17 maio 2006

São Paulo e a cubanização da América Latina

Eu estava lá, em São Paulo, quando a confusão atingiu seu auge, participando de um evento importantíssimo para os dias que correm (e totalmente ignorado pela mídia "oficial"): o Seminário Internacional sobre Democracia Liberal, promovido pela Associação Comercial de SP e pelo site Mídia sem Máscara. Foi tragicamente irônico: falávamos sobre as raízes da situação drástica no Brasil e na América Latina enquanto o pau comia solto lá fora, com notícias de mortes, tiroteios e evacuamentos, além do boato sobre uma bomba no aeroporto de Congonhas (que acabou sendo fechado). Tudo isso, segundo alguns analistas lúcidos, bastante calculado para infundir terror na população.

Não usem portanto o termo "criminosos" para designar os responsáveis, embora criminosos eles sejam. Usem o mais apropriado, "terroristas". E estendam o epíteto aos ajudadores nas ações: escutas telefônicas revelam uma boa mãozinha do Movimento dos Sem-Terra. Um amigo de esquerda me garantiu que os integrantes do MST eram tutto buona gente. Não posso considerar buona gente um grupo organizado de agressores, ladrões e assassinos. Assim como não posso considerar as mortes e repressões comunistas como "desvios ocasionais" do sistema. Mortes e repressões são o sistema - o sistema totalitário que caracteriza o esquerdismo. Nos EUA, direitistas, esquerdistas, anarquistas, seja o que for, podem dizer o que quiserem na mídia, organizar passeatas, xingar Bush de todos os nomes, queimar Judas em praças públicas. Lá o povo pode ver canais de televisão do mundo inteiro e acessar a internet à vontade. Em Cuba, não. Na Coréia comunista, não. Na China, não. Na antiga URSS, não. Na antiga Alemanha oriental, não. Onde você prefere estar?

A América Latina está se cubanizando, com a ajuda do quarteto - melhor seria dizer "quadrilha" - Fidel, Chávez, Evo, Lula. Gostam de usar o termo "democracia", mas usam-no como fachada para suas pretensões de poder total. No comunismo (leia meu post sobre isso), "governo do povo" torna-se rapidamente "governo total do Estado". Isso, para eles, é democracia. Já no liberalismo, a democracia pressupõe limites para o Estado. Isso é bíblico: sendo mau o coração do homem, não se pode atribuir poder total a ninguém. Mas o esquerdismo tem como meta esse poder total, ao mesmo tempo por meios aparentemente lícitos (voto e constituição) e claramente ilícitos (tirania, extorsões, aliados terroristas e narcotraficantes, execuções sumárias, imprensa controlada). Isso é patente em todos os regimes nazistas e comunistas, mas a propaganda vermelha impede que o esquerdismo seja visto como é: ideologia totalitária que suprime as liberdades individuais. O povo brasileiro poderia saber disso tudo, não fosse o teto de chumbo que recobre as instituições de ensino e a mídia, escondendo o tempo todo os inúmeros abusos passados e presentes e divulgando sem parar o quanto o esquerdismo é lindo, libertário e comprometido com os pobres. O pensamento independente é inimigo dos governos totalitários de esquerda, e esses governos farão de tudo para coibi-lo, de forma velada ou aberta. Essa é a realidade, não importa o que diga seu amigo militante do PT ou seu professor de história.

No entanto, os livros anti-esquerdistas escritos aqui ou no exterior não furam o bloqueio dos editores, e ficamos isolados no Brasil. Quando saem, são esgotados dentro de poucos anos, enquanto os que enaltecem os paraísos comunistas estão sempre nas prateleiras, nas páginas de jornais e nas bocas de professores universitários. Por isso, recomendo enfaticamente a todos que queiram entender o que está acontecendo que corram para os sites que indico no blog. São leituras que evidenciam o curso revolucionário na América Latina, os atores em jogo, os financiamentos maciços de entidades milionárias (sobretudo da esquerda americana), o bombardeamento gramscista na educação brasileira (que educa crianças e jovens para crer na utopia e adorar o Estado esquerdista, desprezando o cristianismo), as distorções lingüísticas para emperrar todo raciocínio oposto à ideologia de esquerda. Nada disso é muito novo, e textos de Olavo de Carvalho, Paul Johnson, Thomas Sowell, Alain Besançon, Jean-François Revel, François Furet, Eric Voegelin - e muitos outros - podem esclarecer o fundo comum do que vem sendo feito na AL, inspirado em métodos aplicados na URSS e na ilha-cárcere de Fidel. Esses métodos se dividem em fases que têm sempre o mesmo objetivo - poder total - e podem ser comprovadas historicamente:

1- Chegar ao poder por meios democráticos e apoio popular;
2- Uma vez lá dentro, arrebanhá-lo à força por meio de coação e repressão violenta dos opositores;
3- Garantir sua continuidade com a maciça ideologização da educação e da mídia;
4- Investir pesado na propaganda estrangeira, exaltando a ideologia do regime, inventando seus triunfos e mascarando sua violência física e psicológica;
5- Inspirar outros países a que lhe sigam o exemplo.

