12 novembro 2008

O testemunho do mundo

Desde adolescente, de vez em quando eu ouvia na rádio uma música muito triste de Carly Simon, chamada That's the Way I Always Heard it Should Be. Nunca conseguia prestar atenção na letra, mas apenas pescava o refrão: “You want to marry me; we'll marry.” Não entendia como uma música que falava de casamento podia ser tão triste; no entanto, mesmo de modo inconsciente, percebia o recado: a infelicidade no casamento é algo inevitável. De fato, a letra fala dos vários modos que essa infelicidade pode assumir, com a concordância conformada da mulher que, depois de enumerá-los, parece dar de ombros: “Mas, se você quer casar mesmo assim, a gente casa.” Deprimente!

Um dia, ouvindo essa música mais uma vez na minha rádio da internet, resolvi pesquisar a vida de Carly Simon. A única coisa que eu sabia é que ela havia sido muito infeliz com James Taylor. Pois sua vida foi uma sucessão de relacionamentos malsucedidos. Casou-se duas vezes. No fim, ela já estava compondo canções com letras do tipo “que o amor seja eterno enquanto dure”. Li que é conhecida por um gênio difícil e que topa relações com mulheres. Está sozinha. A música é de 1975, mas Carly Simon continua fiel a seu triste testemunho.

Esse é o testemunho que o mundo tem a proclamar, hoje, sobre o casamento: é ruim, não dá certo, ambos serão infelizes e terminarão se separando. A culpa? Do destino; ninguém sabe muito bem onde está a culpa; ninguém a assume. É engraçado como, proclamando-se muito “científico”, o homem moderno consegue pensar e se comportar como um pagão de tempos idos. Ninguém pensa nas motivações que levaram à escolha do outro. Ninguém pensa que deixou de dedicar tempo e cuidados ao outro. Ninguém pensa na intimidade que se negou a permitir ao outro, por medo de destruir uma imagem positiva demais de si mesmo... e que casamento sem intimidade é como a nudez através de um vidro fosco: como amar profundamente a quem não se conhece? Enfim, pressupõe-se que um casamento infeliz é algo que simplesmente “acontece”, tão inexplicável e imprevisível como seriam os acidentes naturais para os antigos.

Se você é cristão e está solteiro, não creia nessa mentira diabólica. Espere em Deus. O casamento entre dois cristãos sinceros, que amam a Deus e procuram viver em santidade, cuidando para não reproduzir dentro da relação os modos mundanos de ser e agir, tem um destino certo: revelar ao mundo sedento o profundo amor de Deus através de um homem e uma mulher que se amam incondicionalmente. E esse talvez seja o testemunho mais belo que um cristão pode deixar nesta terra. Não desista. Guarde-se com esperança; se você não tiver o dom do celibato (algo muito mais raro que se pensa), ele (ou ela) virá. E, se permanecerem em Cristo, vocês serão felizes!

16 comentários:

Cristiano Silva disse...

Olá Norma,

Muito bom este pensamento seu, e eu não só concordo plenamente com o que você escreveu, como posso dizer que sou testemunha viva disso. Não sei se você se recorda, mas no blog O Tempora O Mores eu já havia compartilhado a minha experiência, e faço o mesmo aqui: ainda adolescente/jovem eu havia decidido não só esperar pela pessoa correta, mas também pelo tempo correto de buscar a pessoa amada. Sempre achei que o namoro, apesar de ser uma fase de experiência, era com vistas à uma união duradoura, e não algo para ficar experimentando toda hora como eu via colegas e amigos, fora e dentro da Igreja, fazendo. Parecia mais que um usava o outro para satisfazer suas necessidades, e não buscando o bem do outro.

Eu esperei, e quando sentia fraquejar na espera também sentia que era Deus quem garantia que eu não fizesse besteiras. Em nossa sociedade, com a oferta de sexo e propaganda de sensualidade largamente difundidas, até para as crianças, e ainda com o fato das pessoas se casando cada vez mais tarde [1], parece que a espera se torna cada vez mais difícil, e o cristão solteiro tem que realmente se agarrar em Deus nesta área pedindo misericórdia, orientação e perdão [2]. Mas mesmo assim esperei (e Deus me fez esperar), e o resultado, quando eu encontrei a minha primeira namorada e agora esposa, foi simplesmente maravilhoso. Quando casei, naquele momento achei que a sensação deveria ser semelhante àquela de quando eu finalmente ver Cristo frente a frente e viver com Ele na Glória: uma alegria tão grande e uma sensação tão inacreditável que não cabe em mim. É a sensação da espera terminada, e da chegada do tempo da plenitude.

