11 setembro 2008

Diálogos (medicamente) irrelevantes VI

- E aí, já foi participar da campanha do Temporão? Foi tomar a vacina da rubéola?

- Não. Eu não vou me vacinar.

- Como assim, “eu não vou me vacinar”? Tá maluco?

- Ué, eu tive rubéola quando era criança.

- Mas você não viu o aviso do governo? Homens e mulheres de 20 a 39 anos devem tomar a vacina mesmo já tendo contraído a doença.

- E qual o sentido lógico de tomar uma vacina se todos os médicos dizem que, tendo tido a doença, estou imunizado para sempre?

- O site da campanha explica que os sintomas da rubéola podem ser confundidos com os da gripe...

- Aquele site da campanha é horrível, os textos são superficiais e cheio de erros de português. Você confiaria num profissional que nem sabe falar direito?

- Mas...

- Além disso, eu tive rubéola, e não gripe. Lembro muito bem. Eu tinha uns sete anos. Não conseguia dormir porque meu corpo estava quente demais. De repente começou uma coceira horrível nas mãos e nos pés. Quando olhei, estavam vermelhos. No hospital falaram que era rubéola.

- Mas, e se erraram no diagnóstico?

-Se erraram, qual a garantia de que uma vacina do governo vai consertar o erro? Você confia tanto assim no governo? Prefiro confiar nos médicos que me atenderam quando eu era criança.

- Cara, não custa nada...

- Ah, custa sim. Você já se vacinou?

- Ainda não.

- Na internet tem gente reclamando de efeitos colaterais, alergias. Tem gente de cama por causa da vacina.

- Não vi.

- Também tem gente que não teve nada. Mesmo assim, para que tomar uma vacina se os efeitos da vacina podem ser piores que os da própria rubéola?

- Ah, você acredita nessas histórias de internet?

- E você acredita no governo?

[Pausa]

- Se você acredita em tudo que sai na internet, você também deve ter visto aquela história ridícula de que a vacina pode causar infertilidade...

- Não há nada provado. Mas não desconsidero.

- Caramba. Você está mesmo sendo irracional.

- Irracional? Vamos lá. Número um: eu já tive rubéola. O governo diz que eu tenho que me vacinar e não me explica por quê. Bom, se eu estivesse sendo irracional é que eu iria me vacinar. Justamente por ser racional é que não vou. Ninguém me convenceu de que eu preciso dessa vacina. E olha que pesquisei.

- Certo. Número dois?

- Número dois: a vacina está causando efeitos colaterais. A vacina é do governo. Se os serviços do governo fossem bons, ninguém reclamava tanto.

- Tá bom. Tem um número três?

- Tem.

- [Suspirando] Qual é?

- O ministro Temporão.

- Que é que tem?

- Ele defende o aborto declarando que é uma questão de saúde pública. Pois bem: quem confunde feto com doença não sabe o que é doença. Não acha?

- ...

- Foi o que pensei.

17 comentários:

Mário disse...

Olá. Já tive a oportunidade de visitar seu blog outras vezes e sempre encontro aqui colocações muito lúcidas e relevantes.A respeito dessa questão da saúde pública, gostaria de deixar aqui registrado um pouco da minha experiência recente nessa área. Atualmente presto serviço na área de saúde pública e confesso que vejo coisas muito estranhas nesse meio. Certas políticas públicas e projetos de "saúde" parecem ter pouco a ver com a questão da saúde pública e mais com mecanismos de "mudança de paradigmas" (expressão muito utilizada por epidemiologistas e especialistas em saúde pública hoje em dia) que refletem a arrogância de certos agentes públicos e professores empenhados em salvar o mundo e as pessoas de si mesmas.

Participei recentemente de seminários e outros eventos do gênero que reuniam especialistas em políticas públicas de saúde. Causou-me estranheza tomar conhecimento de que o Ministério da Saúde tem um programa de "promoção da paz". É isso mesmo, tem gente recebendo salário do ministério para "promover a paz". O programa visa reduzir o número de mortes violentas no país, principalmente os homicídios e as decorrentes de acidentes de trânsito. Crimes de homicídio agora são tratados como problemas de saúde, não de segurança pública!

Recentemente, recebi um convite para participar de um seminário comemorativo dos 20 anos do SUS promovido pela FIOCRUZ. O tema do Seminário era: Estado, Sociedade e Formação Profissional em Saúde: 20 anos do SUS: contradições e desafios.O programa completo desse seminário de "saúde" pode ser visto seguindo o link:

http://locuss.org/joomlalocuss/index.php?option=com_content&task=view&id=108&Itemid=28

Destaco apenas dois dos palestrantes e os temas das respectivas palestras:

Emir Sader - Notas sobre a globalização neoliberal. (09/11)

Sérgio Lessa - Trabalho e sujeito revolucionário: a classe operária.
(10/09).