Pergunto-me quando os cristãos vão acordar para o fato de que A) a esquerda é hoje um dos maiores inimigos do cristianismo e das liberdades individuais; B) é preciso fazer algo, urgente. Se a igreja brasileira estivesse atenta, mais informada e fosse mais zelosa pela verdade e pela justiça, conseguiríamos barrar a marcha da revolução neste país. Não quero pensar que é tarde demais, mas lançar mais um grito para que acordemos finalmente. Não queremos um Brasil cubanizado ou uma América Latina socialista-soviética, de cérebros amputados pela ideologia, de subserviência forçada e humilhada, de igrejas perseguidas, de sonhos sufocados, de pobreza generalizada. Leiam! Informem-se! Por enquanto, as forças políticas no Brasil ainda se empenham em passar uma imagem de democracia. No entanto, tudo indica que estão apenas se mobilizando para passar à fase 2, com o anúncio macabro de ações coordenadas como esta em São Paulo. Hugo Chávez já está na fase 2, Fidel encontra-se há anos na 5 e ambos são amigos do governo. O quanto ainda se pode esperar antes que estejamos vivendo em uma fechada e opressora ditadura de esquerda?

10 comentários:

Anônimo disse...

...mas Lula não está sendo afastado dos outros dois líderes latino-americanos por causa do desenvolvimento de política aconômica ortodoxa?

Norma disse...

Você acha que ele está sendo afastado ou é mais provável que tenha acatado as diretrizes da esquerda internacional, com aquela reação pífia à decisão boliviana?

E, ainda que a economia pareça ortodoxa, de que adianta, se todo o resto segue a "ortodoxia" comunista ao estilo mais suave de Gramsci? Mas Lula não me deixa mentir: volta e meia, um comportamento seu denuncia uma ansiazinha totalitária. Porém, o povo precisa ter memória para concluir essas coisas, e isso já sabemos que não tem.

Cuidado com o mito do Lula Light. Sugiro uma visita ao site do Olavo e a busca com os dizeres "estratégia das tesouras", segundo a qual dois pólos, um leve e outro pesado, revezam-se de um lado - Brasil e Venezuela, Lula "light" e MST. Essa estratégia desvia a opinião mundial das evidências da unidade dos movimentos de esquerda, personificada no Foro de São Paulo.

Norma disse...

Veja:

"No governo, nossos fabianos seguiram sua receita de praxe: administraram o capitalismo como se fossem capitalistas, ao mesmo tempo que espalhavam a doutrinação marxista nas escolas, demoliam as Forças Armadas, instituíam novas regras de moralidade pública inspiradas no marxismo cultural da Escola de Frankfurt, neutralizavam por meio da difamação midiática as lideranças direitistas, criavam um aparato de repressão fiscal destinado a colocar praticamente fora da lei a atividade capitalista e, last not least, subsidiavam com dinheiro público o crescimento do MST, a maior organização revolucionária que já existiu na América Latina. Em suma: fingiam cuidar da saúde do capitalismo enquanto destruíam suas bases políticas, ideológicas, culturais, morais, administrativas e militares, deixando o leito preparado para o advento do socialismo. Fizeram tudo isso sob o aplauso de uma classe capitalista idiota, incapaz de enxergar no capitalismo nada além da sua superfície econômica e ignorante de tudo o que é preciso para sustentá-la. Agora podem ir para casa, seguros de ter um lugar ao sol no socialismo, se ele vier amanhã, assim como no capitalismo, se ele durar mais um pouco."

http://www.olavodecarvalho.org/semana/08032002globo.htm

Edson Camargo disse...

Norma,

Parabéns por falar o óbvio.

Numa época na qual mesmo os cristãos são os primeiros a subscrever o embuste propagado pela mídia impregnada da ideologia mais anticristã que já surgiu, falar do que salta aos olhos - mas não é admitido por aqueles que precisam reendossar a mentira anteriormente aceita (isso é ideologia) - torna-se um ato heróico, pois você não se apóia no consensão idiotizante.

Pode saber que andam por aí te ridicularizando. Com a risadinha fingida incapaz de refutar o que você tem mostrado e comentado com a lucidez e a coragem de uma autêntica serva do Senhor, que, ao contrário de muitos bem-falantes do meio evangélico, não contraria o ensinamento do livro de Provérbios:"não te associes com os revoltosos."

