23 junho 2006

Artigo no MSM: A verdadeira solidariedade a Cuba

Saiu artigo meu no Mídia sem Máscara: A verdadeira solidariedade a Cuba.

Resumo: Já que o filme Lost City é o primeiro relato cinematográfico da história cubana que não consiste em peça de publicidade socialista, seria um tremendo ato de solidariedade a Cuba divulgá-lo, para mostrar o que realmente ocorreu por lá.

Boa leitura!

21 junho 2006

Diga-me como escreves... I

Em "Diga-me como escreves" - a mistura entre "tu" e "você" é proposital e um protesto ao vilipêndio do idioma - , do alto de minha autoridade de professora de português (hehe), analisarei o texto (gramática, coesão e coerência, estilo) de figurões da intelectualidade (hã?) brasileira. Inauguro a série com ninguém menos que Emir Sader, professor da UERJ, articulista na grande mídia e conhecido formador de opiniões, todas elas à esquerda. O artigo analisado, de 19 de junho, encontra-se no site da revista Carta Maior. Meus comentários estão em vermelho.

O MUNDO PELO AVESSO
O pós-neoliberalismo da nova Bolívia
Emir Sader

Os bolivianos votaram, pela primeira vez, em si mesmos. Elegeram um deles para dirigir coletivamente o país. E fazem, em poucos meses, o que nenhum governo fez, em séculos. [excesso de vírgula! eu tiraria todas da terceira frase] Nacionalizaram os hidrocarburetos, convocaram a Assembléia Constituinte para refundar o Estado boliviano, deram início à reforma agrária. [que primeiro parágrafo mais sem-graça... a frase de abertura faz um certo efeito, mas o final "no ar" e sem gancho para o que vem depois pode provocar o desinteresse dos leitores]

E, [que horror esse E com vírgula logo no início!] coerentemente com as propostas de campanha, na semana passada o governo de Evo Morales apresentou seu plano "Bolívia digna, soberana e produtiva para viver bem", um plano [custava substituir esse segundo plano?] de desenvolvimento nacional. Os pontos essenciais do plano [de novo!] são a estabilidade macro-econômica [macroeconômica não tem hífen] – conservando as políticas monetária e cambial – e a adoção de políticas de saúde, educação, desenvolvimento, infra-estrutura e política externa. A matriz produtiva se articula em torno dos hidrocarburetos, das minas e da biodiversidade. ["A matriz produtiva se articula em torno"? como assim? isso é estilo peixe ensaboado: uso de palavras sem precisão]

As prioridades do governo boliviano são o combate à miséria – buscando reduzir de 35% a 27% a parcela da população na extrema pobreza até 2011 –, a criação de 90 mil empregos por ano – reduzindo a taxa de desemprego de 8,4% a 4% –, assim como a construção de 100 mil habitações. Em um ritmo geral de expansão da economia de 4,1% neste ano, até chegar a 7,6% no final do mandato de Evo Morales. [quatro travessões em um só parágrafo é demais, e a última frase está não só sem verbo (o infinitivo não conta), mas incompreensível]

O objetivo do Plano é a erradicação da pobreza e toda forma de exclusão social [lugares-comuns!], para que se garanta o exercício pleno da dignidade e dos direitos de todos os bolivianos [idem!]. A estratégia do Plano [plano, plano, plano: com esse já são cinco até agora] inclui ["A estratégia inclui": estilo peixe ensaboado] o programa "Comunidades em ação", com uma participação "maciça, integral e sustentada, inédita", em saúde, habitação, água potável e apoio à produção em 80 municípios, principalmente nos Estados que concentram a 67% [concentram A? deveria ser OS ou nada] da população de extrema pobreza – La Paz, Cochabamba, Oruro e Potosí.

Nas zonas urbanas haverá um programa, [virgulinha danadinha a mais] chamado "Reciprocidade e Solidariedade", junto a [como assim "junto a"? os dois serão lançados ao mesmo tempo? ou são apenas aparentados?] um programa [custava substituir ou elidir essa palavra?] para jovens: [o que esses dois-pontos estão fazendo aqui, se a oração continua???] "Meu primeiro emprego" e "Minha empresa", para o fomento do desenvolvimento de iniciativas produtivas, e "Bolívia sem fome", com subsídios para cafés da manhã e almoços escolares.