Emir Sader dispensa apresentações. Sérgio Lessa é professor de filosofia da UFAL e é conhecido por seu comunismo radical. Não faz nem tanto tempo assim, ele gostava de se definir como maoísta.

O aparelhamento das instituições chegou nesse nível. Em um evento que supostamente tem como objetivo discutir saúde pública o que se vê é pura propaganda comunista a incentivar "novos paradigmas".

Será que foi coincidência o encerramento do seminário ser no dia 11/09? Dá até pra ficar em dúvida se não foi intencional.

Mais um pouco sobre as "bizarrices" em seminários de saúde pública:

http://mariotblog.blogspot.com/2008/08/viagema-ao-mundo-bizarro.html

ROGÉRIO B. FERREIRA disse...

Oi Norma,

achei essa conversa muito divertida. Bem possível de acontecer mesmo.

Passei aqui para divulgar nosso novo Blog nada conservativo Teologia Livre.

Abraços fraternos,

Roger

Vitor Grando disse...

Bom díalogo!

Olga disse...

Oi Norma,
Esse diálogo bem podeira ter acontecido sendo eu a interlocutora que não tomou a vacina!
Não tomei, primeiro porque tive rubéola aos 8 anos de idade. E foi rubéola mesmo, era um surto na cidade, e lembro-me de ter ficado feliz por não precisar ir à escola.
Segundo porque tenho provas da minha imunidade. Tive uma filha em 2006 e um filho em 2007, e a sorologia foi feita nas duas gravidezes, indicando que estou imunizada.
Mesmo assim, os entendidos juram que eu também tinha que tomar a vacina! Eu, heim?
Outra coisa: o perigo maior da rubéola, é para o feto de até 3 meses, portanto grávidas não podem tomar a vacina. Massssssss...muitas mulheres tomaram sem saber que estavam grávidas!
E agora, Brasil?
Se alguma dessas crianças apresentar problemas advindos dessa vacinação da mãe, como é que fica?

Fabio Blanco disse...

Oi Norma!

Eu e minha noiva decidimos não nos vacinar mesmo!. Por coincidência, antes de ler seu post, uma amiga nossa nos ligou desesperada dizendo que ia se vacinar, pois se não iriam probi-la de viajar para outros Estados. Não adiantou nada eu dizer que isso não tinha nada a ver. Mas este caso demonstra, claramente, a pressão que sofrem aqueles que decidem não seguir o que direciona a 'inteligentzia'. Como se vivessem em um mundo paralelo, são tachados de pirados, loucos, desvairados. Inclusive com esse negócio da Nota Fiscal Paulista, a qual a gente nunca pede também, já fomos tachados até de maníacos por isso.

É, não é fácil enxergar as coisas...

Fique com Deus.

Fabio Blanco
www.fabioblanco.com.br

Alex Fajardo disse...

Como diz o título do post, Irrelevante mesmo, eu tenho 29 anos, tomei a vacina e recomendo com certeza. Quem apresenta qualquer tipo de desculpas, principalmente desconfiando da qualidade do medicamento, para mim tem medo de injeção rsss

None disse...

Oi, Norma:

Não sei até que ponto estas denúncias procedem, mesmo sendo o Temporão um mentiroso contumaz.

Conversei com meu irmão, médico especializado em ginecologia e obstetrícia, e ele me informou que o hormônio Gonadotropina Coriônica Humana é rotineiramente empregado no tratamento da infertilidade. Há vários medicamentos que o contém.

Com efeito, se o HCG for natural, a mulher não desenvolverá anticorpos a uma substância já presente em seu corpo; se artificial, uma possível reação imunológica apenas destruirá o intruso.

Na pior hipótese, o HCG induzirá a ovulação, possibilitará a gravidez e, caso haja concepção, o feto estará em risco, pois a vacina da rubéola contém o virus vivo.

Neste caso, imuniza a mãe e mata o filho.

Sobre a campanha de vacinação, deriva de um pequeno surto (uns 15 casos) de rubéola aliado ao fato de que o homem é o repositório natural do virus, além de a vacina tríplice exigir reforço, não bastando uma dose para toda a vida.

Mas de qualquer modo, não haveria como o HCG induzir esterilidade, a menos que haja algum capítulo oculto da literatura médica sobre o tema.

