Junto com um Feliz Ano-Novo, revelo no blog uma das melhores descobertas livrescas de 2012: Cornelius Van Til, responsável não só pelo aprofundamento de algumas de minhas intuições mais caras, mas também, e sobretudo, por respostas preciosas a questões muito antigas e cruciais. "Vantilianas" é o título que inaugura aqui, às portas do novo ano, uma série de pequenos textos
inspirados na leitura deste filósofo reformado. Um 2013 recheado de autores crentes sensacionais para você! E não deixe de ler a recente postagem de meu marido André Venâncio, também bastante vantiliana.
Com Van Til, percebemos o quanto o racionalismo e o irracionalismo, esses dois extremos tão presentes no pensamento de nosso século, são faces da
mesma moeda. Quando pensamos ter escapado de uma dogmática crença no poder da
razão lógica para formular universais, logo caímos em uma não menos
dogmática crença de que a existência de particulares é o único absoluto
possível. Em ambas as pontas, ainda ocupamos indevidamente a poltrona de
legisladores do que existe. A única solução para esse dilema é
transferir para Deus a prerrogativa de criar e prescrever absolutos,
permanecendo na posição relativa que é a nossa, mas sempre referente a
Ele.
Claro, esse Deus precisa ser o Deus da Bíblia, o único que não participa de nenhum dos extremos, pois é
transcendente e imanente ao mesmo tempo: o único que mantém sua
onipotência enquanto invade nosso mundo e se torna um de nós, em Cristo, e que, por ser quem é, fornece ao homem um modelo
correto para a correlação entre universais e particulares.
Um esforço, com a graça de Deus, de recolocar o cristianismo na via dos debates intelectuais. Não por pedantismo ou orgulho, mas por uma necessidade quase física de dar nomes às minhas intuições e contornar o status quo das idéias hegemônicas deste mundo.
31 dezembro 2012
24 dezembro 2012
É Natal!
Enquanto andou entre nós, Cristo foi um habitante da eternidade que veio ao tempo; através dele e com ele, por sua morte e ressurreição, somos libertos do pecado e seremos, por fim, criaturas do tempo habitando na eternidade. Essa é a extraordinária boa nova que comemoramos a cada ceia, quando nos alimentamos de seu corpo e seu sangue, e que podemos também comemorar no Natal, suposto dia de sua vinda.
Natal de 2011. André e eu ainda sem amigos mais chegados em Fortaleza, sozinhos em casa, encomendamos uma ceia da confeitaria Fiorella (éramos fregueses assíduos do sushi – nem sempre tinha leite em saquinho ou em caixa, mas se podia contar sem falta com um sushi excelente e barato de segunda a sábado). Foi um arranjo simples, com peru fatiado e alguns breguetinhos para enfeitar (cereja, passas, essas coisas), junto com uma bandeja de queijos que durou mais de uma semana (eu ainda não tinha descoberto a intolerância absoluta a lactose). E uma sobremesa sob medida, sem glúten: um pudim de claras. Tudo isso porque minha enxaqueca estava diária (teria sido a reação à lactose?) e não queríamos arriscar o dia de Natal com todas as tarefas da cozinha em minhas mãos. Fiz apenas o arroz. Coloquei um cd do Josué Rodrigues no som e fomos cear quando sentimos fome. Orações de gratidão e letras de hinos antigos emolduraram aquele momento. Preciso fazer um esforço para lembrar os presentes que ganhei, mas até hoje não esvaneceu minha memória emocional da alegria e da paz que preencheram nosso jantar a dois. Que seu 25 de dezembro de 2012 seja assim, leitor, leitora: simples, belo e focado em Jesus.
Quero pedir mais por vocês neste dia. Que Deus, através de seu Espírito, possa convencê-los de uma só vez (conversão) e um pouco a cada dia (santificação) do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8), até que, transformados de glória em glória (2 Co 3.18), vocês cheguem à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus (Ef 4.13).Esse é o lindo desejo de nosso Pai para cada um de nós. Feliz Natal!
* * *
Natal de 2011. André e eu ainda sem amigos mais chegados em Fortaleza, sozinhos em casa, encomendamos uma ceia da confeitaria Fiorella (éramos fregueses assíduos do sushi – nem sempre tinha leite em saquinho ou em caixa, mas se podia contar sem falta com um sushi excelente e barato de segunda a sábado). Foi um arranjo simples, com peru fatiado e alguns breguetinhos para enfeitar (cereja, passas, essas coisas), junto com uma bandeja de queijos que durou mais de uma semana (eu ainda não tinha descoberto a intolerância absoluta a lactose). E uma sobremesa sob medida, sem glúten: um pudim de claras. Tudo isso porque minha enxaqueca estava diária (teria sido a reação à lactose?) e não queríamos arriscar o dia de Natal com todas as tarefas da cozinha em minhas mãos. Fiz apenas o arroz. Coloquei um cd do Josué Rodrigues no som e fomos cear quando sentimos fome. Orações de gratidão e letras de hinos antigos emolduraram aquele momento. Preciso fazer um esforço para lembrar os presentes que ganhei, mas até hoje não esvaneceu minha memória emocional da alegria e da paz que preencheram nosso jantar a dois. Que seu 25 de dezembro de 2012 seja assim, leitor, leitora: simples, belo e focado em Jesus.
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Quero pedir mais por vocês neste dia. Que Deus, através de seu Espírito, possa convencê-los de uma só vez (conversão) e um pouco a cada dia (santificação) do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8), até que, transformados de glória em glória (2 Co 3.18), vocês cheguem à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus (Ef 4.13).Esse é o lindo desejo de nosso Pai para cada um de nós. Feliz Natal!
17 dezembro 2012
Revolucionários e conservadores
"Precisamos viver uma vida mais revolucionária que a dos revolucionários." Irmão André
Vamos pensar nesses termos em seu sentido mais básico e universal. O que são as tradições em si? Apenas o saber humano acumulado ao longo do tempo e cristalizado em linguagens, costumes, valores morais, comportamentos, leis. Nada são, se Deus não as sanciona, ou seja, se não procedem da sabedoria divina. E o que são as revoluções? Apenas as mudanças radicais e corajosas.
Nessa apreciação mais ampla da palavra, Jesus foi, sim, um grande revolucionário em sua época. Ele desafiou e aboliu as tradições vazias do judaísmo que vigorava então, oferecendo a quem desejasse um relacionamento profundo e verdadeiro com Ele, a fonte de vida. Da mesma forma, podemos dizer que nossa fé é revolucionária: enquanto todas as demais religiões enaltecem o mérito humano, pois procedem do coração enganoso, viver na graça de Deus será sempre novidade de vida enquanto estivermos neste mundo. Por outro lado, Jesus deixou muito claro que não vinha para abolir a Lei judaica, mas para a cumprir. Reportava-se sempre ao Antigo Testamento como fonte de verdade, assim como fazemos hoje em relação à Bíblia inteira. Ele não jogou tudo fora, muito pelo contrário: seus embates com os fariseus objetivavam restabelecer o espírito original e legítimo da Lei. Assim, Jesus também foi um conservador, afirmando o sentido correto de uma tradição que não vinha de mãos humanas, mas havia sido entregue aos homens pelo próprio Deus.
A questão central, como o leitor já deve ter percebido, não é a postura conservadora ou a postura revolucionária em si, mas a boa triagem do que se deve conservar e do que se deve abolir - um equilíbrio que deve ser mantido tanto no nível individual quanto no da sociedade, já que tal equilíbrio é responsável pelo progresso. Não se consegue muito na vida apegando-se demais ao passado, sem critério algum; muito menos projetando tudo para o futuro, sem o devido apreço por aquilo que funciona adequadamente há gerações.
Tendo dito isso, passo a considerar o sentido moderno e contextualizado no mundo ocidental dos termos "conservador" e "revolucionário". Afinal, palavras e conceitos não são unívocos, mas ganham sentidos específicos de acordo com cada tempo e cultura. Assim, há certo consenso em torno dos termos "conservador" e "revolucionário" hoje quando usados como "termos técnicos", ou seja, por gente que entende minimamente de política.
Esse sentido, moderno e contextualizado, obviamente tem história, e sua história se confunde com a do próprio cristianismo ocidental. Através da graça comum de Deus, o Ocidente passou a moldar-se pela ampla influência da igreja cristã, desde os tempos do primeiro imperador cristão, Constantino (272-337), dando um fim aos aspectos mais cruéis dos costumes romanos. Esse processo gerou aos poucos um consenso cultural em torno de valores legitimamente bíblicos, tais como: a apreciação incondicional pela vida humana independentemente de status social; o amor como mais alto ideal; o amor pelos inimigos; a importância da interioridade; a inviolabilidade da consciência; o cuidado com os mais fragilizados da sociedade (pobres, estrangeiros, órfãos e viúvas); a valorização da mulher e da criança, e muitos outros. Se você abre sua Bíblia, encontra nela esses valores e concorda com eles de imediato, como se respondesse "é óbvio" à Palavra de Deus, não se engane: foram necessários séculos para que você chegasse a esse estado. A graça comum de Deus gerou consensos na cultura e você, leitor, como ser social, também é fruto desses consensos.
No século XIX, Karl Marx (1818-1883) definiu toda a realidade em torno do conceito de luta de classes. Para ele, uma sociedade igualitária seria desprovida de classes sociais, diferenças econômicas e divisão do trabalho. Ora, tal nivelamento não-natural dos indivíduos só pode ser conseguido através de um poder gigantesco que atue em duas frentes: coerção violenta (prisões arbitrárias, execuções sumárias, instituição do crime de consciência) e pressão ideológica onipresente (controle estatal da mídia e da educação). Assumido como tarefa do Estado, tamanho ideal aniquilava as vocações pessoais, as benesses merecidas por esforço, o livre pensar, a individualidade. O povo precisava deixar seus princípios mais básicos de lado e consentir com assassinato, roubo, mentira, manipulação, tudo em nome da idolatria ao Estado. Quem não se adaptasse seria suprimido - por isso os regimes comunistas e socialistas mataram tanto na antiga União Soviética, na China, e ainda matam em Cuba e na Coreia do Norte.