Casamento é muito bom e só faz bem. Quem diz o contrário, deve ser realmente muito egoísta ou infeliz; acho besteira todas aquelas piadinhas bestas do tipo "está se enforcando", "casei e o sexo acabou", "cabresto" ou outras coisas do tipo. Sei que são piadinhas, mas toda vez que as ouço, penso se as pessoas que o dizem não se sentem realmente assim, e fico triste por elas.

Abraços, God bless.

[1] Bem ao contrário do ensinamento bíblico.

[2] Porque peregrinar por esta terra não é fácil...

Caio Kaiel disse...

Olá Norma, acabei de me casar... estou na segunda semana do casamento e já digo que estão sendo os melhores dias da minha vida.
Já deu para perceber que não é tão fácil assim, mas é muito fácil e agradável superar diferensas quando estamos prontos para nos deixar mudar (no sentido de crescer e amadurecer juntos).
Nos guardamos durante todo o namoro e noivado e está sendo maravilhoso o conhecimento que estamos tendo agora, além disso, deus foi Fiel em tudo, inclusive nos enchendo de amor a cada manhã - oro e ministro isso na minha agora família.

obrigado pelas Palavras.
Deus te Abençoe.
Caio Kaiel

Anônimo disse...

Acho que seria o maior testemunho que poderíamos dar, mas caia na real! Isso não acontece!Por mais que você queira viver em santidade e amor, um casal são duas pessoas com essa visão, ou seja, não depende só de você.

Emy Neto disse...

Gostei.
Criativo post.
E transmite esperança.
Gostei do "científico" homem moderno que se comporta como antigos pagãos.
Muito bom.
Professor Emy Neto.
P.S.: e os separados?

Norma disse...

Cristiano e Caio, Deus seja louvado pela vida de vocês!

Eunice, é claro que a santidade e o amor dependem dos dois. Mas fazer um só corpo harmônico também depende. E, no casamento, tudo o que acontece com o cônjuge é responsabilidade de ambos. Taí uma coisa que aprendi desde adolescente: não há nada numa relação que seja apenas culpa de um.

Agora, por que essa exclamação desesperançosa "caia na real, isso não acontece"? Leia acima. Caio e Cristiano acabaram de dar dois testemunhos maravilhosos. Acontece sim, querida, e é obra do Espírito Santo. Se você é cristã, olhe mais para Cristo que para o mundo. Abraços!

Emy, os separados precisam de muita misericórdia de Deus. Afinal, o próprio Jesus disse que não era para separar. Isso não é brincadeira... Abraços!

Simone Quaresma disse...

Que lindo texto! Se existe um casal que tem tudo para ser feliz, esse casal é cristão! O problema é que muitas vezes vivemos um Evangelho muito místico e pouco prático.
Quando trazemos para dentro da nossa relação as leis áureas do Evangelho como amar ao outro mais que a nós mesmos,servir mais que ser servido, procurar os interesses alheios em detrimento dos nossos...!Quando temos domínio próprio, somos mansos, compassivos, benignos com o nosso cônjuge, cresce então uma relação madura e feliz.
Não existe fórmula mágica, não há 10 passos rápidos. O maior de todos os segredos para manter um casamento longo e feliz, nos é ensinado nas Escrituras: viver uma vida santa.
Solteiros: casem-se, casem-se todos!!!
P.S. Em dezembro completo 19 anos de um casamento de muita felicidade, cumplicidade e prazer de estar junto. E posso garantir: isto não é "sorte", é investimento!!!!

Norma disse...

Querida Simone!

