09 julho 2014

Aprendendo com a derrota na Copa: um post quase coletivo

Reuni alguns amigos no Facebook para conversar sobre a derrota fragorosa de 7 a 1, ontem, para a Alemanha. Constatei antes que técnico e equipe estão perdidos, não sabem o que aconteceu. Mas, para quem entende de futebol internacional e acompanha a política brasileira, basta ligar uns pontinhos: nosso futebol refletiu o agravamento de aspectos pesados de nossa cultura. Entre os apontados, estão:

- Falta de reavaliação

Desde que perdeu a Copa em 2002, a Alemanha vem trabalhando pesado por um bom futebol. Detectou o que estava errado - um futebol calcado na força apenas - e avançou. O Brasil não conseguiu identificar seus problemas e ficou para trás.

- Falta de espírito de grupo

A Alemanha percebeu que seu futebol era monotemático: consistia em colocar toda a esperança em um bom centroavante, que devia apenas receber todas as bolas dos outros e correr para o gol. O Brasil ainda não reconheceu que precisa atuar como um time, sem que um ou dois tentem carregar todo o peso. Foi bom poder contar com Romário, Ronaldo, Ronaldinho, e agora Neymar, mas o futebol dos outros países cresceu e a tática do "um sozinho" não adianta contra um time que é todo bom.

- Falta de planejamento e preparo

Na Alemanha, escolas sérias se dedicam a formar jogadores desde pequenos. Investem em técnica, em clubes, em estádios, em preparo físico. Há um trabalho constante com estatísticas e muito estudo dos oponentes, com elaboração de táticas específicas para o time trabalhado e contra o time adversário. Por exemplo, para esta Copa, cinquenta estudantes da cidade de Colônia analisaram minuciosamente cada um dos jogadores brasileiros. Dados foram coletados durante dois anos! E o Brasil? Aposta quase que exclusivamente no improviso. Resultado: enquanto o futebol europeu se aprimora, o nosso se torna obsoleto.

- Egocentrismo e estrelismo

O meio futebolístico brasileiro, de acordo com o que me disseram, "é uma ciranda onde uma meia dúzia de técnicos está sempre assinando contratos milionários e ninguém está preocupado com gastos, receita, despesa, eficiência etc." (Rodomar Ramlow). Ganha-se muito dinheiro, muita fama, e o foco se perde. Ou seja, nosso futebol ainda está vivendo de glórias passadas, o que impede o realismo.

Agora transponha todo esse arrazoado para a política. Aqui temos uma falta de reavaliação (o socialismo continua sendo o modelo ideal para quase todos os partidos), uma esperança desmesurada na figura do governante ("Lula vai acabar com a pobreza no Brasil!") e uma mentalidade que não vislumbra o longo prazo, porque não avalia o que dá certo nos outros países e não conta com princípios econômicos e políticos confiáveis. Além disso, o egocentrismo nos leva para o buraco sob a forma da ganância, da corrupção, do marketing e da preservação da imagem acima de tudo. Não vivemos de glórias passadas porque nunca as tivemos, mas ainda somos "o país do futuro", esperando magicamente por algo que não sabemos conquistar desde já.

Não torci para o Brasil perder, mas agradeço a Deus por permitir que uma derrota tão humilhante, em casa, nos faça pensar melhor no que ocorre conosco. Ainda que não seja para mudar toda a política, pense, leitor: em que medida você reflete a sua cultura naquilo que ela tem de pior? Vamos confessar a Deus nossa falta de disciplina e foco, nosso oba-oba, nossa desonestidade, nossa dificuldade em refletir nos erros e em tomar decisões de mudança. Aproveite bem a derrota: pode ser a melhor coisa que nos acontece em muitos anos.

Update: Vale muito a pena ler esse artigo, que analisa taticamente o que aconteceu. Um dos comentários (do próprio autor) observa a estupidez da triste frase: "Brasileiro não tem capacidade de entender tática."

Agradecimentos: Rodomar Ramlow, Reginaldo Amaro, Suva Coelho, Rodrigo Bahiense Rosa, Lucas Quaresma, Roberto Vargas Jr. Desculpem se não citei todos!

2 comentários:

Jemima Schützer Lasso disse...

Muito bom texto, Norma! Disse tudo!
Um beijo,
Jemima

Jemima Schützer Lasso disse...

Muito bom texto, Norma! Disse tudo!
Um beijo,
Jemima