31 outubro 2013

A imaturidade nossa de cada dia (Parte I)

Hoje, dia da Reforma, é uma ótima ocasião para refletirmos sobre isso. :-)

Há não muito tempo - vou me furtar a fornecer detalhes porque meu objetivo é analisar o fenômeno, não apontar o dedo para pessoas - , um grupo de alunos evangélicos se revoltou porque o professor pediu um trabalho sobre a importância cultural de uma religião afrobrasileira. Com o apoio de seus pais, eles se negaram a escrever o tema, compondo em vez disso um texto sobre evangelização. Quando seus trabalhos foram logicamente recusados, responderam com um verdadeiro motim na escola.

Morro de vergonha ao ler sobre o episódio. O motivo é claro: tal atitude (e aqui me refiro mais aos pais que aos alunos) está tão recheada de pecados que é difícil começar a destrinchá-los. Em primeiro lugar, bem em consonância com nossa época, houve uma afronta direta à autoridade, quando deveria haver respeito e submissão; respeito e submissão só seriam possíveis caso houvesse a percepção de que o professor não estava pecando contra os alunos e contra Deus ao pedir-lhes tal trabalho; e o mais importante: faltou-lhes um terreno sólido para reagir biblicamente a tal ordem, somente possível caso eles compreendessem melhor o papel dos cristãos no mundo.

Vou devagar: diz Calvino, em consonância com a Bíblia (Atos 5.29), que só podemos desobedecer às autoridades caso elas nos ordenem desobedecer a Deus. O professor pediu aos alunos que pecassem? Não, obviamente. Toda religião pode ser analisada à luz de seu impacto cultural, e mesmo cosmovisões não-cristãs têm seus momentos de verdade. Ainda assim, caso os alunos discordassem por completo do aspecto positivo desse impacto, deveriam ter sido orientados a sutilmente questionar o enunciado do trabalho, sem descumpri-lo. Poderiam fazer citações, como, por exemplo, "nos livros de história nós lemos que as religiões afrobrasileiras beneficiaram a nação nos pontos 1, 2 e 3", e no final acrescentar uma "opinião pessoal" sobre o que citaram. Desse modo, não teriam mentido nem ferido suas consciências, e ainda comunicariam ao professor alguma verdade sobre a fé cristã.

Para isso, bastaria que enxergassem o aspecto louvável da iniciativa do professor, que consiste no seguinte: por décadas a fio, o pressuposto de todo o ensino institucional tem sido materialista e ateu; quando alguém propõe que se fale de determinada religião em sala de aula, está quebrando uma gigantesca barreira e indiretamente cavando espaço para que os estudantes também falem de suas crenças. Onde eles apontaram uma solicitação intolerável, havia uma abertura para a pregação do Evangelho - que infelizmente, por imaturidade, eles não perceberam.

A chave para a compreensão disso não é um argumento, mas sim uma postura interior, que poderia ser descrita assim: em vez de esperar que o mundo aja em conformidade com a Palavra de Deus e esbravejar quando isso não ocorre (passividade e ira), nós salgamos o mundo, sabendo que todos os que têm algum contato conosco na vida são alvos potenciais da graça de Deus (atuação e amor).

Todo o episódio ilustra bem o que venho testemunhando com preocupação crescente: a adesão, por pessoas cristãs, a um conservadorismo cujas atitudes emblemáticas não têm sido tão cristãs assim. Com grande frequência, o conservador - ou seja, aquele que acalenta os valores cristãos remanescentes na cultura, lamenta a galopante descristianização do Ocidente e deseja o atraso ou a interrupção desse processo - se comporta como gente mimada que vê as coisas mudarem para pior e só reclama, reclama, reclama. Entendo que um não-convertido se sinta assim: só o cristão verdadeiro pode assumir sua missão de "estar no mundo sem ser do mundo" (João 17.15), ou seja, comprometer-se com o bem ao mesmo tempo em que se guarda do mal (Tiago 1.27). Mas, enquanto o esquerdista inventa uma moralidade própria para sentir que age em nome do amor (e promove destruição), muitos conservadores se refugiam na memória de tempos mais morais e se entrincheiram ali, como se o máximo a fazer fosse alvejar a bagunça do mundo com cusparadas.

