27 janeiro 2016

Livro novo!

Entre leituras e trabalhos do Jumper, revisões, dores de cabeça e arritmias, ainda deu tempo de juntar um material de palestras e compor um livrinho para a Vinacc. É coisa pequena e simples, mas valiosa. Obrigada, Senhor!
Aqui vai o texto da contracapa. A foto foi feita pela querida Nathalia Chalegre na nossa igreja, Presbiteriana do Pirangi.
Este livro ajudará o leitor a perceber como a fé cristã oferece direção para todas as esferas da vida, inclusive a cultura, e como é possível ao cristão relacionar sua fé com este mundo de modo que possa transformar a cultura de seu lugar e seu tempo. 
Escrito de modo cativante e claro, a autora demonstra os benefícios que a fé cristã legou à cultura, alerta para os recente e perigoso movimento de secularização e oferece ao leitor uma proposta de posicionamento para que “nos tornemos menos parecidos com o mundo e sejamos mais parecidos com Cristo”. 
Norma Braga Venâncio é doutora em Literatura Francesa pela UFRJ e mestranda em Teologia Filosófica pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper (Universidade Mackenzie). Publicou A mente de Cristo: conversão e cosmovisão cristã pela editora Vida Nova. É casada com André Venâncio e mora em Natal, RN.



21 janeiro 2016

Música que é a cara do Brasil - 1929




Refrão:
Quando nos saímos do norte
Foi pra no mundo mostrar
Como cantar aqui nesta terra
Um bando de tangarás

Uma madama pra fazer economia
comprou as perfumarias num tutu que ela encontrou
Saiu pra rua perfumada em todo canto
o perfume fedeu tanto que a madama desmaiou, ai…

Meu tangará, meu curió meu terra-a-terra
E o meu canário da terra que é danado pra cantar
Eu tambem canto uma semana um mês inteiro
E quando eu canto no terreiro inté a lua quer sambar, ai…

Eu fui fazer minha compra na feira
Eu vi tanta roubalheira de se encabular
Tava um sujeito de roubar com uma tal febre
Vendendo gato por lebre, ratazana por gambá, ai…

Na sepultura que eu fiz pra minha famia
Tinha um freguês por dia para se enterrar
Na minha vez quando eu cheguei ao pé da cova
Apesar de ela ser nova jé não tinha mais lugar, ai…

E lá no norte quando é boa a brincadeira
Lá tem bala e tem madeira, tem tabefe tem punhá
Mas eu não temo nem cacete e nem garrucha
Levei dez tiros na fuça e depois disso eu fui sambar, ai…

Dei um emprego ao filho do Zacaria
Só das onze ao meio dia que tinha que trabaiá
Mas o malandro pegar peso não podia
E além disso inda queria hora e meia pra almoçar, ai…

