30 dezembro 2013

Meus desejos para 2014

Que eu tenha mais um salto na melhora da enxaqueca, pois ainda preciso;

Que mudanças no meu estilo de vida - exercícios, alimentação saudável e mergulhos frequentes - sejam firmadas e tragam resultados que reflitam na saúde (principalmente memória e agilidade mental) e no peso (uns dez quilinhos a menos!);

Que eu me torne mais organizada com coisas e ideias, mais firme nos objetivos diários, mais focada nas tarefas;

Que mais pecados meus e de André sejam descobertos e combatidos;

Que minha influência na internet seja mais conforme a vontade de Deus;

Que eu e André tenhamos um boost de santidade e intimidade;

Que a tal onda conservadora que vem crescendo no meio cristão resista à tentação de copiar a esquerda em seus estratagemas (inundar o judiciário de processos, fazer ad hominem em vez de argumentar, perder a linha em público, lançar mão do totalitarismo da vítima) e demonstre mais maturidade intelectual, emocional e espiritual;

Que as eleições não deem vitória ao PT (essa é difícil, eu sei);

Que mais brasileiros se arrependam de seus pecados (desonestidade, irresponsabilidade, violência, cobiça, indolência, lascívia) e busquem o Deus verdadeiro;

Que a igreja se desembarace cada vez mais da influência do paganismo, da teologia da prosperidade e da teologia da libertação;

Que mais livros reformados sejam lidos, escritos, debatidos (orem por mim!);

Que mais cristãos estejam dispostos a estudar de tudo e a analisar seriamente as cosmovisões não-cristãs, sem concessões ao relativismo, ao pragmatismo e à superficialidade;

Que reformados e demais cristãos preocupados com a ortodoxia reconheçam quando se expressarem de um modo rabugento e irado, arrependam-se e aprendam a refletir a beleza e o amor de Deus, na internet e fora dela;

Que surjam mais bons músicos, pintores, escritores, poetas e amantes da boa cultura que desejem glorificar a Deus fazendo ou divulgando arte de qualidade, mas sem recorrer à heterodoxia ou à destrutividade pós-moderna para serem criativos;

Que o Brasil seja mais salgado e iluminado pela igreja fiel;

Que nosso país comece a se libertar de seu maior flagelo: a violência, que se alimenta de uma política indolente e corrupta;

Que mais cristãos sejam criativos e intrépidos para a abertura de instituições de ensino, associações, grupos de discussão, grupos de estudo etc., com um espírito de missão entusiástico e bem orientado;

E, finalmente, que Paulo Ghiraldelli não seja estuprado, mas sim visitado pela maravilhosa graça de Deus (oremos por ele!).

Feliz 2014! :-)

19 dezembro 2013

"Cristo como chave hermenêutica"

Gostei desse texto de Felipe Cruz e Yago Martins contra a velha ilusão liberal de "Cristo como a chave hermenêutica", que no final funciona apenas como desculpa para que o cidadão use e abuse da Escritura a seu bel-prazer, retirando dela o que não lhe convém.

Eu apenas acrescentaria ao artigo o seguinte argumento, exposto nesse diálogo imaginário:

- Cristo é a chave hermenêutica da Bíblia.

- Certo. Mas tudo o que você sabe sobre Cristo vem de onde?

- Er...

- Da Bíblia, não é?

- ...

- Além disso, o próprio Cristo usava as Escrituras da época dele (Velho Testamento) do jeitinho que nós usamos. Ele reconheceu as profecias antigas como corretas, versando sobre Ele mesmo (Lc 4.21); repetiu palavras de Deuteronômio 8.3 (Mt 4.4); reforçou a eternidade da Lei (Mt 5.18, Lc 16.17); resistiu à tentação do diabo (Lc 4.1-13). Só para citar alguns exemplos! Nisso tudo, usou a palavra autoritarivamente.

- Mas Cristo disse que é a Palavra.

- Sim, Ele disse isso, mas também disse que não vinha anular a Lei, mas cumpri-La (Mt 5.17). Ele é a Palavra VIVA. Nossa Bíblia é a Palavra escrita de Deus. Se você não ler a Bíblia com ideias preconcebidas e não prescindir da orientação do Espírito Santo, vai ver que Jesus não contraria a Palavra escrita em nenhum momento. Ele cumpre em Seu corpo, com a morte e a ressurreição, tudo o que estava registrado na Lei e nos Profetas. E se tornou nosso maior modelo no uso humilde da Palavra. Pois o próprio Deus não se contradiz, nem é homem, para mentir: "Seja Deus verdadeiro, e todo homem mentiroso" (Rm 3.4).

 

17 dezembro 2013

A batalha pertence ao Senhor

"Talvez uma das coisas mais difíceis da vida cristã e, particularmente, da apologética, seja o equilíbrio entre autoridade e mansidão que é necessário para se praticar estas coisas de forma obediente. É fácil ir longe demais para um lado e para o outro. Podemos ficar tão animados por causa da autoridade que temos na verdade concedida a nós por Deus que nossa única meta acaba sendo apresentá-la. Mas esse zelo pode ser qualquer coisa, menos manso e benigno; pode sugerir que a verdade que temos é nossa por causa de quem somos e não por causa do que Cristo fez.

Por outro lado, podemos ficar tão impressionados com a benignidade de Cristo que acabamos fazendo de tudo para evitar uma confrontação. Mas isto também pode passar uma impressão errada, a saber, que o evangelho, e particularmente o Cristo do evangelho, não está preocupado com a fé e o arrependimento. Pode levar outros a pensar que Deus é indiferente ao pecado. Pode dar a impressão equivocada de que todos são aceitos por, ou aceitáveis a, Deus.

[...] Se a glória de Cristo é descrita por João como sendo uma plenitude de graça e de verdade, glorificar a Cristo, 'exibi-lo', por assim dizer, significa, então, mostrar a graça e a verdade juntas. Se havemos de glorificar a Deus, devemos ser cheios tanto de graça como de verdade, a exemplo de Cristo.

Nós o glorificaremos quando, e somente quando, nossa verdade for temperada com a graça e quando nossa graça for combinada com a verdade de Cristo. Isso não é algo que somos capazes de fazer por nós mesmos; não é algo que pode ser realizado por contra própria. Isso deve ser uma obra do Espírito. Não é algo que somos capazes de fazer em nós e por nós mesmos. Essa é uma parte, embora uma parte crucial, de sermos conformados mais e mais à imagem de Cristo."


Scott Oliphint, A batalha pertence ao Senhor: o poder da Escritura na defesa de nossa fé, p. 90-92, editora Monergismo.


Thanks, Leonardo Bruno Galdino!