Fica com Deus, irmazinha.
Beijoca do Eliot.

Verbi Gratia disse...

Norminha, vejo que voltou em boa-forma!

Quanto à fase 2 ("maciça ideologização da educação e da mídia"), penso que, no Brasil, ela começou mesmo logo após a contra-revolução de 64 e tem sido a mais forte e eficaz estratégia da esquerda a operar, praticamente, livre e desimpedida: daí a cegueira em que hoje vivem os nossos estudantes (e sem a opção de sair dela); daí o obscurantismo que a mídia nos impõe; daí o quase não haver vozes que confronte a presente ditadura. No Brasil, estamos em plena idade das trevas... e caminhando para o abismo vermelho. A astúcia da esquerda é usar o "anjo de luz" da democracia para depois nos espetar com o diabólico ferrão esquerdista. É um esquema, no mínimo, satânico.

Anônimo disse...

Adorei este texto e suas idéias no blog em geral. Passarei sempre por aqui. []'s. Denise.

Anônimo disse...

Norma,
Foi um prazer descobri-la no Chamada da Meia-Noite, com o texto sobre o Evangelho de Judas. Então, passei a visitar constantemente o seu blog. Contudo, para uma cristã, acho-a deveras mundana (não se ofenda; o sentido aqui é terreno) em suas colocações. Explico: Pode um cristão (não o nominal, mas o espiritual; cuja vida foi restaurada pelo Senhor Jesus) tornar-se paranóico ou catastrófico? A sua “obsessão” com a esquerda não conflita com Mateus 6:25-34? E o que dizer de Mateus 10:28: “Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Antes, temei aquele que pode fazer a alma e o corpo morrerem no inferno”. Leia os versos 29 a 31.
O problema [seja no Brasil, Cuba, Malásia ou Togo], vai muito além da pura e simples escolha ideológica; democrática ou não: é tudo farinha do mesmo saco. Porque o problema está no homem, no seu pecado e em apartar-se de Deus. O inimigo de Cristo e dos cristãos é o DIABO; travestido de Comunismo, Capitalismo, Marxismo, Liberalismo; programa da Xuxa, do Jô; Coca-cola, Macs, vendilhões cristãos, e tudo mais que o mundo produziu e produz.
Você pinta o comunismo (esquerdas, em geral) como Satã, mas não é o capitalismo (direitas, em geral) fruto da mesma árvore? Ou será que não foi o homem que as idealizou, tendo a mesma inspiração demoníaca? Exploração e opressão do homem? Não existe no Brasil o estado de direito(sic)? Não há eleições diretas, com dezenas de partidos, milhares de candidatos, onde uma Constituição está em vigor?
Como cristãos não podemos nos enganar (e enganar), de que mudança de regime/governo é a solução. Ela está muito além disso.
Li, não me recordo onde, que o ex-presidente americano Bill Clinton vendeu informações militares secretas aos chineses através dos seus financiadores de campanha. Bush mata civis iraquianos em nome dos seus financiadores. A Al Kaeda mata civis americanos por conta dos seus financiadores. Será que o “negócio” não é de quem paga mais? Ou de quem quer deter o poder global (olha aí o Anticristo)?... A ditadura militar vendeu um pouco do Brasil; Fernando Henrique deu o seu quinhão (Eletrobrás, Telebrás, Siderbrás...), e Lula entrega mais um tanto. O próximo os seguirá, seja qual for a sua ideologia. Ou alguém duvida? Não é assim no mundo globalizado?
Há quarenta, cem anos atrás, onde estavam os direitos individuais do cidadão? Como agora, existiam apenas os deveres individuais. Somos burros de carga, e trazemos no lombo a corrupção, inépcia, e a canalhice de qualquer regime ou governo.
Todos são homens, e iníquos. Não há saída, irmã... Mas há saída, sim! Se cada um de nós, individualmente, levarmos ao maior número possível de pessoas a mensagem do Senhor Jesus, a nossa contribuição será autêntica, sem ilusões, sem distorções; e não afundaremos na areia movediça ideológica. O debate faz bem às idéias, mas não transforma o homem. Nem o conduz a Deus: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”, sentenciou o Senhor. Simples, não!
Como a estória do marido que encontra a mulher com o amante, não estamos apenas jogando o sofá fora?
Que Deus a abençoe!
Jorge Fernandes.

Norma disse...

Obrigada, Eliot, Marcos, Denise!

