28 março 2016

A realidade óbvia

Ontem, telefonou para o WhatsApp do meu celular uma mulher querendo falar com Marcos. Eu disse que era engano e ela desligou. Cinco minutos depois, voltou a ligar, com educação mas um tanto agitada. Expliquei pacientemente que aqui não morava nenhum Marcos, que o número era meu. Ela não gostou: "Mas quem me deu esse número foi a Fulana, amiga do Marcos." Dobrei a paciência e respondi: "Então você fala com ela de novo e pede o telefone correto, porque esse número não é do Marcos."

Mais alguns minutos e recebo dela dois recados de voz. O primeiro dizia: "Marcos, sou eu." E o segundo: "Tenho certeza de que é esse número, porque quem me deu foi Fulana e ela conhece o Marcos."

Coloquei no silencioso e fui dormir. E eis que hoje de manhã encontro mais duas gravações: "Cadê o Marcos? Que agora quem atende é uma mulher dizendo que esse número não é dele... É sim!" E: "Pedi o número de novo com a mesma pessoa, ela me deu, e o número é esse aqui!" É claro que, dessa vez, não havia o que fazer. Bloqueei.


O episódio me parece emblemático da postura de alguns amigos e irmãos petistas no Facebook. Com os pés fora do chão, continuam a defender Lula, Dilma e o PT, não importa o que vem à luz. Graças à Operação Lava Jato, descobrimos que o Mensalão era apenas uma pequena parte de um continente inteiro. Bilhões foram desviados só da Petrobras. Empreiteiras participaram do esquema. O país está em crise e o próprio governo não tem mais dinheiro para captar aliados. Segundo delatores, Lula está na origem de tudo e Dilma o seguiu. As gravações confirmaram o desprezo de Lula pelos crentes ("Esses meninos da PF e do MP se acham enviado [sic] de Deus", disse ele ao prefeito do Rio, Eduardo Paes); mostraram o lugar privilegiado que Lula, sem cargo algum, ocupa nas relações do Planalto (todos o chamam "presidente" ao telefone); flagraram Dilma tentando impedir a prisão dele com um documento de posse de ministério ("só usa em caso de necessidade"). E os responsáveis pela operação dizem que as gravações são o de menos; as provas revelam muito mais.

O que falta para cair a ficha de que o telefone não é do Marcos? Que explicações mirabolantes ainda surgirão ? A realidade é simples: de modo inédito no país, a corrupção de colarinho branco está sendo desafiada e desmembrada. A farra com o dinheiro público foi tanta e tão longa que a música incomoda, a bebida está vazando pelas janelas. Homens corajosos - e sim, levantados por Deus, cuja ação é soberana - capitaneiam a Lava Jato. Não há indício algum de que esses homens têm se beneficiado ilegalmente com a empreitada. Pelo contrário, são caluniados e ameaçados de morte.

A operação não tem sido seletiva: políticos e empresários de todos os matizes estão metidos nas denúncias. Tudo indica que negarão sua culpa até o último segundo. São como o Marcos da história: não querem nem saber de você (e o roubam à vontade), dão o número errado (as palavras-de-ordem que você sai repetindo como tonto) e depois se divertem porque você se recusa a enxergar a realidade óbvia.

Mas o divertimento deles está com dias contados, se Deus quiser. Vamos continuar orando pelos "meninos" da Operação Lava Jato!

Veja ainda: 

Antigo mas pertinente no novo contexto - em vídeo, petista explica o modus operandi do partido: "Quando não dá na lei, a gente faz na marra porque é assim que a gente aprendeu."
Reinaldo Azevedo sendo bem didático sobre esse modus operandi.
Texto excelente de Renan Santos. Pessimildos de todo o Brasil, uni-vos!

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