Que o leitor não se engane: eu sou conservadora. Mas aprendi na carne, com dores, que não posso reproduzir acriticamente um comportamento comum de meu meio. E um dos mais constantes é a ira pecaminosa (escrevi sobre isso aqui). Que tristeza: o conservador cristão que coloca seu conservadorismo no lugar das ênfases bíblicas vive irado. Por quê? Porque - grande novidade - o mundo jaz no maligno! Como se o mundo devesse naturalmente obedecer a Deus sem nossa intervenção como anunciadores de Cristo. Ora, quem não consegue aceitar a realidade do pecado se revela incapaz de se posicionar redentivamente. E acaba percebendo o incrédulo como um alvo primordial de ira (humana!), não de pregação. Trata-se de um desvio monstruoso na cosmovisão que o localiza mais perto do farisaísmo que de Cristo. Afinal, se o pecado alheio só suscita surpresa e indignação, em vez de compaixão, provavelmente a santidade é superficial e exteriorizada. Como a dos fariseus.

Na Parte II, vou analisar outros efeitos desse desvio abordando as reações a eventos mais perto de nós.

 

30 outubro 2013

Na companhia dos fariseus

Tendências do coração se revelam no teor das perguntas do tipo pode/não pode: Crente pode ouvir música "do mundo"? Pode ver filmes de terror? Pode sair com amigos que não são cristãos? Pode? Pode? Pode?

Sem entrar no mérito de cada um desses assuntos, uma resposta não condescendente para todas as perguntas do tipo pode/não pode que não são diretamente abordadas pelas Escrituras é: você precisa se conhecer. Faça um autoexame: se você sente que, ao entrar em contato com "músicas do mundo", filmes de terror e amigos descrentes, você acaba se deixando levar por pensamentos e sentimentos anti-Deus em vez de encarar tudo isso redimidamente, com olhos cristãos, pense bem. Se o que está fora vai ecoar, incentivar e confirmar o que já está dentro, melhor não fazer. Essa é a visão correta: você precisará enfrentar as dúvidas sabendo que é dentro que se encontra o que está contaminado, não fora (Mt 15.11). Se você resiste a essas coisas externas na perspectiva de que elas vão contaminar a sua, digamos, "pureza interior", você está na companhia dos fariseus - e vai ser necessário cuidar desse problema em primeiro lugar.

28 outubro 2013

Santas chatices


“A ignorância da providência é o extremo de todas as misérias, e a suma bem-aventurança está em seu conhecimento.” João Calvino, Institutas, I, XVII, 13

Minha vida é cheia de chatices por causa da saúde. Sou enxaquecosa e tenho várias intolerâncias alimentares. Isso significa que, se você vai me convidar para passar um tempo na sua casa – os amigos mais chegados já sabem – , há um verdadeiro manual de instruções para meu bem-estar...

A coisa já começa com o horário das passagens. Se eu tiver que acordar no meio da noite ou se meu voo varar a madrugada, no dia seguinte é certo que terei uma baita dor de cabeça. Preciso dormir cedo e acordar cedo, e sempre no mesmo horário. Rotina, a grande amiga dos enxaquecosos: essa é a primeira limitação.

A segunda diz respeito ao que eu como e me torna o terror dos garçons nos restaurantes. Vocês usam óleo de soja para preparar a comida? Não posso nada com soja: desregula totalmente os hormônios e me dá enxaqueca. Tudo tem de ser preparado no azeite. Vocês usam temperos artificiais? O glutamato monossódico é um veneno para mim, ativador das piores crises! Além disso, preciso ficar longe do glúten, do leite e seus derivados (um queijinho ou manteiguinha de vez em quando, vá lá), e preciso ficar atenta para não consumir muito açúcar. Ah, café, nem pensar.

Ufa! É uma vida um tanto ascética. Mas eu agradeço muito a Deus por tudo isso. Por dois motivos; o primeiro, mais óbvio, é que essas suscetibilidades me obrigam a comer muito saudavelmente: sem restrições para frutas, legumes, carnes e ovos. (Medo do colesterol? Dr. Alexandre Feldman, especialista em enxaqueca, desfaz esse mito e recomenda há anos a gordura animal e o ovo. Se você tem dúvidas, até a imprensa não especializada está divulgando essas informações.)

O segundo motivo é menos óbvio, mas não menos importante: através desse cuidado que preciso ter comigo mesma e recomendar aos outros, Deus trabalha meu coração para acolher mais serenamente minha fragilidade. E Ele sabe o quanto isso era difícil para mim.

Claro que não pretendo esgotar os sentidos de Deus para essas santas chatices. Afinal, como cita Calvino em suas Institutas (I, XVII, 2), os juízos divinos são “abismo profundo” (Sl 36.7). Mas discernir alguns deles – e concordar com Deus quanto a sua necessidade – já é motivo de grande alegria!