19 janeiro 2016

Nota Pública sobre debates entre calvinistas e arminianos

Diante da recorrência de discussões e ataques pessoais realizados no âmbito eclesiástico, na internet e nas redes sociais, especialmente entre calvinistas e arminianos para a defesa de posições teológicas, NÓS, abaixo subscritos, vimos a público emitir a presente nota:
Reconhecemos a importância e a historicidade do debate teológico dentro da tradição cristã como meio de defesa e salvaguarda da verdade e, consequentemente, da ortodoxia bíblica. 
Apoiamos a produção e a reflexão teológica realizada no ambiente da internet, em virtude de seu caráter democrático e do livre curso de ideias, como corolário da Reforma Protestante.
Repudiamos, todavia, que para a defesa de posições teológicas haja discussões e ataques pessoais realizados em nome da fé, que promovem dissensões, inimizades e escândalo ao nome de Cristo. Rejeitamos, assim, todo e qualquer conteúdo difamatório, ofensivo e jocoso, ainda que a pretexto do humor, produzido contra irmão de vertente religiosa diversa, que atente contra sua honra e imagem.
Entendemos incompatíveis com os preceitos que devem reger a conduta dos discípulos do Mestre posturas antiéticas que estimulam a zombaria, o desrespeito e o escárnio, baseado em dolo, distorções e mentiras. 
Discordamos das publicações anônimas, especialmente quando realizadas com o objetivo de provocar animosidade e discórdia entre os cristãos. Além de ser proibido constitucionalmente (Art. 5o, IV), o anonimato atenta contra os princípios bíblicos da transparência (2Co 3.18), sinceridade (Tt 2.7) e honestidade (1Tm 2.2).
Relembramos que a calúnia, a injúria e a difamação são crimes contra a honra, de acordo com o Código Penal Brasileiro, os quais não se coadunam com o caráter do verdadeiro cristão, que deve expressar o fruto do Espírito (amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança), conforme Gálatas 5.22.
Aconselhamos os cristãos piedosos a não dar audiência a páginas e grupos que promovam tais ofensas.
Defendemos e incentivamos a exposição de convicções cristãs, bem como o debate teológico na internet e nas redes sociais, de modo irênico, ou seja, de espírito pacífico (Rm 12.18), com cordialidade e respeito. A discordância e a confrontação das ideias alheias, quando for o caso, devem ser conduzidas com ética, honestidade intelectual e de maneira objetiva, sem denegrir e atacar o oponente.
Asseveramos que a produção teológica é, sobretudo, um ato de glorificação a Deus. Discussões, pois, que se desenvolvem com o único propósito de vencer desavenças intelectuais, baseadas em disputas do ego, estão longe de honrar o nome de Cristo. A determinação bíblica de “falar o que convém à sã doutrina” (Tt 2.1) exige coragem, mas também responsabilidade, para os cristãos em geral e os pastores em particular, os quais devem ser, dentre outras coisas, “irrepreensíveis, honestos, moderados, aptos a ensinar, não contenciosos...” (1 Tm 3.2,3).
Citamos, a propósito, as palavras de J.I. Packer: “Se a nossa teologia não nos reaviva a consciência nem amolece o coração, na verdade endurece a ambos; se não encoraja o compromisso da fé, reforça o desinteresse que é próprio da incredulidade; se deixa de promover a humildade, inevitavelmente nutre o orgulho. Assim, aquele que expõe teologia em público, seja formalmente, no púlpito ou pela imprensa, ou informalmente, em sua poltrona, deve pensar muito sobre o efeito que seus pensamentos terão sobre o povo de Deus e outras pessoas".
Recomendamos, assim, a importância da constante elevação bíblica e espiritual do nível dos debates teológicos. E caso nos deparemos com um irmão em Cristo com postura inadequada e não condizente com a ética e pratica cristãs, que ele seja repreendido, mas que em tal ato não falte educação e principalmente amor.
