30 agosto 2013

O controle da linguagem no totalitarismo (2)

Hoje, com o marxismo cultural já bastante adiantado, como as palavras têm sido vilipendiadas para uso político? Cito uma delas, da qual falo em meu livro A mente de Cristo: democracia. A palavra, com seus derivados (“democratização”, por exemplo), é usada sempre que o governo quer implantar alguma medida de controle abusivo. Uma busca rápida pela internet informará que Hugo Chávez abusou da expressão para implantar seu regime na Venezuela.

No Brasil, isso também já ocorre. O jornalista da Veja Reinaldo Azevedo escreveu em seu blog que um tal “Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC)” fez um ato na Câmara dos Deputados na quinta-feira passada para exigir uma Lei da Mídia Democrática, para que “conselhos” ligados ao governo passem a controlar a programação da rádio e tv. Eles não estão contentes com a uniformização que JÁ existe na mídia: querem um controle mais ostensivo. A ideia de “democracia” passa a significar censura e controle governamental, com o pretexto de beneficiar classes desfavorecidas (já que são eles que decidem que valores e que moralidade serão veiculados). Novilíngua a serviço do totalitarismo.

Não deixe de ler o artigo todo!


28 agosto 2013

O controle da linguagem no totalitarismo (I)

Na lista de sexta-feira passada, incluí vários livros de ficção. Sim, algumas dessas obras são fantásticos instrumentos da graça de Deus ao apontar para as consequências de ideias que, às vezes, estão apenas em germe na época em que o escritor vivia - como é o caso de Admirável mundo novo.

No caso de George Orwell, porém, a "novilíngua" já era real quando ele publicou 1984 (em 1948). O poeta polonês Czeslaw Milosz escreveu Mente cativa entre 1951 e 1952, exilado em Paris, sobre fatos que já ocorriam há algum tempo na Polônia, tomada pelos comunistas em 1945. Confira:


"Comunistas reconhecem que o regime sobre as mentes dos homens é a chave para dominar todo um país, logo, o poder da palavra é a pedra fundamental desse sistema." Czeslaw Milosz, Mente cativa, p. 163

"(...) As massas nas democracias populares [regimes comunistas] se comportam como um homem que quer gritar durante o sonho mas não consegue encontrar sua voz. Elas não somente não ousam falar, mas também sequer sabem o que falar. Logicamente, é tudo como deveria ser. Das premissas filosóficas à coletivização das fazendas, tudo se transforma em um produto fechado, uma pirâmide sólida e majestosa. O indivíduo que estiver sozinho inevitavelmente se perguntará se seu antagonismo não é errado; tudo o que ele conseguir opor a todo o aparato propagandista serão apenas desejos irracionais." Idem, p. 212

"Não vê que o verdadeiro alvo da novilíngua é de restringir os limites do pensamento? No fim, nós tornaremos literalmente impossível o crime pelo pensamento, pois não haverá mais palavras para expressar. A cada ano, menos e menos palavras, e o campo da consciência mais e mais restrito." George Orwell, 1984

26 agosto 2013

Estão acabando com o Brasil

Estou viajando em função de meus estudos por 15 dias. Programei então alguns posts para as próximas duas semanas: três postagens por semana, sempre segunda, quarta e sexta, às sete da manhã. Até a volta!

O que estão fazendo com o Brasil quando os governos federais, estaduais e municipais não cumprem a função expressa em Romanos 13.4 (cuidar da segurança)? A resposta é: inviabilizam os espaços públicos. Em um país fracamente civilizado, sem muitas opções com personalidade definida - e digo isso arquiteturalmente, comercialmente, culturalmente enfim - , isso significa a morte por abandonou. Além dos costumeiros maus tratos dispensados a ruas, praias, jardins, praças e calçadões, nós estamos perdendo a vontade e a coragem de aproveitar o sol lá fora por causa dos ladrões, estupradores e assassinos que, escorados no "dimenor" e na ausência de espaço das prisões, são rapidamente soltos para retornar ao crime.