25 outubro 2013

Bendito medo

"Medos imoderados e supersticiosos, de que sofremos muitas vezes diante dos perigos, não podem ser corrigidos e apaziguados de outra forma." Calvino, Institutas, I, XVI

Se foi o medo da indeterminação,
da inconstância e do acaso
o que me fez apegar-me
ao secreto desígnio de Deus
com todas as minhas forças emocionais,
bem, então creio poder dizer
desde o começo:
bendito foi o medo!
Porque é ele que me faz
recorrer ao remédio correto
do poder de Deus sobre tudo,
inclusive sobre mim mesma.
Por isso eu peço,
Senhor, livra-me do medo,
que tanto me atormenta nesta carne,
mas livra-me somente quando
eu não tiver mais sombra de dúvida
quanto ao alcance da tua divindade -
para que o medo seja também aio,
e que cada golpe que o enfraqueça
confirme a certeza da tua bondade.

24 outubro 2013

Audácia da Pilombeta!

Por muito tempo, resisti à leitura que André me indicava: Ira, arrancando o mal pela raiz, de Robert D. Jones. Quando enfim cedi - pois é, no fundo eu não queria tratar da minha ira -, fiquei maravilhada, tanto com a definição (resposta ativa, pessoal e integral contra uma injustiça percebida) quanto com a distinção fundamental que nos ajuda a qualificá-la de pecaminosa ou justa. Na verdade, são três critérios que caracterizam a ira justa (p. 35-6):

1- Ela reage contra pecados reais
2- Ela focaliza Deus e seus interesses (e não os nossos)
3- Ela coexiste com outras qualidades piedosas e se expressa de maneira piedosa

O primeiro critério me pareceu evidente, mas foi humilhante perceber que mesmo essa evidência nunca bastou para que eu deixasse de me irar contra pecados inventados. (Pergunta para depois: será que as mulheres são mais propensas a inventar males que os homens?) Já o 2 e o 3 foram de fato revolucionários para mim, pois eu tendia a considerar a maior parte de minha ira como justa, e essas observações inverteram radicalmente a proporção. A partir disso, passei a incorporá-las no meu pensamento frequente sobre a ira - o que aliás provocou grande tristeza no início, pois me vi quase sempre pecaminosamente irada. Foi quando comecei a usar a expressão "audácia da Pilombeta".




Quem via Os Trapalhões quando criança deve se lembrar. Quando alguém avançava furioso contra Didi Mocó (personagem do Renato Aragão), ele colocava as mãos na cintura e exclamava com a voz fina: "Audácia da Pilombeta!" Era muito comum que o ator que contracenava com ele não conseguisse segurar o riso!

Então, agora eu também chamo a ira pecaminosa de "audácia da Pilombeta". Quando você se sente pessoalmente atingido por algo - como se o pecado do outro dissesse respeito a você, sentado todo pomposo na sala do trono, e não Deus - e reage daquela forma ridícula com que todos reagimos, vociferante e nada piedosa, pense no Didi respondendo: "Audácia da Pilombeta!" Acho que isso deve ajudar a colocar as coisas em perspectiva. :-)

23 outubro 2013

Idolatria e cooperação


Pense no cisco e na trave dos olhos (Mateus 7.1-5) de modo mais específico, como os afetos não-regenerados do coração ou seja, aqueles que nos afastam de Deus e nos aproximam de ídolos. Jesus é claro quando diz que só poderemos ajudar os irmãos em suas idolatrias quando estivermos cônscios das nossas. Isso significa várias coisas. Primeiro, precisamos partir de uma compreensão pessoal, profunda e detalhada de pecado original. Paulo se declarou “o principal dos pecadores” (1 Timóteo 1.15) – sim, ele enxergava a trave... Se estivermos coram Deo – diante do Deus que é a luz do mundo (João 8.12) – , certamente veremos o que se passa conosco no íntimo, progressivamente, e sempre bem mais do que vemos nos outros (no olho deles, é cisco; no nosso, é trave). Logo, ao vislumbrar a miríade de ídolos e resquícios de ídolos no nosso coração, não seremos impiedosos quando percebermos um idolozinho no coração do irmão, pois nossa trave estará sempre diante de nós. A aplicação pessoalizada do conceito de pecado original é o que nos proporciona compaixão – sentir a dor do outro por identificar-se com ela.

