07 outubro 2013

Passado neopenteca

Como os leitores já sabem, esta semana estarei na Conferência Fiel para Pastores e Líderes. Você poderá acompanhar as palestras ao vivo aqui. Enquanto isso, preparei três postagens para toda a semana (segunda, quarta e sexta).

Visitei ontem o blog do pastor gaúcho Jackson Jacques. Sua história é interessante: depois de alguns anos de loucuras aditivas no neopentecostalismo, ele foi ajudado pelo ministério do Vinícius e do Yago, Voltemos ao Evangelho, e abandonou tudo aquilo por um Evangelho mais bíblico. Assista a esses dois vídeos hilários dele: um sobre danças no culto (com uma argumentação bastante sólida e bíblica) e outro sobre seu passado neopenteca (que não o condena, pois foi resgatado e perdoado por Cristo, hehehe!).

Eu também tive um passado neopenteca - que, no meu caso, durou apenas alguns meses. O rapaz que me evangelizou (conto a história em meu livro) frequentava uma igreja na zona sul do Rio que era conhecida por certas extravagâncias, como o cai-cai nos cultos, um bloco de carnaval para evangelismo e o atendimento espiritual em barracas na praia de Copacabana na noite do Réveillon. As barracas eram uma verdadeira pegadinha para quem tinha o hábito de se consultar com espíritos, mostrando placas com o nome "Pai das Luzes" (muito criativo!) e aconselhando as pessoas a voltarem para Deus através de Cristo. Por mais que admirasse o dinamismo daquela igreja, naquela época eu já não gostava muito da pregação, que achava personalista e pouco centrada no texto bíblico. Meu amigo me disse que eu me identificaria mais com a pregação de outro pastor, Caio Fábio (em sua fase mais fiel), que na época era substituído com frequência por Antônio Carlos Costa. De fato, eu me encantei com as pregações de ambos, que davam atenção direta e minuciosa à Bíblia e me remetiam a uma versão cristã das aulas de literatura na Faculdade de Letras. Foi por causa desse ministério que eu me tornei presbiteriana e calvinista, há quase vinte anos. Reconheço que fui abençoada por muitos irmãos pentecostais e neopentecostais, principalmente no início da vida cristã. Hoje, porém, constato que, se não fosse a ênfase calvinista - que, tal como a Bíblia, tem tolerância zero a qualquer honra dada ao homem - , eu jamais teria permanecido no Evangelho, pois àquela altura eu já tinha a certeza mais absoluta de que, se meu estado espiritual dependesse um milímetro de mim mesma, minha situação seria a pior possível.

Aproveito então para perguntar ao leitor: a teologia pregada e vivida em sua igreja dá toda honra a Deus, como é devido (Salmo 115, Efésios 2.8-10), ou deixa algum espaço para honra aos homens? Na Bíblia, a honra aos homens é o fermento dos fariseus (Mateus 16.8-12). Qualquer espaço para humanismo, por menor que seja, acabará "levedando toda a massa" (Gálatas 5.9). Tudo o que temos foi dado por Deus. Ele não precisa de nada (Atos 17.25). Essa é a constante novidade de vida (Romanos 6.4) da vida cristã: enquanto o pecado nos faz inquietos e autocentrados, buscando glória própria e curvando-nos sob um peso desnecessário, nosso Pai nos leva a Seus pés para descansar e adorar na graça que vem Dele, e só Dele. Que a sua teologia o faça descansar - esse é meu desejo para sua vida!

P.S. Se alguém se sentiu atingido por essa postagem, enxergando-se como neopentecostal, convém esclarecer com todo carinho: os rótulos, aqui, são o que menos importa. Estive em uma presbiteriana cuja pregação poderia muito justamente ser chamada de "impressionista", tão longe estava da Palavra. Por outro lado, confesso que uma das melhores pregações que já ouvi - e que teve frutos significativos na minha vida e de meu marido -  foi em uma igreja cujos membros se denominavam "neopentecostais". Deus é maravilhoso e usa a quem Ele quer, do jeito que quer. Além disso, escolher uma denominação ou um "braço" da igreja é sempre uma operação de contenção de danos: como somos pecadores, há erros e desvios por toda parte, e só nos livraremos deles no céu. Dito isso, vejo-me hoje como reformada, mas espero nunca fechar os olhos para as ênfases erradas de meu meio, esteja onde estiver.

11 comentários:

Anônimo disse...

