09 abril 2015

Resenha de Mentira romântica..., de Girard

Ainda não leu Mentira romântica, verdade romanesca, de René Girard, mas gostaria de ter uma ideia do que trata esse livro que volta e meia eu menciono por aqui? Trago uma ótima resenha de Júlia Reyes, no blog de meu amigo Pedro Sette-Câmara sobre Girard. Vale muito a leitura!

 

13 comentários:

l disse...

Estou da metade para o fim do _Des choses cachés depuis la fondation du monde_, e me impressionaram vários aspectos:

1. É uma teoria evolucionista, portanto hipotética, confabulatória, uma espécie de análogo antropológico da psicologia evolucionista. Cheia de suposiçoes sem possibilidade de comprovaçao ou falsificaço, com um poder explicativo impressionante mas no fim das contas nada científica.

2. É meio marcionista, rejeitando boa parte do Velho testamento e inclusive Hebreus como resquícios do mecanismo vitimário resultante do desejo mimético, que no caso do Antigo testamento tem apenas o mérito de preparar o caminho para o desnudar da ilusao mimética do Novo testamento (exceto Hb).

3. Rejeita o caráter propiciatório do sacrifício de Jesus na cruz, reduzindo a Cruz aa simples exposiçao do mimetismo pelo bode expiatório perfeito.

Ainda estou para ver algum reformado ou outro cristao ortodoxo (sentido amplo, nao oriental) criticar Girard para ver se aproveita algo.

Norma disse...

Oi, Leandro,

Eu ainda não li Des choses cachées..., mas conheço o item número 3 e fiquei sabendo que Girard voltou atrás nessa rejeição. Ou seja, parece que ele hoje aceita o caráter propiciatório do sacrifício de Jesus. Mais que isso, só poderei dizer quando tiver a leitura direta das obras posteriores.

Ainda assim, creio que muita coisa da obra dele se aproveita, assim como de muitos outros autores que se situam, em termos de cosmovisão, muito mais longe da Bíblia que Girard.

Obrigada pelo comentário. Abraço!

l disse...

Pois é, tem um malentendido terrível aí. Em _Des choses cachées_, ele rejeita o caráter sacrificial da morte de Jesus. Mais tarde, em correspondencia com um padre alemao (Schrader, se nao me falha a memória), ele aceita o sacrifício, mas nao expiatório. O pregador do Vaticano recém instalado é girardista e fez sua pregaçao inaugural justamente negando a propiciaçao na Cruz -- o bispo romanista Jorginho de Roma realmente está nos aprontando muito.

Voce nao vai achar essa aceitaçao sequer do sacrifício revelatório mimético (nao propiciatório) em nenhuma obra disponível em ingles ou frances, somente nas cartas ao padre alemao, em alemao.

Andei conversando com um leigo dominicano (nem sabia que isso existia) girardista frances, que tentou defender a ortodoxia do Girard em termos de fé implícita romanista, mas acabou admitindo que é uma heresia pelo padrao escritural.

Queria uma crítica reformada (ou pelo menos crista ortodoxa) justamente para ver se alguém já separou o que se aproveita. A teoria é fascinante, mas seu caráter conjetural (para nao dizer psicoevolucionista, mesmo que se aceite a evolucao biológica) me impede, de mim mesmo, de ver algo realmente sólido ali. Estou terminando o livro mais por desencargo de consciencia, mesmo.

Estou aproveitando muito mais o Jean-Marc Berthoud, que critica a evolucao da cultura ocidental pelo crivo da Escritura, embora discorde muito dele em vários pontos: antissemitismo latente, um certo conspiracionismo, fazer questao quase que absoluta do criacionismo da Terra jovem e até dum certo geocentrismo… falando assim, parece até coisa de louco, mas esse sim consigo aproveitar muito de muito bom.

Norma disse...

Hehehe! "Falando assim, parece até coisa de louco" - certamente eu poderia falar o mesmo de Girard se pensasse nele como um teólogo, coisa que ele não é nem pretende ser...

Meu livro preferido dele continua sendo Mentira romântica, verdade romanesca - cujos insights antropológicos da Bíblia são geniais. Os reformados têm uma leitura mais normativa da Palavra, enquanto falta gente para explorar melhor o potencial situacional e existencial (triperspectivalismo de John Frame). É aqui que ele entra. Então, se você tem o normativo todo estruturadinho, a teologia maluca do Girard não vai fazer cócegas. :-) Aprendi muito com ele sobre a questão mimética e a violência, e sou-lhe muito grata por isso. Mas, de fato, isso varia de leitor para leitor. Há autores cujos momentos de verdade a gente nunca vai conseguir aproveitar direito mesmo, porque os momentos em que ele erra o alvo incomodam demais.

De qualquer modo, vou sondar melhor a informação que recebi sobre ele ter voltado atrás e, se houver algum fato novo, volto aqui para contar.

Abraço!

l disse...

Talvez eu devesse pegar esse, mas estou desanimado em investir em mais um livro depois da ducha de água fria que foi o _Des choses cachées…_. Sem contar que ainda nao enfrentei o Ellul e o Rolland que me aguardam aqui.

