15 junho 2005

Lama em ouro: a Estetização Total

De Charles London:

"Agente Smith - Vocês viram o Dirceu, com aqueles óculos de agente do Matrix? É a melhor dele, sem dúvida! Nunca uma fotografia foi tão fiel ao caráter de uma personagem; nunca uma personagem foi tão fiel a uma fotografia. Nem a SS hitlerista com aquelas caveirinhas tinha estética mais apropriada! É tese nossa - atenção aí, patrulheiros rodoviários e universitários! -, que o fenômeno petista e hitlerista era essencialmente estético, isto é, ele não era para funcionar, mas para impressionar! Não se pode cobrar funcionalidade de um regime que só tem sentido estético mesmo quando por causa dele milhões vão pras cucuias. Precisamos é de uma CPE (Comissão Parlamentar de Estética) para avaliar isso, porque o que vemos agora, e que muitos insistem em chamar de corrupção, é na verdade um arsenal de recursos artísticos, de criatividade, de poiesis (humm!)! Aqueles óculos do Dirceu dizem tudo – Matrix é tudo isso aí; é a nossa maya!"

É isso aí: hoje, estamos vivendo em plena era da Estetização Total, impulsionadíssima já no século dezenove por Charles Baudelaire e seu recueil de poemas As Flores do Mal. Sobre a obra, ele mesmo a descreve assim ao leitor: "você me dá lama, eu lhe devolvo ouro". É a nossa época, é o nosso Brasil: ouro por fora, lama por dentro. Afinal, é impossível crer que, com lama como matéria-prima, o ouro seja verdadeiro, sem ter perdido quase que por completo a noção de realidade. A transmutação da lama em ouro só pode se dar na visão interior (e apenas interior!) do "sujeito moderno".

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