Em geral desprovido da antiguidade e da suntuosidade das instituições diversas que poderiam acolher nossos corpos e almas cansados, o Brasil sempre se orgulhou de sua beleza natural. Mas beleza natural só existe "lá fora". Se ninguém sai por causa da violência, o Brasil está acabando. Estamos vivendo em um não-país, em um aglomerado de cidades abandonadas, condenados à artificialidade dos shopping centers para passear um pouquinho e ver gente. Mas shopping center tem em tudo quanto é lugar, e não varia muito. Por isso digo que, como país singular, o Brasil está acabando. Morrendo-se o espaço, morre tudo o que está contido nele.

Alguns tristes exemplos aqui e aqui.

23 agosto 2013

Lista de livros - Marxismo cultural

Amanhã, dia 24 de agosto, estarei na Igreja Presbiteriana de Santo Amaro, às 19h30, ministrando uma palestra sobre Marxismo CulturalVai ser bacana!

Para quem não está em São Paulo, há links para assistir ao vivo:
Canal Ustream: http://ustre.am/Y6BH
Twitter: https://twitter.com/umpipsa
Youtube: http://www.youtube.com/user/umpipsa


Como prometi, publico aqui uma lista heterogênea - autores cristãos e não-cristãos, ficção e não-ficção, especificamente sobre o tema ou não - dos livros que me ajudaram ou têm me ajudado a compreender nossa época. Quem quiser saber um pouco mais sobre cada um deles pode me perguntar nos comentários.

Em português
Calvinismo, Abraham Kuyper
A infelicidade do século, Alain Besançon
Tempos modernos, Paul Johnson
Cuba, a tragédia da utopia, Percival Puggina
Mente cativa, Czeslaw Milosz
Verdade absoluta, Nancy Pearcey
O grande desastre evangélico, Como viveremos? e outros, Francis Schaeffer
1984, George Orwell
Admirável mundo novo, Aldous Huxley
Arquipélago Gulag, Alexander Soljenítsin
A rebelião da massas, José Ortega y Gasset
As duas culturas, C.P. Snow
A condição humana e Origens do totalitarismo, Hannah Arendt
Vinte cartas a um amigo, Svetlana Alliluyeva
O Estado babá, David Harsanyi
O eixo do mal latino-americano, Heitor de Paola
Gulag, Anne Applebaum
Passado imperfeito, Tony Judt
Cisnes selvagens, Jung Chang
O óbvio ululante, Nelson Rodrigues

Jardim das aflições, O imbecil coletivo I e II e outros, Olavo de Carvalho
Lágrimas na chuva, Sérgio Faraco
Onde é que Cristo está ainda a ser perseguido?, Richard Wumbrandt
O homem do céu, Irmão Yun
Torturado por sua fé, Haralan Popov

Mentira romântica, verdade romanesca, Quando começarem a acontecer essas coisas, O bode expiatório, René Girard

Em inglês
Idols for Destruction, Herbert Schlossberg 
The Quest for Cosmic Justice, Thomas Sowell
Literature Lost, John M. Ellis
How Christianity Changed the World, Alvin Schmidt
Main Currents of Marxism, Leszek Kolakovski
Gentle Regrets, Roger Scruton

22 agosto 2013

Autores para o estudo do comunismo

Como quarta-feira não houve postagem, hoje compenso com duas: a anterior e esta.

Trago uma lista para quem deseja estudar o comunismo. Estou longe de tê-la completado, mas fico feliz (não satisfeita, mas feliz) com o que alcancei, visto que me converti aos 24, virei conservadora aos 34 e ainda estou lutando com problemas de saúde que me atrapalham bastante (enxaqueca, síndrome de Hashimoto), como vocês bem sabem. Além disso tudo, tenho priorizado o estudo da teologia (reformada, calvinista) e creio firmemente que todo estudante cristão deve fazer o mesmo, pois não há como entender uma religião secular (ver a postagem anterior) sem compreender e viver a religião verdadeira. A boa teologia fornece o quadro maior em que precisa ser examinado o simulacro de teologia.

