15 junho 2005

Uma pausinha para falar de política brasileira

Sim, há uma mistureba danada nas motivações de Jefferson: vingança, com certeza, por ter sido desapachado como bode expiatório na CPI dos correios ; talvez ódio pela desfaçatez do mensalão, que compra consciências e poder de fogo, e nem todos os políticos põem o dinheiro acima da ambição do poder; talvez, também, um desejo real de moralizar parte da quadro político, um patriotismo tardio enfim em operação. O modo como estão presentes e entrelaçadas todas essas motivações tão desencontradas, nunca saberemos. O fato é que ele mesmo disse que não é nenhum santo. E a imagem que usou da historinha do sapo (o PTB) que atravessa o escorpião (a bancada do PT) pelo rio e acaba ferroado por ele é ótima, porque como sapo reconhece que, já que a morte pelas ferroadas é certa, está se afundando para afundar junto o escorpião. Nisso, fica transparentíssimo o seu intento: um suicídio que arrasta consigo os inimigos, tal como os homens-bomba. Em tudo isso, moralmente condenável, sim. Mas acredito que está, tal como deu no detector de mentiras, falando a verdade em quase todo o seu depoimento. E por isso me alegro: não pela pessoa de Roberto Jefferson, suas motivações, suas intenções. Mas pela verdade que está sendo posta à luz.

Embora, no fundo, saiba que podemos esperar tudo - absolutamente tudo - a partir dessa grande movimentação.

Por isso me divido: alegria pela verdade que vem à luz de modo inaudito em tantos anos de politicagem no Brasil; e um grande temor pelas conseqüências das sacudidas, que são, a meu ver, impossíveis de serem previstas.

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