Projeta-se a criação de um "Seguro Universal de Saúde" e um programa de "Desnutrição zero", além de um novo pacto social para a refundação da educação pública, a reforma da educação superior, a alfabetização, com um programa "Eu sim, posso" – com apoio de Cuba, para atender a 1,2 milhões de bolivianos. [parágrafo totalmente torto: não há um termo inicial - conector - que garanta seu encadeamento com o parágrafo anterior; "além de" introduz elementos demais para ser apenas um "além de"; há ambigüidade em "com um programa 'Eu sim, posso'": não se sabe se esse programa corresponde ou não ao "novo pacto social"; a repetição "com... com" é de um desleixo primário. Além disso, o travessão e a vírgula da última frase estão "sobrando"]

O plano [seis, com esse] prevê investimentos públicos, em cinco anos, de 6 bilhões e 883 milhões de dólares e 5 bilhões e 839 milhões de investimentos privados, [por amor à clareza e à elegância do estilo, aqui deveria haver um paralelismo, com o segundo número igualmente depois do termo "investimentos privados", assim como o primeiro número vem depois de "investimentos públicos"] principalmente nas minas, nos hidrocarburetos e na indústria manufatureira, incluindo as empresas estrangeiras, [virgulinha!] que se ajustarem à estratégia de desenvolvimento e às leis nacionais. [estilo peixe ensaboado: o que significa "empresas que se ajustarem à estratégia de desenvolvimento e às leis nacionais"? um final como esse, arredio, só atesta o quanto o texto de Emir Sader é capenga, tanto em forma quanto em conteúdo]


Comentário geral da professora: A forma do texto é "picadinha" demais, com parágrafos que poderiam se unir. Há abuso de expressões vagas e uma ausência geral de precisão. Recomendam-se ao autor noções básicas de coesão para corrigir a pontuação, deixar de repetir palavras, evitar frases sem sentido e aprender a encadear parágrafos com mais eficiência. Um maior controle dos lugares-comuns também seria desejável. Além disso, "hidrocarbureto" é tradução errada do espanhol, significando, em português, benzeno. O correto seria "hidrocarboneto". (Devo essa informação a um amigo especialista na área, com a ressalva de que não encontrei "hidrocarbureto" no dicionário.)

Nota: Se o autor fosse um aluno de terceiro ano do segundo grau, eu lhe daria uns seis e meio. Sendo professor universitário e articulista, preciso aumentar o nível de exigência: quatro e meio. Nada que não possa ser resolvido com muita leitura e um bom manual de redação. Idealmente, antes de assumir as funções que ocupa...

17 junho 2006

O bom e velho rock'n roll

Dos vídeos que tenho aqui no computador, há dois que não me canso de ver. O primeiro é Down By the River, com Crosby, Stills, Nash and Young, gravado em um estúdio de televisão. Nos primeiros momentos, você olha para os instrumentos redondos deles, as camisas engomadas e abotoadas, os cabelinhos (todos) muito bem penteados com escova, sem um fio fora do lugar, e duvida que dali possa sair algo contagiante. Que nada. Desde os primeiros acordes, eles quase não olham para os espectadores e parecem desconhecer o paradeiro da câmera. Olham, sim, uns para os outros, e um prazer evidente demais para ser ignorado os envolve e unifica o que fazem. Cada um parece em sintonia o tempo todo com o outro e, ao mesmo tempo, concentradíssimo no próprio instrumento. O resultado disso é mágico: como se não houvesse platéia, eles não tocam para quem os vê, e sim para eles mesmos. Quando as guitarras começam a dialogar, então, é como se sequer os instrumentistas estivessem ali: o duo rascante de cordas rouba a cena, o som ganha vida, e quando Young recomeça a cantar é com a inocência de quem ignora por completo a magia que acabara de se efetuar. Bonito de se ver.

O segundo é I’m Down, no Shea Stadium, com ninguém menos que... The Beatles! Sim, o grupo que começara a fazer sucesso debaixo das asas cautelosas de Brian Epstein – que inventou seus penteados, uniformizou suas roupas e fez com que agradecessem juntinhos com uma reverência ao fim de cada apresentação – ainda era capaz de mostrar no palco uma alegria deliciosamente infantil. Aqui, o prazer não é quieto, concentrado, como em Neil Young e seu grupo; é, sim, cheio de pulos, risos e muito suor, como uma correria de crianças no parquinho. Bom, se não é novidade ver Paul McCartney sorrir ao tocar seu baixo, nesse vídeo ele ri, se sacode todo e dá um surpreendente giro de olhos fechados – coisa de delírio cinematográfico... No canto do palco, John Lennon toca seu órgão Hammond e divide com George Harrison o microfone do coro. É um show à parte: os dois estão impossíveis, trocando olhares cúmplices e gargalhando sem parar. Divertindo-se a valer, John quase não pára quieto em frente ao instrumento, mas ergue as mãos para a platéia e percorre freneticamente o teclado com o cotovelo, várias vezes. Você se deixa levar pelo entusiasmo do grupo e fica difícil deixar de gargalhar junto com eles.