13 dezembro 2013

Imagens

Sempre achei admirável o contraste entre o que conheço dos poetas Victor Hugo e Charles Baudelaire, de um lado, e suas respectivas fotos mais conhecidas, de outro. Hugo, o poeta das multidões, muito amado pelo povo francês ainda em vida, mostra-se totalmente despreocupado com a própria imagem. Denunciam-no a má postura, os cabelos arrepiados, a expressão de vazio e enfado, de "tira logo essa foto que quero ir deitar". Já Baudelaire, que tanto chocou o público e até sofreu processo pelos poemas mais pesados de As flores do mal, surge com um ar muito cônscio da impressão que está causando, de pose napoleônica, penteado impecável e olhar calculado para atravessar bonito os portais da fama.

Nunca julgue a partir das aparências (1 Sm 16.7).

 

12 dezembro 2013

Biblioteca João Calvino

O Ministério Fiel disponibilizou esta semana a BIBLIOTECA CALVINO: todos os comentários publicados pela editora estão disponíveis para leitura no site, gratuitamente!


Maravilha, não é?

Se você nunca leu nenhum comentário de Calvino, sugiro que comece pelo livro de Salmos. E depois me conte nos comentários!

11 dezembro 2013

Quem quer adotar Sparky?

Escrevo na tentativa de achar uma casa para o frajolinha que Beatriz Levischi encontrou na rua. Protetora, morando em um apartamento pequeno com dez - sim, você leu direito, dez - gatos, e cheia de alergias, ela não pode abrigar mais um.

Mas esse é muito especial! Veja o vídeo na postagem dela: ronronento, carinhoso, uma delícia de gato - um companheiro fiel para toda a vida! Se você sempre quis um gatinho, ou mais um gatinho, e mora em São Paulo, essa é a sua chance.
Ela ficou decepcionada quando pediu a religiosos que arrumassem um canto para o gato e ninguém se dispôs a isso. Infelizmente, nós cristãos ainda estamos muito longe de uma visão biblicamente correta sobre os animais (veja esse artigo sobre o tema). Rejeitamos (com razão) o naturalismo de nosso tempo, mas acabamos caindo em outro extremo: só valorizar o que é humano. Por isso, programas de preservação da natureza e de proteção animal muito raramente são concebidos ou apoiados por igrejas cristãs. Isso é muito triste. Confesso que tenho vergonha quando crentes sinceros demonstram desleixo com a criação não-humana de Deus. Ainda vou escrever mais sobre isso, porque quero muito testemunhar uma grande mudança de mentalidade entre nós.

Em tempo: uma ONG de proteção animal (castração, resgate e doação) em que confio é a Confraria dos Miados e Latidos. Se você gosta de bichos, vale a visita!

10 dezembro 2013

Mulheres em Gravatá

Cheguei ontem de Recife, antes de passar o fim de semana em Gravatá para o Encontro de Mulheres. Falei sobre Cosmovisão Cristã (uma palestra muito parecida com a da Fiel), Combatendo o Feminismo (em que discorri sobre o Politicamente Correto) e A Mulher Cristã e a Intelectualidade (tratei de Romanos 12.1-2 e fiz paralelos entre a intelectualidade cristã, que contempla o ser humano integralmente, e a mundana, que o fragmenta). Gostei muito de como ficou o formato da terceira palestra e vou incrementá-la para futuros repetecos.

Além de reencontrar minha BFF Simone Quaresma, que palestrou também, revi a fofíssima Leah e conheci várias irmãs lindas e maravilhosas, como a Virgínia, a dona Ruth, a Andressa, a Cristiana, a Nininha, além das palestrantes Ana Carolina Oliveira e Paula Ximenes - amizades que têm tudo para durar! Que Deus tenha sido glorificado na sua palavra edificadora e nos momentos tão gostosos de comunhão que tivemos durante o evento e depois, em Recife.

 

02 dezembro 2013

Os loucos sintomas da enxaqueca

Erra quem associa enxaqueca a dores de cabeça apenas. A doença é bem mais complexa que isso. Dê uma olhada nesse artigo do dr. Alexandre Feldman e entenda por que eu preciso evitar a todo custo uma crise quando sou chamada para fazer palestras em outras cidades. ;-)

 

28 novembro 2013

A nobreza perdida

Amigos, neste final de ano está difícil cumprir a meta de postagens diárias. São muitos compromissos: as leituras e os trabalhos do mestrado do Andrew Jumper e as preparações de palestras me tomam bastante tempo. Vou voltar ao "posto quando der" por algumas semanas, certo?
Essa reportagem me deixou pasma: as estátuas greco-romanas originais eram pintadas! Reconstituídas em suas cores, elas não diferem em praticamente nada das imagens modernas que são fabricadas para adoração hoje (sobre a prática segundo a Bíblia, ver Salmo 115, Deuteronômio 4.28, Isaías 42.17, só para citar algumas passagens). Coloridos, esses monumentos perderam a "aura" de obra de arte que os modernos lhes atribuíram (André Malraux); perderam o distanciamento, a placidez e - ouso dizer - também a nobreza. Seus autores estão agora no mesmo bojo dos que, buscando imitar a realidade de modo mais vívido - como se pudessem com as próprias mãos trazer o que é espiritual para o campo do palpável - , caíram na condenação bíblica que zomba da insensatez que é adorar o inferior (Romanos 1.23), enquanto voltam as costas para o Deus verdadeiro, que é criador, perfeito, onisciente e onipotente.
Nós já sabíamos disso, mas as cores, recuperadas, tornaram tudo mais evidente. Veja por si mesmo:

25 novembro 2013

Mais uma de Mike Adams

O colunista do Townhall e professor Mike Adams é um velho conhecido dos leitores do blog. Esta semana, ele postou o seguinte texto no Facebook:
Uma ex-aluna minha está se envolvendo com o budismo. Quer desistir do cristianismo por ter sido negligenciada por seu pai terreno. Em outras palavras, pretende rejeitar o cristianismo porque foi rejeitada pelo pai. Então lhe fiz uma pergunta:
- Vê se estou certo. Você concordou com os padrões estabelecidos pelo cristianismo. Seu pai não foi fiel a esses padrões, e agora você vai seguir o exemplo do seu pai e rejeitar os mesmos padrões. Que novos padrões o budismo vai lhe proporcionar que o cristianismo não proporcionou? Em outras palavras, que outros insights você vai obter do budismo em relação ao modo com que as filhas devem ser tratadas pelos pais?
Ela ficou me olhando sem dizer nada e por fim respondeu:
- Não tinha pensado nisso.
Ele conclui o texto dizendo que está doido para um segundo encontro apologético (o "apologético" é por minha conta) com ela, de preferência junto com o amigo budista. Nós também, Mike, estamos doidos pra ver o resultado dessas conversas!

20 novembro 2013

Certeza emocional

"Em paz me deito e logo pego no sono, porque, Senhor, só tu me fazes repousar seguro" (Sl 4.8).