Nos países mais democráticos, imaginava-se que, expandindo-se o marxismo pelo mundo, o proletariado se levantaria naturalmente para lutar pela causa socialista. Tal não ocorreu, e os ideólogos da Escola de Frankfurt culparam os valores cristãos pela ausência de um espírito revolucionário espontâneo. O Deus cristão, zeloso e exclusivista, passou a ser novamente o alvo maior por parte de poderosos e aspirantes ao poder, tal como havia sido na época do Império Romano. A diferença é que, enquanto a ambição dos ditadores romanos não era totalitária, a nova ideologia coletivista demandava que essa idolatria fosse prestada de coração, substituindo por completo tanto a consciência individual inviolável perante Deus quanto os limites morais em conformidade com os dez mandamentos e os ensinamentos de Jesus. Para isso, em prol da revolução por vir, conforme concluíram esses ideólogos, a "cultura judaico-cristã" teria de ser combatida. Sob as bandeiras da modernidade, do progressismo, da juventude e do amor, as mentes revolucionárias de nosso tempo buscam solapar toda ideia do Deus cristão, negando o certo e o errado, a moral sexual, os laços familiares, a noção dos deveres. Intentam criar uma geração de pessoas vazias, mesquinhas e devassas, mais facilmente corruptíveis ou manipuláveis.
Esses são os "revolucionários" de hoje, que, além da revolução socialista propriamente dita, geralmente defendem causas relacionadas ao marxismo cultural, ou pensamento politicamente correto, aferrando-se ao feminismo, ao movimento gay, às ações afirmativas, à negação de qualquer autoridade (divina ou constituída por Deus), a projetos de descriminalização do aborto, do infanticídio (cf. Peter Singer) etc. Em contraste, os conservadores ocidentais (sempre nessa segunda acepção, mais específica) são os não-socialistas que se importam com a manutenção do substrato cristão na cultura, cujos ideais são frontalmente opostos aos anteriores. Esses sabem que a preservação dos valores cristãos que compõem a civilização judaico-cristã é fundamental para impedir a morte e a destruição de pessoas e sociedades - em um sentido literal. Sabem que, quando abençoa a cultura, o cristianismo:
- protege o indivíduo, impedindo a injustiça e a opressão máxima, inclusive a estatal (pois estamos todos igualmente debaixo de autoridade divina e a ela respondemos);
- protege os laços familiares (pois milita contra o divórcio e o adultério);
- protege a mulher do abandono e da maternidade enquanto solteira (pois a ajuda a guardar-se para um homem que realmente se comprometa com ela);
- protege a criança no ventre e fora do ventre (pois abomina o aborto, o infanticídio e os abusos sexuais).
Esses são aspectos concernentes à graça comum. Mas sabemos que o cristianismo ultrapassa em muito os benefícios para esta vida, iniciando-se com a morte do velho homem e o renascimento espiritual em Cristo. Assim, caso sejam cristãos verdadeiramente convertidos, os conservadores conseguirão escapar ao moralismo raivoso e infrutífero que por vezes os caracteriza, salgando e iluminando a terra, ao mesmo tempo em que apontarão para a necessidade de conservar, sem tradicionalismos vãos, mas de modo vívido e atento, todas as bênçãos advindas da graça comum de Deus para a sociedade, através da infusão da Bíblia na cultura. E é por amor que o farão.
É claro que, na prática, o espectro de variações é enorme. Há os conservadores naturais, pouco afeitos a mudanças, e os revolucionários naturais, muitas vezes "rebeldes sem causa". No âmbito político, além de conservadores e revolucionários, há os liberais, que defendem o Estado mínimo mas, presas de um economicismo que é quase a outra face da moeda marxista, não se importam com o fim dos valores cristãos na cultura; nos EUA, há os "neocons", menos apegados ao cristianismo. Mas atenção: no Brasil, "direita" é coronelismo e militarismo; nunca houve um verdadeiro conservadorismo histórico em nosso país. Existem esquerdistas moderados, não totalitários, mas são bichos raros na América Latina, continente rico de vitimizações e antigos complexos de colônia, onde se espera que tudo venha do governo. O Brasil, infelizmente, tende à esquerda "deixe que o governo faça por você". Entre os cristãos, além dos conservadores convictos, há muitos conservadores inconscientes que simpatizam de longe com a esquerda somente pela "causa social". Conheço alguns deles e, quando encontro abertura, procuro ajudá-los a compreenderem melhor sua posição. E há muitos esquerdistas cristãos que tentam, sem sucesso, preservar a ideologia, rejeitando o relativismo moral que lhe é inerente e adotando apenas o amor aos pobres e o sonho de uma sociedade igualitária. O problema é que, ao sancionarem regimes como o de Cuba ou demonstrarem indiferença diante das matanças comunistas, aderem ao relativismo moral inescapavelmente (em outras questões também, via de regra - e quanto mais socialistas, mais tenderão a confundir revolução com Reino de Deus).
Ainda uma nota sobre Francis Schaeffer. Quando o grande apologista escreveu isto,
espero que tenha ficado claro agora, com meu artigo, que ele se referia ao sentido universal de "conservador", e não ao sentido moderno, político. Na política, Schaeffer era indiscutivelmente conservador, ou seja, não comungava de modo algum com os ideais esquerdistas. Se você não leu o suficiente de sua obra para constatar isso, fique atento, pois pretendo escrever mais sobre o tema "Schaeffer conservador" no futuro. Se tiver pressa, porém, leia O grande desastre evangélico e Como viveremos, e depois venha falar comigo nos comentários.
Por fim, uma observação pessoal. É no sentido político que me considero conservadora, e não no sentido amplo. Nunca deixei de ter coragem para mudar, e quem me conhece há muitos anos sabe disso. Aliás, minhas inclinações naturais sempre foram progressistas em vários aspectos, mas foi Deus que me ensinou a abandonar os deslimites tão daninhos incentivados hoje pela cultura e a abraçar Seus limites protetores. Glória a Ele por isto!
Vamos pensar nesses termos em seu sentido mais básico e universal. O que são as tradições em si? Apenas o saber humano acumulado ao longo do tempo e cristalizado em linguagens, costumes, valores morais, comportamentos, leis. Nada são, se Deus não as sanciona, ou seja, se não procedem da sabedoria divina. E o que são as revoluções? Apenas as mudanças radicais e corajosas.
Nessa apreciação mais ampla da palavra, Jesus foi, sim, um grande revolucionário em sua época. Ele desafiou e aboliu as tradições vazias do judaísmo que vigorava então, oferecendo a quem desejasse um relacionamento profundo e verdadeiro com Ele, a fonte de vida. Da mesma forma, podemos dizer que nossa fé é revolucionária: enquanto todas as demais religiões enaltecem o mérito humano, pois procedem do coração enganoso, viver na graça de Deus será sempre novidade de vida enquanto estivermos neste mundo. Por outro lado, Jesus deixou muito claro que não vinha para abolir a Lei judaica, mas para a cumprir. Reportava-se sempre ao Antigo Testamento como fonte de verdade, assim como fazemos hoje em relação à Bíblia inteira. Ele não jogou tudo fora, muito pelo contrário: seus embates com os fariseus objetivavam restabelecer o espírito original e legítimo da Lei. Assim, Jesus também foi um conservador, afirmando o sentido correto de uma tradição que não vinha de mãos humanas, mas havia sido entregue aos homens pelo próprio Deus.
A questão central, como o leitor já deve ter percebido, não é a postura conservadora ou a postura revolucionária em si, mas a boa triagem do que se deve conservar e do que se deve abolir - um equilíbrio que deve ser mantido tanto no nível individual quanto no da sociedade, já que tal equilíbrio é responsável pelo progresso. Não se consegue muito na vida apegando-se demais ao passado, sem critério algum; muito menos projetando tudo para o futuro, sem o devido apreço por aquilo que funciona adequadamente há gerações.
Tendo dito isso, passo a considerar o sentido moderno e contextualizado no mundo ocidental dos termos "conservador" e "revolucionário". Afinal, palavras e conceitos não são unívocos, mas ganham sentidos específicos de acordo com cada tempo e cultura. Assim, há certo consenso em torno dos termos "conservador" e "revolucionário" hoje quando usados como "termos técnicos", ou seja, por gente que entende minimamente de política.
Esse sentido, moderno e contextualizado, obviamente tem história, e sua história se confunde com a do próprio cristianismo ocidental. Através da graça comum de Deus, o Ocidente passou a moldar-se pela ampla influência da igreja cristã, desde os tempos do primeiro imperador cristão, Constantino (272-337), dando um fim aos aspectos mais cruéis dos costumes romanos. Esse processo gerou aos poucos um consenso cultural em torno de valores legitimamente bíblicos, tais como: a apreciação incondicional pela vida humana independentemente de status social; o amor como mais alto ideal; o amor pelos inimigos; a importância da interioridade; a inviolabilidade da consciência; o cuidado com os mais fragilizados da sociedade (pobres, estrangeiros, órfãos e viúvas); a valorização da mulher e da criança, e muitos outros. Se você abre sua Bíblia, encontra nela esses valores e concorda com eles de imediato, como se respondesse "é óbvio" à Palavra de Deus, não se engane: foram necessários séculos para que você chegasse a esse estado. A graça comum de Deus gerou consensos na cultura e você, leitor, como ser social, também é fruto desses consensos.
No século XIX, Karl Marx (1818-1883) definiu toda a realidade em torno do conceito de luta de classes. Para ele, uma sociedade igualitária seria desprovida de classes sociais, diferenças econômicas e divisão do trabalho. Ora, tal nivelamento não-natural dos indivíduos só pode ser conseguido através de um poder gigantesco que atue em duas frentes: coerção violenta (prisões arbitrárias, execuções sumárias, instituição do crime de consciência) e pressão ideológica onipresente (controle estatal da mídia e da educação). Assumido como tarefa do Estado, tamanho ideal aniquilava as vocações pessoais, as benesses merecidas por esforço, o livre pensar, a individualidade. O povo precisava deixar seus princípios mais básicos de lado e consentir com assassinato, roubo, mentira, manipulação, tudo em nome da idolatria ao Estado. Quem não se adaptasse seria suprimido - por isso os regimes comunistas e socialistas mataram tanto na antiga União Soviética, na China, e ainda matam em Cuba e na Coreia do Norte.