Alguns – os mais cínicos, talvez – dirão: “Mas Norma, são as drogas.” Sei não. Hoje também há drogas (quem duvida?), e não vejo nenhum artista se divertindo no palco. Pelo contrário, vejo-os executando movimentos cuidadosamente coreografados, perdidos em meio a mil pirotecnias, voltados sobretudo para os olhos fixados neles e conscientes demais do que fazem para se soltar. O foco, antes na música e no prazer de fazer música, parece estar exclusivamente na recepção, quando obrigatórios homens de marketing ganham fortunas planejando os efeitos que o artista deve causar na platéia. Com exceção dos “dinossauros do rock” – Rolling Stones, Pink Floyd, o próprio Neil Young – , não vejo muita autenticidade nos shows de rock ou pop-rock de hoje. Há muito teatro, o que também é bom de se ver. Porém, confesso que, quando vejo esses vídeos, sempre me espanto ao comparar as duas épocas e constatar a existência de um tipo de exposição em que a identidade e a presença do artista não eram tão calculadas, e sua espontaneidade era realmente espontânea.


Isso tudo dá no que pensar: advoga-se e luta-se tanto pela espontaneidade desde os anos 60, época das explosões na cultura, nas relações conjugais, na educação infantil. Porém, sem uma base identitária ou um desejo real de transparência - que só a fé em Jesus pode dar - , essa espontaneidade acaba sendo engolida por mais uma necessidade de modelo exterior, para ser pasteurizada, condensada e vendida. É o processo natural do homem natural, que tende a compensar o pecado com diversos tipos de vestimentas. O problema é que o mesmo processo tem vingado nas igrejas, e aí devemos refletir bastante sobre suas conseqüências: uma espontaneidade fingida, cercada por novas regras - bem mais sutis e interiorizadas que as anteriores - , pode fazer com que o cristão perca seu bem mais precioso: a simplicidade para com Deus, mesmo a portas fechadas com Ele. A desenvolver (prometo!) em próximo post.

12 junho 2006

Da série Diálogos Irrelevantes n. 1

- Eu não gostei daquilo que você escreveu no seu blog sobre o filme canadense que vimos juntos.
- Ah, é? Por quê?
- Ah, não gostei. Você pegou pesado. Primeiro, porque o filme é bom. Segundo, porque o colunista que escreve contra uma obra de arte só pode ser um mau colunista...
- [Estupefato] Como assim?
- Ué, porque não tem sentido escrever sobre algo de que não se gosta. O bom crítico só escreve sobre o que acha bom.
- [Rindo] Quer dizer que, se eu não gostar da obra de arte, preciso ficar calado?
- [Irritando-se] Para que você vai escrever sobre um negócio que achou ruim? A gente não deve perder tempo com o que é ruim.
- Não se deve perder tempo com o que é pouco interessante. Às vezes até o ruim pode suscitar uma boa discussão.
- Não acho; acho que isso é falta de amor.
- ???
- Falta de amor, sim. Você não devia fazer isso com a obra de arte.
- Por quê? A obra de arte é sagrada? Não se pode macular um filme falando-se mal dele?
- Não é isso; é o que eu disse antes: para quê você vai escolher algo justamente para falar mal?
- Porque esse algo é representativo do que estamos vivemos hoje, uma espécie de complexo coletivo...
- Eu acho que, se você tivesse mesmo compreendido o filme, teria gostado. Se não gostou, é porque não chegou perto o suficiente...
- !!!
- Isso mesmo!
- Espere, deixe-me entender seu raciocínio: a obra de arte jamais deve ser criticada, nem que seja como pretexto para falar de complexos coletivos. Aquele que a critica, primeiro, é um mau crítico, pois escolheu um objeto que não ama...
- Exato: falta de amor!
- Eu acho que você é que está precisando de amor: não percebe que está quase enunciando uma lei? “Não se deve criticar uma obra de arte...”
- Ora, cale a boca. É falta de amor e pronto!