Ontem à noite, tive um sonho em que gritei de pavor, e geralmente acordo tão assustada desses sonhos que demoro para dormir novamente, se é que durmo, pois temo voltar ao mesmo sonho.

Ontem, porém, fiquei muito feliz pois pela primeira vez tive a impressão predominantemente emocional (em vez de intelectual) de que a presença de Deus (em mim e fora de mim) era um dado contínuo da realidade, infinitamente mais forte que qualquer presença demoníaca. Com base nessa certeza, mesmo depois do sonho assustador, peguei no sono quase imediatamente, e dormi como um anjo até o amanhecer.

Precisamos não nos conformar com um simples assentimento das verdades da Escritura, mas pedir a Deus que elas se tornem parte de nós, acessíveis no mais recôndito da alma, para que sobrevivamos no dia mau. Por causa dos terrores noturnos (falei disso aqui), essa tem sido minha oração constante. Que alegria constatar a resposta de Deus!

19 novembro 2013

Apostasia

Texto iniciado com a leitura de Van Til e terminado com a leitura de Dooyeweerd

Ao perder a paz e a segurança que tinha com Deus no Éden (Gn 3), o ser humano se viu diante da necessidade de buscá-las em outros locais. Em um primeiro momento, cheio de medo e mais ciente daquilo que não podia controlar, o homem primitivo deificou as forças da natureza, buscando dominá-las misticamente, com rituais e sacrifícios. Em seguida, ao perceber que, com sua razão, conseguia gradativamente impor-se ao que lhe parecia antes um mundo caótico, sua confiança voltou-se de fora para dentro, para a própria mente, capaz de modificar a realidade visível, exterior e interior. A primeira tendência é o paganismo, a segunda, o racionalismo. Sem Deus no horizonte, foi o que restou ao homem: lidar com as pulsões exteriores e interiores; deificando-as, tratou então de buscar controlar essas forças em uma relação idólatra, pois a natureza e a razão passam a ocupar o lugar de Deus. Paganismo e racionalismo são aspectos da mesma reação: apostar e confiar na aptidão humana de controlar o mundo exterior e o mundo interior para viver bem, mesmo fora da relação com Deus. E talvez sejam o emblema das únicas tendências apóstatas possíveis - isto saberei (espero!) à medida que avançar em minhas leituras.

18 novembro 2013

O que é santidade?

Tenho usado constantemente a palavra "santidade" em minhas palestras e postagens, mas nunca me ocorreu (que gafe!) descrever em minúcias o que significa, debelando algumas noções (infelizmente) comuns que grassam em nosso tão diversificado arraial evangélico. Para meu contentamento, Augustus Nicodemus fez isso por mim semana passada - e muito bem! Então, tomo a liberdade de trazer para cá esse artigo bastante prático e pé-no-chão, com que concordo até nas vírgulas, e que combina com meu texto recentemente postado sobre farisaísmo. Afinal de contas, o que é santidade? Leia aqui!

15 novembro 2013

VINACC 2014: comece a se programar!

No Carnaval do ano que vem, como todo Carnaval, nós fazemos a festa da alma na VINACC - Visão Nacional para a Consciência Cristã. Será entre os dias 27 de fevereiro e 04 de março de 2014, em Campina Grande, Paraíba. Vou participar do 2º Seminário sobre Literatura, Bíblia e Cristianismo, além de outros momentos. Comigo estarão também os preletores Paul Washer, Augustus Nicodemus, Solano Portela, Jonas Madureira, Renato Vargens, Russell Shedd e outros.

Depois de uma conversa com Yago Martins sobre Paul Washer, eu não poderia deixar de mandar um recadinho para a galera que gosta demais dele e de outros preletores do evento: eu sei que é empolgante estar perto de pessoas admiradas, mas, justamente nessas horas, segurar a tietagem é um ato de amor. Tietagem não faz bem! Instiga orgulho e/ou desconforto, porque todos nós somos simples irmãos na fé, certo? Ninguém deve sofrer a tentação de se sentir parte de uma casta sacerdotal. Então, aja normalmente, chegue perto, converse, mas tente não exibir sinais de adoração desesperada. (Obs. Nunca me senti tietada, mas não custa avisar!)




Mais informações sobre a VINACC aqui!

14 novembro 2013

A antítese no coração (2)

Em Roots of Western Culture [Raízes da cultura ocidental], Herman Dooyeweerd declara a necessidade de uma consciência aguçada da antítese.

Avalie os custos devidos à seriedade com que se deve levar o cristianismo radicalmente [no sentido de "raiz"] escriturístico. Questione-se sobre que lado você deve assumir nessa tensa batalha espiritual de nossos dias. Um "acordo de cavalheiros" não é uma opção válida. Ficar "em cima do muro" não é possível. Ou o motivo básico da religião cristã [criação-queda-redenção] trabalha em nossas vidas, ou servimos a outros deuses. Se a antítese lhe parece radical demais, reflita se um cristianismo menos radical não seria como o sal que perdeu o sabor. Eu afirmo a antítese de um modo tão radical para que experimentemos de novo o poder e os afiados dois gumes da Palavra de Deus. Você deve experimentar a antítese como uma tempestade espiritual que se abate sobre você, iluminando tudo, e em seguida purifica o ar abafado. Se você não experimenta esse fato como um poder espiritual que requer o render-se de todo o seu coração, não haverá frutos na sua vida. E então você ficará à parte de toda a grande batalha que a antítese sempre instiga. Por si só, você não pode empreender essa batalha, mas sim a dinâmica espiritual da Palavra de Deus, que se lança à batalha em nós, e nos impele, embora sejamos "carne e sangue".

Que Deus nos ajude a viver essa consciência, porque muitas vezes preferimos estar "em paz" (paz forjada) com nosso pecado e com o mal no mundo. Ou então, tomamos armas carnais para lidar com ambos. Que, sobretudo, possamos depor as armas carnais e assumir armas verdadeiramente espirituais - algo que só é possível quando nosso coração é depositado todos os dias aos pés de Cristo.