Aqui vai a lista, elaborada por Olavo de Carvalho:
(1) Os clássicos do marxismo: Marx, Engels, Lênin, Stálin, Mao Dzedong.
(2) Os filósofos marxistas mais importantes: Lukács, Korsch, Gramsci, Adorno, Horkheimer, Marcuse, Lefebvre, Althusser.
(3) “Main Currents of Marxism”, de Leszek Kolakowski.
(4) Alguns bons livros de história e sociologia do movimento revolucionário em geral, como “Fire in the Minds of Men”, de James H. Billington, “The Pursuit of the Millenium”, de Norman Cohn, “The New Science of Politics”, de Eric Voegelin.
(5) Bons livros sobre a história dos regimes comunistas, escritos desde um ponto de vista não-apologético.
(6) Livros dos críticos mais célebres do marxismo, como Eugen von Böhm-Bawerk, Ludwig von Mises, Raymond Aron, Roger Scruton, Nicolai Berdiaev e tantos outros.
(7) Livros sobre estratégia e tática da tomada do poder pelos comunistas, sobre a atividade subterrânea do movimento comunista no Ocidente e principalmente sobre as “medidas ativas” (desinformação, agentes de influência), como os de Anatolyi Golitsyn, Christopher Andrew, John Earl Haynes, Ladislaw Bittman, Diana West.
(8) Depoimentos, no maior número possível, de ex-agentes ou militantes comunistas que contam a sua experiência a serviço do movimento ou de governos comunistas, como Arthur Koestler, Ian Valtin, Ion Mihai Pacepa, Whittaker Chambers, David Horowitz.
(9) Depoimentos de alto valor sobre a condição humana nas sociedades socialistas, como os de Guillermo Cabrera Infante, Vladimir Bukovski, Nadiejda Mandelstam, Alexander Soljenítsin, Richard Wurmbrand
 Amanhã trarei uma lista mais heterogênea, feita por mim.

E não esqueça: sábado, dia 24 de agosto, às 19h30, estarei na Igreja Presbiteriana de Santo Amaro para uma palestra sobre Marxismo Cultural. Os links para assistir ao vivo:
Canal Ustream: http://ustre.am/Y6BH
Twitter: https://twitter.com/umpipsa
Youtube: http://www.youtube.com/user/umpipsa

Kolakovski e o marxismo como religião

Uma citação reveladora de Leszek Kolakovski, Main Currents of Marxism, p. 1208. A tradução é minha:

O marxismo é uma doutrina de confiança cega de que um paraíso de satisfação universal espera por nós na próxima esquina. Quase todas as profecias de Marx e seus seguidores já se provaram falsas, mas isso não perturba a certeza espiritual dos fiéis [...], pois trata-se de uma certeza não baseada em premissas empíricas ou supostas "leis históricas", mas sim em uma simples necessidade psicológica de certeza. Nesse sentido, o marxismo cumpre a função de religião e sua eficácia reside em seu caráter religioso. Mas é uma caricatura, uma forma falsa de religião, já que apresenta sua escatologia secular como um sistema científico, algo que as mitologias religiosas não pretendem ser.

O prof. Davi Charles Gomes, que foi diretor do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper (onde eu estudo) e hoje é chanceler do Mackenzie, costuma dizer que o marxismo realiza uma presdigitação: com uma das mãos, mostra sua face "científica" (materialismo); se a plateia torcer o nariz, ele esconde essa mão e, com a outra, mostra sua face "humanitária", para comover as pessoas com a causa do pobre (e hoje, com o marxismo cultural, das demais "eternas vítimas": mulheres, negros, homossexuais). Ambas são falsas, evidentemente: o materialismo não é científico e o humanitarismo não é caridoso. Apresentando-se como obra de mágico, o marxismo se assenta na FÉ de que a realidade é do jeito mostrado e de que o futuro será como dizem que será. Enquanto isso, destrói os valores da sociedade e produz vítimas bem reais pelo caminho.