Nos países mais democráticos, imaginava-se que, expandindo-se o marxismo pelo mundo, o proletariado se levantaria naturalmente para lutar pela causa socialista. Tal não ocorreu, e os ideólogos da Escola de Frankfurt culparam os valores cristãos pela ausência de um espírito revolucionário espontâneo. O Deus cristão, zeloso e exclusivista, passou a ser novamente o alvo maior por parte de poderosos e aspirantes ao poder, tal como havia sido na época do Império Romano. A diferença é que, enquanto a ambição dos ditadores romanos não era totalitária, a nova ideologia coletivista demandava que essa idolatria fosse prestada de coração, substituindo por completo tanto a consciência individual inviolável perante Deus quanto os limites morais em conformidade com os dez mandamentos e os ensinamentos de Jesus. Para isso, em prol da revolução por vir, conforme concluíram esses ideólogos, a "cultura judaico-cristã" teria de ser combatida. Sob as bandeiras da modernidade, do progressismo, da juventude e do amor, as mentes revolucionárias de nosso tempo buscam solapar toda ideia do Deus cristão, negando o certo e o errado, a moral sexual, os laços familiares, a noção dos deveres. Intentam criar uma geração de pessoas vazias, mesquinhas e devassas, mais facilmente corruptíveis ou manipuláveis.
Esses são os "revolucionários" de hoje, que, além da revolução socialista propriamente dita, geralmente defendem causas relacionadas ao marxismo cultural, ou pensamento politicamente correto, aferrando-se ao feminismo, ao movimento gay, às ações afirmativas, à negação de qualquer autoridade (divina ou constituída por Deus), a projetos de descriminalização do aborto, do infanticídio (cf. Peter Singer) etc. Em contraste, os conservadores ocidentais (sempre nessa segunda acepção, mais específica) são os não-socialistas que se importam com a manutenção do substrato cristão na cultura, cujos ideais são frontalmente opostos aos anteriores. Esses sabem que a preservação dos valores cristãos que compõem a civilização judaico-cristã é fundamental para impedir a morte e a destruição de pessoas e sociedades - em um sentido literal. Sabem que, quando abençoa a cultura, o cristianismo:
- protege o indivíduo, impedindo a injustiça e a opressão máxima, inclusive a estatal (pois estamos todos igualmente debaixo de autoridade divina e a ela respondemos);
- protege os laços familiares (pois milita contra o divórcio e o adultério);
- protege a mulher do abandono e da maternidade enquanto solteira (pois a ajuda a guardar-se para um homem que realmente se comprometa com ela);
- protege a criança no ventre e fora do ventre (pois abomina o aborto, o infanticídio e os abusos sexuais).
Esses são aspectos concernentes à graça comum. Mas sabemos que o cristianismo ultrapassa em muito os benefícios para esta vida, iniciando-se com a morte do velho homem e o renascimento espiritual em Cristo. Assim, caso sejam cristãos verdadeiramente convertidos, os conservadores conseguirão escapar ao moralismo raivoso e infrutífero que por vezes os caracteriza, salgando e iluminando a terra, ao mesmo tempo em que apontarão para a necessidade de conservar, sem tradicionalismos vãos, mas de modo vívido e atento, todas as bênçãos advindas da graça comum de Deus para a sociedade, através da infusão da Bíblia na cultura. E é por amor que o farão.
É claro que, na prática, o espectro de variações é enorme. Há os conservadores naturais, pouco afeitos a mudanças, e os revolucionários naturais, muitas vezes "rebeldes sem causa". No âmbito político, além de conservadores e revolucionários, há os liberais, que defendem o Estado mínimo mas, presas de um economicismo que é quase a outra face da moeda marxista, não se importam com o fim dos valores cristãos na cultura; nos EUA, há os "neocons", menos apegados ao cristianismo. Mas atenção: no Brasil, "direita" é coronelismo e militarismo; nunca houve um verdadeiro conservadorismo histórico em nosso país. Existem esquerdistas moderados, não totalitários, mas são bichos raros na América Latina, continente rico de vitimizações e antigos complexos de colônia, onde se espera que tudo venha do governo. O Brasil, infelizmente, tende à esquerda "deixe que o governo faça por você". Entre os cristãos, além dos conservadores convictos, há muitos conservadores inconscientes que simpatizam de longe com a esquerda somente pela "causa social". Conheço alguns deles e, quando encontro abertura, procuro ajudá-los a compreenderem melhor sua posição. E há muitos esquerdistas cristãos que tentam, sem sucesso, preservar a ideologia, rejeitando o relativismo moral que lhe é inerente e adotando apenas o amor aos pobres e o sonho de uma sociedade igualitária. O problema é que, ao sancionarem regimes como o de Cuba ou demonstrarem indiferença diante das matanças comunistas, aderem ao relativismo moral inescapavelmente (em outras questões também, via de regra - e quanto mais socialistas, mais tenderão a confundir revolução com Reino de Deus).
Ainda uma nota sobre Francis Schaeffer. Quando o grande apologista escreveu isto,
A maior injustiça que se pode pedir a um jovem é pedir que ele seja conservador. O cristianismo não é conservador, mas revolucionário. Ser conservador é não entender o principal, pois o conservadorismo significa permanecer na corrente do status quo, e isso não mais nos pertence
espero que tenha ficado claro agora, com meu artigo, que ele se referia ao sentido universal de "conservador", e não ao sentido moderno, político. Na política, Schaeffer era indiscutivelmente conservador, ou seja, não comungava de modo algum com os ideais esquerdistas. Se você não leu o suficiente de sua obra para constatar isso, fique atento, pois pretendo escrever mais sobre o tema "Schaeffer conservador" no futuro. Se tiver pressa, porém, leia O grande desastre evangélico e Como viveremos, e depois venha falar comigo nos comentários.
Por fim, uma observação pessoal. É no sentido político que me considero conservadora, e não no sentido amplo. Nunca deixei de ter coragem para mudar, e quem me conhece há muitos anos sabe disso. Aliás, minhas inclinações naturais sempre foram progressistas em vários aspectos, mas foi Deus que me ensinou a abandonar os deslimites tão daninhos incentivados hoje pela cultura e a abraçar Seus limites protetores. Glória a Ele por isto!
09 dezembro 2012
Onde está a contracultura?
Estamos no mundo mas não somos do mundo. Somos o sal da terra, a luz do mundo. São palavras de Jesus sobre nós. Os cristãos são chamados por Ele para ser contracultura. “Eles não são do mundo, como eu também não sou” (Jo 17.14). Isto significa que lutamos pela pureza: dentro de nós, no caminho tão pessoal e bonito da santificação, pela graça de Deus; e também fora de nós, denunciando a crueldade do pecado e convidando a outros para que sigam o mesmo caminho, escorados de igual modo na graça de Deus. Quando o fazemos fora de nós, confrontamos não só os incrédulos, para que se convertam, mas também os próprios crentes, para que deixem determinados pecados e se santifiquem, desatando os laços com outros (falsos) doadores de identidade – bens materiais, aparência, ideologias, saberes, profissões, condição social etc. Nossa identidade realmente última deve ser Cristo em todas as esferas da vida.
Quando o cristão adere inadvertidamente ao culto a um ídolo
mundano, incorporando ao cristianismo elementos espúrios, esse chamado de
Cristo tende a se tornar inócuo. Afinal, se nossa identidade é partilhada entre
Cristo e ídolos, não nos diferenciamos do mundo o suficiente para salgá-lo. E o
sal que não salga “só presta para ser pisado pelos homens” (Mt 5.13). Esse
culto ambíguo e informe recebe um nome na filosofia reformada: “síntese”. E há
muito mais sínteses do que conseguimos identificar, certamente: como dizia
Calvino, o coração é uma incansável fábrica de ídolos.
No blog, e também no livro, uma das sínteses mais presentes
em minha denúncia do pecado é a que mistura cristianismo com esquerdismo.
Dediquei longo tempo ao estudo do esquerdismo em suas variadas formas –
soviético, chinês, cubano, politicamente correto – e ainda pretendo fazê-lo
muito mais. Porém, sabendo que o pecado nos empurra para extremos que apenas
parecem opostos, mas são análogos, tenho ocupado minha mente hoje com a síntese
que indiferencia cristianismo e conservadorismo – ou, de modo mais específico,
cristianismo e luta contra o esquerdismo (ou luta cultural). Encerro a ambas as
sínteses – com esquerdismo e com conservadorismo – sob a expressão “politização
da fé”.
O que ocorre quando o cristianismo se dilui na politização
da fé? A luta contra o pecado se torna predominantemente exterior, quando na
verdade é primordialmente interior – ou seja, sempre se inicia com a
identificação dos pecados íntimos, seguindo-se com arrependimento, perdão e
cura diante de Deus. De fato, esse autoexame é uma condição sine qua non para o exame adequado dos
pecados exteriores, conforme enfatizou Jesus em Lucas 6.41-42. Se não
conhecemos nem nossos próprios pecados, como enxergaremos o pecado alheio?
Em Letters of Francis
A. Schaeffer [Cartas de Francis A. Schaeffer], o grande apologista apresenta
um referencial para que a importância da interioridade na vida cristã seja
preservada, representado por um esquema onde aparecem três círculos
concêntricos:
O círculo da apologética se correlaciona com “a aplicação da
teologia à incredulidade” (John Frame), ou seja, com a luta da verdade contra a
mentira que reside no coração humano (a começar pelo coração do próprio
apologista: não esquecer Lucas 6.41-42). O das doutrinas diz respeito à
afirmação positiva da fé cristã. E o interior é de onde fluem “os rios de água
viva”, onde ocorre a conversão, onde se dá o relacionamento pessoal da alma
individual com Deus . Sem o interior, nenhum dos outros dois pode constituir um
cristianismo legitimamente bíblico. Sem o interior, de fato, não pode haver um
salgar efetivo, pois somente nos diferenciamos do mundo à medida que nos
deixamos transformar por Cristo.
Para Schaeffer, e também para mim, não há alternativa a não
ser pedir a graça de Deus para que cada um desses círculos esteja em seu devido
lugar na nossa vida. Porque somos pecadores, nossa tendência sempre será nos
afastar de Deus para manter nossos pecados intactos (Jo 3.19). Então, para
disfarçar esse afastamento, tenderemos a substituir a vida interior com Deus
pela luta exterior com as pessoas, as ideologias, os pais, os professores, o
“sistema”, achando que servimos a Deus com isso, sem perceber o quanto estamos
secos por dentro. É quando o empunhar das armas toma o lugar da novidade de vida em Cristo. Se você
acredita ter caído nessa armadilha, talvez ajude lembrar que estamos
soldados neste mundo, mas nossa verdadeira natureza é de adoradores: amar a
Deus e aos irmãos é o que faremos por toda a eternidade.