13 novembro 2013

A antítese no coração

Nos dias 15 e 16 de novembro, haverá o Congresso dos Jovens da Igreja Presbiteriana Paulistana, e o rev. Davi Charles Gomes gravou o vídeo abaixo explicando o que é a antítese (conceito reformado do qual venho tratando também em minhas palestras).
No mesmo dia em que vi o vídeo, li esse trecho fantástico de Roots of Western Culture, de Herman Dooyeweerd, p. 93:
A revelação divina conecta o temporal com o eterno. Deus é o Eterno que se revela ao homem no tempo. Cristo Jesus, a Palavra que se tornou carne, é a plenitude da revelação divina. É justamente essa revelação que representa a grande pedra de tropeço para o pensamento arrogante do apóstata; o homem não deseja a revelação de Deus porque ela ameaça sua pretensa autossuficiência; Ele quer manter Deus a uma distância teorética infinita para que possa especular à vontade sobre "o Ser mais perfeito", um "Ser" alienado de tudo quanto toca a vida temporal. Mas Deus não respeita a divisão teórica humanamente forçada entre o tempo e a eternidade. Ele se revela em meio ao tempo. Pecadores redimidos por Cristo que ouvem essa revelação passam a orar: "Senhor, tem misericórdia de nós. Cobrimos Teu mundo com ódio, ira, sangue e lágrimas. E o Senhor está aqui e vê tudo isto!" Essa é a revelação de Deus em Sua Palavra e em todas as obras de Suas mãos! A revelação lança sobre a terra a antítese, dividindo pais e filhos, dispondo amigo contra amigo, causando divisões no interior das nações e colocando o homem contra si mesmo [ênfase minha]. "Não penseis que vim trazer paz à terra", disse o Salvador, "não vim trazer paz, mas espada" (Mateus 10.34).
Quanta riqueza em todas essas palavras (do vídeo e da citação)! Creio que não só os calvinistas reformados, mas todos os que zelam pela boa doutrina - sobretudo os mais jovens - , devem reter principalmente isto: precisamos viver dia a dia as implicações da antítese no coração, confrontando nossos pecados na graça de Deus e resistindo à tentação de viver a vida cristã apenas externamente - o que resultará em uma triste e penosa guerra sem frutos. "Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, pois dele procedem as fontes de vida" (Pv 4.23).

12 novembro 2013

"Mudanças e permanência"

Peguei emprestado o título da minha querida amiga Beth Gomes para esta postagem, pois seu artigo me inspirou muito! Leiam e voltem aqui depois.

Desde que nos casamos, eu e André nos mudamos muito, e mudamos muito também. Para começar, ainda solteira eu sabia que Deus estava me preparando uma mudança de cidade. Não me perguntem como, mas amigos poderão testemunhar que, alguns meses antes de conhecer meu marido, eu descrevia meu estado de alma como "a mala pronta num canto, esperando para onde Deus vai chamar". Chamou para São Carlos, onde casamos, e depois Salvador e Fortaleza, com última parada em Natal - onde esperamos permanecer, mas abertos a possíveis mudanças (não só de lugar!) da mão do Senhor.

Na vida cristã, poucas coisas são mais lindas quanto perceber de repente: "Uau, eu mudei nisso! Antes eu ficaria irado, ou triste, ou desanimado com essa situação; agora eu consigo reagir de um modo criativo, propositivo, redentivo. Antes eu ficaria entusiasmado com a perspectiva de exagerar nisso e nisso, mas agora eu consigo vislumbrar o ídolo por trás do sentimento. Antes eu estragaria todo o momento, agora eu respiro fundo e comunico meu desagrado com graça e amor." São os frutos doces do casamento, que é uma universidade da santificação, se comparado aos tempos de solteirice!

Faz tempo que você não muda? Ou que você não sente que está mudando? Peça isso a Deus!

Quanto à permanência, ainda lembro da insegurança que sentia logo que me converti. Chorava copiosamente porque me via naquele texto de Tiago 1.8 - "homem [no caso, mulher] de ânimo dobre, inconstante em todos os seus caminhos" - e pedia a Deus "segurança, segurança, segurança". Ainda sou tomada de vez em quando por medos incompreensíveis (como contei aqui), mas, depois de tudo o que passei, já posso cantar com alegria: "Firme está meu coração, ó Deus!"

Que o Senhor nos ajude a experimentar todas as nossas mudanças e permanências "Nele, por Ele e para Ele"!

11 novembro 2013

Hoje não tem post...

Estou bem atrasada em minhas leituras para o Jumper. Você pode aproveitar a ausência de texto para sondar seu coração quanto a um possível vício em internet.


Por isso, nesta segunda vou fazer igual à Bia Bedran no final de seus programas infantis: criança, desliga a televisão e vai brincar... ops, desliga o computador e vai trabalhar (ou desliga o computador assim que acabar o trabalho), vai ler um livro, conversar, passear, tomar um solzinho...


08 novembro 2013

Uma oração antiga

Texto que encontrei escrito a mão em um caderno guardado. Do dia 10 de janeiro de 1996, seis meses depois de minha conversão.

"Minha vida era plena de certezas",
canto ao contrário do que a música diz.

Isso é o mais louco. Deus destruiu as certezas do meu coração!

Certezas do antropocentrismo,
do pensamento positivo,
da sincronicidade entre os astros e a vida das pessoas,
do yin e do yang,
do poder curativo das pedras preciosas
e tudo o mais!

Senhor, o que fizeste em minha vida foi demais. Vejo-me de novo imperfeita e impotente, incapaz de gerir-me por minhas mãos.

Mas, desta vez, tenho a Ti
para pôr no vazio
depois de arrancadas tantas mentiras.

E Te tenho como verdade
dia após dia.

07 novembro 2013

Você já ouviu Stênio Marcius?

http://www.youtube.com/v/BZXBPJTkjuI?version=3&autohide=1&autoplay=1&autohide=1&feature=share&showinfo=1&attribution_tag=yeTEex8RFDifGaKAjv-4HA

Coríntios 13

Quisera eu falar as línguas das nações
E aos povos irmanar em puras intenções
Deve ser doce, enfim, a língua angelical
Clamar com os serafins o Nome sem igual
E se eu profetizar, mistérios desvendar
Saber qual a razão de estrelas na amplidão
Se eu não tiver amor, de nada valerá
Eu viverei só pra saber o que é viver em vão
Quisera fé maior pra que eu vencesse o mal
E ao Pai servir melhor, pureza mais real
Oferecer os bens a quem mais precisar
Ir longe, muito além, a vida entregar
E eu, que nada sou, não tenho muito a dar
Mas se eu tiver amor na vida que eu levar
Eu saberei então que o pouco que eu fiz
Não foi em vão, valeu a pena sentir meu Deus feliz!

06 novembro 2013

Encontro de Mulheres em Gravatá!

Do dia 4 ao 6 de dezembro, estarei em Gravatá (Pernambuco) para um Encontro de Mulheres, junto com Simone Quaresma (amiga querida!) e Ana Carolina Oliveira (uma fofa!).


As inscrições já estão abertas! Corre porque são apenas 100 vagas no Hotel Portal de Gravatá.