20 agosto 2013

Amebas que amam (2)

Essa citação lembrou minha postagem antiga Amebas que amam. Sim, a mentalidade de ameba que os livros de autoajuda refletem é o arremedo de amor que uma sociedade longe de Deus consegue produzir: "amorrrrr" que se opõe a racionalidade, diálogo e confrontação. 
Assistimos, de fato, a uma modificação substancial de sentido do conceito de "tolerância". Ele já não designa aceitação do "outro", da opinião diferente, mas pura e simplesmente ignorância (amável) da opinião diferente, a suspensão da diferença como diferença. Disso resulta que: 1) não tenho necessidade de te entender para te aceitar; 2) não tenho necessidade de discutir contigo para te dar razão. Dito de outro modo, estou de acordo com as coisas que não entendo e estou, em princípio, de acordo com os coisas com que não estou de acordo. O senhor tem direito à opinião do senhor. Respeito-a. Eu tenho direito a minha opinião e espero que ela seja respeitada. É inútil a dialética. A tolerância recíproca termina numa mudez universal, sorridente, pacífica, uma mudez porque o diálogo é uma interferência radiofônica indesejável. Nessas condições, a tolerância tem efeitos mais do que discutíveis: ela amputa o apetite de conhecimento, de compreensão real da alteridade, e dinamita a necessidade de debater. Para que negociarmos mais, se o resultado é, de qualquer modo, o consentimento mútuo ao direito do outro? Num mundo governado por tais regras, Sócrates ficaria desempregado. Não se encontra nenhuma verdade, não se faz nenhum raciocínio. Não se exige senão que respeitemos, educados, as convicções do interlocutor.
Andrei Pleșu, Da alegria no Leste Europeu e na Europa Ocidental. Trad. Elpídio Mário Dantas Fonseca. São Paulo, É Realizações, p. 72.

19 agosto 2013

Meditações matutinas - Romanos 2

É impressionante o quanto nos deixamos levar pelas exterioridades. Por isso, a Palavra nos chama o tempo todo para atentar ao que vai no coração, "de onde procedem as fontes de vida" (Pv 4.23). Deus não vai julgar somente as ações exteriores, mas "os segredos dos homens" (Rm 2.16), pois Ele nos vê por completo. A quem estamos tentando impressionar? Há questões irresolvidas (pecados não reconhecidos ou não enfrentados, confusão em pontos de doutrina, dificuldades relacionais) que temos buscado empurrar para baixo enquanto fingimos que estamos bem? Aquilo que sempre surge meio enevoado e que adiamos vez após vez? Precisamos tomar cuidado. Aqui, Paulo está se dirigindo aos fariseus que se gloriam na lei e rejeitam Cristo, mas, muitas vezes, não é justamente isso que fazemos? Colocamos nossa segurança em tudo - tempo de igreja, saber teológico, elogios alheios - , menos em Cristo. E nem desconfiamos de que, mesmo crentes, estamos nos deixando aprisionar de novo.

"Deus, sonda meu coração, vê se há em mim algum caminho mau e me guia pelo caminho eterno." (Sl 139)

16 agosto 2013

Um aconselhamento de John Piper

Inspirada por esse vídeo de John Piper, compartilho-o aqui, junto com uma oração:

Senhor, que ao aconselhar alguém possamos sempre, em primeiro lugar, pedir-te de modo humilde por ajuda, já que é o Espírito Santo que convence do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8), e não nós. Aumenta nossa relação de afeto e confiança fundamentais com a tua Palavra, para que ela não nos falte. Que possamos sempre comunicar as tuas verdades de um modo visceral, meigo e vivido: visceral, porque por elas nós vivemos; meigo, porque elas te pertencem, e não a nós; e vivido, porque, deixando para trás o sabor de morte que acompanha todo pecado, já as teremos experimentado em nossas vidas. Ensina-nos a ensinar tuas verdades sem moralismo, sem farisaísmo, mas cientes de que elas vêm do Autor da Vida e foram impressas em nosso coração por meio do preço caríssimo do sacrifício de Cristo. Que o teu amor, a tua pessoalidade e a tua força possam infundir nossas palavras na hora difícil do aconselhamento, alcançando do modo necessário a quem precisa. Muito obrigada! Amém.

15 agosto 2013

Fala, Schlossberg!

