Muitas das mais inspiradoras lembranças da minha vida constituem os momentos pontuais em que Deus interveio nitidamente para fechar um ciclo ou estabelecer um sentido que eu não via. Sem esses momentos em que Deus se revela diretamente (fora as leituras, as palavras de outras pessoas que eu percebo serem inspiradas por Deus), eu já seria uma morta-viva espiritual. E digo mais: isto tem a ver infinitamente mais com Sua graça imensa do que com qualquer pretensa qualidade, savoir-faire ou "bom comportamento" meus. Saber disso (e confirmar isto a cada passo) me deixa muito mais receptiva a Ele, na medida em que me sinto segura por Ele me amar por quem eu sou, não pelo que faço - e na medida em que sei que, sem Ele, sem sua orientação, minha vida é só um triste arremedo do que deveria ser.
Acho que Ele se revela àqueles que se sentem tão perdidos, tão maus, tão errados, tão pequenos, tão fracos que a simples idéia de que nada faz sentido lhes parece desesperadora como a própria morte - e esses sabem que não podem construir seu próprio sentido, porque se entendem pequenos e fracos. Eles intuem que há algo maior e o buscam como o faminto busca por alimento. A busca vem a partir de uma pequenina certeza de que há algo bem acima de nós, bem maior que nós. Vem de nos sabermos pequenos - o famoso "humilhar" da Bíblia. O resto do conhecimento sobre Ele - que Ele é bom, é pessoal, é pai - vem depois, mas o primeiro ponto é esse.
Muitos crentes começam certo, mas depois não conseguem se ver continuamente pequenos na presença Dele e começam a querer controlar os processos espirituais - seja intelectualmente, pela teologia, seja "magicamente", por regrinhas neopentecostais. E aí Deus se cala. Descobre-se então que essas pessoas estavam buscando a Deus não porque reconheciam a necessidade absoluta de se renderem a algo maior que elas, mas porque queriam que algo dentro delas, que crêem como qualidade intrínseca e não (também) dom de Deus, fosse confirmado. Passada essa necessidade de confirmação daquilo que no fundo é a vontade delas, perdem a proporção e voltam a se sentir tão grandes ou até maiores que Deus. Tenho certeza de que isso acontece com muitos cristãos e líderes religiosos que, no início, estavam humildes, mas depois Deus pareceu confirmar tanto o que eles tinham em si que eles perdem a proporção e Deus passa a ser um justificador de seus atos e vontades. Toda alegria então se converte em peso.
Por isso a ênfase na criança é tão linda na Bíblia: diante Dele, não passamos mesmo de crianças, e a abertura a Ele é pela consciência contínua de que somos pequenos. Então Ele cresce no nosso campo de visão - e isso é "conhecer a Deus".
Um comentário:
Norminha, este foi o 1o. texto que eu li do seu blog. Fiquei muito feliz, e até emocionado, pela força e veracidade que ele transmite. Parabéns!
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