Informações:

1- Os preços dizem respeito a diárias individuais (por pessoa) completas, ou seja, com todas as refeições inclusas e participação no evento.
2- Aquelas que quiserem participar do evento, mas não desejam se hospedar no hotel, o custo do evento será de R$ 120,00.
3- Para os maridos que forem com as esposas, haverá devocionais pela manhã e à tarde com eles.
4- Para as crianças, haverá atividades devocionais e brincadeiras, com equipe especializada.
5- As inscrições podem ser feitas no Seminário Presbiteriano do Norte (SPN), pelo telefone 32270986

05 novembro 2013

Dooyeweerd e o conservadorismo

Leio em No crepúsculo do pensamento ocidental (o "ocidental" ficou de fora na capa da tradução brasileira), de Herman Dooyeweerd, p. 132-3, um trecho interessantíssimo sobre o historicismo:

Os fundadores da ciência histórica, sendo amplamente influenciados por essa cosmovisão romântica [a crença de que as nações crescem organicamente, como seres vivos, a partir de sua potencialidade individual já presente embrionariamente], passaram a desenvolver um novo padrão de pensamento científico, o qual foi oposto fortemente ao modo de pensamento matemático e mecanicista da ciência natural. O novo modelo de pensamento foi aplicado à jurisprudência, à teoria política, à economia, à estética e à linguística. A partir desse padrão foi construída uma imagem historicista da realidade, logo amplamente aceita como um axioma. Mesmo vários líderes e políticos cristãos influentes deram boas-vindas à visão historicista, especialmente em sua aplicação à sociedade humana, como um poderoso aliado em sua luta contra os princípios da Revolução Francesa. Eles não perceberam que o historicismo estava enraizado no mesmo motivo básico religioso humanista, que também governou as ideias filosóficas de Rousseau e seus discípulos revolucionários.

Observa o autor que, opondo-se ao racionalismo dos pais da Revolução Francesa, alguns conservadores cristãos se apegaram a esse historicismo inicial, que ainda estava associado à ideia de valores eternos que se realizam temporalmente. Até que o historicismo fez ruir o andar de cima (Schaeffer) e se revelou tal como é - compondo o irracionalismo também materialista e niilista de hoje, pano de fundo comum para a área de humanas.

Lendo esses parágrafos, vem-me à mente que o conservador contemporâneo mais esclarecido talvez tente retornar a esse ponto preciso em que o historicismo se impôs, para restabelecer algo anterior que é visto como positivo. O problema é que o romantismo buscou recuperar uma pessoalidade e uma individualidade que de fato estavam perdidas. Se o conservador simplesmente voltar no tempo, encontrará todos os problemas já existentes no racionalismo naturalista, e simplesmente trocará de ídolos em vez de combatê-los eficazmente.

O conservadorismo sem Cristo (ou com uma cosmovisão cristã insuficiente) traz em seu bojo uma força de impessoalidade que é - com razão! - rejeitada pelo homem moderno. Se as leis que regem a estrutura da realidade não forem apresentadas como criações de um Deus pessoal e amoroso, que encarnou como homem e morreu por nós, não há esperança para o conservadorismo, e o mundo atual optará por um irracionalismo que preserve as diferenças individuais. Somente os que conhecem a Deus como o Senhor pessoal é que poderão evitar ambos os erros: um universalismo que esmaga as individualidades ou um historicismo que as exalta negando todos os universais - esmagando-as do mesmo jeito no final.

Que grande responsabilidade a nossa!

04 novembro 2013

Mocidade presbiteriana

Aviso: post cheio de rasgação de seda. :-)

Quem não foi ao Congresso Proclamai, da Mocidade da IP do Pirangi, perdeu! O louvor ficou a cargo do amadíssimo Stênio Marcius, e pudemos matar um pouquinho as saudades dele e da também amadíssima Selma. Foi a primeira vez em que nosso amigão Yago Martins e eu trabalhamos em conjunto. (Na foto, além do Yago, estão meu marido e os irmãos queridos Débora e Mateus.)

Sem combinarmos nada, falamos sobre textos da epístola de Tiago. No sábado, meu foco foi a ira (Tg 1.20) e a pergunta: por que nós reformados, calvinistas e ortodoxos em geral somos tão dados à ira na internet? O de Yago foi a brevidade da vida (Tg 4.13-17) e as redes sociais (o controle do uso do tempo para que Deus seja glorificado). No domingo, com o tema "A igreja e a cosmovisão cristã", falei sobre a verdadeira religião (Tg 1.27), o papel da igreja e o equilíbrio entre o dentro (guardar-se incontaminado) e o fora (acudir os necessitados). Yago tinha o tema "Desigrejados", mas resolveu mudar em cima da hora e preferiu tratar de missões (Mt 28.18-20) - como a intenção do pessoal da Mocidade era mostrar a importância da igreja, o novo assunto caiu como uma luva!

Ontem à noite foi o culto de encerramento, com o missionário Adolfo Santana, que falou da igreja em Apocalipse 5. Em seguida, a pedido do pr. Diogo Jorge, eu e Yago fomos à frente para cantar com os organizadores do evento o hino da Mocidade Presbiteriana. Enquanto nos dirigíamos para lá, Yago fez a piada:

"Somos dois hipócritas: eu não sou presbiteriano e você não é jovem!"

E isto é o que tenho para hoje no blog! Ele ainda está aqui e eu atrasei totalmente a leitura de Dooyeweerd. Por uma causa mais que nobre! :-) A partir de amanhã tem mais.

01 novembro 2013

Pacto involuntário?

Para você que ficou com medo da brincadeira da girafa no Facebook, uma palavra amiga.

Também participei desse "viral" no Facebook, que era uma charada. Quem errasse a resposta tinha que colocar no perfil a foto de uma girafa e compartilhar a seguinte mensagem:

Eu mudei meu perfil para uma girafa. Tentei responder um pequeno enigma e errei. Quer experimentar o desafio da girafa? Funciona assim. Eu te dou uma charada. Se você acertar você mantém a sua foto do perfil. Se errar você troca a sua foto do perfil por uma girafa pelos próximos 3 dias. ME MANDA UMA MENSAGEM PRIVADA para que outras pessoas não vejam a resposta. Eis a charada: São 3 horas da manhã, a campainha toca e você acorda. Visitantes inesperados, seus pais que vieram para o café da manhã. Você tem geleia de morango, mel, vinho, pão e queijo. Qual é a primeira coisa que você abre? Lembre-se... mensagem privada só pra mim.

Enquanto todo mundo pensava que seria "a porta", a resposta correta era: os olhos. Achei aquilo hilariante: de uma hora para a outra, um Facebook cheio de girafas de todos os tipos.

Mas nem todo mundo achou tão engraçado. Dois dias depois, li um texto que argumentava ser a charada da girafa uma armadilha espiritual, um pacto involuntário com o demônio.

