito e prontamente me retrataria. Mas, pelo andar da carruagem, em breve a opinião pública não será mais objeto do mínimo interesse dos figurões de esquerda deste país. Valerá tanto quanto vale a opinião pública cubana...)
Oi!
A frase "A gente precisa abandonar a mania de pensar que tudo se resolve por lei e que, mudando a lei, se muda a realidade", em si mesma, está corretíssima. Precisamos mesmo ver o contexto dela.
(Lembro-me de uma frase atribuída ao ex-presidente argentino Fernando de la Rúa, no auge da gravíssima crise econômica lá, há alguns anos: "Nunca pensei que a realidade pudesse ser tão teimosa").
Osw
Eu ainda acho que um Ministro da Justiça não deve dizer isso, nem no melhor dos contextos... :-)
Isso tudo é um quebra-cabeças, são pequenas peças que quando forem juntadas formarão o que ninguém quer ver hoje.
Precisamos olhar a "tampa da caixa" para já termos uma idéia do que vamos formar no final.
Isso, porém, os esquerdistas de plantão não querem nem pensar em fazer...na verdade acredito que a maioria das pessoas que fazem defesa ao (des)governo Lula, não tem a menor capacidade de compreensão do que de fato significam essas frases que você, Norma, apresenta no seu artigo. Só o tempo poderá mostrar a catástrofe que será...aí será tarde demais!!!
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