11 janeiro 2008

A deusa Igualdade

Em 1984, romance de George Orwell, os membros do partido único, vigilantes mantenedores da ordem em um sistema cruel, eram cuidadosamente treinados para tal, por meio de programas que violentavam suas consciências e os reduziam a robôs de reações automatizadas. Hoje, a programação é mais sutil e voluntária, porque feita sob o signo do amor — o amor politicamente correto, não o amor cristão. Mas qual a diferença?

Quando estamos firmados no amor de Cristo, não nos iludimos sobre a natureza humana ("Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus", Romanos 3:23). O amor cristão nos faz estar de olhos bem abertos para o pecado, primeiro o próprio ("tira primeiro a trave do teu olho", Mateus 7:5), em seguida o alheio ("Saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador, salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados", Tiago 5:20). O amor cristão também nos faz cuidar da igreja alertando contra falsos ensinamentos ("Aos quais convém tapar a boca; homens que transtornam casas inteiras ensinando o que não convém, por torpe ganância", Tito 1:11). Seu ápice se realiza na vinda de Cristo para que "todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (João 3:16).

No entanto, a pregação da religião da igualdade, quando travestida de cristianismo, pede que, por serem todos pecadores, todos os homens sejam considerados igualmente santos; que ninguém seja convertido de erro algum; que os ensinamentos tortos e até de outras religiões sejam expressões de "pluralidade", não desvios do Evangelho; e que a figura de Cristo e o conteúdo da fé sejam suficientemente vagos para que os que não crêem se sintam confortáveis com suas contradições e paralisias argumentativas. A palavra de ordem é: não confrontar, mas acolher, já que, no vocabulário do Novo Amor, confrontar e acolher são noções irreconciliáveis.

Nessa nova religião, que cisma em querer se chamar pelo nome de cristianismo, torna-se impossível fazer como os autores das epístolas do Novo Testamento, que advertiam seus irmãos sobre pecados, buscavam convencê-los de erros doutrinários e alertavam a igreja com relação a falsos mestres. Seus adeptos ancoraram-se dentro dos arraiais evangélicos brasileiros, em púlpitos e espaços virtuais, aproveitando-se da escassez de líderes confrontadores e zelosos da Palavra. Com liberdade suficiente para agir, assumem agradáveis e práticos acordos com o esquerdismo (pregam um Cristo socialista), o multiculturalismo (defendem sincretismos), o relativismo (não ligam para diretrizes morais), desobedecendo aos padrões bíblicos mais básicos. Quem quer que os contradiga em nome do verdadeiro Evangelho é ridicularizado, vilipendiado, acusado de "falta de amor" — e com requintes de crueldade verbal. Afinal, eles tudo amam, menos a verdade.

O maior alvo dessa nova religião é que todos dancem alegres e despreocupados em torno da deusa Igualdade*, em cuja testa se encontra estampado seu único compromisso: anular a cruz de Cristo.
* Definição para os afoitos. A igualdade segundo Deus é um atributo que vem das mãos Daquele que "faz chover sobre justos e injustos" (Mt 5:45). Já a igualdade segundo a autonomia humana é um ídolo que coleciona vítimas ao mesmo tempo em que sobrepõe à vontade de Deus as regras de "um outro mundo possível".