Por outro lado, Deus fez as coisas de um modo muito interessante (1 Coríntios 12.14-18): às vezes nós nos tornamos como que especialistas em certas idolatrias, seja porque Deus nos ajudou a vencê-las no passado, seja porque nossa tendência é nos alinhar com o ídolo oposto – então, fica mais fácil enxergar aquele(s) que não cultuamos. Essa habilidade de percepção segundo cada ídolo é o que proporciona à igreja a ajuda mútua: quando conheço alguns dos ídolos que me fascinam e alguns dos que não me fascinam, consigo ajudar os irmãos que não estejam percebendo os ídolos que os fascinam, e vice-versa – ou seja, meu conhecimento, sendo sempre parcial, precisará do complemento do outro para que eu tenha um vislumbre mais amplo do terrível panteão das idolatrias humanas.

Por isso, não faz sentido entrincheirar-se por trás de um discurso condenatório porque determinado setor da igreja (permanecendo fiel às doutrinas mais básicas da fé cristã) cultiva certa idolatria. Mas e as idolatrias presentes no seu setor? Já lidou com elas? Pois é: neste mundo, nenhum cristão fiel está isento de ídolos. Crer nisso é o mesmo que crer-se livre de pecados – que em si mesmo é pecado (1 João 1.8). Portanto, não devemos agir como se não tivéssemos laços com ídolo algum, como se pairássemos acima do mundo dos homens. É um grande desejo meu que a igreja assuma um tom mais misericordioso ao lidar com a idolatria dos irmãos. Que Deus me ajude, em primeiro lugar, nesse caminho de humildade e discernimento.

22 outubro 2013

Notas sobre a aparência

A quem leu o post anterior e ficou se perguntando sobre o outro lado - o foco excessivo na aparência -, digo que não se inquiete, pois certamente vou abordar o tema em textos futuros. Não tanto em relação à maquiagem, que nossa cultura não costuma cobrar muito, mas sobretudo em relação à magreza das mulheres, uma triste obsessão desta época. Cuidado para não embarcar nessa neura: até mesmo mulheres que não são cristãs já perceberam que o mais importante é cuidar do interior. Contra esse excesso (e também outros), a blogueira Gabi dá dicas muito interessantes (a tradução é minha). Veja se algumas não soam quase como recomendações cristãs (coloquei entre parênteses os trechos bíblicos que lembrei):

Primeiro, seja mais seletiva com o que você vê na mídia (1 Jo 2.16). Pare de ler jornais e revistas que falem demais do corpo de um modo taxativo. Prefira blogs e sites que mostrem fotos de corpos de todos os tamanhos e formatos. Entre para o Tumblr e siga pessoas que tenham o corpo parecido com o seu. Não julgue outras mulheres (Mt 7.1) - desafie-se a pensar positivamente sobre elas, já que isso vai incidir sobre o modo com que você pensa de si mesma. Recuse-se a participar da zombaria coletiva de amigas ou colegas em relação ao corpo de alguma conhecida ou celebridade (Sl 1.1). Evite conversas sobre regime. Use roupas que a façam sentir-se bem e que expressem sua personalidade. Presenteie-se com um dia em um spa. Tome um banho demorado, leia um bom livro e sinta-se feliz (1 Ts 5.18) por todas as coisas que seu corpo consegue fazer - muitos não têm a mesma sorte. Lembre-se de que cultivar sua beleza interior (1 Pe 3.3-6) é muito mais importante que qualquer compra em lojas ou qualquer número que você vista.

21 outubro 2013

Sim, maquiagem!

Já escrevi brevemente sobre maquiagem aqui. Aproveitando que estou empolgada por ter falado às mulheres na Conferência Fiel, será divertido voltar ao assunto!

Esses dias, ouvi uma pregação em inglês do pr. Paul Washer sobre esposas - muito boa, recomendo! - em que ele faz uma brincadeira. Perguntaram-lhe se usar maquiagem era pecado, e ele respondeu: "Para algumas mulheres, não usar maquiagem é que é pecado!"

Importante: se você tem dúvidas sobre isso - se usar maquiagem é pecado - , pare tudo e leia o artigo excelente da minha amiga Elizabeth Portela sobre o uso de cosméticos e enfeites femininos. Esse texto lhe dará uma boa base bíblica para compreender o desejo de Deus para nós (em passagens como 1 Timóteo 2.9-10 e 1 Pedro 3.3-6) e evitar o triste extremo de abster-se de enfeites (ascetismo).

Na verdade, em resposta à pergunta, eu diria para todas as mulheres (não só algumas) que é um desperdício não aproveitar as benesses desse instrumento maravilhoso da graça de Deus que é a maquiagem. Somos pecadoras, e um dos efeitos do pecado é que nossa pele não é perfeita. A maquiagem pode não só cobrir olheiras e uniformizar a cor do rosto, mas também realçar nossos olhos ou nossa boca, devolver-nos uma corzinha "de saúde" nas bochechas, aumentar nossos cílios(os meus são quase inexistentes sem rímel) e, em geral, nos ajudar a enxergar melhor nossa beleza feminina.