É precisamente nessa inversão – que suprime a primazia da
vida interior e a substitui pela luta cultural – que eu identifico o cruzamento
entre esquerdismo e conservadorismo como sínteses com o cristianismo. A única
diferença é que não creio ser possível, para o cristão, aderir ao esquerdismo
sem realizar sínteses, enquanto o conservadorismo, por ser a posição mais
natural biblicamente, pode ser adotado sem corromper o cerne da fé. Porém, isto
não significa que o cristão conservador deva se sentir imune ao mecanismo da
inversão – e de fato, nesses tempos em que (finalmente!) as posições
conservadoras “saem do armário” e se mostram à luz do dia, vários exemplos
desse mecanismo já podem ser percebidos. Ainda tratarei mais disso aqui.
13 novembro 2012
05 novembro 2012
22 outubro 2012
21 setembro 2012
Fala, Schaeffer!
Essa declaração de Francis Schaeffer, em uma de suas cartas pessoais, é tão importante que decidi traduzi-la e postá-la aqui, enquanto estou às voltas com minha mudança para Natal. Boa leitura e boas reflexões!
"Acredito que, quando a Bíblia diz que Deus é o Deus da verdade, essa afirmação é muito mais profunda do que geralmente alcançamos. Está dito ali que Deus é a verdade no sentido de que é o Deus da realidade - que há apenas um Deus e uma realidade. E quem não conhece Deus nem a realidade que advém desse conhecimento (inclusive o mundo tal como Ele fez e tal como é agora debaixo do pecado) não tem Deus e vive em um universo que de fato não existe, um universo não verdadeiro no sentido profundo de não real. Creio que foi isso o que levou a filosofias como o existencialismo e o positivismo lógico. E mais, acredito que esse universo de 'não Deus' e de irrealidade é um produto da 'grande mentira' do pai da mentira, o Diabo: uma completa perversão."
Letters of Francis A. Schaeffer
18 setembro 2012
Atenção leitores de Curitiba!
Estarei em Curitiba no dia 3 de outubro, na companhia honrada de Luiz Sayão, para a Conferência de Teologia Vida Nova, na Igreja Evangélica Assembleia de Deus. Ministrarei uma palestra sobre a formação da cosmovisão cristã. Compareçam! Será muito bom abraçar leitores curitibanos e, de quebra, curtir um friozinho! :-)
Mais informações aqui.
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05 setembro 2012
Trinta conselhos
Encontrei no blog de Daniel Santos Jr. a tradução (feita por ele mesmo) de uma entrevista de John Frame sobre "conselhos para seminaristas e teólogos iniciantes". Como já era de se esperar - toda boa teologia é abrangente -, os conselhos são valiosíssimos para qualquer cristão. Selecionei aqui, entre os trinta conselhos, os que me deixaram impressões mais profundas.
Um conselho fundamental para nossa cultura:
Um conselho ao qual preciso especialmente prestar atenção, sobretudo nos debates por escrito:
Um conselho sempre presente em meus textos:
Um conselho que tenho verbalizado com frequência quando converso com amigos de outras denominações, e com o qual ainda tenho a aprender:
Um conselho que me divertiu:
Uma frase que me fará pensar para o resto da vida:
Um conselho fundamental para nossa cultura:
2. Valorize seu relacionamento com Cristo, com sua família e com a igreja mais do que a sua carreira. Você influenciará mais pessoas por meio de sua vida do que pela sua teologia. As deficiências em sua vida acabarão negando a influência de suas ideias, mesmo as ideias que são verdadeiras.
Um conselho ao qual preciso especialmente prestar atenção, sobretudo nos debates por escrito:
11. Numa controvérsia, nunca se posicione, precipitadamente, de um lado do debate. Faça um trabalho analítico de ambas as partes. Considere estas possibilidades: a) os dois lados podem estar olhando para o mesmo assunto de perspectivas diferentes, mas não pensando de maneira diferente; b) ambos os labos podem estar despercebidamente desprezando um ponto que poderia fazê-los pensar em harmonia; c) eles estão tendo dificuldade de se comunicar um com o outro porque estão usando termos que têm sentidos múltiplos; d) pode haver uma terceira alternativa melhor do que as duas posições que estão sendo defendidas; e) ambas as opiniões na controvérsia, mesmo que genuínas, devem ser toleradas na igreja, assim como as diferenças entre vegetarianos e não vegetarianos em Rm 14.
Um conselho sempre presente em meus textos:
23. Tenha sempre um pé atrás com todas as “tendências” em teologia. Quando você vir todo mundo entrando no mesmo vagão, seja feminismo, liturgia, pós-modernismo, ou qualquer outro “ismo”, este é o momento para você abrir os olhos e usar sua capacidade crítica. Não embarque em qualquer uma destas tendências antes de fazer a sua sondagem.
Um conselho que tenho verbalizado com frequência quando converso com amigos de outras denominações, e com o qual ainda tenho a aprender:
14. Esteja preparado para avaliar criticamente a sua própria tradição. É uma ilusão pensar que uma tradição religiosa tem todas as verdades ou está sempre certa. Não seja um daqueles teólogos conhecidos por tentar fazer arminianos se transformarem em calvinistas (ou vice-versa).
Um conselho que me divertiu:
28. Teólogos iniciantes geralmente se veem como o próximo Lutero. Olhe, é muito provável que Deus não o tenha escolhido para ser o líder de uma nova reforma, como nos dias de Lutero. Mesmo se este for o caso, nunca se intitule como "o reformador"; deixe que os outros decidam se isso é realmente o que você é.
Uma frase que me fará pensar para o resto da vida:
Nada é mais importante em teologia do que o senso de proporção.
30 agosto 2012
Five Hundred Miles, The Brothers Four
Em meio ao milhão de tarefas - e com mais uma mudança interestadual à frente - , tem sido difícil escrever regularmente para o blog. Mas há outro fator importante em jogo: esta blogueira que virou escritora precisa
Five Hundred Miles (Quinhentas milhas) é um clássico do folk americano. É a primeira música em inglês que aprendi na vida, quando criança, e nunca mais esqueci dela. E eu estava na classe de alfabetização! Apaixonei-me por folk e ainda sou apaixonada. Se eu tivesse nascido nos EUA, o apelo para virar cantora folk teria sido grande!
Ouvindo hoje os Brothers Four, não pude deixar de exclamar: COMO eu queria que eles fossem crentes! Imagino Deus sendo louvado com essas vozes e tenho vontade de chorar.
A letra é o lamento de alguém que saiu de casa, perdeu tudo o que tinha e está muito envergonhado para voltar:
Sim, é ele mesmo: se o Filho Pródigo tivesse um violão e talento musical, talvez tivesse composto algo bem parecido. No vídeo, as pessoas ouvem emocionadas e cantam junto, como se participassem dos sentimentos desamparados do rapaz. E a gente, pensando em Lucas 15.11, tem vontade de responder: pode voltar sim, não importa como você está, sempre pode voltar para os braços do Pai.Not a shirt on my back, not a penny to my name Lord, I can't go back home this a way
29 julho 2012
Os livros das palestras, enfim!
Na sexta-feira passada, ministrei uma palestra no Acampamento do GAP, chamada "A secularização do sagrado e a espiritualização do secular". No sábado, para os jovens da Assembleia de Deus em Jaguaretama (interior do Ceará), falei sobre "Fé e razão" e dei uma palavra sobre Romanos 12.1-2. Agradeço muito a Bruno Lima, líder do GAP, e Rudson Almeida, de Jaguaretama, pelos convites que tanto me alegraram nesses dias!
Prometi aos jovens do GAP e de Jaguaretama que iria postar no blog a lista dos livros que usei para as palestras. Aqui vai, com comentários:
Calvinismo, Abraham Kuyper
Predestinação e eleição? Nada disso: esse livro vai impactar qualquer cristão, mesmo o não-calvinista, pois seu foco é outro. Afirmando que "não há um centímetro desta vida que não pertença a Cristo", o autor explora as características de uma cosmovisão genuinamente orientada pela Bíblia e pelo senhorio de Cristo em cada aspecto: cultura, política etc. Imperdível e já mudou a vida de muitos cristãos. Foi o livro que me abriu as portas para a teologia reformada, que, como vim a descobrir depois com Dooyeweerd e Van Til, trabalha de um modo ímpar com a questão das relações entre a fé cristã e tudo o mais, ajudando-nos a olhar para tudo no mundo de uma forma teorreferente (termo do professor Davi Charles Gomes), ou seja, tendo o Deus da Bíblia como referência principal. Tenho percebido que a teologia reformada é a que mais nos orienta para que não vivamos nossa fé debaixo de uma redoma, pois devemos obedecer a Cristo quanto a amar a Deus com TODO o nosso entendimento, além de nosso coração e nossa força.
A morte da razão, O Deus que intervém, O Deus que se revela, O grande desastre evangélico etc., de Francis Schaeffer
Recomendo todos os livros de Schaeffer. De modo especial, os três primeiros analisam com exemplos da cultura contemporânea o grande problema que o pecado nos legou: a fragmentação de nossa cosmovisão. Esses livros também têm o grande potencial de mudar vidas. Li A morte da razão quando nova convertida e desde então tenho visto o quanto as pessoas assumem as divisões artificiais que caracterizam a mente caída: entre natureza e graça, razão e fé, religião e ciência etc. O grande desastre evangélico trata da invasão do liberalismo teológico nas igrejas americanas e das duas formas erradas com que a igreja encara tanto o liberalismo quanto a cultura em geral: ou acatando sem reservas (mundanismo) ou se fechando sem confrontação (redoma).
Ídolos do coração e feira das vaidades, David Powlison
Outro livro que muda vidas! Esse só vende pela internet, no site da editora Refúgio. Demonstrando um conhecimento impressionante das várias vertentes em psicologia e psicanálise, Powlison descreve os mecanismos da idolatria em suas implicações sociopsicológicas. Orienta-nos a identificar em primeiro lugar os ídolos do coração, de acordo com a ênfase bíblica de que, depois da queda, estamos sujeitos à idolatria. Será especialmente útil para quem estuda psicologia ou se interessa por aconselhamento bíblico - mas recomendo a todos, pois a questão da idolatria é central para a cosmovisão cristã.
Criação restaurada, Albert Wolters
Sobre cosmovisão cristã e suas implicações. Didático e bíblico, traz muito material para se pensar a vida toda.
