20 setembro 2013

Idolatria estatal

Desde que comecei a pensar a realidade a partir da questão da idolatria, aprofundou-se em mim a descoberta de que podemos aprender muito com autores não-cristãos sobre determinadas idolatrias - porque, na mente não-regenerada, uma cegueira absoluta sobre alguns ídolos pode conviver com uma lucidez incrível sobre outros ídolos.

Perguntaram a Luiz Felipe Pondé (aos 38 minutos) de onde vinha o politicamente correto. Pondé, infelizmente, não crê na redenção, mas consegue enxergar que uma das cosmovisões mais preponderantes hoje é uma espécie de "puritanismo político". Eis a ótima resposta:


Vem de um parentesco distante com a tradição rousseauniana. Rousseau acreditava em um "estado de natureza" em que a humanidade vivia uma condição de identidade entre desejo e necessidade, não havia um "descolamento" entre ambos. E, na lógica dele, estando o mundo corrompido, se o poder fosse levado a pessoas menos corrompidas (por terem tido menos sucesso na corrupção da relação entre desejo e necessidade), haveria uma purificação da política. A política tomou o lugar da graça. Antes do século XVIII, todos acreditavam que o mundo seria redimido por Deus - o que não é meu caso, pois eu não acredito em redenção. Essa questão acabou ativando todo tipo de ressentimento nas pessoas, porque não há nada pior que encontrar pessoas melhores que você. A base filosófica do coitadismo, do culto da vítima no politicamente correto, nasce com Rousseau - e a diferença entre ele e Marx é que o bom selvagem dele está no começo, e o de Marx está no final, que é o homem transformado. Isso se tornou uma espécie de capital político e moral onde as pessoas penduram todo tipo de ressentimento.
Pondé tem razão. O politicamente correto é a tentativa de solução para esses ressentimentos, uma solução política, por meio de leis e controle da sociedade, oferecida pelo Estado através da obsessão com a igualdade - que é massificação. Ao adotar essa função, o Estado se fortalece política e moralmente (em uma cultura já preparada por ele mesmo, via educação e mídia, para acolher bem suas decisões) para continuar a "inchar" e ocupar o espaço de uma divindade poderosíssima, pois sua missão é verdadeiramente cósmica: aplainar as diferenças que geram ressentimento. Tenho mostrado repetidamente, no blog, que a cultura de correção política é uma cultura de idolatria estatal. E a idolatria cresce à medida que a sociedade se descristianiza, como afirmou Francis Schaeffer:
À medida que o consenso cristão, que nos dava liberdade dentro dos moldes bíblicos, vai sendo cada vez mais esquecido, uma força autoritária de manipulação tenderá a preencher o vácuo.
Uma leitura atenta do Antigo Testamento mostra que, todas as vezes em que o povo de Israel saía da presença de Deus e começava a adorar falsos deuses, era conquistado por governantes que o oprimiam. Isso é juízo de Deus, um juízo que está dentro da estrutura da realidade conforme Deus a criou: sem a presença Dele, nós começamos a preencher o vazio com ídolos, e esses ídolos acabam tomando forma concreta e nos escravizam. Onde a autoridade de Deus se esvai, os consensos humanos reinam sem controle. Que Deus nos ajude a continuar a combater o ídolo estatal politicamente correto que continua a ser acalentado por tantos cristãos.

7 comentários:

Eliana Pires. disse...

Muito bom Norma. Morando em Brasília respiramos Política e não tomarmos cuidado nossa Fé passa a ser secundária.É preciso priorizar. Dilemas são diários. A profissão que tenho ( Psicóloga ) então. Enfrentamos o dilema.

Fernando Pasquini disse...

Muito bom, Norma!

Estive pensando... Toda essa escravidão ainda se revela sem que as pessoas percebam. Os personagens em "Admirável Mundo Novo" nunca sentiram-se oprimidos, mas tinham vidas completamente limitadas e controladas por algo que poderíamos chamar de regime totalitário. O politicamente correto, assim como qualquer cultura de massa, limita e reduz a realidade. A própria tecnologia que promete, nas palavras de Lewis em "A Abolição do Homem", "a conquista do Homem sobre a Natureza" acaba desferindo o seu golpe fatal - o juízo de Deus sobre aqueles que o abandonam e começam a preencher o vazio com ídolos.

É impressionante ver como suas reflexões sobre política têm paralelos com a tecnologia. hehe

Norma disse...

Sim, Eliana. É aferrar-se à redenção que há somente em Cristo e detectar essas usurpações na política. Abraços!

Fernando, eu e André temos nos sentido muito felizes ao ver o quanto temos em comum com você. Deus reserva cooperações muito especiais na comunhão dos santos. Tenho certeza de que ainda descobriremos muito mais semelhanças e paralelos! O último mail do André a você me deixou isso muito claro. Parece que, de certa forma, combatemos os mesmos ídolos. Abração!

Unknown disse...

Olá Norma! Texto muito esclarecedor. Concordo com o que Pondé disse nesta entrevista e em outros pontos tb. Escrevi lá no blog um texto sobre o politicamente correto.

Fica na paz de Cristo!
www.cafeegraca.blogspot.com

Marcio Barroso Estanqueiro disse...

Excelente Norma! Seus artigos estão muito bons.. quão bom seria se muitos pudessem enxergar essa realidade. Gostei de: "A política tomou o lugar da graça". Puritanismo político é a forma do políticamente correto ditado pelos "poderosos" ser aceito guela abaixo pela massa! Muito bom!
Abraço.

Anônimo disse...

Parabéns por sua colocação! Mas eu vejo que em nossas congregações, os nossos líderes não tenham ainda esta visão. Os quais não trazem uma explicação com a aplicação do texto Sagrado, com os dias atuais!

Norma disse...

Obrigada, pessoal! Pretendo continuar explorando o assunto.

Abraços!