Mas meu objetivo aqui não é ministrar um curso de automaquiagem - aprendi a me maquiar na internet, aliás -, e sim ir um pouco mais fundo na questão. Há mulheres que não se maquiam nem se arrumam, mas desprezam o aspecto estético em relação ao próprio corpo. Eu era uma dessas mulheres antes de me converter - e Deus iniciou em mim um processo longo de descoberta da minha feminilidade, um processo que incluiu o uso de roupas bonitas e cosméticos. Queria passar para vocês aqui um pouco do que aprendi: que não usar maquiagem pode apontar para vários pecados reais na sua vida, como apontava na minha.

Deixe-me ver... Por que você não usa maquiagem?

1. Você não se acha bonita

2. Você não se importa com a imagem que passa aos outros, incluindo seu marido

3. Você acalenta uma ideologia que exalta o "natural" e o "espontâneo"

4. Você acredita que a beleza exterior é um luxo desnecessário

5. Você tem medo de ficar bonita porque isso desviaria a atenção de quem você é interiormente

6. Você tem medo de ficar bonita porque isso chamaria a atenção dos homens e a tornaria vulnerável

Em uma postagem futura, vou abranger com mais detalhes cada um desses motivos. Aguardem!

18 outubro 2013

Oração para o momento da oração

Com base na leitura do Livro I das Institutas de Calvino

Deus querido,

Que ao orar eu tenha uma consciência mais profunda de quem o Senhor é: Pai, Filho e Espírito Santo. E, correlativamente, que eu tenha uma compreensão melhor de quem sou: já firmei compromisso contigo para sempre, mas há cadeias em mim que me impedem de corresponder plenamente a esse compromisso. Assim como no casamento: amo o André e já firmei compromisso para sempre com ele, mas há cadeias em mim que me impedem de viver mais plenamente o chamado de amor, submissão e dedicação.

Que eu me veja, sempre, como a principal dos pecadores (1 Tm 1.15), mas que ao mesmo tempo possa olhar para a minha história, para todos os Teus feitos em mim, e exclamar como o apóstolo: "Sou o que sou pela graça de Deus" (1Co 15.10). Sei que essa adequação está estreitamente correlacionada com o que penso do Senhor, por isso, move meu pensamento para mais perto dos Teus. Amém!

17 outubro 2013

Hoje não tem post...

Marido voltou mais cedo para casa e eu não pude escrever.

Pensando bem, combinando com os desta semana, é esse o post. :-)

16 outubro 2013

E os filhos?

Herbert Schlossberg (em Idols for Destruction [Ídolos para destruição]) me impressionou muito quando, ao mencionar o aborto e a desvalorização da maternidade, associou essa constante moderna ao culto a Moloque. É isso mesmo: nossa época tem sacrificado seus filhos, literal ou simbolicamente, sobretudo como parte do culto a Mamon. E, como disse Paul Washer em uma pregação dirigida às esposas, estamos desprezando tanto as crianças quanto as mulheres ao reforçar em nossas escolhas uma cultura que só se preocupa com carreira profissional, salário, competitividade, poder, símbolos de status e demais ênfases públicas para inflar o ego e posicionar pessoas no topo de uma escala darwiniana.

Quando preparei minha palestra para a Conferência Fiel 2013, deixei de fora, propositalmente, a questão da criação de filhos. Achei melhor abordar esse assunto só depois que tivesse uma experiência direta (engravidei mas perdi meu bebê, como meu marido contou aqui e eu conto em meu livro). Mas posso dizer que venho me preparando para ser mãe - abrindo essa imensa disponibilidade em minha vida - desde que eu e André nos casamos. Na época, eu já tinha terminado o doutorado em literatura francesa, mas não estava disposta a construir uma carreira acadêmica - antes, queria abençoar a igreja fazendo aquilo que mais amo desde pequena: escrever. E André me deu a confirmação de que eu precisava: ele preferia que eu não trabalhasse fora, mas desenvolvesse esse dom para abençoar meus irmãos.

Como Deus é bom!

Claro que não foi facílimo abrir mão de ganhar meu dinheiro. Ainda é esquisito quando penso que preciso pedir tudo o que eu quero a meu marido - e ganhar alguns "nãos", pois, como toda mulher, sou pidona, hehe! (Ainda assim, não posso reclamar, pois André não é sovina, pelo contrário!) Mas é bem menos esquisito que a dor que eu sentia ao ocupar meu tempo fazendo coisas que eu não amava e deixando de fazer as mais importantes, aquelas para as quais eu sinto que Deus me chamou: estudar, refletir e contribuir para a edificação na fé, por meio da escrita e também de minha presença santificadora junto a pessoas queridas. E essa presença, para a mulher casada, é exercida principalmente no lar.

