26 janeiro 2007

"Epitáfio": artigo não-publicado no Jornal Palavra

Esse artigo seria publicado no Jornal Palavra de dezembro, do qual eu, colaboradora mensal não-remunerada, fui cortada sem aviso e sem explicação. Não ia postá-lo aqui para não ressuscitar o assunto, mas meu amigo instou comigo que o texto era muito bom. Espero que gostem! Ah, e não esqueçam, o blog ainda está em recesso.


Epitáfio


Sei que esse é assunto um tanto tenebroso para se tratar aos 35 anos – e imagino que Deus ainda me permitirá algumas boas décadas de vida a mais. Porém, se uma idéia surge e precisa ser registrada, qual o melhor momento para fazê-lo, senão agora? Sendo assim, aí vai: meu desejo para epitáfio se inspira em uma de minhas passagens bíblicas preferidas, I Coríntios 13:12, em que Paulo trata da excelência do dom do amor acima de todos os outros. O argumento? No céu apenas o amor será necessário: não precisaremos de dom de profecias, línguas estranhas ou ciência, pois nada haverá de encoberto que precise ser desvelado. Tampouco de fé, pois a fé é “certeza das coisas que não se vêem” (Hebreus 11:1), e lá veremos a tudo. Apenas o amor restará: Dele por nós, em uma presença constante, e nosso por Ele, em uma adoração perpétua.


Esse é meu maior consolo e minha maior esperança, sobretudo quando me sobrevêm o desânimo de vacilar na fé, a impaciência de me ver pecadora, a inconstância no amor, na oração, nos pensamentos. Glorifico a Deus porque, através das palavras do apóstolo, entrevemos um pouquinho do que seremos quando estivermos frente a frente com Ele. Ali não mais precisaremos vencer os duros obstáculos que a semente da fé cristã enfrenta para germinar: a falta de receptividade e entendimento, a superficialidade e o conforto a qualquer preço, os obsessivos cuidados com o mundo. Não mais sofreremos tentação, não mais teremos nossa fé provada.


No entanto, acima de tudo – minha maior alegria – , a revelação sobre o ser de Deus será plena. Saberemos quem Ele é, assim como hoje Ele sabe quem nós somos, ou seja: totalmente. Não parece a esperança mais louca? Mas é essa mesma a esperança de que nos fala o apóstolo:


Porque agora vemos como por espelho, em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei plenamente, como também sou plenamente conhecido.



Conforme a essa palavra que amo, gostaria então que a inscrição fosse:


“Agora conheço tal como sou conhecida.”

18 comentários:

Caio Kaiel disse...

Olá Norma. Tenho pensado muito em amor, principalmente nas minhas limitações e deturpações a respeito do amor... tudo o que desejo é aprender a amar. Lendo teu texto, compreendo que hoje eu amo por decreto, mas um dia eu amarei em minha própria essência, quando conhecer a Deus.

Obrigado.

Anônimo disse...

Você me emociona... Beijos com saudade.

Ari disse...

É isso! Simplesmente isso! Grande abraço! Ari

Norma disse...

Queridos amigos, vocês são todos muito lindos.

Lendo de novo hoje esse texto, eu me lembrei da tristeza que se sente a partir da leitura de alguns autores modernos que tratam de teoria literária (e filosofia, já que as duas estão intimamente ligadas), que afirmam ser o conhecimento algo sempre parcial. Quem dera pudessem se alegrar com essas palavras: a nossa grande expectativa!

Beijão carinhoso a vocês!

Lelê Carabina disse...

Esta pasasgem Bíblica é muito linda e profunda, é um ótimo Epitáfio. No meu caso foi um bom começo, o "tema" do meu casamento rsrs
Abraço.

Professor Arthur disse...

Vocês da direita querem nos inculcar que o melhor virá depois da morte. Estratégia suja para imobilizar a classe operária, para fazê-la desisitir da luta revolucionária pela igualdade. O "Paraíso" é o consolo dos pobres...Enquanto isso, vocês capitalistas deitam e rolam no bom, e no melhor que a vida pode nos oferecer...Companheiros:O paraíso pode ser aqui e agora. Não dexem-se entorpecer pelas doces palavras dessa serpente !

Norma disse...