Reconhecemos as diferenças marcantes historicamente existentes entre as tradições calvinistas e arminianas, notadamente em referência à doutrina da salvação. Todavia, tais divergências teológicas não suplantam a comunhão cristã que deve haver entre os irmãos dessas duas vertentes da cristandade. Em uníssono, à luz das Escrituras Sagradas, enfatizamos que a salvação somente se alcança em Cristo somente, mediante a graça somente, pela fé somente (Rm 3.24; Ef 2.8; Tt 2.11).
Finalizamos com a menção ao episódio em que o calvinista George Whitefield foi perguntado se esperava ver o arminiano John Wesley nos céus. Sua resposta foi: “Não. John Wesley estará tão perto do Trono da Glória, e eu tão longe, que dificilmente conseguirei dar uma olhadela nele”. Assim se tratam verdadeiros cristãos que discordam em questões de soteriologia, mas que não fazem nada por contenda ou vanglória, e consideram os outros superiores a si mesmos (Fp 2.3). E, sobretudo, estes sabem o preço custoso com que foram comprados por Cristo Jesus.
18 de janeiro de 2016.
Augustus Nicodemus Lopes, pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia-GO.
Altair Germano, pastor da Assembleia de Deus - Itália, escritor.
Carlos Kleber Maia, pastor da Assembleia de Deus - RN, escritor de obra arminiana.
César Moisés de Carvalho, pastor da Assembleia de Deus, teólogo, escritor.
Ciro Sanches Zibordi, pastor da Assembleia de Deus na Ilha da Conceição em Niterói - RJ, escritor e articulista.
Clóvis José Gonçalves, membro da igreja O Brasil para Cristo e editor do blog Cinco Solas.
Davi Charles Gomes, Chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie-SP.
Euder Faber Guedes Ferreirapastor, presidente da VINACC (Visão Nacional para a Consciência Cristã).
F. Solano Portela Neto, presbítero da Igreja Presbiteriana do Brasil, conferencista e autor reformado.
Franklin Ferreira, pastor batista, diretor geral do Seminário Martin Bucer-SP.
Geremias do Couto, pastor da Assembleia de Deus, escritor.
Glauco Barreira Magalhães Filho, pastor batista – CE, professor universitário, escritor.
Gutierres Fernandes Siqueira, membro da Assembleia de Deus – SP, editor do blog Teologia Pentecostal.
Helder Cardin, pastor batista, reitor do Seminário Palavra da Vida-SP.
Jamierson Oliveira, pastor batista, teólogo, escritor.
Jonas Madureira, pastor batista, editor de Edições Vida Nova e professor do Seminário Martin Bucer.
José Gonçalves, pastor da Assembleia de Deus - PI, teólogo, escritor.
Magno Paganelli, pastor da Assembleia de Deus – SP, teólogo, escritor.
Marcos Antônio Moreira Guimarães, professor de teologia, obreiro da Assembleia de Deus - MT.
Mauro Fernando Meister, diretor do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper-SP.
Norma Cristina Braga Venâncio, escritora, membro da Igreja Presbiteriana do Pirangi, Natal-RN.
Paulo Romeiro, pastor, teólogo, escritor.
Renato Vargens, pastor da Igreja Cristã da Aliança de Niterói-RJ.
Solon Diniz Cavalcanti, pastor, teólogo, presidente do CEAB Transcultural.
Thiago Titillo, pastor batista, professor, escritor.
Tiago José dos Santos Filhopastor batista, editor-chefe da Editora Fiel, diretor pastoral do Seminário Martin Bucer-SP.
Uziel Santana, presidente da Anajure (Associação Nacional de Juristas Evangélicos).
Valdeci do Carmo, obreiro da Assembleia de Deus, teólogo, coordenador do curso de Teologia das Faculdades Feics, Cuiabá/MT.
Valmir Nascimento Milomem Santos, teólogo da Assembleia de Deus, professor universitário, editor da revista Enfoque Teológico.
Wallace Sousa, evangelista da Assembleia de Deus, DF, escritor, pós-graduado em teologia, coordenador da União de Blogueiros Evangélicos.
Wellington Mariano, pastor da Assembleia de Deus, escritor e tradutor de obras arminianas.
Wilson Porte Junior, pastor batista e professor do Seminário Martin Bucer.
Zwinglio Rodrigues, pastor batista, escritor de obra arminiana.