04 junho 2006

Justificativa? Ok, vá lá

Este é o primeiro texto meu postado no excelente Blogs Coligados, que reúne a nata (hehe) dos blogueiros conservadores, entre os quais muitos cristãos. Não deixe de ler! Fazem-me companhia meus amigos e excelentes blogueiros Eliot D. Chambers, Bianca Bermúdez, Claudio Téllez, Marcos Vasconcelos e Luis Afonso Assumpção.

Relutei alguns dias para escrever o texto que se segue, pois parecia acima de tudo uma justificativa para o que tenho feito neste blog. Assenti em postá-lo, no entanto, porque sinto que boa parte dos brasileiros ainda tem de ser levada pela mão, como criança, através de reflexões mais articuladas. Assim, minhas palavras aqui não deixam de ter um certo sabor de concessão – em vista do fato inegável de que os tempos são bicudos e pudores nessa hora devem ser deixados de lado.
Muitos leitores evangélicos têm questionado minha ênfase na política. Reclamam que o cristão não pode apostar nem na direita nem na esquerda e argumentam sobretudo que devemos pregar Jesus – o resto é o resto.

Bom, como cristã evangélica, concordo que a pregação de Jesus é o mais importante. Se eu tivesse de escolher entre pregar Jesus e falar de política, é claro que ficaria com a primeira tarefa – muito mais agradável, por sinal – e rejeitaria de imediato a segunda. Porém, o que julgo fundamental discernir é o seguinte: não preciso escolher entre uma e outra, mas sim subordinar toda e qualquer tarefa à primeira, que é o testemunho da minha fé. Assim, se eu falo de política, história, filosofia ou da minha própria vida, faço-o (cada vez mais, espero) com a aguda consciência de que 1) tudo isso está submetido a Ele; 2) é por causa Dele que tudo existe; 3) é só Nele que posso articular esses diversos aspectos, sabendo que convergem para Ele. De fato, é o que apreendo de Paulo em Romanos 11:36: “Porque Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas.” Portanto, o erro não residiria em tratar de política em um blog que se confessa cristão, mas sim, tratar de qualquer assunto sem a profunda certeza do senhorio de Jesus sobre cada um deles.

Tendo eludido esse ponto, passo ao seguinte: mas por que política? Se eu pensar bem, política nem é meu assunto preferido, mas sim teologia, filosofia e literatura, e só me interesso por política na medida em que me ajuda a esclarecer aspectos filosóficos ou antropológicos. Cheguei à política por pura contingência, tentando entender a modernidade, até descobrir que sem a política não poderia sequer entender o fenômeno evangélico atual. Para responder a essa pergunta, portanto, preciso contar um pouquinho de minha história.

Apesar de não ser uma evangelista no sentido estrito da palavra, sempre me orientei sobretudo para questões de defesa da fé, pois nada me parece mais lindo, necessário e emocionante que a conversão. Porém, não é de hoje que tenho sentido uma urgência especial em abençoar “os da fé” (Gálatas 6:10), empreendendo reflexões que julgo ser úteis para a comunidade evangélica brasileira. Paralelamente a isso, fui levada, a partir do estudo de autores que cito constantemente neste blog, a perceber que o esquerdismo é muito mais que um simples posicionamento político ou uma oposição ao poder em vigor. O esquerdismo está conforme ao espírito da modernidade em vários pontos: ódio ou desconfiança de autoridades de todo tipo (inclusive a espiritual – por isso o marxista tradicional rejeita Deus), polarização da realidade em torno de uma obsessão com o poder (a humanidade se divide em opressores e oprimidos), redução da individualidade a esquemas de grupos representativos (a mulher, o pobre, o negro, em vez de pessoas únicas), utopias materialistas (o paraíso será aqui), transcendência desviada (a rejeição à idéia de Deus leva à adoração ao líder que se engaja no projeto utópico). Em tudo isso, identificam-se doenças que, somadas, podem perverter o núcleo do cristianismo ao utilizarem o impulso transcendente do homem para a realização de um sonho igualitário terreno que só pode ser conseguido à força, por meio de ditaduras – não é à-toa que se usa o termo “ditadura do proletariado”, que nunca é do proletariado, evidentemente, mas sim de meia dúzia de governantes totalitários.