"As pessoas desejam os falsos ensinos porque estes as capacitam a absolutizar os sistemas contingentes aos quais elas prestaram lealdade. Elas buscam líderes religiosos que abençoarão a idolatria da nação, ou do estado, ou da busca irrestrita de riqueza e poder, ou sua ira e seu resentiment* transformados em políticas humanitárias. As teologias 'relevantes' da esquerda e da direita conferem borrifos batismais em suas porções respectivas do espectro cultural e político. Um conservadorismo religioso estéril idolatra a cultura do século XIX em todas as suas expressões: hinos, educação, inimigos, vocabulário, e é por isso que soa como uma peça de museu. Um esquerdismo estéril idolatra o presente, brandindo triunfante suas credenciais progressivas, enquanto sua destrutividade e sua vacuidade se tornam evidentes até mesmo para quem os levava a sério. [...] Todas essas associações ilegítimas servem para 'civilizar' o cristianismo e fazê-lo caber em esquemas que os apóstolos jamais reconheceriam."

Idols for Destruction, p. 255-6, tradução minha. Fiquem de olho: a editora Monergismo planeja publicar esse título no Brasil!

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*Resentiment é um termo francês que o autor usa para significar "um sentir-se ofendido que pode até ter base em fatos concretos, mas que em geral decorre da inveja das posses ou das qualidades de outra pessoa. Se o sentimento não é sublimado nem aliviado por algum ato que atinja aquele que é a fonte do sentimento, o resultado é uma condição mental persistente que decorre da repressão de emoções que não são aceitáveis quando expressas abertamente. O resultado é ódio e impulso de vingar-se e dizer coisas que diminuam o outro. [...] O resentiment se origina da tendência de fazer comparações entre si e os demais: posses, riqueza, aparência, inteligência, personalidade, amigos, filhos. Qualquer diferença é suficiente para ativar a patologia" (p. 51-2). Isto tem um papel central, como o leitor já deve ter percebido, no pensamento politicamente correto, cujas políticas humanitárias só trazem destruição para a sociedade (Schlossberg trata abundantemente delas no capítulo sobre Ídolos da Humanidade, logo após essa definição, diferenciando o altruísmo humanista do amor cristão).

14 agosto 2013

Escassez na Venezuela

Já há escassez de alimentos na Venezuela. Ao lado, no You Tube, há vários outros vídeos semelhantes: brigas e filas imensas, com pessoas reclamando que não há mais alimentos básicos à venda. Não se iludam: socialismo é isso. Aconteceu igual na Rússia, na China, em Cuba etc. Por que não aconteceria de novo?

13 agosto 2013

VINACC: Inscrições abertas!

Você vai à VINACC do ano que vem? Estarei lá, falando novamente sobre literatura! Aproveite e faça logo sua inscrição para as palestras!

12 agosto 2013

O falso meio


Percival Puggina conta nesse artigo que o apresentador de tv Pedro Bial, depois de resumir todas as situações de perversão sexual que haviam passado por aquele episódio de seu programa, convidou os telespectadores a também quebrarem os limites do casamento com uma frase:

- Que tal ser fiel ao desejo?

Tratei do que ocorre quando o prazer é alçado à categoria de valor preponderante numa sociedade em meu livro A mente de Cristo. Não é disso que quero falar, mas imaginar aqui três reações possíveis ao convite.

Na primeira reação, o telespectador concorda com Bial e pensa, satisfeito: "Eu já sou fiel ao desejo." Ainda que ele esteja em uma relação monogâmica, em um casamento estável, caso pense que está ali só por ser "fiel a seu desejo", acabou de glorificar o prazer em seu coração, confirmando mais uma vez uma das maiores idolatrias socialmente partilhadas de nossa época.

Em oposição frontal a ele, na segunda reação que imagino, outro telespectador pensa: "Eu sou fiel a Deus em primeiro lugar. Meu desejo é pecaminoso e me levará para onde nem eu vou querer ir. Deus me transformou para que eu pudesse colocar a vontade Dele, revelada em Sua Palavra, em primeiro lugar na minha vida. É por isso que não traio minha esposa." Esse, pelo menos nesse aspecto específico, confirma a adoração ao único Deus.