Verdade absoluta, Nancy Pearcey
Outro livro imperdível sobre cosmovisão, também didático e com muitos exemplos da contemporaneidade. Pearcey foi aluna de Francis Schaeffer. Também recomendo A alma da ciência, mais específico, sobre as relações entre ciência e cristianismo.
A busca pela justiça cósmica, Thomas Sowell
Sowell descreve as consequências de uma justiça que, em vez de aplicar as leis, transforma os juízes em heróis do politicamente correto. Uma boa análise da contemporaneidade em suas obsessões políticas muitas vezes autoritárias. Essencial para quem está estudando Direito.
A infelicidade do século, Alain Besançon
O historiador Besançon explica por que, para ele, comunismo e nazismo são, nas palavras de Pierre Chaunu, "gêmeos heterozigotos". Excelente introdução ao tema do totalitarismo e vacina fundamental para nós que, no Brasil, vivemos num "mar" de propaganda comunista. Recomendo cuidado, pois a tradução é de Emir Sader e contém alguns erros que dizem o contrário do que Besançon queria dizer. O melhor seria encontrar uma edição em inglês (o original é em francês). Para aprofundar o assunto, O livro negro do comunismo, de Stéphane Courtois, e o bem mais denso Origens do totalitarismo, da filósofa Hannah Arendt.
Tempos modernos, Paul Johnson
Paul Johnson é um historiador católico conservador que está em franco contraste com o bem mais famoso (no Brasil) Eric Hobsbawn. Enquanto Hobsbawn subscreve todos os massacres da ex-União Soviética (em meu livro, faço menção a isto), Johnson descreve de modo vívido os principais acontecimentos do século XX. A parte sobre a ex-União Soviética me fez chorar algumas vezes.
Onde é que Cristo está ainda a ser perseguido?, Richard Wumbrandt; O homem do céu, Irmão Yun; Torturado por sua fé, Haralan Popov Nada mais instrutivo que conhecer o que os regimes comunistas podem fazer à igreja cristã. Relatos tocantes de irmãos que sofreram muito sob perseguição estatal na Romênia, na China e na Bulgária.
Cuba, a tragédia da utopia, Percival Puggina Conservador católico, Puggina esteve em Cuba e desmente todas as maravilhas que a propaganda castrista divulga sobre o regime.
E, claro, não poderia deixar de recomendar meu livro A mente de Cristo: conversão e cosmovisão cristã, que não deixa de ser uma introdução a todos esses temas, muitas vezes de um modo bastante pessoal. Ontem estive com Yago Martins, que me disse que o livro era como "a cosmovisão cristã em prática". Adorei a descrição e acho que de fato caracteriza muito bem o que tentei fazer.
Podem ler e comentar aqui, que eu respondo! :-)
Prometi aos jovens do GAP e de Jaguaretama que iria postar no blog a lista dos livros que usei para as palestras. Aqui vai, com comentários:
Calvinismo, Abraham Kuyper
Predestinação e eleição? Nada disso: esse livro vai impactar qualquer cristão, mesmo o não-calvinista, pois seu foco é outro. Afirmando que "não há um centímetro desta vida que não pertença a Cristo", o autor explora as características de uma cosmovisão genuinamente orientada pela Bíblia e pelo senhorio de Cristo em cada aspecto: cultura, política etc. Imperdível e já mudou a vida de muitos cristãos. Foi o livro que me abriu as portas para a teologia reformada, que, como vim a descobrir depois com Dooyeweerd e Van Til, trabalha de um modo ímpar com a questão das relações entre a fé cristã e tudo o mais, ajudando-nos a olhar para tudo no mundo de uma forma teorreferente (termo do professor Davi Charles Gomes), ou seja, tendo o Deus da Bíblia como referência principal. Tenho percebido que a teologia reformada é a que mais nos orienta para que não vivamos nossa fé debaixo de uma redoma, pois devemos obedecer a Cristo quanto a amar a Deus com TODO o nosso entendimento, além de nosso coração e nossa força.
A morte da razão, O Deus que intervém, O Deus que se revela, O grande desastre evangélico etc., de Francis Schaeffer
Recomendo todos os livros de Schaeffer. De modo especial, os três primeiros analisam com exemplos da cultura contemporânea o grande problema que o pecado nos legou: a fragmentação de nossa cosmovisão. Esses livros também têm o grande potencial de mudar vidas. Li A morte da razão quando nova convertida e desde então tenho visto o quanto as pessoas assumem as divisões artificiais que caracterizam a mente caída: entre natureza e graça, razão e fé, religião e ciência etc. O grande desastre evangélico trata da invasão do liberalismo teológico nas igrejas americanas e das duas formas erradas com que a igreja encara tanto o liberalismo quanto a cultura em geral: ou acatando sem reservas (mundanismo) ou se fechando sem confrontação (redoma).
Ídolos do coração e feira das vaidades, David Powlison
Outro livro que muda vidas! Esse só vende pela internet, no site da editora Refúgio. Demonstrando um conhecimento impressionante das várias vertentes em psicologia e psicanálise, Powlison descreve os mecanismos da idolatria em suas implicações sociopsicológicas. Orienta-nos a identificar em primeiro lugar os ídolos do coração, de acordo com a ênfase bíblica de que, depois da queda, estamos sujeitos à idolatria. Será especialmente útil para quem estuda psicologia ou se interessa por aconselhamento bíblico - mas recomendo a todos, pois a questão da idolatria é central para a cosmovisão cristã.
Criação restaurada, Albert Wolters
Sobre cosmovisão cristã e suas implicações. Didático e bíblico, traz muito material para se pensar a vida toda.
Verdade absoluta, Nancy Pearcey
Outro livro imperdível sobre cosmovisão, também didático e com muitos exemplos da contemporaneidade. Pearcey foi aluna de Francis Schaeffer. Também recomendo A alma da ciência, mais específico, sobre as relações entre ciência e cristianismo.
A busca pela justiça cósmica, Thomas Sowell
Sowell descreve as consequências de uma justiça que, em vez de aplicar as leis, transforma os juízes em heróis do politicamente correto. Uma boa análise da contemporaneidade em suas obsessões políticas muitas vezes autoritárias. Essencial para quem está estudando Direito.
A infelicidade do século, Alain Besançon
O historiador Besançon explica por que, para ele, comunismo e nazismo são, nas palavras de Pierre Chaunu, "gêmeos heterozigotos". Excelente introdução ao tema do totalitarismo e vacina fundamental para nós que, no Brasil, vivemos num "mar" de propaganda comunista. Recomendo cuidado, pois a tradução é de Emir Sader e contém alguns erros que dizem o contrário do que Besançon queria dizer. O melhor seria encontrar uma edição em inglês (o original é em francês). Para aprofundar o assunto, O livro negro do comunismo, de Stéphane Courtois, e o bem mais denso Origens do totalitarismo, da filósofa Hannah Arendt.
Tempos modernos, Paul Johnson
Paul Johnson é um historiador católico conservador que está em franco contraste com o bem mais famoso (no Brasil) Eric Hobsbawn. Enquanto Hobsbawn subscreve todos os massacres da ex-União Soviética (em meu livro, faço menção a isto), Johnson descreve de modo vívido os principais acontecimentos do século XX. A parte sobre a ex-União Soviética me fez chorar algumas vezes.
Onde é que Cristo está ainda a ser perseguido?, Richard Wumbrandt; O homem do céu, Irmão Yun; Torturado por sua fé, Haralan Popov Nada mais instrutivo que conhecer o que os regimes comunistas podem fazer à igreja cristã. Relatos tocantes de irmãos que sofreram muito sob perseguição estatal na Romênia, na China e na Bulgária.
Cuba, a tragédia da utopia, Percival Puggina Conservador católico, Puggina esteve em Cuba e desmente todas as maravilhas que a propaganda castrista divulga sobre o regime.
E, claro, não poderia deixar de recomendar meu livro A mente de Cristo: conversão e cosmovisão cristã, que não deixa de ser uma introdução a todos esses temas, muitas vezes de um modo bastante pessoal. Ontem estive com Yago Martins, que me disse que o livro era como "a cosmovisão cristã em prática". Adorei a descrição e acho que de fato caracteriza muito bem o que tentei fazer.
Podem ler e comentar aqui, que eu respondo! :-)
10 julho 2012
Um só livro
Não entendo que muitos que se denominam "cristãos" hoje consigam
tranquilamente negar a base de toda a nossa fé: a unidade da Bíblia.
Em primeiro lugar, eles demonstram com isso uma tremenda falta de confiança nos irmãos que tanto trabalharam, antes deles, durante séculos, nas mais variadas áreas, para reconhecer e confirmar a autenticidade de todos os 66 livros das Escrituras. Exibem-se assim não só como pretensos "descobridores da pólvora" - e Deus sabe o quanto a tentação do ineditismo, em nossos dias, é avassaladora - , mas sobretudo como desdenhosos (e, não duvido, ignorantes) de todo o generoso encaminhamento investigativo que Deus permitiu para que tivéssemos esse impressionante Livro, coeso, em nossas mãos.
Em segundo lugar, fazem com a Bíblia algo que jamais fariam com seu autor literário predileto: ignoram pedaços inteiros como "corpos estranhos" para dar coerência a uma ideia previamente estabelecida por eles, imputando-a ao todo como uma camisa-de-força. Agem assim como verdadeiros Jacks Estripadores do livro que sustenta todo o cristianismo. Fico imaginando um crítico literário que, diante de um romance de Albert Camus como A peste, tentasse provar intenções espúrias do personagem principal, doutor Rieux, argumentando que todas as páginas que descrevem seus esforços contra a praga "não foram, na verdade, escritas por Camus e não pertencem ao livro". Será que daríamos tanta atenção a esse crítico quanto damos aos teólogos universalistas, por exemplo - que, contra toda palavra do próprio Cristo sobre o inferno, preferem "pular" os trechos que os tiram de sua zona de conforto ou, pior, preferem interpretá-los esotericamente? Por que levaríamos as Escrituras menos a sério, em sua inteireza, do que consideramos uma obra de literatura? Posso entender essa leitura afrouxada por parte de um descrente, mas não de um crente em Cristo, sobretudo quando pensamos o quanto Cristo conhecia, estudava e amava a Palavra que tinha em suas mãos: o Antigo Testamento.
