15 maio 2005

Uma imagem da modernidade

Inspirado em Marcel Proust, Em busca do tempo perdido,
trecho em que o narrador vê de perto o chafariz de Hubert Robert

Um homem vê ao longe um objeto, e o chama quase que imediatamente pelo nome, pois distingue com facilidade sua forma, seus contornos, sua beleza estática. No entanto, ao chegar mais perto, diante da miríade de detalhes que lhe haviam escapado, o que antes se oferecia aos olhos como uma presença coesa se lhe afigura subitamente como um aglomerado de informações difusas. O homem se detém por infinitos momentos em meio ao que agora lhe parece o objeto real, mais próximo ao toque, embora sem forma definida.

As arestas vislumbradas de bem perto não mais se integram à nítida imagem anterior. De posse das novas percepções sobre o objeto, o homem não se afasta novamente para as sobrepor ao que via. Atarantado – e mesmo deslumbrado –, ele se perde no desvanecimento das formas, nas sensações provocadas por esse desvanecimento, e se esquece do que o nomeava. A lembrança do objeto, ou do que o tornava objeto, é perdida. Em meio ao turbilhão que lhe excita os sentidos, o homem se fixa somente na transformação do objeto em coisa nenhuma, e promete a si mesmo que não mais se deixará enganar por formas percebidas ao longe – e a tudo pulveriza com seus olhos de lupa. O mundo lhe parece então todo feito de caóticas partículas que a nada ordenam, obedecendo apenas a uma lei constante: a mobilidade.


E, apaziguado por essa única lei, o homem se recolhe no sono satisfeito das abstrações para sempre adiadas.

2 comentários:

Norma disse...

Obrigada, querido! É muito bom começar um blog já com tal incentivo! Eu me sinto muito feliz de ter você logo aqui do lado, sabendo que não estou sozinha nas minhas preocupações e anseios com relação às coisas de Deus. Que Ele nos ilumine para fazermos sempre Sua vontade!

Oswaldo Viana Jr disse...

Parabéns por esta belíssima iniciativa, Norma! Estou com você e não abro.

Lembrando que as palavras do saudoso João Paulo II são originalmente de Jesus, o Cristo.