Mas haverá aquele que parecerá "entre" ambas as reações, ao exclamar mentalmente: "Esse negócio de ser fiel ao desejo é bobagem. Puro subjetivismo. Para tudo há limites. A pessoa precisa manter o casamento, ter autocontrole e não trair."

É a este que me dirijo agora: amigo conservador, não existe "autocontrole". Assim como não existe essa posição mediana em que você pensa se situar. Se você não está agora mesmo se esbaldando em uma relação fora do casamento e fora de todo padrão, não é porque conseguiu se controlar, mas porque, de alguma forma, Deus não permitiu que você participasse do culto ao prazer acima de tudo. Reconheça isto, seja humilde e grato, pois Ele pode nos livrar das loucuras coletivas, mesmo quando não O vislumbramos em nosso horizonte. Fazendo assim, quem sabe também não se libertará das inúmeras outras idolatrias que você tem acalentado, ocultas ou não, ao conhecer o único Deus verdadeiro, o único que pode debelar, em nós, todo tipo de mal.

09 agosto 2013

Castelo forte é nosso Deus

Hoje, fui inspirada por Ein feste Burg ist unser Gott ("Castelo forte é nosso Deus", cantata BWV 80), de Johann Sebastian Bach, composta com base no coral de Martinho Lutero. Bem ao estilo de Bach, a música é diferente do hino, não dá para cantar junto. Mas sua beleza complementa a beleza da letra, que sempre me faz chorar nos últimos versos:

Castelo forte é nosso Deus,
Espada e bom escudo!
Com seu poder defende os seus
Em todo transe agudo.

Com fúria pertinaz
Persegue Satanás
Com ânimo cruel!
Mui forte é o Deus fiel,
Igual não há na terra.

A força do homem nada faz,
Sozinho está perdido!
Mas nosso Deus socorro traz
Em seu Filho escolhido.

Sabeis quem é? Jesus,
O que venceu na cruz,
Senhor dos altos céus,
E sendo o próprio Deus,
Triunfa na batalha.

Se nos quisessem devorar
Demônios não contados,
Não nos iriam derrotar
Nem ver-nos assustados.

O príncipe do mal,
Com seu plano infernal,
Já condenado está!
Vencido cairá
Por uma só palavra.

De Deus o verbo ficará,
Sabemos com certeza,
E nada nos assustará
Com Cristo por defesa!

Se temos de perder
Família, bens, prazer
Se tudo se acabar
E a morte enfim chegar,
Com ele reinaremos!
Que também lhe seja inspiradora para este fim de semana e a nova semana que se iniciará!

08 agosto 2013

Marxismo Cultural na IP de Santo Amaro

Leitor de São Paulo, o que você vai fazer no dia 23 de agosto, sábado, às 19h30? Estarei na Igreja Presbiteriana de Santo Amaro - a igreja de meus queridos amigos Betty e Solano Portela - palestrando sobre Marxismo Cultural. Não perca! E não deixe de conferir, aqui no blog, a bibliografia que vou listar sobre o assunto alguns dias antes da palestra.

Update: será transmitido ao vivo! Confira:
Canal Ustream: http://ustre.am/Y6BH
Twitter: https://twitter.com/umpipsa
Youtube: http://www.youtube.com/user/umpipsa

07 agosto 2013

Recheando a teologia (2)


Como seria se, em nossas salas de aula, na igreja mesmo, "recheássemos" nossa teologia com boa literatura? Por exemplo, usando um poema tão pungente de Fernando Pessoa como este, abaixo, para iniciar uma discussão (com a Bíblia em primeiro lugar, sempre) sobre o pecado original e a hipocrisia? Sem vergonha nem medo de colocar a arte a serviço da verdade naquilo que a arte sabe melhor fazer: através da beleza, instigar uma resposta pessoal, do coração. Que tal?

Será que posso sonhar com aulas assim na igreja?