Diante de qualquer texto, requer-se do leitor que não projete seus próprios anseios e preconceitos por sobre a leitura. Caso proceda assim, será um mau leitor e não conseguirá formar uma ideia adequada do que está lendo, seja uma narração, uma descrição ou uma peça argumentativa. A Bíblia precisa de leitores que a abordem, no mínimo, como a um texto coerente, não um amontoado de frases ou livros sem conexão entre si. Mas, sobretudo, precisa de leitores que se aproximem dela como se aproximariam do próprio Cristo: com "ouvidos para ouvir", ou seja, humildade para aprender e coração fértil para as mudanças que Deus quer operar em nós, para a Sua glória. Só para esse leitor humilde a Bíblia será, como foi para Timóteo, "as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus" (2Tm 3.15).
Saiba mais: Augustus Nicodemus trata da autoridade das Escrituras; A Palavra, não a tradição.
Em primeiro lugar, eles demonstram com isso uma tremenda falta de confiança nos irmãos que tanto trabalharam, antes deles, durante séculos, nas mais variadas áreas, para reconhecer e confirmar a autenticidade de todos os 66 livros das Escrituras. Exibem-se assim não só como pretensos "descobridores da pólvora" - e Deus sabe o quanto a tentação do ineditismo, em nossos dias, é avassaladora - , mas sobretudo como desdenhosos (e, não duvido, ignorantes) de todo o generoso encaminhamento investigativo que Deus permitiu para que tivéssemos esse impressionante Livro, coeso, em nossas mãos.
Em segundo lugar, fazem com a Bíblia algo que jamais fariam com seu autor literário predileto: ignoram pedaços inteiros como "corpos estranhos" para dar coerência a uma ideia previamente estabelecida por eles, imputando-a ao todo como uma camisa-de-força. Agem assim como verdadeiros Jacks Estripadores do livro que sustenta todo o cristianismo. Fico imaginando um crítico literário que, diante de um romance de Albert Camus como A peste, tentasse provar intenções espúrias do personagem principal, doutor Rieux, argumentando que todas as páginas que descrevem seus esforços contra a praga "não foram, na verdade, escritas por Camus e não pertencem ao livro". Será que daríamos tanta atenção a esse crítico quanto damos aos teólogos universalistas, por exemplo - que, contra toda palavra do próprio Cristo sobre o inferno, preferem "pular" os trechos que os tiram de sua zona de conforto ou, pior, preferem interpretá-los esotericamente? Por que levaríamos as Escrituras menos a sério, em sua inteireza, do que consideramos uma obra de literatura? Posso entender essa leitura afrouxada por parte de um descrente, mas não de um crente em Cristo, sobretudo quando pensamos o quanto Cristo conhecia, estudava e amava a Palavra que tinha em suas mãos: o Antigo Testamento.
Diante de qualquer texto, requer-se do leitor que não projete seus próprios anseios e preconceitos por sobre a leitura. Caso proceda assim, será um mau leitor e não conseguirá formar uma ideia adequada do que está lendo, seja uma narração, uma descrição ou uma peça argumentativa. A Bíblia precisa de leitores que a abordem, no mínimo, como a um texto coerente, não um amontoado de frases ou livros sem conexão entre si. Mas, sobretudo, precisa de leitores que se aproximem dela como se aproximariam do próprio Cristo: com "ouvidos para ouvir", ou seja, humildade para aprender e coração fértil para as mudanças que Deus quer operar em nós, para a Sua glória. Só para esse leitor humilde a Bíblia será, como foi para Timóteo, "as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus" (2Tm 3.15).
Saiba mais: Augustus Nicodemus trata da autoridade das Escrituras; A Palavra, não a tradição.
02 julho 2012
Textos no Teologia Brasileira!
O reino da interioridade é meu primeiro artigo publicado no site Teologia Brasileira. É parte de meu livro A mente de Cristo, apenas levemente adaptado. Confira um trecho:
“Missão” é primordialmente oferecer-se a Deus, todos os dias, para ser santificado. Também é guiar espiritualmente a família e os mais próximos, em um trabalho lento, cotidiano e interior. Quando as “missões” são consideradas apenas em uma dimensão exterior, em que não se contempla a interior, somos como pobres legalistas pragmáticos, orientados somente para o fazer, imprestáveis para adorar a Deus e pôr em prática o amor ao próximo, algo só possível com paciência e olhos atentos. Porém, quando privilegiamos o alvo correto, não somos tão ativistas, mas vivemos a missão primordialmente onde deve ser vivida: dentro de nós, em nossos corações, onde está o trono de Deus; e, dali, espraiando-se para fora. É nesse reino da interioridade, habitação do Espírito Santo, que serão esmagados, pela graça de Deus, todos os pecados graves que nos impedem de ter a disposição para amar. É ali que tudo começa; se não começar ali, não terá começado de modo algum (e precisa recomeçar a cada dia!).Aproveitem para ler também o artigo importantíssimo de Franklin Ferreira, Uma resposta ao artigo de Jung Mo Sung, muito bem documentado e argumentado. Uma das impressões mais vívidas que o artigo me deixou é que o teólogo coreano entende bem pouco de Bíblia. Boa leitura!
28 junho 2012
Da série "O que Deus fez por você através da cultura" II
Continuando a série com base em Como o cristianismo mudou o mundo (How christianity changed the
world), do PhD luterano Alvin J. Schmidt, apresento uma impressionante citação do poeta polonês Czeslaw Milosz (1911-2004). Em Mente cativa, com as análises vívidas de uma sensibilidade poética que não perdeu o contato com a realidade, Milosz denuncia os horrores nazistas e comunistas que submergiram a Polônia em destruição e desumanização. Em dado momento do livro, recorrendo ao discurso indireto livre, o narrador se coloca na pele de um nazista que se revolta com os obstáculos representados pelo cristianismo à "salvação da Alemanha" e à "reconstrução do mundo". Esse personagem exclama:
É inegável que, nesse trecho, o poeta (que retornou ao catolicismo de sua infância apenas no fim da vida) demonstra saber algo que, infelizmente, muitos cristãos de nossa era não sabem: o cristianismo é um grande obstáculo - como cristã, eu diria: o único eficaz - à ganância de controle absoluto, concretizada de modo máximo nos regimes totalitários. O cristianismo é o único fator a impedir a submissão total (portanto, a idolatria) de quem é submetido. Leia 1984 sob essa ótica e você perceberá, leitor: Winston sucumbiu ao Grande Irmão porque, como não era convertido, não pôde deixar de desejar que sua amada estivesse em seu lugar no momento crucial da tortura. O verdadeiro cristão, imbuído da graça de Deus, saberia, a exemplo do Mestre, sacrificar-se por ela ali, mesmo diante de seu maior pesadelo. Ainda hoje, os verdadeiros cristãos espalhados pelo mundo, perseguidos por ditaduras muçulmanas e comunistas, continuam sacrificando-se por seu Amor Maior, recusando-se a negar a fé.
Schmidt conta que, em Roma, o indivíduo só valia alguma coisa se fosse parte do tecido social e pudesse oferecer alguma contribuição para seus usos, como se seu fim maior fosse engrandecer o Estado. Com a vinda de Cristo, isso começou a mudar, pois Deus abençoou as nações através da graça comum. Passamos a gozar de relativa paz após a conversão do imperador Constantino, no ano de 312, e a penetração do cristianismo na cultura promoveu sua "abertura" (cf. o filósofo reformado Dooyeweerd), o que culminou em conceitos até então inéditos e libertadores baseados nos ensinamentos de Cristo, tais como a unicidade do indivíduo em sua relação com Deus e a inviolabilidade da consciência individual.
Hoje, tem sido empreendido o movimento inverso, de descristianização da cultura, e os mais sensíveis, como Milosz, conseguem perceber que o cristianismo é um freio para a máxima opressão do homem pelo homem. São os poderosos que, impulsionados pelo mesmo descontentamento do personagem nazista, empreendem esse movimento, os que abominam todo limite interior e exterior para o mal que perpetuam. O apologeta Francis Schaeffer afirmou que Deus deixou claro o que ocorre quando as nações o rejeitam: são vencidas e destruídas pelo poder humano. Essa é uma das lições que as guerras do século passado nos deixaram. Nesses tempos difíceis, em que o ressurgimento do nazismo e a sobrevida do comunismo parecem provar que os horrores do século XX já foram esquecidos, precisamos mais que nunca salgar a terra, de todos os modos possíveis - agindo, falando e raciocinando na contracultura saudável, bíblica -, com dois objetivos em mente: que não venha julgamento severo sobre nosso povo e que alguns possam receber com alegria e liberdade a Palavra da salvação.
Nesse único momento - um momento que acontece a cada mil anos -, esses crentes melindrosos daquele Jesus ousavam mencionar seus insignificantes escrúpulos morais! Quão difícil era lutar por uma nova e melhor ordem - se entre seu próprio povo ainda era possível encontrar tamanho preconceito! (p. 137)
É inegável que, nesse trecho, o poeta (que retornou ao catolicismo de sua infância apenas no fim da vida) demonstra saber algo que, infelizmente, muitos cristãos de nossa era não sabem: o cristianismo é um grande obstáculo - como cristã, eu diria: o único eficaz - à ganância de controle absoluto, concretizada de modo máximo nos regimes totalitários. O cristianismo é o único fator a impedir a submissão total (portanto, a idolatria) de quem é submetido. Leia 1984 sob essa ótica e você perceberá, leitor: Winston sucumbiu ao Grande Irmão porque, como não era convertido, não pôde deixar de desejar que sua amada estivesse em seu lugar no momento crucial da tortura. O verdadeiro cristão, imbuído da graça de Deus, saberia, a exemplo do Mestre, sacrificar-se por ela ali, mesmo diante de seu maior pesadelo. Ainda hoje, os verdadeiros cristãos espalhados pelo mundo, perseguidos por ditaduras muçulmanas e comunistas, continuam sacrificando-se por seu Amor Maior, recusando-se a negar a fé.
Schmidt conta que, em Roma, o indivíduo só valia alguma coisa se fosse parte do tecido social e pudesse oferecer alguma contribuição para seus usos, como se seu fim maior fosse engrandecer o Estado. Com a vinda de Cristo, isso começou a mudar, pois Deus abençoou as nações através da graça comum. Passamos a gozar de relativa paz após a conversão do imperador Constantino, no ano de 312, e a penetração do cristianismo na cultura promoveu sua "abertura" (cf. o filósofo reformado Dooyeweerd), o que culminou em conceitos até então inéditos e libertadores baseados nos ensinamentos de Cristo, tais como a unicidade do indivíduo em sua relação com Deus e a inviolabilidade da consciência individual.