Por isso, resolvi compartilhar no blog esses dois textos (parte 1 e parte 2) de Ana Carolina Oliveira, que conta o mesmo processo de abandono de uma vida predominantemente lá fora (com todos os louros) pela presença santificadora no lar - mas com filhos na equação. Boa leitura!

15 outubro 2013

Conferência Fiel (II), ou: Meu maior desafio

Ouvi em casa ontem a última pregação da Conferência Fiel 2013: A audaciosa alegação do Evangelho, de Dave Harvey (autor de Quando pecadores dizem sim, que li com André logo que nos casamos).

Pr. Harvey falou de Atos 20.17-25, que é a despedida emocionante do apóstolo Paulo antes de partir para Jerusalém, onde ele não sabia o que o esperava além de cadeias e tribulações. (O resumo da pregação está no link indicado, junto com o vídeo.) No final, pr. Harvey nos apresenta a pergunta: Qual é sua Jerusalém atual? Qual seu maior desafio hoje? Porque o maior desafio na vida de um cristão não é necessariamente um chamado para abrir uma igreja em meio à selva africana. Nossos medos e tribulações têm origens e características as mais variadas.


Ontem, então, quando meu marido chegou em casa, eu lhe contei por alto o teor dessa pregação e lhe confiei algo que nós dois, a essa altura, já estamos carecas de saber: meu maior desafio.


Qual meu maior desafio hoje? Não, não é construir uma carreira de sucesso (desisti - com alegria! - de ser professora universitária), nem falar em público (tarefa que desempenho com certa desenvoltura por ter dado aulas por muitos anos), nem escrever livros (publiquei o primeiro ano passado e, sinceramente, escrever é o que mais amo fazer na vida).


Nada disso. Meu maior desafio, hoje, é... Ser uma boa dona de casa.


Sim, é isso mesmo que você leu. Ser uma boa dona de casa!


Como tantas mulheres de minha geração, eu fui criada para tudo, menos isso! Minha mãe sempre foi uma excelente dona de casa, mas me poupava da maioria das tarefas. Cresci sem saber como varrer direito uma casa, sem pegar em um ferro de passar, sem usar a máquina de lavar e sem a menor ideia de como tirar manchas das roupas. Sei cozinhar até bem, e gosto disso, mas, como prefiro estudar e escrever, e por conta da constante desorganização prática, vivo queimando o feijão (o último foi queimado no sábado), deixo estragar comida porque não administro a quantidade comprada e muitas vezes me enrolo durante o dia, precisando pedir ao marido que busque comida prontinha no self service aqui ao lado (quando eu sei que ele prefere mil vezes os pratos que eu preparo).


Como sempre, ele me lembra que sabia de tudo isso quando se casou comigo e que eu tenho qualidades muito mais importantes que o bom manejo das tarefas domésticas. Por outro lado, a casa precisa de uma administradora pelo menos razoável e eu sofro quando vejo que meu empenho está aquém do suficiente - até mesmo quando apenas supervisiono o trabalho da faxineira!


Sei que Deus ainda precisará mexer demais em meu coração para que o resquício dos anos feministas deixe de sussurrar em meu ouvido que cuidar da casa é tarefa indigna para uma mulher intelectual. É essa "minha Jerusalém" hoje: compreender que o amor conjugal comporta essa dose de sacrifício. Mas, para tornar as obrigações mais leves, carrego comigo o iPad e ouço pregações enquanto arrumo a casa. Essa foi ouvida na cozinha em meio à lavagem de uma pilha de louça. Deus seja louvado!

14 outubro 2013

Sobre a Conferência Fiel 2013

Foi uma experiência incrível ter participado da Conferência Fiel deste ano! O tema tomou emprestado o título de um livro de D.A. Carson, O Deus presente, e as pregações a que assisti evidenciaram esse aspecto histórico, próximo, concreto e real de nossa fé - algo fundamental em uma época que associa a fé religiosa ao subjetivismo da "minha verdade" e se contenta com invencionices orgulhosamente assumidas. Como diz o apóstolo Pedro:

"Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares de sua majestade" (1 Pe 1.16).