06 agosto 2013

D. A. Carson sobre 1Coríntios 12-14

Coisa boa a gente precisa divulgar. Hoje o Jonas Madureira anunciou no Facebook um futuro lançamento da editora Vida Nova - o livro Showing the Spirit: a Theological Exposition of 1 Corinthians, 12-14 - , com direito a tradução de um trechinho:
Um dia, todos os carismáticos que conhecem o Senhor e todos os não carismáticos que conhecem o Senhor não terão motivo algum para contender, pois os assim chamados dons carismáticos passarão para sempre. Naquele momento, esses dois grupos de crentes olharão para trás e contemplarão conscientemente o fato de que o que os liga ao mundo passado não é o dom de línguas, nem a animosidade para com o dom de línguas, mas o amor que eles conseguiram demonstrar um para com o outro, apesar do dom de línguas.”
Tive que trazer essa citação para cá, pois é sumamente importante. A primeira epístola aos Coríntios é um dos livros bíblicos mais conhecidos e lidos; o capítulo 13, então, serviu até de inspiração para uma música do Renato Russo (não há desculpa para "nunca ter ouvido falar", pelo menos no Brasil). Nem sempre, porém, os irmãos brasileiros aplicam as verdades contidas ali: há pentecostais que desqualificam todo crente que não fala em línguas e há reformados que desprezam o crente que crê que ainda existe dom de línguas hoje. Ambas as posturas subordinam o essencial (logo, eterno) ao periférico (logo, provisório). A dica do apóstolo é: o AMOR é eterno! Que Deus nos ajude a identificar corretamente o essencial e ater-se a isso acima de tudo.

05 agosto 2013

Mais sobre arte moderna

Da última vez em que estivemos no Rio de Janeiro, eu e André fomos a uma exposição de mulheres artistas no CCBB, vinda do Centre Georges Pompidou, na França. Vi o cartaz enquanto voltava do aeroporto e propus a visita a meu marido. Fiquei animada sobretudo com a presença de obras de Frida Kahlo, que eu nunca tinha visto pessoalmente. Mas eu deveria ter desconfiado que do Pompidou não viria muita coisa boa, pois o museu é conhecido por sua modernidade - essa palavrinha tão abusada.

Pois é, além de um quadro de Frida Kahlo (que nem era tão bom assim) e outro muito impressionante (uma atmosfera sombria e um Jesus crucificado em uma árvore - eu queria encontrar o nome da autora para postar aqui, mas na internet só achei referências à festa de abertura da exposição), todo o evento nos decepcionou, e mais, enfureceu esta que vos fala. Os quadros eram relativamente poucos em comparação aos vídeos, que exibiam o pior do espaço. Como uma mulher cristã se sentiria quando, acreditando proporcionar um momento cultural agradável a seu marido que não conhece bem o Rio, acaba o expondo não só a um monte de nulidades com nome de "arte", mas a incontáveis cenas de nudez feminina? Por aí você pode imaginar em que estado eu fui embora de lá.

Já no hall, um vídeo todo desfocado e com defeitos na imagem - irritante de se ver - mostrava uma mulher descabelada se jogando de lá para cá e cantando sem parar, na primeira pessoa, a linha inicial de Happiness is a Warm Gun, dos Beatles: "I'm not a girl who misses much." Tive que discordar: she missed a lot, principalmente equilíbrio corporal, bom gosto e bom senso. Mais interessante teria sido assistir ao vivo a um bêbado chato cantando; pelo menos a imagem estaria boa.

Outros vídeos também torturavam pela via do enfado: imagens ao ar livre onde nada ou quase nada acontecia, acompanhadas de textos que muito dificilmente poderiam ser classificados como literatura. Em outra sala, André me chamou para ver cenas de um gato - "Olha, querida, esse não tem mulher pelada" - , mas, quando olhei, para a consternação dele, uma mulher pelada estava abraçando o gato.