Caro bogus esquerdista,

O "melhor depois da morte" é a resposta de Deus ao anseio transcendente do homem, algo que todo esquerdista faz questão de negar para reinar melhor cá embaixo. Em Jesus, temos coisas boas aqui também, não se preocupe. Mas e quem é ateu de esquerda? Tem o pior aqui e promessa nenhuma lá. Quem não crê no Juiz Supremo fica melhor equipado para decretar matanças em massa, não é mesmo? Afinal, como afirmou o fascista Mussolini, o relativismo - o império das idéias consensuais, já que "Deus não existe" equivale a "a verdade não existe" - só ajuda o líder autoritário, porque submete a verdade à vitória do mais forte. É debaixo de um Mussolini, de um Hitler, de um Mao Tsé-Tung, de um Lênin, de um Stálin, de um Fidel Castro, de um Hugo Chávez, que todo um povo passa à condição de "idiota útil" (a expressão é de Lênin) para deixar os nobres líderes comunistas, socialistas e nazo-socialistas não só deitarem e rolarem no bem-bom, mas deitarem e rolarem no controle total, no despotismo, nos assassinatos e prisões, na censura da mídia etc. Quem rejeita o anseio pela transcendência para adorar ídolos assassinos perdeu não somente o outro mundo, mas este também, perdeu tudo: liberdade, autonomia, capacidade de pensar direito. É triste.

Norma disse...

Além disso, dirija suas generalizações para outras plagas: eu não rolo em bem-bom nenhum, pois trabalho à beça para ganhar o suado dinheirinho de professora e preparadora de originais. Não há interesse nenhum no que escrevo, além de propagar a verdade que me alcançou, a verdade do amor de Deus. Se isso o incomoda, que Ele se revele a você, é minha oração.

Professor Arthur disse...

Então está na hora de tomar fluoxetina para curar essa depressão ! Pensar em morte tão cedo? Pare com isso ! É isso que causa a religião, principalmente a cristã. Leia um pouco de Nietzsche, pois fará bem.

Anônimo disse...

Deus poderoso!
eu oro por você, norma, sempre que lembro (e minha memória é relativamente boa) por tua clareza de expressão, pela tua incrível capacidade de ser concisa.
e sabe que o Senhor tem atendido às minhas orações?
agora vejo além: o Espírito Santo me direcionando em relação à oração pelos leitores do teu blog.
que o véu seja rasgado, em nome de Jesus! que caia a venda dos olhos de quem serve ao inimigo sem ao menos saber a quem serve.
eu oro mesmo, porque é tudo o que eu posso fazer.
e sabe que eu acho que é bastante?
ça suffit.
go norma!!!
(Ezequiel 47:9)

Norma disse...

Professor Arthur, Nietzsche morreu doido. Haveria algo mais deprimente que isso? Além disso, um bom leitor perceberia que o tom de "Epitáfio" é tudo, menos triste. O cristão não precisa se preocupar nem ficar deprimido com a possibilidade da morte, pois Jesus se sacrificou para que ele tivesse acesso livre ao Pai, nesta vida e na outra. Afinal, só há vida verdadeira em Deus. A outra opção é a morte eterna, e é isto que realmente pode deprimir alguém.

Deborah, você alcançou os limites máximos da fofura com esse comentário. :-) Eu lhe agradeço infinitamente pelas orações, a você e ao Pai, que a inspirou. Deus seja louvado por sua vida! Um grande beijo!

O Direitista disse...

Cara Norma,

em primeiro lugar, espero que vc não se importe, mas eu vou plagiá-la no epitáfio, só tenho que tomar cuidado para não ficar no mesmo lugar, porque soaria como uma falta de originalidade tremenda, para quem estivesse passeando por lá, hahaha.

Sobre o professor esquerdista, eu tenho algumas dúvidas sobre o que leva uma pessoa a continuar esquerdista. Tenho imensa curiosidade e gostaria muito de discutir isso seriamente.

Vejamos, disse o professor que devemos nos empenhar na "luta revolucionária pela igualdade". O trotskysta Isaac Deutscher, em sua biografia sobre Stalin nos informa que a revolução destrói os recursos do país e que, conseqüentemente, é inevitável que o povo, desprovido dos meios adequados à vida, entre em conflito com os líderes revolucionários, o que implica a necessidade do autoritarismo para não por a perder a revolução. A minha primeira é, portanto, de ordem prática: como garantir a igualdade após a revolução, quando surge a necessidade do autoritarismo?

Minha segunda dúvida é mais simples. Quero saber se ele leu Böhm-Bawerck e, mesmo assim, continua aceitando a teoria absurda do valor-trabalho e da mais valia.