Hoje, tem sido empreendido o movimento inverso, de descristianização da cultura, e os mais sensíveis, como Milosz, conseguem perceber que o cristianismo é um freio para a máxima opressão do homem pelo homem. São os poderosos que, impulsionados pelo mesmo descontentamento do personagem nazista, empreendem esse movimento, os que abominam todo limite interior e exterior para o mal que perpetuam. O apologeta Francis Schaeffer afirmou que Deus deixou claro o que ocorre quando as nações o rejeitam: são vencidas e destruídas pelo poder humano. Essa é uma das lições que as guerras do século passado nos deixaram. Nesses tempos difíceis, em que o ressurgimento do nazismo e a sobrevida do comunismo parecem provar que os horrores do século XX já foram esquecidos, precisamos mais que nunca salgar a terra, de todos os modos possíveis - agindo, falando e raciocinando na contracultura saudável, bíblica -, com dois objetivos em mente: que não venha julgamento severo sobre nosso povo e que alguns possam receber com alegria e liberdade a Palavra da salvação.
21 junho 2012
A ceia acridoce (2): os fatos
Recebi
no Facebook críticas de participantes da Consulta da Fraternidade Teológica
Latino-Americana (dias 7 a 9 de junho em BH). São críticas
superficiais e tolas como essas: eu não estava lá, eu não vi o ritual todo, eu
não ouvi as palavras que foram proferidas, eu não conheço a Fraternidade etc.
São alegações que desqualificariam qualquer pessoa a dizer qualquer coisa sobre
eventos nos quais não esteve presente, pois ignoram a função descritiva e
narrativa da testemunha. Sim, eu me baseei no relato de uma só testemunha,
conforme afirmei na postagem anterior. No entanto, à medida que recolho mais
informação de mais testemunhas ou de quem conversou diretamente com
testemunhas, não encontro nenhum motivo para modificar meu texto original, pelo contrário. Querem
ver?
O
primeiro relato: Na
consulta da FTL, em um culto, o pastor distribuiu limões e doces atribuindo
outro significado a eles logo antes da ceia do Senhor. Consta que o pastor
teria dito: “Não vou consagrar esses elementos (os limões e os doces) porque
alguns podem não entender.”
O
relato mais completo: Durante a consulta da FTL, percebendo que as pessoas
estavam muito tristes pela morte recente de Robinson Cavalcanti, o Pr. Carlos
Queiroz pensou em fazer uma “dinâmica” durante o culto. Na mesa da comunhão, colocou
bandejas com fatias de limão e doces de leite (ou, segundo uma testemunha, doces de amendoim). Nessa “dinâmica”, ele fez alusão às ervas amargas e
ao mel do Pessach judeu, explicando que o limão representava o amargo da vida,
e o docinho, o doce da vida. Mencionou que não iria “consagrá-los” porque
muitos poderiam não entender. E, por fim, distribuiu-os, todos comeram e a
“dinâmica” acabou. Em seguida, da mesma mesa, foi ministrada a ceia
normalmente.
Todos
os aspectos de minha postagem anterior estão presentes no relato expandido. Na verdade, o relato expandido confirma alguns aspectos percebidos no relato menor. Vejamos. Como ministrante, logo antes da ceia, o pastor apresentou à igreja reunida elementos novos e significados inventados por ele mesmo, utilizando como referência para tal um evento do Antigo Testamento que prefigura a ceia (e que, como a ceia, também foi uma ordenança de Deus, não de homens). Com isso, o
pastor “mimetizou” a cena da ceia antes da ceia original para comunicar um
ensinamento que não coincide com o ensinamento da ceia. Além disso, ao afirmar que só não consagraria os elementos porque "alguns poderiam não entender", deixou clara a analogia com a ceia (somente pão e vinho são "consagrados"), já que o impedimento era apenas por evitação do escândalo.
Esse mimetismo é idólatra por modificar o significado original da comunhão. Na ceia de Cristo, somos
irmãos em torno do partilhar do corpo e do sangue de Cristo, que apontam para
seu sacrifício redentor. Na “ceia” do Pr. Carlos Queiroz, houve o partilhar dos
“acontecimentos doces e amargos da vida”. Simbolicamente, o resultado é
desastroso: os presentes foram levados a comer e beber juntos os
“acontecimentos da vida” do mesmo modo com que comem e bebem o sangue de
Cristo. O consolo pretendido pelo pastor consistiu em aproveitar o formato da
ceia para comunicar algo como “nós estamos juntos para o que der e vier e nos alimentamos desse sentimento” e não “nós
estamos unidos por Cristo e nos alimentamos de Cristo”. A equiparação, produzida durante o
culto e logo antes da ceia, gerou o equivalente a um outro evangelho.
Diante
disso, pouco importa se “a dinâmica foi uma parte separada da ceia”, como
também me disseram alguns. As semelhanças dessa “dinâmica” com a ceia são muito
mais numerosas que as diferenças: as palavras e os elementos foram inseridos em
contexto de culto; os elementos foram colocados juntos na mesma mesa; os elementos seriam consagrados caso não houvesse possibilidade de escândalo; o
procedimento consistiu em comer e beber ritualmente como expressão de comunhão e amor
fraterno. Além disso, muitas pessoas de fato interpretaram a “dinâmica” como algo que fez parte da
ceia, o que aponta, no mínimo, para uma confusão teológica “dos diabos”. Tudo
isso se configura um atentado ao sentido da ceia, que tirou Cristo do centro no
espírito dos presentes.
Se
o pastor estava consciente de tudo isso? Não tenho a menor ideia, e até acredito que
não estava. O diabo certamente estava e se divertiu muito com o episódio.
Meu marido André Venâncio analisou com muita pertinência as críticas recebidas por mim no Facebook aqui.
Adendo: Como já percebeu certamente o leitor atento, o problema que descrevi vai muito além de uma mera troca de elementos, razoável e necessária no contexto missionário, em regiões onde simplesmente não há nem uva, nem trigo.
Adendo: Como já percebeu certamente o leitor atento, o problema que descrevi vai muito além de uma mera troca de elementos, razoável e necessária no contexto missionário, em regiões onde simplesmente não há nem uva, nem trigo.
14 junho 2012
A ceia acridoce
O jejum de
postagens que me impus por ora devido à tendinite e à enxaqueca precisou ser
quebrado quando vi no meu Facebook uma notícia sobre evento da Fraternidade
Teológica Latino-Americana, em Belo Horizonte. Era sobre a ceia, com fotos
estranhas: em vez do pão, duas bandejas, uma com limão fatiado e outra com
quadradinhos marrons. Dizia a legenda: "Compartilhamos o amargo e o doce
da vida simbolizados pelo limão e pelo doce de leite."
Não sei se algum dos participantes conseguiu perceber ou intuir isto, mas amudança inserção de outros
elementos à ceia, aos quais foi atribuído outro simbolismo, perverteu tudo. A ceia é o
sacramento instituído pelo próprio Jesus Cristo para lembrarmos que só estamos
vivos porque nos alimentamos dele, ou seja, do corpo e do sangue que ele
entregou em sacrifício vicário por nós. Nesse memorial solene, não lembramos os acontecimentos bons ou ruins
que nos sobrevêm (ênfase no “eu”), mas sim o acontecimento único e irrepetível
do sacrifício de Cristo, que “matou a nossa morte” na cruz.
Não sei se algum dos participantes conseguiu perceber ou intuir isto, mas a
Dividida
entre o riso da presença inusitada (limões e doces!) e a tristeza pelos
profundos rasgos no significado do sacramento, acabei me decidindo por admirar
a mente por trás disso. Afinal, não é realização pequena desvirtuar todo o
sentido da ceia de Nosso Senhor apenas com uma troca um acréscimo de alimentos. Tremi ao
pensar que, reunidos ali, em vez de contemplarem a Cristo e sua obra, os que
tomaram parte nesse ritual torcido foram inevitavelmente, em primeiro lugar, levados a emocionar-se
a partir de uma pura autocontemplação. A cruz ficou em segundo plano. E
admirei o feito como quem se depara com um espetacular e horrível monumento
idolátrico: os limões e os doces de leite foram servidos antes do pão e do vinho, mas no mesmo ritual, e foram comidos com o mesmo espírito de união. O alcance simbólico disso é claro: o doce e o amargo da vida nos alimentam, unem e vivificam tanto quanto Cristo. Ora, isto é outro evangelho!
Ao mesmo
tempo, não pude deixar de pensar que talvez, no caso da Fraternidade Teológica
Latino-Americana, o simbolismo seja exato: quando se acomoda no cerne das
ênfases cristãs, o esquerdismo dá as mãos ao velho liberalismo e adquire a
mesma função idolátrica, transformando algo único e celestial, doador de vida, em
uma estéril e autolaudatória amenidade humanista.
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Atualização importante: O texto foi modificado depois que Alex Fajardo explicou no Facebook, e aqui nos comentários, que não ocorreu uma substituição dos elementos, mas sim um acréscimo.
No entanto, o acréscimo não muda em nada a substância do que escrevi: houve uma modificação fundamental no sacramento instituído por Cristo, uma modificação que tirou o foco da obra de Cristo na cruz e enfatizou "o doce e o amargo da vida", ou seja, o ser humano e suas vicissitudes. Conta-se que o celebrante, pr. Carlos Queiroz, passou dez minutos explicando o significado que ele atribuía ao limão e ao doce, e ainda observou que "não iria consagrar os elementos, pois alguns poderiam não concordar com ato que ele iria realizar". Isso significa que ele estava ciente de que aquilo poderia chocar alguns. Como expliquei ao Alex, em primeiro lugar, ceia não é momento para se arriscar a ferir ou escandalizar algum irmão. Ao escolher o momento da ceia para trazer uma novidade dessas, o celebrante não pensou que a ceia é um sacramento de COMUNHÃO e esse tipo de proposta diferente subverte esse propósito. Em segundo lugar, a primeira nota do Alex, que apenas mencionou a novidade (e realmente deu a entender a substituição), demonstra que o que mais marcou os participantes dessa ceia foi o acréscimo, e não o que se faz usualmente. Claro: é da natureza humana que nos lembremos especialmente do novo. E esse "novo", no caso, tirou do ritual a centralidade de Cristo. Em terceiro lugar, e supremamente importante: QUEM deu autoridade aos ministrantes da ceia para ACRESCENTAR outros elementos ao pão (corpo) e ao vinho (sangue)? Isso é muito sério. Nenhum pastor ou líder religioso tem autoridade para modificar o que Jesus instituiu como sacramento e memorial. Somos irmãos e estamos vivos espiritualmente não por causa das "vicissitudes da vida", mas pelo corpo e pelo sangue de Cristo, UNICAMENTE. Além disso, qualquer acréscimo arbitrário à simbologia da comunhão sugere que não estamos mais no espírito bíblico, mas sim no de seita.