Pacto involuntário com o demônio? A expressão me remeteu a meus antigos tempos de esotérica. O esoterismo está cheio de involuntariedades. O simples fato de tocar sem querer em uma pessoa deprê pode levar você à depressão também... Milhões de regras ocupam a mente do esotérico, com cara de "informações importantes". É o caso das regras enunciadas na história da girafa - que são, essas sim, uma armadilha diabólica. Vamos ver ponto por ponto?

Ideia:

"Existem pactos involuntários com o diabo, ou seja, coisas que eu faço sem querer e que à primeira vista são inofensivas, mas comprometem minha vida espiritual."

O que o diabo quer que você pense:

"Preciso conhecer e observar todas as regras espirituais para não comprometer minha vida com Deus! Preciso criar uma lista gigantesca dessas regras. Preciso estudar satanismo para entender como isso funciona."

Minha resposta:

Enquanto você fica preocupado com essas regrinhas - que não fazem bem nem mal objetivos a ninguém -, Satanás desvia sua atenção do que realmente importa. Você precisa estudar a Bíblia, e não o satanismo, e nem pode ficar dependente de um líder espiritual para entender o que é o pecado e qual é a vontade de Deus. A Bíblia precisa ser seu norte. Segundo a Bíblia, o pecado original não foi involuntário, mas Adão e Eva pecaram voluntariamente porque foram seduzidos pela ideia de ser iguais a Deus. Isso trouxe consequências morais sérias: inimizade, males e morte. Você não peca com ações tão inofensivas quanto uma foto de Facebook, mas sim desobedecendo diretamente as leis de Deus. O diabo atua na sua vida com base na sua decisão de continuar desobedecendo a Deus, não com base em atos aleatórios.

Ideia:

"Quando o cristão troca sua foto pela imagem de uma girafa, está trocando sua identidade espiritual e promovendo uma abertura para opressão e possessão demoníaca."

O que o diabo quer que você pense:

"Uau, como eu sou poderoso. Eu movo as forças espirituais com um clique. Se ao trocar uma simples foto de Facebook eu dou abertura para o diabo, então eu tenho poder espiritual para dar abertura a Deus também. É só descobrir como fazer."

Minha resposta:

Você não tem esse poder. Satanás está tentando você a querer aprender a lidar com coisas espirituais como se fosse Deus, apenas mexendo no botão de um computador. Trocar uma foto no Facebook é só isso mesmo, trocar uma foto no Facebook. Quando você cria uma correspondência entre ações simples e um "mover espiritual", não está pensando biblicamente, mas sim adotando o ponto de vista de um mago, alguém que se vê como espiritualmente poderoso. É na magia que as pessoas acreditam "mover o mundo espiritual" manipulando objetos que "representam" outras coisas. Isso não é bíblico e nenhum filho ou filha de Deus, nas Escrituras, age de acordo com o pensamento mágico, mas sabe que somente Deus tem poder espiritual direto, e que até Satanás só age se Deus permitir.

Ideia:

"A girafa é símbolo de sensualidade."

O que o diabo quer que você pense:

"Todas as coisas deste mundo devem ser encaradas primeiramente em seu significado simbólico."

Minha resposta:

Uma girafa é uma girafa: um animal que Deus criou. Os simbolismos existem, mas não podem ser confundidos com a própria realidade. Se a imagem da girafa vai significar alguma coisa além de uma girafa, esse significado se dá na mente das pessoas e não tem consequências drásticas. Quando sua mente é treinada para ver símbolos em tudo, você se afasta da realidade e vive em um mundo imaginário em sua cabeça - um mundo que o diabo vai poder manipular à vontade, controlando você.

Afastando-se do pensamento mágico

O que acontece quando nos convertemos a Deus? A Bíblia nos diz que o fruto do Espírito é: amor, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, esperança (Gl 5.22). Você quer desenvolver o fruto do Espírito? Então leia a Palavra, conheça a vontade de Deus para sua vida e trate de seus reais pecados - essa é a verdadeira santificação. Ninguém se torna uma pessoa mais amorosa, paciente, benigna etc. se deixar de participar de joguinhos bobos no Facebook. O objetivo da santificação é que nos tornemos semelhantes a Cristo. Como alguém se tornará semelhante a Cristo seguindo regras exteriores? O diabo está tirando a sua paz, fazendo com que você acredite que deve decorar um monte de regras para alcançar uma espiritualidade sadia; mas o resultado é que você vive o tempo todo preocupado com coisas sem importância (como o jogo da girafa no Facebook) e esquecendo que é Deus que nos purifica, por Sua graça, nos transforma para cumprirmos seu mandamento: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo. Cristo nos chama para descansar Nele.

Na cosmovisão cristã não existem pactos involuntários. Aliás, em lugar nenhum, já que a natureza de todo pacto (trato, acordo) é necessariamente voluntária. A crença em pactos involuntários é uma concessão ao pensamento mágico, típico das religiões esotéricas. Se seus atos involuntários tivessem algum poder espiritual, você estaria perdido, sua salvação seria impossível. Se por meio do sacrifício de Jesus Cristo DEUS efetuou essa salvação em você, não é um ato involuntário que vai invalidar o que Deus fez. Um ato involuntário do homem não pode ser mais forte que um ato voluntário de Deus. Oro agora para que você se arrependa dessas crenças antibíblicas e solidifique NA BÍBLIA sua cosmovisão. Que Deus o abençoe.

Mais sobre esoterismo e pensamento mágico:

Meu livro A mente de Cristo: conversão e cosmovisão cristã

Outras postagens sobre o assunto

Blog do pr. Renato Vargens

 

31 outubro 2013

A imaturidade nossa de cada dia (Parte I)

Hoje, dia da Reforma, é uma ótima ocasião para refletirmos sobre isso. :-)

Há não muito tempo - vou me furtar a fornecer detalhes porque meu objetivo é analisar o fenômeno, não apontar o dedo para pessoas - , um grupo de alunos evangélicos se revoltou porque o professor pediu um trabalho sobre a importância cultural de uma religião afrobrasileira. Com o apoio de seus pais, eles se negaram a escrever o tema, compondo em vez disso um texto sobre evangelização. Quando seus trabalhos foram logicamente recusados, responderam com um verdadeiro motim na escola.

Morro de vergonha ao ler sobre o episódio. O motivo é claro: tal atitude (e aqui me refiro mais aos pais que aos alunos) está tão recheada de pecados que é difícil começar a destrinchá-los. Em primeiro lugar, bem em consonância com nossa época, houve uma afronta direta à autoridade, quando deveria haver respeito e submissão; respeito e submissão só seriam possíveis caso houvesse a percepção de que o professor não estava pecando contra os alunos e contra Deus ao pedir-lhes tal trabalho; e o mais importante: faltou-lhes um terreno sólido para reagir biblicamente a tal ordem, somente possível caso eles compreendessem melhor o papel dos cristãos no mundo.