É com esse espírito que recomendo fortemente que você assista às pregações e palestras da Fiel, disponibilizadas no blog Voltemos ao Evangelho. Minha palestra está lá também, nesse link.
Porque não vos fizemos saber a virtude e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas artificialmente compostas; mas nós mesmos vimos a sua majestade.
2 Pedro 1:16
Porque não vos fizemos saber a virtude e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas artificialmente compostas; mas nós mesmos vimos a sua majestade.
2 Pedro 1:16

11 outubro 2013

O vale da visão


SENHOR, ALTO E SANTO, MANSO E HUMILDE,

Tu me trouxeste para o vale da visão;
onde vivo nas profundezas, mas te vejo
nas alturas;
cercado por montes de pecado, contemplo
a tua glória.

Que eu aprenda pelo paradoxo
que é de descida o caminho para cima,
que estar embaixo é ser elevado,
que o coração quebrantado é o coração curado,
que o espírito contrito é o espírito de alegria,
que a alma arrependida é a alma vitoriosa,
que nada ter é possuir tudo,
que carregar a cruz é usar a coroa,
que dar é receber,
que o vale é o lugar da visão.

Senhor, de dia se veem estrelas
dos mais profundos poços,
e, quanto mais profundo é o poço, mais brilham
tuas estrelas;
Que eu encontre tua luz em minha escuridão,
tua vida em minha morte,
tua alegria em minha tristeza,
tua graça em meu pecado,
tuas riquezas em minha pobreza,
tua glória em meu vale.

Da obra The Valley of Vision, vários autores. Tradução minha. Original aqui.

10 outubro 2013

Assista-me na Conferência Fiel 2013!

Aqui neste link, às 15h, eu e Wanger Campos falaremos às mulheres nesta quinta-feira. E você poderá nos ver ao vivo!

Não perca a programação completa aqui. Agora às 9h tem Michael Horton!

09 outubro 2013

Polarização

De um lado, Teologia da Prosperidade; de outro, Teologia da Libertação. Uns odeiam a pobreza e buscam sair dela pela porta da religião; outros não estão nela, mas a adoram porque essa adoração lhes assegura um lugar cativo no céu terreno do marxismo: um atalho rápido para um arremedo de santificação. Do lado "popular", confirmando a máxima (irônica) conservadora, "pobre não gosta de pobre" e tenta usar Deus como um ídolo papainoélico pra subir na vida; do lado "chique", o esquerdista cristão do tipo caviar se prostra em adoração à própria autoimagem de pessoa muito piedosa que ama os pobres - mas só de longe, só de língua.

Diante disso, é claro que precisamos confrontar a ambas as teologias igualmente. Em comum, têm entre si a ênfase material: a redenção prometida em ambas passa pela economia. Mas minha preferência recai sobre a confrontação da segunda, por vários motivos. A natureza do primeiro erro é mais simples: quem se deixa seduzir pela Teologia da Prosperidade é tentado pela própria cobiça - que, uma vez reconhecida, torna-se facilmente combatível. Já quem cai nas malhas da Teologia da Libertação (ou da Missão Integral, ou de qualquer amálgama entre cristianismo e marxismo) a duras penas enxergará suas motivações, pois estão encobertas pela aparência do altruísmo e dos bons sentimentos: quer-se redenção econômica não para si, mas para o pobre. O correlato óbvio - estimular a cobiça de outrem em vez da própria - é soterrado sob os protestos de uma autoestima que resiste a ver ruírem suas bases. Como inferiu Schlossberg em Idols for Destruction, o assistencialista precisa desesperadamente dos necessitados para sentir-se útil, elogiado - e sim, redimido. A redenção é econômica para o pobre (só idealmente, pois nunca se concretiza), mas religiosa para o pregador marxista, uma religião que é culto a si mesmo: sua pregação o faz encarnar o Sumo Bem. Para fazê-lo desistir de todas as benesses emocionais dessa crença, muito tempo e saliva são requeridos. A demolição do marxismo sintético com o cristianismo requer longas considerações teológicas, filosóficas, sociológicas, históricas, psicológicas e por aí vai. É nisso que entra alguém como eu, para auxiliar aqueles que lidam diretamente com teologia e ensino da Bíblia, mas, sendo pastores em 99,9% dos casos, não têm tempo nem vocação para a multidisciplinaridade. Meu sonho é que a igreja brasileira possa contar com um número cada vez maior de cristãos que se identifiquem com essa proposta, que é própria da apologética: encontrando lugar entre a teologia e a cultura, promover um intercâmbio saudável e barrar aqueles conteúdos que desfiguram o cristianismo bíblico.

08 outubro 2013

Você está acompanhando a Conferência Fiel 2013?