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Atualização importante: O texto foi modificado depois que Alex Fajardo explicou no Facebook, e aqui nos comentários, que não ocorreu uma substituição dos elementos, mas sim um acréscimo.
No entanto, o acréscimo não muda em nada a substância do que escrevi: houve uma modificação fundamental no sacramento instituído por Cristo, uma modificação que tirou o foco da obra de Cristo na cruz e enfatizou "o doce e o amargo da vida", ou seja, o ser humano e suas vicissitudes. Conta-se que o celebrante, pr. Carlos Queiroz, passou dez minutos explicando o significado que ele atribuía ao limão e ao doce, e ainda observou que "não iria consagrar os elementos, pois alguns poderiam não concordar com ato que ele iria realizar". Isso significa que ele estava ciente de que aquilo poderia chocar alguns. Como expliquei ao Alex, em primeiro lugar, ceia não é momento para se arriscar a ferir ou escandalizar algum irmão. Ao escolher o momento da ceia para trazer uma novidade dessas, o celebrante não pensou que a ceia é um sacramento de COMUNHÃO e esse tipo de proposta diferente subverte esse propósito. Em segundo lugar, a primeira nota do Alex, que apenas mencionou a novidade (e realmente deu a entender a substituição), demonstra que o que mais marcou os participantes dessa ceia foi o acréscimo, e não o que se faz usualmente. Claro: é da natureza humana que nos lembremos especialmente do novo. E esse "novo", no caso, tirou do ritual a centralidade de Cristo. Em terceiro lugar, e supremamente importante: QUEM deu autoridade aos ministrantes da ceia para ACRESCENTAR outros elementos ao pão (corpo) e ao vinho (sangue)? Isso é muito sério. Nenhum pastor ou líder religioso tem autoridade para modificar o que Jesus instituiu como sacramento e memorial. Somos irmãos e estamos vivos espiritualmente não por causa das "vicissitudes da vida", mas pelo corpo e pelo sangue de Cristo, UNICAMENTE. Além disso, qualquer acréscimo arbitrário à simbologia da comunhão sugere que não estamos mais no espírito bíblico, mas sim no de seita.
09 maio 2012
02 maio 2012
O terceiro gato
Mais de uma vez ensaiei um texto contando a história de meu terceiro gato, o Chocolate. Não sei por que motivo, nunca consegui terminá-lo. Ontem, depois de um segundo período de doença mais devastador que o primeiro, nós o perdemos. André escreveu sobre ele aqui - um texto que é uma verdadeira ação de graças por nosso gatinho. Há os que falam para aliviar e há os que se recolhem. Eu me recolhi, mas, além de mostrar o texto do André, decidi publicar uma foto recente (janeiro deste ano) para registrar no blog um pouco da doçura desse bichinho tão querido.
30 abril 2012
26 abril 2012
20 abril 2012
11 abril 2012
Leia um trecho do meu livro!
Surpresa! A editora Vida Nova disponibilizou em seu site um trecho grande de meu livro, A mente de Cristo: conversão e cosmovisão cristã, a sair no final de abril (tá pertinho!). A capa está bonita, não está? Assim que eu tiver a confirmação das datas e dos locais do lançamento, aviso aqui!
Boa leitura!
31 março 2012
48 anos depois: notas sobre a ditadura militar
Hoje faz 48 anos que foi deflagrada a ditadura militar. E a polarização geral em torno do tema tem me desagradado profundamente.
Neste blog, e em meu livro a sair no final de abril pela editora Vida Nova - A mente de Cristo: conversão e cosmovisão cristã -, discuto a impossibilidade de enxergar nuances, típica do pensamento de esquerda. Ora, muitas vezes os próprios conservadores não se isentam desse mal. No Brasil, o espírito da cordialidade convive paradoxalmente com uma adesão festiva ou raivosa (ou ambos!) a extremos. Análises comedidas, não; endossos apaixonados a qualquer tema, não importa sua complexidade. A politização do pensamento, a que espero, contraculturalmente, aderir cada vez menos, pede que a humanidade se divida em dois partidos opostos sobre tudo, sempre.
Tendo dito isto, vamos ao que penso. A ditadura militar foi um mal menor? Sim. O país estava prestes a se tornar uma sucursal da antiga União Soviética. Terroristas treinados agiram para implantar o comunismo no Brasil. Plantaram bombas, assaltaram bancos, mataram gente. Diante dessa situação, os militares usaram técnicas de guerra, com o apoio popular. Seria possível reagir de outra maneira? Creio que não, infelizmente.
Agora, devemos "comemorar" o acontecimento? Sim e não. O golpe, que impediu o mal maior, sim. O regime, com todos os seus desmandos e excessos, certamente não. Um mal menor deve ser encarado como o que é: um mal. Sim, o totalitarismo de esquerda é o inferno na terra em grau elevado. Mas uma ditadura deixa marcas difíceis de serem curadas e esquecidas. Por todos os que sofreram de verdade naquele contexto (não incluo nisto quem se exilou em Paris e hoje vive de indecorosas indenizações), prefiro não comemorar.
O que fica mais patente, porém, é que aqueles jovenzinhos vociferantes - com seus mestres e tutores partidarizados - que se levantaram contra o evento sobre a ditadura no centro do Rio, desprezando e cuspindo nos militares que dali saíram, precisam urgentemente se despir da sua capa de falso moralismo, de inocência fingida, e compreender que, no mesmo instante em que condenam a ditadura, defendem e promovem um sistema maldito que, em nome do amorrrrrr, matou cem milhões de pessoas em todo o mundo. Os militares cometeram erros, mas buscavam coibir terroristas, assassinos e assaltantes de bancos; os comunistas são muito mais democráticos em seus alvos e exterminam "classes" inteiras, levas e levas de pessoas, sem olhar a quem. Vamos deixar de hipocrisia e acabar de uma vez por todas com esse mimimi em relação a 1964: esquerdista, o que você quis para o Brasil naquele tempo (e ainda quer hoje!) é pior, muito pior, do que qualquer coisa que os militares possam ter feito. Quantitativa e qualitativamente.
Termino assim este texto: com todo o respeito pela dor das vítimas involuntárias da ditadura e com a mais profunda compaixão por aqueles que de fato confundiram o comunismo com o sonho por um mundo melhor; mas muito pouco respeito, muito pouco mesmo, pelos novos totalitários, comunistas de ontem e de hoje, que acusam os militares ao mesmo tempo em que ainda exaltam, depois de toda aquela matança comprovada, os demônios Lênin, Stálin, Pol Pot, Mao e Fidel Castro.
Neste blog, e em meu livro a sair no final de abril pela editora Vida Nova - A mente de Cristo: conversão e cosmovisão cristã -, discuto a impossibilidade de enxergar nuances, típica do pensamento de esquerda. Ora, muitas vezes os próprios conservadores não se isentam desse mal. No Brasil, o espírito da cordialidade convive paradoxalmente com uma adesão festiva ou raivosa (ou ambos!) a extremos. Análises comedidas, não; endossos apaixonados a qualquer tema, não importa sua complexidade. A politização do pensamento, a que espero, contraculturalmente, aderir cada vez menos, pede que a humanidade se divida em dois partidos opostos sobre tudo, sempre.
Tendo dito isto, vamos ao que penso. A ditadura militar foi um mal menor? Sim. O país estava prestes a se tornar uma sucursal da antiga União Soviética. Terroristas treinados agiram para implantar o comunismo no Brasil. Plantaram bombas, assaltaram bancos, mataram gente. Diante dessa situação, os militares usaram técnicas de guerra, com o apoio popular. Seria possível reagir de outra maneira? Creio que não, infelizmente.
Agora, devemos "comemorar" o acontecimento? Sim e não. O golpe, que impediu o mal maior, sim. O regime, com todos os seus desmandos e excessos, certamente não. Um mal menor deve ser encarado como o que é: um mal. Sim, o totalitarismo de esquerda é o inferno na terra em grau elevado. Mas uma ditadura deixa marcas difíceis de serem curadas e esquecidas. Por todos os que sofreram de verdade naquele contexto (não incluo nisto quem se exilou em Paris e hoje vive de indecorosas indenizações), prefiro não comemorar.
O que fica mais patente, porém, é que aqueles jovenzinhos vociferantes - com seus mestres e tutores partidarizados - que se levantaram contra o evento sobre a ditadura no centro do Rio, desprezando e cuspindo nos militares que dali saíram, precisam urgentemente se despir da sua capa de falso moralismo, de inocência fingida, e compreender que, no mesmo instante em que condenam a ditadura, defendem e promovem um sistema maldito que, em nome do amorrrrrr, matou cem milhões de pessoas em todo o mundo. Os militares cometeram erros, mas buscavam coibir terroristas, assassinos e assaltantes de bancos; os comunistas são muito mais democráticos em seus alvos e exterminam "classes" inteiras, levas e levas de pessoas, sem olhar a quem. Vamos deixar de hipocrisia e acabar de uma vez por todas com esse mimimi em relação a 1964: esquerdista, o que você quis para o Brasil naquele tempo (e ainda quer hoje!) é pior, muito pior, do que qualquer coisa que os militares possam ter feito. Quantitativa e qualitativamente.
Termino assim este texto: com todo o respeito pela dor das vítimas involuntárias da ditadura e com a mais profunda compaixão por aqueles que de fato confundiram o comunismo com o sonho por um mundo melhor; mas muito pouco respeito, muito pouco mesmo, pelos novos totalitários, comunistas de ontem e de hoje, que acusam os militares ao mesmo tempo em que ainda exaltam, depois de toda aquela matança comprovada, os demônios Lênin, Stálin, Pol Pot, Mao e Fidel Castro.
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