Vou devagar: diz Calvino, em consonância com a Bíblia (Atos 5.29), que só podemos desobedecer às autoridades caso elas nos ordenem desobedecer a Deus. O professor pediu aos alunos que pecassem? Não, obviamente. Toda religião pode ser analisada à luz de seu impacto cultural, e mesmo cosmovisões não-cristãs têm seus momentos de verdade. Ainda assim, caso os alunos discordassem por completo do aspecto positivo desse impacto, deveriam ter sido orientados a sutilmente questionar o enunciado do trabalho, sem descumpri-lo. Poderiam fazer citações, como, por exemplo, "nos livros de história nós lemos que as religiões afrobrasileiras beneficiaram a nação nos pontos 1, 2 e 3", e no final acrescentar uma "opinião pessoal" sobre o que citaram. Desse modo, não teriam mentido nem ferido suas consciências, e ainda comunicariam ao professor alguma verdade sobre a fé cristã.

Para isso, bastaria que enxergassem o aspecto louvável da iniciativa do professor, que consiste no seguinte: por décadas a fio, o pressuposto de todo o ensino institucional tem sido materialista e ateu; quando alguém propõe que se fale de determinada religião em sala de aula, está quebrando uma gigantesca barreira e indiretamente cavando espaço para que os estudantes também falem de suas crenças. Onde eles apontaram uma solicitação intolerável, havia uma abertura para a pregação do Evangelho - que infelizmente, por imaturidade, eles não perceberam.

A chave para a compreensão disso não é um argumento, mas sim uma postura interior, que poderia ser descrita assim: em vez de esperar que o mundo aja em conformidade com a Palavra de Deus e esbravejar quando isso não ocorre (passividade e ira), nós salgamos o mundo, sabendo que todos os que têm algum contato conosco na vida são alvos potenciais da graça de Deus (atuação e amor).

Todo o episódio ilustra bem o que venho testemunhando com preocupação crescente: a adesão, por pessoas cristãs, a um conservadorismo cujas atitudes emblemáticas não têm sido tão cristãs assim. Com grande frequência, o conservador - ou seja, aquele que acalenta os valores cristãos remanescentes na cultura, lamenta a galopante descristianização do Ocidente e deseja o atraso ou a interrupção desse processo - se comporta como gente mimada que vê as coisas mudarem para pior e só reclama, reclama, reclama. Entendo que um não-convertido se sinta assim: só o cristão verdadeiro pode assumir sua missão de "estar no mundo sem ser do mundo" (João 17.15), ou seja, comprometer-se com o bem ao mesmo tempo em que se guarda do mal (Tiago 1.27). Mas, enquanto o esquerdista inventa uma moralidade própria para sentir que age em nome do amor (e promove destruição), muitos conservadores se refugiam na memória de tempos mais morais e se entrincheiram ali, como se o máximo a fazer fosse alvejar a bagunça do mundo com cusparadas.

Que o leitor não se engane: eu sou conservadora. Mas aprendi na carne, com dores, que não posso reproduzir acriticamente um comportamento comum de meu meio. E um dos mais constantes é a ira pecaminosa (escrevi sobre isso aqui). Que tristeza: o conservador cristão que coloca seu conservadorismo no lugar das ênfases bíblicas vive irado. Por quê? Porque - grande novidade - o mundo jaz no maligno! Como se o mundo devesse naturalmente obedecer a Deus sem nossa intervenção como anunciadores de Cristo. Ora, quem não consegue aceitar a realidade do pecado se revela incapaz de se posicionar redentivamente. E acaba percebendo o incrédulo como um alvo primordial de ira (humana!), não de pregação. Trata-se de um desvio monstruoso na cosmovisão que o localiza mais perto do farisaísmo que de Cristo. Afinal, se o pecado alheio só suscita surpresa e indignação, em vez de compaixão, provavelmente a santidade é superficial e exteriorizada. Como a dos fariseus.

Na Parte II, vou analisar outros efeitos desse desvio abordando as reações a eventos mais perto de nós.

 

30 outubro 2013

Na companhia dos fariseus

Tendências do coração se revelam no teor das perguntas do tipo pode/não pode: Crente pode ouvir música "do mundo"? Pode ver filmes de terror? Pode sair com amigos que não são cristãos? Pode? Pode? Pode?

Sem entrar no mérito de cada um desses assuntos, uma resposta não condescendente para todas as perguntas do tipo pode/não pode que não são diretamente abordadas pelas Escrituras é: você precisa se conhecer. Faça um autoexame: se você sente que, ao entrar em contato com "músicas do mundo", filmes de terror e amigos descrentes, você acaba se deixando levar por pensamentos e sentimentos anti-Deus em vez de encarar tudo isso redimidamente, com olhos cristãos, pense bem. Se o que está fora vai ecoar, incentivar e confirmar o que já está dentro, melhor não fazer. Essa é a visão correta: você precisará enfrentar as dúvidas sabendo que é dentro que se encontra o que está contaminado, não fora (Mt 15.11). Se você resiste a essas coisas externas na perspectiva de que elas vão contaminar a sua, digamos, "pureza interior", você está na companhia dos fariseus - e vai ser necessário cuidar desse problema em primeiro lugar.

28 outubro 2013

Santas chatices


“A ignorância da providência é o extremo de todas as misérias, e a suma bem-aventurança está em seu conhecimento.” João Calvino, Institutas, I, XVII, 13

Minha vida é cheia de chatices por causa da saúde. Sou enxaquecosa e tenho várias intolerâncias alimentares. Isso significa que, se você vai me convidar para passar um tempo na sua casa – os amigos mais chegados já sabem – , há um verdadeiro manual de instruções para meu bem-estar...

A coisa já começa com o horário das passagens. Se eu tiver que acordar no meio da noite ou se meu voo varar a madrugada, no dia seguinte é certo que terei uma baita dor de cabeça. Preciso dormir cedo e acordar cedo, e sempre no mesmo horário. Rotina, a grande amiga dos enxaquecosos: essa é a primeira limitação.

A segunda diz respeito ao que eu como e me torna o terror dos garçons nos restaurantes. Vocês usam óleo de soja para preparar a comida? Não posso nada com soja: desregula totalmente os hormônios e me dá enxaqueca. Tudo tem de ser preparado no azeite. Vocês usam temperos artificiais? O glutamato monossódico é um veneno para mim, ativador das piores crises! Além disso, preciso ficar longe do glúten, do leite e seus derivados (um queijinho ou manteiguinha de vez em quando, vá lá), e preciso ficar atenta para não consumir muito açúcar. Ah, café, nem pensar.