Minha terceira dúvida é sobre o conceito de estrutura e superestrutura. Diz Marx que nossas crenças e nosso pensamento em geral são meramente um reflexo de nossa classe social. Admito que, fosse isso verdade, poderia haver algumas exceções. No entanto, pode alguém acreditar que, sendo isso verdade, de todos os teóricos e líderes comunistas nenhum fosse do proletário?

Minha quarta dúvida é sobre a igualdade. Eu queria saber se ele realmente acredita que é a "classe operária" que chega ao poder quando um partido comunista lidera uma revolução bem sucedida. Já sabemos que os líderes não são operários (geralmente nunca foram, mas quando foram, deixaram de ser no momento em que viraram líderes políticos). A única forma da classe operária estar no poder seria se ninguém estivesse no poder, porque todos estariam, igualmente, no poder. Mas como poderia uma revolução, que sempre tem líderes, produzir uma sociedade sem líderes, sem Estado? E por quê, se uma sociedade sem Estado fosse viável, isso nunca teria ocorrido na história da humanidade (mesmo depois de 70 anos de socialismo)?

Para encerrar, eu quero só mencionar a dúvida que fico quando vejo todos os países que passaram por uma revolução comunista imersos na ditadura totalitária. É isso que chamam de igualdade? Aliás, o que é a igualdade que se busca? Os homens são iguais? Não são alguns melhores e outros piores, alguns mais inteligentes e outros menos, alguns mais esforçados e outros mais preguiçosos, alguns santos e outros assassinos, alguns liberais e outros tiranos? Se não, então inexiste diferença moral entre um burguês e um proletário (o que seria admitir que o valor da revolução é o mesmo da contra-revolução). Se sim, então os homens não são iguais e não faria sentido impor uma igualdade a quem é diferente.

Bom, é isso. Acho que escrevi demais, mas eu poderia perguntar também se ele gostaria de viver na Coréia do Norte, em Cuba ou em algum outro país que foi comunista, mas acho que isso já está meio batido...

Norma disse...

Ha, Direitista!
Tem tanta gente dizendo que vai me plagiar, que eu já estou considerando a hipótese de patentear o epitáfio, já que não posso querer morrer antes de todo mundo para ser a primeira a usá-lo! :-D

Gostei das suas pacientes ponderações! Vamos seguindo, repetindo-as, até finalmente entrarem na cabeça dos esquerdistas não irrecuperáveis.

Abração!

Anônimo disse...

Pode parecer tenebroso para quem não (re)conhece o verdadeiro e absoluto amor.
Ano passado conheci a Luz e ela tem me guiado por alguns lugares, como este, iluminado.

Anônimo disse...

Gostei muito desse seu espaço.
Clareza e consistência invejaveis.
É assim mesmo, quem sabe...sabe e consegue "até mesmo falar em letra de forma".
Mas nem assim os irrecuperaveis irão compreender. A maioria se auto-intitula na tentativa vã de passar uma imagem de competência.
Talvez até por isso queiram tornar todos iguais por decreto.
Voltarei outras vezes para aprender mais.
Serei, sem dúvida, um divulgador desse blog.
Parabéns!!!

Anônimo disse...

1. ' Professor" Artur,
Decida-se: Nietzsche ou Marx? Pelo que escreve não entendeu nem um nem outro. Não amole a Norma, vá ler um pouco, ilustrar-se e parar de falar besteira do século XIX.

2. Norma, Ver o seu blog é como estar flanando por uma cidade desconhecida e, de repente, ver um rosto, um gesto, muito simpático. Dá vontade de parar e ficar conversando.
Na lista de músicos não tem o Coltrane nem o Paul Desmond, candidato-me a te mostrar lindas musicas dos dois.
Nos livros não li o Paul Girard, vou fazê-lo.

Boa sorte para você.

Anônimo disse...

Cara Norma, meu epitáfio será plagiado do poeta espanhol, Ramon de Campoamor:"foi o que foi, sem no entanto ser o que deveria haver sido". Isto, porque não sou nem de direita e muito menos de esquerda, e acho graça desses fãns de quem moreu louco, pois , poderiam citar tambáem o poeta português Albino Forjaz de Sampaio, que escreveu "Palavras Cínicas" e também morreu louco. Repassei um e-mail, com uma mensagem fantástica. Abraços. Newton

Anônimo disse...

norma,tudo bom! ´tudo que voce escreveu é pura verdade, o caminho mais excelente é o amor, é amar a Deus e ao proximo como a si mesmo.bjs