Este tipo de denúncia deveria ser checada para não comprometer o ativismo pró-vida.

um abraço,
Cláudio

Mário disse...

Olá, Norma. Vi seu comentário no meu blog, no post do "planeta bizarro". A gente ri pra não chorar mesmo. A situação é grave, pois são pessoas que pensam daquele jeito quem determinarão os rumos da saúde pública no país (e pelo visto do que menos entendem é de saúde).

Em relação à campanha da rubéola, não conheço nada a respeito dos efeitos colaterais que porventura possam estar associados à vacina. Mas, gostaria de fazer referência a um aspecto da questão que não tem o devido destaque. Certa vez, participando de um congresso em Salvador, assisti uma palestra com o professor Flávio Fava, reitor da USP à época. Ele falou a respeito de uma vacina contra a bactéria que provoca a cárie dentária. Essa vacina já existia, mas ela não era considerada segura, pois foram observadas lesões nas células musculares cardíacas das cobaias. A resposta imunológica provocada pela vacina atacava as células do coração das cobaias, ou seja, provocava uma reação auto-imune, que é quando as células de defesa começam a atacar outras células do próprio organismo.

Meu pai tomou a vacina contra a gripe. Teve uma reação fortíssima que o levou ao hospital. O mesmo aconteceu com meu avô e com um senhor amigo da família. Os médicos, no entanto, negaram qualquer relação entre os sintomas e a vacina, descartando a hipótese de que tivessem sua origem numa reação do organismo à vacina.

Vi na tv médicos tranquilizando as pessoas em relação à vacina da gripe. Afirmavam que não havia risco de contrair gripe, pois o vírus presente na vacina estava inativo. No entanto, não vi nenhum médico, nem o que prestou assistência ao meu pai, falar a respeito de possíveis reações adversas de outra natureza - e não apenas o desenvolvimento de doença associada aos vírus utilizados na produção da vacina - tais como aquela reação auto-imune descrita pelo professor Fava. Nenhum deles se questionou a respeito desse tipo de reação, certos da segurança da vacina, muito embora, creio, pouquíssimos médicos conheçam detalhes a respeito da vacina e dos estudos que comprovaram seu uso seguro nas pessoas.

Confiar cegamente no governo e nos médicos só porque são médicos e só porque o governo é governo? Ainda mais nesses tempos em que o Estado quer controlar até o que comemos e bebemos? Mário Sérgio Cortella deu uma resposta apropriada num debate sobre o uso de embriões humanos em pesquisas de células-tronco: "Bem, como eu não sou da área... Jamais!"
Há médicos e médicos, e há governos e governos.

Daniela Salazzar disse...

Olá Norma! Antes de nada, parabéns pelo blog e o que ele sempre traz de construtivo. Embora acompanhe seus textos por aqui há mais de um ano, nunca havia postado nenhum comentário. Mas diante dessa questão da rubéola é impossível manter-se quieto. Trabalho em um serviço do Ministério da Saúde que presta informações aos usuários do SUS. E, atualmente, a campanha da rubéola está sendo o assunto da maioria das demandas. Antes do início da campanha, fomos notificados pelo Programa Nacional de Imunização dos seus objetivos: a campanha só vacinaria uma quantidade maior de pessoas se a China resolvesse vacinar. Desde aí já começaram meus questionamentos sobre a necessidade de uma campanha deste porte para a rubéola considerando que não é uma doença que represente letalidade e sendo seus maior risco para as gestantes. O objetivo apresentado desta campanha é atingir o maior percentual possível de cobertura vacinal nas 70 milhões de adolescentes e adultos na faixa etária alvo. Sendo assim a vacinação ocorre, em indivíduos de 20 a 39 anos, de forma indiscrimidada. Por isso não se está levando em conta o fato de a pessoa já estar imunizada ou não. Porque nesta campanha o que importa não é a imunização e sim a cobertura vacinal do grupo. Em outras palavras, não é proteger os que não estão protegidos (a fim de evitar que a parte da população que precisava se vacinar e não se vacinou represente o risco do aparecimento de surtos de rubéola no futuro) e sim ter certeza de que todas as vacinas da fiocruz sejam aplicadas e se possa atestar para o brasileiros e para a Organização Mundial de Saúde-OMS a "eficiência" do nosso Estado. Uma ação tão imbecil quanto seus idealizadores e sua dimensão. Em relação a informação que circula na internet de que a vacina causa infertilidade, até onde eu sei é apenas uma afirmação infudada. E quanto ao fato de gestantes tomarem a vacina sem saber, também não há qualquer problema. Inclusive, a recomendação de que gestantes não se vacinem ou de que as mulheres se previnam da gravidez durante os 30 dias posteriores à vacinação é outra estupidez. A vacina não tem efeitos teratogênicos, efeitos que induzem malformacões fetais. Aliás as grávidas são as mais vulneráveis pelo risco de que seus bebês apresentem a Síndrome da Rubéola Congênita ao nascer, caso sejam infectadas pela rubéola durante a gestação. O Ministro da Saúde está visivelmente delirando.