Ufa! É uma vida um tanto ascética. Mas eu agradeço muito a Deus por tudo isso. Por dois motivos; o primeiro, mais óbvio, é que essas suscetibilidades me obrigam a comer muito saudavelmente: sem restrições para frutas, legumes, carnes e ovos. (Medo do colesterol? Dr. Alexandre Feldman, especialista em enxaqueca, desfaz esse mito e recomenda há anos a gordura animal e o ovo. Se você tem dúvidas, até a imprensa não especializada está divulgando essas informações.)

O segundo motivo é menos óbvio, mas não menos importante: através desse cuidado que preciso ter comigo mesma e recomendar aos outros, Deus trabalha meu coração para acolher mais serenamente minha fragilidade. E Ele sabe o quanto isso era difícil para mim.

Claro que não pretendo esgotar os sentidos de Deus para essas santas chatices. Afinal, como cita Calvino em suas Institutas (I, XVII, 2), os juízos divinos são “abismo profundo” (Sl 36.7). Mas discernir alguns deles – e concordar com Deus quanto a sua necessidade – já é motivo de grande alegria!

25 outubro 2013

Bendito medo

"Medos imoderados e supersticiosos, de que sofremos muitas vezes diante dos perigos, não podem ser corrigidos e apaziguados de outra forma." Calvino, Institutas, I, XVI

Se foi o medo da indeterminação,
da inconstância e do acaso
o que me fez apegar-me
ao secreto desígnio de Deus
com todas as minhas forças emocionais,
bem, então creio poder dizer
desde o começo:
bendito foi o medo!
Porque é ele que me faz
recorrer ao remédio correto
do poder de Deus sobre tudo,
inclusive sobre mim mesma.
Por isso eu peço,
Senhor, livra-me do medo,
que tanto me atormenta nesta carne,
mas livra-me somente quando
eu não tiver mais sombra de dúvida
quanto ao alcance da tua divindade -
para que o medo seja também aio,
e que cada golpe que o enfraqueça
confirme a certeza da tua bondade.

24 outubro 2013

Audácia da Pilombeta!

Por muito tempo, resisti à leitura que André me indicava: Ira, arrancando o mal pela raiz, de Robert D. Jones. Quando enfim cedi - pois é, no fundo eu não queria tratar da minha ira -, fiquei maravilhada, tanto com a definição (resposta ativa, pessoal e integral contra uma injustiça percebida) quanto com a distinção fundamental que nos ajuda a qualificá-la de pecaminosa ou justa. Na verdade, são três critérios que caracterizam a ira justa (p. 35-6):

1- Ela reage contra pecados reais
2- Ela focaliza Deus e seus interesses (e não os nossos)
3- Ela coexiste com outras qualidades piedosas e se expressa de maneira piedosa

O primeiro critério me pareceu evidente, mas foi humilhante perceber que mesmo essa evidência nunca bastou para que eu deixasse de me irar contra pecados inventados. (Pergunta para depois: será que as mulheres são mais propensas a inventar males que os homens?) Já o 2 e o 3 foram de fato revolucionários para mim, pois eu tendia a considerar a maior parte de minha ira como justa, e essas observações inverteram radicalmente a proporção. A partir disso, passei a incorporá-las no meu pensamento frequente sobre a ira - o que aliás provocou grande tristeza no início, pois me vi quase sempre pecaminosamente irada. Foi quando comecei a usar a expressão "audácia da Pilombeta".




Quem via Os Trapalhões quando criança deve se lembrar. Quando alguém avançava furioso contra Didi Mocó (personagem do Renato Aragão), ele colocava as mãos na cintura e exclamava com a voz fina: "Audácia da Pilombeta!" Era muito comum que o ator que contracenava com ele não conseguisse segurar o riso!

Então, agora eu também chamo a ira pecaminosa de "audácia da Pilombeta". Quando você se sente pessoalmente atingido por algo - como se o pecado do outro dissesse respeito a você, sentado todo pomposo na sala do trono, e não Deus - e reage daquela forma ridícula com que todos reagimos, vociferante e nada piedosa, pense no Didi respondendo: "Audácia da Pilombeta!" Acho que isso deve ajudar a colocar as coisas em perspectiva. :-)

23 outubro 2013

Idolatria e cooperação


Pense no cisco e na trave dos olhos (Mateus 7.1-5) de modo mais específico, como os afetos não-regenerados do coração ou seja, aqueles que nos afastam de Deus e nos aproximam de ídolos. Jesus é claro quando diz que só poderemos ajudar os irmãos em suas idolatrias quando estivermos cônscios das nossas. Isso significa várias coisas. Primeiro, precisamos partir de uma compreensão pessoal, profunda e detalhada de pecado original. Paulo se declarou “o principal dos pecadores” (1 Timóteo 1.15) – sim, ele enxergava a trave... Se estivermos coram Deo – diante do Deus que é a luz do mundo (João 8.12) – , certamente veremos o que se passa conosco no íntimo, progressivamente, e sempre bem mais do que vemos nos outros (no olho deles, é cisco; no nosso, é trave). Logo, ao vislumbrar a miríade de ídolos e resquícios de ídolos no nosso coração, não seremos impiedosos quando percebermos um idolozinho no coração do irmão, pois nossa trave estará sempre diante de nós. A aplicação pessoalizada do conceito de pecado original é o que nos proporciona compaixão – sentir a dor do outro por identificar-se com ela.

Por outro lado, Deus fez as coisas de um modo muito interessante (1 Coríntios 12.14-18): às vezes nós nos tornamos como que especialistas em certas idolatrias, seja porque Deus nos ajudou a vencê-las no passado, seja porque nossa tendência é nos alinhar com o ídolo oposto – então, fica mais fácil enxergar aquele(s) que não cultuamos. Essa habilidade de percepção segundo cada ídolo é o que proporciona à igreja a ajuda mútua: quando conheço alguns dos ídolos que me fascinam e alguns dos que não me fascinam, consigo ajudar os irmãos que não estejam percebendo os ídolos que os fascinam, e vice-versa – ou seja, meu conhecimento, sendo sempre parcial, precisará do complemento do outro para que eu tenha um vislumbre mais amplo do terrível panteão das idolatrias humanas.

Por isso, não faz sentido entrincheirar-se por trás de um discurso condenatório porque determinado setor da igreja (permanecendo fiel às doutrinas mais básicas da fé cristã) cultiva certa idolatria. Mas e as idolatrias presentes no seu setor? Já lidou com elas? Pois é: neste mundo, nenhum cristão fiel está isento de ídolos. Crer nisso é o mesmo que crer-se livre de pecados – que em si mesmo é pecado (1 João 1.8). Portanto, não devemos agir como se não tivéssemos laços com ídolo algum, como se pairássemos acima do mundo dos homens. É um grande desejo meu que a igreja assuma um tom mais misericordioso ao lidar com a idolatria dos irmãos. Que Deus me ajude, em primeiro lugar, nesse caminho de humildade e discernimento.