O Frame estou devendo também, tentando o Poythress e achando meio óbvio, mas acho que sao abordagens diferentes. Fiquei meio decepcionado com umas declaraçoes do Frame (sobre cultura ser normativa na exgese, mas pode ser que estivessem fora de contexto).

Se voce (ou alguém mais) me indicasse um cristao ortodoxo mostrando como aproveitar o Girard, talvez eu me animasse a colocar o _Mensonges…_ na minha lista de compras da Amazon.fr.

Se quiser mais informaçoes, tenho o tal dominicano no Twitter, e não é difícil achar a coletanea de cartas alemãs deles com o tal padre (¿Schrader?). Mas também estou devendo o alemao -- por enquanto, espero que terminar o _Lingva latina per se illustrata_ do Øsberg me aplaine o caminho para o alemao e o grego.

Norma disse...

Infelizmente eu ainda não leio alemão, então as cartas não ajudariam muito...

Taí, o Ellul é exemplo de um cara que me desanima. Aproveita-se muito da leitura dele, mas o desprezo que ele nutre pelo caráter normativo de Deus é tão feio que eu prefiro deixar de lado.

Você já leu meus posts sobre o Girard? Talvez ali você tenha uma ou outra dica de uma leitura mais redimida. Ainda não achei um cristão tradicional que lide com ele, mas tenho procurado, porque eu mesma quero seguir esse exemplo. :-) Quando achar, prometo que aviso.

l disse...

Ainda nao comecei o Ellul, peguei porque um jovem da igreja está lendo e resolvi acompanhar. Também por causa dos comentários sobre Eclesiastes & Apocalipse. Pode ser que também me desanime.

Recentemente desanimei do Robert Brow, que já me ajudou um bocado, pelo ódio ao calvinismo primário. O que me desanima muito também nos luteranos em geral, embora um judeu, o David P ‘Spengler’ Goldman também tenha esse mal mas nao chegue a desanimar, talvez porque a contribuiçao dele é mais geopolítica, economica e cultural, e porque ele valoriza o evangelicalismo em geral.

Nao lembro de ter te lido sobre, talvez sejam mais antigos? Só comecei a te acompanhar mais ou menos recentemente por indicaçao do Bachega, e descobri o Girard por um colega romanista e olavista.

Voltando ao Frame, caçando a obra dele sobre perspectivismo nao encontrei algum título óbvio. Por onde começar?

Norma disse...

Comece por aqui: http://www.frame-poythress.org/a-primer-on-perspectivalism/ Um artigo bem didático sobre o perspectivalismo. Mas, se você já leu Poythress, vai perceber um fundo comum entre eles. Depois, há o Apologética para a glória de Deus e os livrões imensos sobre doutrina do conhecimento de Deus. Os imensos ainda não pude ler, li mais Poythress que Frame também, mas estou aplicando enlouquecidamente o triperspectivalismo. :-)

Sim, os posts sobre Girard são antigos. Eu fui cursar teologia reformada no Jumper e deixei-o um pouco de lado. Agora estou mais fortinha (Van Til, Dooyeweerd, Frame, Poythress etc.) para atacá-lo de novo. ;-)

l disse...

Quando vi tua mensagem havia acabado de colocar o _Primer_ no Pocket, mas minha antibiblioteca Pocket já tem mais de cem artigos…

O Poythress nem cheguei aa metade, e deixei um pouco de lado que me pareceu muito óbvio. Mas no primeiro parágrafo do Frame já vi que ele mesmo recomenda o Poythress, entao pode ser que ler o _Prime_ me anime a terminá-lo.

Como minha antibiblioteca no Kobo já está muito grande, talvez acabe incluindo o _Mensonges romantiques…_ na compra de fim de ano na Fnac em vez de aumentar ainda mais a fila no Kobo.

Isso que estou devendo ‘n’ traduçoes (Clark, Berthoud) ao Sabino.

Norma disse...

O importante é ter foco. Nesse sentido (não só nesse, obviamente), a pós está me ajudando muito, porque também tendo à dispersão.

l disse...

O que me ajudou um pouco com foco foram (1) o apartamento onde já nao cabem mais livros, (2) o orçamento que já sai correndo quando escuta falar em ‘Amazon’, (3) as leitura de banheiro, onde tem pouco espaço de prateleira, (4) as leituras no carro, onde só cabe um livro de cada vez, (5) leitura enquanto o computador ‘pensa’ ou o Workrave manda parar para prevenir tendinite, idem um livro de cada vez, (6) o leitor de tinta eletronica onde nao é prático alternar entre mais de dois ou tres livros de cada vez e, finalmente, (7) o Goodreads que me envergonha.

Mestrado estou fugindo, já nao dou conta do dia-a-dia.

Norma disse...

Hahahaha!

Quando der conta, vale a pena, Jumper foi divisor de águas para mim. ;-)

l disse...

Pelo andar da carruagem vai longe, por enquanto vou nas leituras mesmo. Ainda preciso tentar de novo o van Til (tentei prematuramente) e experimentar o Dooyewerd (nao achei uma ediçao que me tentasse). Sem contar que tem o Corção e o Rosenweig me aguardando a continuar.