Você sabe que é um dos testemunhos mais poderosos na minha vida sobre a felicidade conjugal, não sabe? A harmonia, a ternura e o bom humor que reinam em sua casa - e com quatro filhos, sendo que dois adolescentes homens! - são provas vivas da frutificação do Espírito em uma família cristã. E você tem toda razão: o cristão "místico" (mais pagão que propriamente cristão) pensa que graça é "sorte" e, assim como o mundo, fica esperando que um casamento feliz "aconteça" sem esforço, sem conhecimento dos limites bíblicos, sem busca de santificação, sem obediência aos padrões de Deus... Assim fica de fato difícil!

Minha querida amiga, Deus é glorificado através do que podemos ver na sua família. E isso traz esperança e alegria para os solteiros que estão em Cristo. Que coisa maravilhosa!!!

Beijão!

Caio Kaiel disse...

Gostei do que a Simone falou - "não é sorte, é investimento". Aconteceu no meu casamento, antes de gostar da minha esposa, eu decidi Amá-la pelas características dela, pedi a Deus e hoje o nosso casamento é uma consequência da nossa profunda Amizade.

Eugênio Christi disse...

Sim, estimada Norma, querem acabar com o Casamento Cristão, pois assim acabam de vez com a Santidade da Família e a sociedade entra realmente em declínio. Parabéns pelo Blog.
Rev. Eugênio Ribeiro, Sh.
http://www.reverendoeugenio.blogspot.com

Unknown disse...

Destaco:
"por medo de destruir uma imagem positiva demais de si mesmo..."

Pergunto-me/Indago/Penso sobre:
Incondicionalmente?

Marcos Rangel

Olga disse...

Oi Norma.
Há 5 dias perdi minha mãe. Melhor dizendo, o Céu a ganhou.
Meus pais tinham 47 anos de casados.Um casamento cristão, repleto de amor. Tiveram 6 filhos(sou a caçula)e 14 netos, e criaram-nos de uma forma que eu e meus irmãos, como pais, jamais alcançaremos.
O casamento da minha mãe foi pautado pela dedicação à família e comunhão com Deus, ela era uma intercessora incansável, a sabia que o que realmente valia a pena era buscar a Deus e distribuir amor.
Meu pai tem uma fala interessante, a respeito do próprio casamento. Ele diz que "se nos tívéssemos nos casado depois dos anos 70, provavelmente teríamos nos separado", ilustrando a intolerância, e a descartabilidade (existe a palavra?) das relações desse mundo moderno.
Nós, os filhos, temos bons casamentos(buscados a Deus de joelhos, por minha mãe), que são também frutos do exemplo do casamento de amor dos nossos pais.

Sou muito grata a Deus por isso.

Olga Miranda

ROGÉRIO B. FERREIRA disse...

Gostei muito do filme a Dona da história dirigido por Daniel Filho, com Marieta Severo e Antonio Fagundes. Retrata bem a realidade do casamento que é bem difícil, mas não impossível.
Uma prova de que o céu é céu e de que o casamento não é essa maravilha pintada nos contos de Ciderela é que lá, no céu, não haverá casamento.
Fico com o sábio conselho de Hudson Taylor, tantas vezes mal interpretado: "case-se somente quando não tiver mais jeito".
Ainda que eu e minha esposa sejamos felizes no nosso relacionamento conjugal e apaixonados um pelo outro, penso que o conselho de Paulo é mais que inspirado: é melhor ser solteiro e dedicar-se às coisas do Deus. Uma situação é muito boa, mas a outra é melhor, só isso. Mas as pessoas geralmente têm dificuldade em escolher aquilo que de fato é o melhor para elas.

Eugênio Christi disse...

Estimada Norma, coloquei seu Blog no meu link "Blogs Interessantes".
Rev. Eugênio Ribeiro, Sh
http://reverendoeugenio.blogspot.com/

Abelmon disse...

Amém!
Parabéns pelo seu blog!

Olavo J A Ribeiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Quase Cristão disse...

Engraçado como as coisas funcionam: fui procurar informações sobre "Philip Yancey" no Google (estou lendo "Prayer", livro que comprei numa livraria qualquer em Amsterdam há cerca de dois anos, mas de cujo autor nunca havia ouvido falar), topei com uma chamada para este blog, e, então, desembarquei por aqui. Sofrendo muito por conta de um término de relacionamento recente (e que se sucedeu a um outro, dois anos atrás, bastante traumático), topei com este post simples, mas que me deu alguma esperança em seguir adiante.

Um abraço,
QC.