Já contei aqui uma vez que uma professora minha da Letras havia comentado com uma colega: "O estudo da literatura e o cristianismo são incompatíveis." (Para fazer justiça com a faculdade, meu orientador discordaria dessa apreciação.) Eu me pergunto se a própria arte dos séculos XX e XXI também não estaria se tornando incompatível, não com o cristianismo, mas com a noção de arte que produziu tantas maravilhas nos séculos anteriores e nos fez pensar e sonhar, em vez de responder com tédio, irritação ou vergonha. Desprovida de forma e conteúdo feitos para dizer, boa parte da arte e da cultura modernas (pinturas, filmes, peças de teatro) se viciaram na apresentação de uma nudez muito diferente da grega e da renascentista, uma nudez que, em vez de graciosa e arquetípica como suas predecessoras, é puro atentado ao pudor. O problema, o leitor já adivinhou qual é: atentados ao pudor dificilmente podem ser considerados arte. A arte até pode chocar, mas precisa ser bela antes de tudo. Faltam não só beleza, criatividade e sentido, mas sobretudo amor pelos espectadores, e aqui entram as costumeiras considerações deste blog sobre a cultura pautada pelo politicamente correto: nessa exposição, acredito que o ódio feminista enganou a maioria daquelas mulheres a tal ponto que foram convencidas de que qualquer coisa de suas mãos, só por serem mãos de mulheres, mereceria destaque como obra de arte. Em resultado, parece que só às feministas - e aos masoquistas - foi permitido sentir-se bem ali (e quem não reclamou certamente não o fez por pura culpa, a reação obrigatória exigida pelo feminismo).

E quando o masoquista é a própria arte? O vídeo que trago abaixo não foi retirado da exposição - claro! - , mas é uma sátira muito inteligente da arte moderna. Imagino que o roteiro foi inspirado em uma história terrível sobre a qual escrevi aqui. Também falo de arte moderna aqui. Modifiquei e ampliei esses dois textos para integrar meu livro A mente de Cristo: conversão e cosmovisão cristã.

02 agosto 2013

Você está pronto?

Ontem eu estava distraída, ouvindo uma entrevista com o José Dirceu no computador, quando percebi que a voz dele é bem bonita. Foi inevitável pensar no quanto o Brasil teria ganho - e deixado de perder! - se, em vez de guerrilheiro e político, o Dirceu resolvesse ter seguido a carreira de cantor...

                                                                         * * *

Em Romanos 13.3-4 (uso aqui a versão NVI), a função retributiva da justiça é sancionada pela Bíblia. Para isso, Deus proíbe a vingança pessoal e incumbe as autoridades constituídas:

"os governantes não devem ser temidos, a não ser pelos que praticam o mal. Você quer viver livre do medo da autoridade? Pratique o bem, e ela o enaltecerá. Pois é serva de Deus para o seu bem. Mas se você praticar o mal, tenha medo, pois ela não porta a espada sem motivo. É serva de Deus, agente da justiça para punir quem pratica o mal."

Igualmente, 1 Pedro 2.13-14:

"Por causa do Senhor, sujeitem-se a toda autoridade constituída entre os homens; seja ao rei, como autoridade suprema, seja aos governantes, como por ele enviados para punir os que praticam o mal e honrar os que praticam o bem."

O problema é que, hoje, os governantes têm deixado de punir o mal e recompensar o bem. Pelo contrário: deixam de condenar os maus (impunidade! banditismo! violência!), praticam e aprovam publicamente o mal (corrupção financeira e moral! aborto no SUS! bolsa-família eterna e indiscriminadamente!) e ainda buscam punir o bem (impostos abusivos! controle da educação! lei da palmada! proibição do homeschooling! lei da homofobia! tentativa de controle da internet!). Caem assim na condenação de Isaías 5.20:

"Ai dos que chamam ao mal bem e ao bem, mal, que fazem das trevas luz e da luz, trevas, do amargo, doce e do doce, amargo. Ai [...] dos que por suborno absolvem o culpado, mas negam justiça ao inocente. Por isso, assim como a palha é consumida pelo fogo e o restolho é devorado pelas chamas, assim também as suas raízes apodrecerão e as suas flores, como pó, serão levadas pelo vento; pois rejeitaram a lei do Senhor dos Exércitos, desprezaram a palavra do Santo de Israel."

Diante disso, a regra é clara: não podemos ser levados pelas autoridades a deixar de fazer o bem ou a fazer o mal. Como está em Atos 5.59:

"É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens!"

Você está pronto para a perseguição?