Há um excelente documentário na Netflix, All or Nothing at All, com duração de quatro horas, sobre a vida de Frank Sinatra. Achei irretocável, e direi por quê. É situado historicamente: expostos a muitas fotos e filmagens de época, vemos como Sinatra passou pela depressão americana, acompanhou as duas grandes guerras, lutou contra o racismo, apoiou a candidatura Kennedy e assustou-se com a nova geração hippie. É situado culturalmente, afinal, Sinatra continuou ativo, desde o jazz antigo de Tommy Dorsey, passando pelo advento do rock (e há um dueto seu impagável com Elvis Presley) até o pop de Michael Jackson, sobrevivendo impávido com pouquíssimas (e hilariantes) concessões. Não tem narrações desnecessárias de atores novos e famosinhos, nem takes infinitos de paisagens atuais, mas somente imagens de época, junto com gravações (ou simulações de gravação) das personalidades que viveram cada momento. E há música, muita música, tocada inteira ou em grandes pedaços, para o deleite de quem amava ouvir Sinatra. Esteticamente, não há nada acessório no filme, assim como não é tendencioso o conteúdo: Sinatra é retratado em suas qualidades e defeitos, brilhando em sua generosidade, sua dedicação aos amigos, sua personalidade sedutora e seu perfeccionismo, mas também não ficam de fora o temperamento explosivo, os casos extraconjugais e a ligação com a Máfia italiana. É primoroso, enfim, sem recair na vulgaridade das fofocas. Uma verdadeira homenagem ao artista e a sua música.
Quando penso no documentário que foi feito no Brasil sobre Tom Jobim, que indubitavelmente ocupou em nossa cena artística um papel tão central como o de Sinatra nos EUA, não me contenho de indignação. Tínhamos um especial que passava na Globo, com quase todos os problemas que o de Sinatra não tem - muitas imagens supérfluas e pouco material biográfico sobre Jobim, por exemplo -, mas que era redimido (e o quanto!) pelas músicas inteiras que ele tocava e cantava com Gal Costa, Marina, Chico Buarque e Edu Lobo. Esse filme foi posteriormente editado - eu diria, esquartejado - e os encontros emocionantes foram reduzidos a trechos sem importância, cosidos pela irritante e anacrônica narração de uma jovem atriz global.
Diante disso, eu pergunto: quando produzirão um documentário à altura do gênio que foi Tom Jobim? Já passou da hora. E seria maravilhoso se tomassem All or Nothing at All como inspiração - em que, aliás, Tom aparece, em seu famoso dueto com Sinatra em Garota de Ipanema.
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