Caro Jorge,
Talvez justamente por falta de informação e reflexão, você coloca no mesmo bojo o capitalismo (sistema em que, malgrado os defeitos, as liberdades individuais estão garantidas) e o socialismo (sistema em que o Estado dispõe das pessoas como um deus, exigindo adoração sob a forma de obediência cega). Não preciso deixar de crer no poder do diabo para chegar à conclusão de que ele inspira algumas coisas em particular, mais que outras. Não deixo de postar meus olhos nas coisas espirituais, apenas estou preocupada com aquilo com que os crentes do Brasil não se preocupam, com raras exceções. Você há de convir que a igreja evangélica no Brasil anda como avestruz, enfiando a cabeça na terra sem influir positivamente no mundo. Se estamos no meio do levante de um regime autoritário que atenta contra nossa liberdade - inclusive a religiosa - temos o dever, diante de Deus, de denunciar essa situação. Sua mensagem é um pouco sentenciosa, mas eu entendo que a cultura brasileira favorece essa divisão na igreja entre assuntos "sagrados" e assuntos "mundanos". Temos que tomar cuidado, porém, pois, apesar de Deus saber que somos todos pecadores, o julgamento aos povos é diferenciado. E Deus não quer seu povo alheio ao mal do ímpio. Fosse assim, o crente não deveria se preocupar com questões como a escravatura, por exemplo. No entanto, somos chamados para fazer diferença nesta terra, e a diferença também passa por denunciar as opressões. Abraços!

Anônimo disse...

Norma, admiro você e sua inteligência. Desejo-lhe o melhor possível em sua vida. Você é uma mulher maravilhosa. Perdoe-me por não me identificar, afinal isso não tem importância.

Roberto disse...

Como todo o estorvo que lhe foi causado, é conhecido o desenvolvimento de Cuba em saúde e educação, por conseguinte você já se perguntou como seria Cuba sem o embargo norte-americano? Você já se perguntou porque o regime de Cuba se fechou politicamente? Foi só para se desgastar perante opiniões como a sua, e perante a crítica da comunidade internacional; algumas superficiais por ignorância outras com propósito maldosamente propagandista; ou teria sido, em face de sua desvantagem logística, para controlar os fatos socioeconômicos no país, de tal forma protegendo-se contra o modelo do regime aberto que traria vulnerabilidades perante a propagação das idéias da direita, facilitando, inclusive, ações militares contra-revolucionárias? Você já questionou que o capitalismo reprime com mortes e torturas os fracos, os pobres e seus famintos, como ocorreu na ditadura militar no Brasil, enquanto que o comunismo luta contra os fortes e abastados que espoliam o povo. Eu não sou comunista porque não tenho a dignidade desses ascetas que renunciam a muitas vaidades para trilhar seu ideário. Mas eles representaram a idéia ética do humanitarismo pelos meios políticos. OUTRA COISA IMPORTANTE: O ente que se opões a COMUNISMO não é DEMOCRACIA; é “CAPITALISMO”. À DEMOCRACIA opõe-se a DITADURA, que são regimes políticos; aqueles são regimes econômicos. Não defendo algum regime antidemocrático, todavia uso de muita boa vontade para analisar governos fortes que quiseram um regime social que eliminasse os privilégios econômicos existentes em países como nosso onde uns não podem sequer obter um financiamento para um empreendimento, outros o adquirem com juros escorchantes, e os privilegiados, em conchavos com seu gerente estatal de plantão tomam milhões a juros baixíssimos e ainda arranjam uma maneira de não pagá-lo, saindo-se muito bem no final; ou então, por já terem algum poder econômico e amizades políticas, colocam-se como os primeiros a terem cacife para a compra de bens públicos muitíssimo subfaturados para depois dividirem alguns décimos do dinheiro que eles lucraram com o subfaturamento, com presidentes, governadores, secretários, presidentes e diretores das empresas estatais. No entanto, sou, até, um liberal. Ah! LIBERAL não quer dizer democrático, ou tem uma pequena ralação com o termo. Mas, principalmente, LIBERAL, na maioria das suas citação nos media, significa o máximo de atuação dos agentes do mercado, em oposição à intervenção do governo, para o desenvolvimento econômico do país. Tem relação com livre produção e comércio. Agoara, se você me perguntasse se eu faria algumas adaptações no Regime de Hugo Chavez, eu faria. Como por exemplo: 1) Liberar a imprensa (se possível) - 2) Adotar mais discrição na estratégia contra a América do Norte - 3) Manter o liberalismo econômico. Mas, sobretudo, corrigindo as distorções sociais geradas pela corrupção e pelos privilégios, e trabalhando para que o país adquirisse independência tecnológica.

Espero que eu tenha contribuído para lançar luz nesse debate

Roberto