Olga disse...

Daniela, ótimos esclarecimetos, obrigada!
Dá vontade de falar "Ahá, eu sabia!" ao ler o que você escreveu!

Só uma coisa não ficou clara, pra mim. Você diz que "Aliás as grávidas são as mais vulneráveis pelo risco de que seus bebês apresentem a Síndrome da Rubéola Congênita ao nascer, caso sejam infectadas pela rubéola durante a gestação", mas disse antes que não há efeitos teratogênicos.
A Sídrome da Rubéola Congênita, quando não leva ao óbito fetal, traz consequências graves à criança, como diabetes, deficiência visual, auditiva e outras.

Anônimo disse...

Olá Norma.

Muito interessante sua perspectiva da questão.
Estou pesquisando vacinas desde que minha filha nasceu, há 3 meses e meio, e desde então estou encontrando algumas opiniões contra as vacinas, mas estas carecem de dados confiáveis, quase tanto quanto o outro lado (pró-vacina).
Infelizmente, é uma questão partidária, em que os lados não se conversam e não se entendem.
Fica difícil julgar em quem confiar, afinal são todos humanos defendendo interesses diversos, nem sempre declarados.
Ainda estou esperando encontrar um fórum de debates em que os dois lados da moeda (pró e contra vacina) dialoguem racionalmente.
Aqui só encontrei um dos lados, colocado de maneira muito engraçada.
De qualquer maneira, muito lúcidas suas argumentações, ressoaram em mim.
Não vou tomar a vacina, mas isso foi uma decisão que tomei buscando ser o mais imparcial possível frente a estas questões.
Com relação às vacinas recomendadas à minha filha, acredito que darei algumas vacinas sim, como a anti-tetânica... mas é uma questão muito complexa, que envolve variáveis como:
-gravidade da doença
-ocorrências e surtos da mesma
-efeitos colaterais da vacina
-efetividade da vacina
entre outros.
O site Vacina Veritas
http://vacinaveritas.blogspot.com/
tem muitas informações interessantes com relação a este tópico.
Peço licensa para publicar seu texto em meu blog.

Um abraço
Gabriel Dread

Daniela Salazzar disse...

Olá Olga,
Realmente não há evidências de que a vacina tenha efeitos teratogênicos. Ela não induz malformações fetais. O fato de a mulher grávida tomar a vacina não vai provocar a Síndrome da Rubéola Congênita. No caso específico desta vacina, o vírus atenuado não tem capacidade de causar a doença na mãe e, portanto, não há como o feto desenvolver a SRC. O que eu quis dizer é que, a princípio, as grávidas é que deveriam ter prioridade para tomar a vacina já que, desta forma, elas poderiam se imunizar e não correr o risco de se infectar pela rubéola durante o período de gestação. Mas justamente elas estão proibidas pelo MS. Atualmente, apenas as gestantes que estão expostas à infectantes podem obter indicação médica para tomar a vacina.
E pode ser que, em breve, em alguns lugares, equipes de saúde começem a bater às portas das casas para se certificar se todos os membros daquele núcleo familiar na faixa etária alvo foram vacinados durante a campanha.

Unknown disse...

O Mínimo que se pode dizer sobre essa campanha de vacinação é que é muuuuuuuito estranha. Em todo caso, já orientei minha irmã a não se vacinar.

Norma disse...

Daniela, muito obrigada por suas informações e deduções. De fato, como disse o Fabio, tudo é muuuuuuito estranho. O governo brasileiro está acostumado a lidar com um povo crédulo e cheio de boa-vontade, mas indisposto a questionar. Por isso a escassez de respostas a nossas questões. Fico feliz de fazer a diferença com este blog.

Aliás, alguns relatos encontrados na internet - gente que ficou de cama com sintomas de rubéola após a vacinação - apontam para erros na inatividade dos vírus. Isso é grave. Porém, podemos de novo contar com a falta de explicação da parte do governo e dos médicos, como no caso da vacina da gripe relatado pelo Mário. Isso é que é absurdo.

Gabriel, fique à vontade para publicar!