11 janeiro 2016

Palestras em Natal


Morre David Bowie




Antes de me tornar cristã, eu depositava minha confiança em uma divindade que oscilava entre o Deus cristão e o “deus interior” (ou força impessoal), um híbrido mal-ajambrado que sintetizava em minha mente as influências do meio em que eu circulava (espírita e esotérico) — alguém a quem eu orava vez ou outra enquanto conservava a certeza de que eu mesma era meu próprio Deus.

Isso começou a ser quebrado através de uma música de David Bowie chamada Quicksand (“areia movediça”). O refrão era anunciado pelas palavras “Não tenho mais o poder”, para arrematar: “Não acredite em si mesmo”. A cada vez em que ouvia essa música belíssima (e um tanto depressiva), sentia um tiro no coração que espatifava o tal deus interior. Mostrei-a para minha melhor amiga na época — que partilhava resolutamente de meus híbridos conceitos religiosos — e observei: “Mas não é um orgulho imenso esse negócio de acreditar em si mesmo?” Era o prenúncio de que em breve eu conheceria o verdadeiro Deus.

(Trecho de meu livro A mente de Cristo, publicado pela Vida Nova)

08 janeiro 2016

O filme cristão Quarto de Guerra



Semana passada, eu e André fomos ver um "filme cristão" - categoria que vem ganhando os espaços do cinema. Eis aqui minhas impressões. War Room (em português, Quarto de Guerra) não é um mau filme. Não é uma obra-prima artística, mas também não é perda de tempo. De forma geral, o Evangelho está presente, bem como a centralidade em Jesus. A história é interessante, os atores não fazem feio, as tiradas de humor - peculiarmente focadas em maus cheiros corporais - são eficazes e se integram bem ao todo. Há algumas pentequices, mas, como não sou uma reformada antipenteca, isso não me incomodou. No entanto, saí do cinema um tanto fustigada, como se a experiência tivesse sido negativa em algum nível que não consegui imediatamente compreender.

Esse artigo (em inglês) me ajudou a entender um pouco o porquê. Richard Brody aplica ao filme o termo "sanitizado" para referir-se à ausência total de balizas culturais na história. É algo que sempre me chateou, por exemplo, na série Friends, em que os personagens vivem em um vácuo inexplicável de leituras e arte. O mesmo ocorre em Quarto de Guerra. No contexto protestante, essa falta adquire um tom mais macabro, por causa do fenômeno descrito por Francis Schaeffer em O grande desastre evangélico e que eu costumo chamar, em minhas palestras, de "alienação": o cristianismo que se pensa ortodoxo (em contraposição ao sintético) meteu-se em um gueto cultural autodefensivo cuja crítica está apenas esboçada. No Brasil, muitas denominações ainda mantêm seus membros afastados de músicas, filmes, livros etc. considerados "do mundo". Quarto de Guerra não defende essa postura, mas também não desafia as fronteiras do gueto - e uma das consequências desse alheamento é apontada pelo autor do artigo muito acertadamente: a descrição pobre do mal, com seus atrativos e suas profundidades. Sim, Jesus salva - mas do quê? No que consiste a luta cristã? Quarto de Guerra faz parecer tudo muito simples e rápido, e a isso reagi mal emocionalmente, pois nada foi simples e rápido na minha vida cristã; muito pelo contrário. Assim, saí da sala sentindo o desconforto de um filme que representa pouco minha vivência e a de incontáveis outros cristãos.

Daí minha ênfase na descrição mais acurada do mal - no caso, da idolatria - que foi todo o objeto de minha dissertação de mestrado em Teologia Filosófica no Andrew Jumper.

05 janeiro 2016

Alegria e aceitação

Nunca entendi por que Should Have Known Better, de Surfjan Stevens, provoca em mim uma alegria inexplicável, misturada a uma espécie de sentimento de aceitação. O texto que descobri hoje me explica um pouquinho por quê.

Mais longe na periferia cultural: MEC consolida desenvolvimentismo na educação

Saiu hoje no Globo uma denúncia aterradora do historiador Marco Antonio Villa. Afirma ele que mudanças propostas pelo Ministério da Educação - a serem aprovadas até junho deste ano - equivalem a "culto à ignorância" e "crime de lesa-pátria". As novas diretrizes levam às últimas consequências os postulados do politicamente correto: "histórias ameríndias, africanas e afro-brasileiras" são o foco atual. A ênfase na raça e na geografia não é nova, mas sim um prolongamento lógico de uma tradição já descrita e criticada por Mario Vieira de Mello em Desenvolvimento e cultura, o desenvolvimentismo. Ao consolidar-se nesse currículo, tal tradição, que buscou em Marx as bases para uma identidade nacional, aprofunda agora o problema antigo para o qual apontou Mello: o abandono de considerações das ideias europeias. Agora, com a Europa devidamente apagada dos estudos históricos, efetua-se por canetadas o triunfo final de toda uma linha de pensamento cuja única preocupação é marcar uma orgulhosa diferença, racial e geográfica, em relação ao Velho Continente. Ou seja, um antieuropeísmo que nos situa em uma periferia mais distante ainda da cultura ocidental, ao lado de um brasileirismo que quer triunfar na marra, não por seus próprios méritos, mas por decretos ressentidos.
Homeschoolers serão ainda mais necessários, caso isso se torne realidade. E nós, educadores e críticos sociais, precisaremos mais que nunca de Vieira de Mello e seus continuadores para compreender os rumos do país, alertando e ensinando direito as novas gerações.