Não perca! Nesse link:

http://www.ministeriofiel.com.br/aovivo/

Eu e Wanger Campos falaremos às mulheres na quinta-feira, às 15h. Acesse nesse link a programação completa!

07 outubro 2013

Passado neopenteca

Como os leitores já sabem, esta semana estarei na Conferência Fiel para Pastores e Líderes. Você poderá acompanhar as palestras ao vivo aqui. Enquanto isso, preparei três postagens para toda a semana (segunda, quarta e sexta).

Visitei ontem o blog do pastor gaúcho Jackson Jacques. Sua história é interessante: depois de alguns anos de loucuras aditivas no neopentecostalismo, ele foi ajudado pelo ministério do Vinícius e do Yago, Voltemos ao Evangelho, e abandonou tudo aquilo por um Evangelho mais bíblico. Assista a esses dois vídeos hilários dele: um sobre danças no culto (com uma argumentação bastante sólida e bíblica) e outro sobre seu passado neopenteca (que não o condena, pois foi resgatado e perdoado por Cristo, hehehe!).

Eu também tive um passado neopenteca - que, no meu caso, durou apenas alguns meses. O rapaz que me evangelizou (conto a história em meu livro) frequentava uma igreja na zona sul do Rio que era conhecida por certas extravagâncias, como o cai-cai nos cultos, um bloco de carnaval para evangelismo e o atendimento espiritual em barracas na praia de Copacabana na noite do Réveillon. As barracas eram uma verdadeira pegadinha para quem tinha o hábito de se consultar com espíritos, mostrando placas com o nome "Pai das Luzes" (muito criativo!) e aconselhando as pessoas a voltarem para Deus através de Cristo. Por mais que admirasse o dinamismo daquela igreja, naquela época eu já não gostava muito da pregação, que achava personalista e pouco centrada no texto bíblico. Meu amigo me disse que eu me identificaria mais com a pregação de outro pastor, Caio Fábio (em sua fase mais fiel), que na época era substituído com frequência por Antônio Carlos Costa. De fato, eu me encantei com as pregações de ambos, que davam atenção direta e minuciosa à Bíblia e me remetiam a uma versão cristã das aulas de literatura na Faculdade de Letras. Foi por causa desse ministério que eu me tornei presbiteriana e calvinista, há quase vinte anos. Reconheço que fui abençoada por muitos irmãos pentecostais e neopentecostais, principalmente no início da vida cristã. Hoje, porém, constato que, se não fosse a ênfase calvinista - que, tal como a Bíblia, tem tolerância zero a qualquer honra dada ao homem - , eu jamais teria permanecido no Evangelho, pois àquela altura eu já tinha a certeza mais absoluta de que, se meu estado espiritual dependesse um milímetro de mim mesma, minha situação seria a pior possível.

Aproveito então para perguntar ao leitor: a teologia pregada e vivida em sua igreja dá toda honra a Deus, como é devido (Salmo 115, Efésios 2.8-10), ou deixa algum espaço para honra aos homens? Na Bíblia, a honra aos homens é o fermento dos fariseus (Mateus 16.8-12). Qualquer espaço para humanismo, por menor que seja, acabará "levedando toda a massa" (Gálatas 5.9). Tudo o que temos foi dado por Deus. Ele não precisa de nada (Atos 17.25). Essa é a constante novidade de vida (Romanos 6.4) da vida cristã: enquanto o pecado nos faz inquietos e autocentrados, buscando glória própria e curvando-nos sob um peso desnecessário, nosso Pai nos leva a Seus pés para descansar e adorar na graça que vem Dele, e só Dele. Que a sua teologia o faça descansar - esse é meu desejo para sua vida!

P.S. Se alguém se sentiu atingido por essa postagem, enxergando-se como neopentecostal, convém esclarecer com todo carinho: os rótulos, aqui, são o que menos importa. Estive em uma presbiteriana cuja pregação poderia muito justamente ser chamada de "impressionista", tão longe estava da Palavra. Por outro lado, confesso que uma das melhores pregações que já ouvi - e que teve frutos significativos na minha vida e de meu marido -  foi em uma igreja cujos membros se denominavam "neopentecostais". Deus é maravilhoso e usa a quem Ele quer, do jeito que quer. Além disso, escolher uma denominação ou um "braço" da igreja é sempre uma operação de contenção de danos: como somos pecadores, há erros e desvios por toda parte, e só nos livraremos deles no céu. Dito isso, vejo-me hoje como reformada, mas espero nunca fechar os olhos para as ênfases erradas de meu meio, esteja onde estiver.