Leitores médicos do blog, conto com sua participação para elucidar esses pontos confusos. ;-)

Daniela Salazzar disse...

Oi Norma!Como você disse, seria realmente essencial ter aqui esclarecimentos de profissionais médicos sobre o assunto. Enquanto isso não acontece, a opinião de uma "prestes a se tornar enfermeira" talvez não seja de todo inútil. Eu acho que os aspectos ulululantemente bizarros desta campanha não se concentram na vacina em si. Porque qualquer imunobiológico pode provocar reações adversas que, apesar de terem mais ou menos um padrão de sintomas, podem variar em sua apresentação, em sua duração e em sua intensidade dependendo de diversos fatores, dentre eles, diferenças individuais e contigências concomitantes a vacinação. Além disso, muitas manifestações clínicas são apenas coincidentes com o período em que a pessoa tomou a vacina e, pode ser, que essas manifestações, de causas outras e as mais diversas, ocorressem tendo o indivíduo se vacinado ou não. Não se pode também deixar de levar em conta, as pessoas que já tomam a vacina doentes. Sim, tem gente que se vacina mas já está infectado e não sabe que está (dado que o período de incubação da rubéola, isto é, o tempo decorrido do contágio até o aparecimento dos sintomas é de aproximadamente 17 dias). Logicamente, depois esses sintomas vão sair do seu estado de latência e poderão ser erroneamente atribuídos à vacina. Existem ainda, os casos de pessoas que tomaram ou vão tomar a vacina e, mesmo assim, tiveram ou vão ter a rubéola em decorrência da exposição ambiental (não devido a forma atenuada inoculada na vacina) ao vírus. Isso pode acontecer com cerca de 5% dos vacinados. Há a possibilidade de isso ocorrer porque este pequeno grupo não soroconverte, ou seja, são pessoas vacinadas cujo organismo não desenvolve o mecanismo de imunidade: os anticorpos. E com vacina, mas sem anticorpos não tem negócio; a pessoa continua suscetível. Passados alguns anos, esse resquício de não-imunizados pode, se contrair a doença , eventualmente, representar o risco de reaparecimento de surtos (embora os surtos não se devem somente a esse fator). Isso demonstra que mesmo uma cobertura vacinal de cem por cento ainda não seria totalmente eficaz. Só seria possível que TODO MUNDO ficasse imunizado (como alega pretender o Ministério da Saúde) se TODO MUNDO tivesse rubéola. Essa campanha não tem sentido. Portanto, reitero que minhas desconfianças não se dirigem tanto à vacina (que aliás faz parte do calendário básico de vacinação em esquema de aplicação dose única a partir dos 12 meses na tríplice viral de idade, sendo a coisa mas natural do mundo tomá-la). O que eu também vejo de muuuuuuuito estranho, o que é inacessível para minha compreensão racional é a própria ação e extensão da campanha. Querer vacinar 70 milhões de pessoas contra a rubéola é um desvio de prioridades cometido por quem tem a visão muito distorcida (ou sequer a tem) da nossa realidade. Esta dimensão de campanha seria muito mais útil em outros casos, como o da febre amarela, apesar de ser uma doença de circulação silvestre, talvez seu potencial de letalidade pudesse motivar uma mobilização desta envergadura. Outra estupidez crua e injustificada é insistir veementemente em vacinar quem já se vacinou ou já teve a doença. Será que o Temporão se preocupa com minha saúde mais que minha mãe?! Ele deve nem conseguir dormir atormentado com a possibilidade de eu ter um exantema!?! Pra quê tanto desperdício de vacina? Nós, usuários ou não do Sus, ficanciamos essa gigantesca bestialidade. Isso é só o que noto de forma mais imediata e superficial. Um olhar deveras perspicaz deve enxergar uma porção de outras insanidades. Esse cenário se soma aos, já abundantes e transbordantes, exemplos que temos da ingerência descabida do Estado na vida de cada um de nós ao ponto de querer decidir até quantas vezes temos que tomar uma vacina que, uma vez administrada, já vale praticamente toda a vida. E, desgraçadamente, a campanha termina dia 19 mas o que está por trás dela vai continuar e evoluir, se nada for feito, indefinidamente.
(Norma, eu sei que vc não gosta de posts grandes por parte de quem não costuma muito comentar aqui, mas é que não pude me conter. Desculpe.)

Abraços

Unknown disse...

http://www.jesussite.com.br/noticas_detalhe.asp?Id_news=360

Marcelo disse...

Cara, eu me vacinei. Não é que bateu um arrependimentozinho!

Bom ler você, Norma.

Marcelo Hagah
João Pessoa-PB