Também passei pelo neopentecostalismo! No início, foi bom, mas quando precisei de alimento sólido não tive. Parabéns por tocar nesse assunto! Que o Senhor continue te abençoando...

almeida disse...

Que bacana referir-se ao Caio Fábio de forma positiva. Bem como ao ACC. São pessoas hoje que, cada uma ao seu modo, andam bem longe do radicalismo e fundamentalismo que caracterizam a senhora, o tempora etc. Como alguém que trata de 'cosmovisão', como não reconhecer no 'doutrinismo' um gnosticismo? E como seres humanos caídos são capazes de uma teologia perene, como a que foi esboçada no século XVI/XVII e até hoje é 'a' teologia correta? Bem poderias responder a este post do Caio. Topas o desafio? http://www.caiofabio.net/conteudo.asp?codigo=06408

Norma disse...

Obrigada, Marcio!

Almeida, achei engraçado alguém me tratar de "senhora" e me insultar ao mesmo tempo. Obrigada pela sugestão de postagem. Eu reconheço muito mais coisas do que você imagina. Vou tratar do assunto sim, respondendo ao Caio ou não.

Sergio R Oliveira disse...

Muito boa as suas palavras, Norma. Infelizmente há quem irá pender para um lado ou para o outro. Não importa. Que o Senhor te abençoe e te guarde e te faça sempre centrada na palavra, não deixando-te desviar nem para a direita nem para a esquerda. "Sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida". Alguns nomes aqui citados marcaram nossas vidas, mas hoje vejo você propagando as marcas que Jesus marcou e deixou para nós. Gosto de pensar no que Ele mesmo disse: "Se vocês crerem em mim farão as mesmas obras que eu faço e outras maiores". Saudações querida, Norma.

Dani Lima disse...

Fiquei nessa 20 anos de unção em unção, a diferença do vídeo dele pra minha vida é só "uma", a minha onda vinha lá do g12 com muiiiita estrela de Davi!

Más não me canso de contar que depois de td este tempo me senti esgotada e sai, ficando "desigrejada e caiofabiana" até que num SANTO dia assisti a pregação de Augustos Nicodemos O Verdadeiro Culto a Deus, hj o considero um verdadeiro mestre da palavra que me ajudou d+ através de seu blog até hj quando ouço um termo novo dou busca lá no Tempora pra entender e agora tenho feito a mesma coisa aqui com vc em relação a politica o que considero um verdadeiro desafio saber o que fazer em quem votar, tem me fritado a cabeça conto com vc nesta empreitada Norma, abração.

Sergio R Oliveira disse...

Que o Senhor use seus lábios para o engrandecer dEle no congresso. Pr. Nicodemos, uma benção. Todos precisam lembrar que a "glória do Senhor não será dada a ninguém." Estamos juntos, mana.

almeida disse...

Bem, não considero que a ofendi. Fui, no máximo, um pouco rude, vá lá. Afinal, conservados e fundamentalistas são mesmo. Há como negar? Penso que nem queres... Minhas desculpas, no entanto. E aguardamos as considerações propostas...

Norma disse...

Obrigada, pessoal! O congresso Fiel aqui está maravilhoso. D.A. Carson pregou um sermão que eu nunca vou esquecer. Assim que puder, depois do congresso vou fazer um resumo de tudo o que ouvi. :-) Abraços a todos!

Norma disse...

Almeida, existe um tipo de "fundamentalista" com o qual nunca entrei em contato direto, mas sei que existe por meio das palavras de outros. Com esse não quero me identificar, não. Depois escrevo mais sobre isso!

Aprendiz disse...

Norma

Bonito o seu texto. Sou arminiano e pentecostal, e fico feliz em ver uma calvinista que tem um tom suave para com os irmãos que tem convicções diferentes. Você é como o Paul Washer, luta forte contra o diabo, mas tem o cuidado de não machucar os irmãos.

Quanto ao termo neopentecostal, talvez o problema seja com o fato de ser amplo demais. Engloba, de um lado, irmãos que considero cristãos muito fortes, equilibrados e úteis ao evangelho, e do outro lado, pessoas confusas, desviadas, ou até inimigos camuflados que destroem a vida das pessoas. Neste caso, o rótulo talvez traz mais confusão do que clareza.

Norma disse...

Obrigada, Aprendiz!

Não podia ser diferente, pois fui evangelizada por um pentecostal, me converti entre pentecostais e fui muito abençoada por eles. :-) E tenho bons amigos pentecostais!

Também não gosto do rótulo e o evito, ou só uso com as ressalvas que apontei no texto.

Abraço!