E, mais triste ainda, a concretização da utopia passa a ser tão premente que o real e os fatos se subordinarão a ela, dispondo-se a toda sorte de distorções. O esquerdista preocupado sobretudo com seu ideal não deixará que nada, por mais evidente que seja, atrapalhe sua marcha ao “outro mundo possível”. Isso foi básico em todos os regimes de esquerda: a subordinação da verdade ao ideal imaginado, e não o oposto. Dessa forma, a pessoa engajada nesse ideal se esforça cada vez mais em apagar de seu campo de visão os elementos que se opõem a ele. Essa cegueira voluntária faz com que a história dos massacres comunistas no século XX jamais seja argumento suficiente para se deixar de tentar esses regimes mais uma vez; a fidelidade à utopia (u-topos, não-lugar) se sobrepõe a qualquer objeção real aos resultados - russos, chineses, coreanos, cubanos - das idéias socialistas.

Tenho visto, portanto, que a crença no esquerdismo como ideal de mundo produz pelo menos duas conseqüências desastrosas: sufoca a espiritualidade do cristão (ao desviá-la para a utopia secular e materialista do marxismo) e perverte suas análises dos reais problemas humanos (ao forçar tal análise a adequar-se não aos fatos, mas à utopia). Assim, por exemplo, o cristão seduzido pelo esquerdismo chegará ao cúmulo de ler a Bíblia através da polarização entre opressores (“maus”) e oprimidos (“bons”), contribuindo com seu discurso para a defesa de criminosos como “vítimas do sistema” e esquecendo-se de que todos pecaram e todos carecem da glória de Deus – e que exortar as pessoas ao arrependimento ainda é tarefa nossa, em vez de desculpá-las com o argumento social. Já o cristão amortecido pela propaganda esquerdista, mesmo que não seja militante, será levado a crer que o problema não está na esquerda, mas sim em uma abstração muito conveniente, “política”, sem conseguir operar uma apreciação eficiente de nossos tempos.

É por tudo isso que tenho me ocupado, por enquanto, neste blog e nesta época, com a análise da situação brasileira – e essa análise não pode se desviar da questão política, visto que impera em nosso país uma surpreendente unanimidade em torno de pensamentos de esquerda, tão difundida quanto despercebida como tal. Porém, sem fazer a crítica a sua época, como o cristão evitará cair nos mesmos erros de seus contemporâneos? Como rejeitará alianças espúrias? Como deixará de se conformar com esse século? Mas, se hoje a igreja tem sido pisoteada – insultada, difamada, vilipendiada ou esquecida – , é porque não está fazendo a diferença que deveria fazer. E para fazer a diferença é preciso saber DO QUE estamos nos diferenciando, confrontando-nos constantemente com o padrão de Deus nas Escrituras. Se não sabemos mais fazer isso, é porque estamos mal, muito mal.

Portanto, se alguém ainda duvida de que, ao escrever sobre política, estou fazendo teologia, deixo para reflexão um trecho do autor cristão Jean-François Revel, morto este ano.

“Quando recapitulamos as doutrinas medievais, percebemos que seu objeto não é tanto a busca pela verdade – a verdade já foi encontrada – , mas sim alojar no interior dessa verdade revelada as teorias emprestadas a uma ou outra filosofia existentes (...) trata-se de saber se a doutrina oficial pode tolerar tal absorção sem se negar, ou sem correr o risco de negações futuras ainda mais afastadas de sua origem” (Histoire de la philosophie, vol.2, p.19).

Isso significa que a apologética (minha área preferida) ecoa a teologia medieval quando se esforça por detectar padrões de pensamento que imperam em dada época, analisando-os para entender o bem ou o mal que fazem à fé. Ora, com a ajuda de Revel e tantos outros, eu já sei que a absorção da teleologia marxista no coração do cristianismo resulta na negação da verdadeira transcendência. Basta ler os teólogos da “libertação” e verificar o tipo de declaração que encontra eco em eventos como os patrocinados pelo Conselho Mundial de Igrejas. Sendo assim, é meu dever partilhar essa descoberta com meus irmãos, para tentar evitar que a igreja evangélica brasileira se veja inteiramente corrompida. Trabalho de formiga, sim; mas no Reino de Deus é esse tipo de trabalho personalizado, sem muito reconhecimento e sem o apoio de grandes e ricas instituições, que costuma render os melhores frutos. “Porque Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas; glória, pois, a Ele eternamente.”