21 junho 2006

Diga-me como escreves... I

Em "Diga-me como escreves" - a mistura entre "tu" e "você" é proposital e um protesto ao vilipêndio do idioma - , do alto de minha autoridade de professora de português (hehe), analisarei o texto (gramática, coesão e coerência, estilo) de figurões da intelectualidade (hã?) brasileira. Inauguro a série com ninguém menos que Emir Sader, professor da UERJ, articulista na grande mídia e conhecido formador de opiniões, todas elas à esquerda. O artigo analisado, de 19 de junho, encontra-se no site da revista Carta Maior. Meus comentários estão em vermelho.

O MUNDO PELO AVESSO
O pós-neoliberalismo da nova Bolívia
Emir Sader

Os bolivianos votaram, pela primeira vez, em si mesmos. Elegeram um deles para dirigir coletivamente o país. E fazem, em poucos meses, o que nenhum governo fez, em séculos. [excesso de vírgula! eu tiraria todas da terceira frase] Nacionalizaram os hidrocarburetos, convocaram a Assembléia Constituinte para refundar o Estado boliviano, deram início à reforma agrária. [que primeiro parágrafo mais sem-graça... a frase de abertura faz um certo efeito, mas o final "no ar" e sem gancho para o que vem depois pode provocar o desinteresse dos leitores]

E, [que horror esse E com vírgula logo no início!] coerentemente com as propostas de campanha, na semana passada o governo de Evo Morales apresentou seu plano "Bolívia digna, soberana e produtiva para viver bem", um plano [custava substituir esse segundo plano?] de desenvolvimento nacional. Os pontos essenciais do plano [de novo!] são a estabilidade macro-econômica [macroeconômica não tem hífen] – conservando as políticas monetária e cambial – e a adoção de políticas de saúde, educação, desenvolvimento, infra-estrutura e política externa. A matriz produtiva se articula em torno dos hidrocarburetos, das minas e da biodiversidade. ["A matriz produtiva se articula em torno"? como assim? isso é estilo peixe ensaboado: uso de palavras sem precisão]

As prioridades do governo boliviano são o combate à miséria – buscando reduzir de 35% a 27% a parcela da população na extrema pobreza até 2011 –, a criação de 90 mil empregos por ano – reduzindo a taxa de desemprego de 8,4% a 4% –, assim como a construção de 100 mil habitações. Em um ritmo geral de expansão da economia de 4,1% neste ano, até chegar a 7,6% no final do mandato de Evo Morales. [quatro travessões em um só parágrafo é demais, e a última frase está não só sem verbo (o infinitivo não conta), mas incompreensível]

O objetivo do Plano é a erradicação da pobreza e toda forma de exclusão social [lugares-comuns!], para que se garanta o exercício pleno da dignidade e dos direitos de todos os bolivianos [idem!]. A estratégia do Plano [plano, plano, plano: com esse já são cinco até agora] inclui ["A estratégia inclui": estilo peixe ensaboado] o programa "Comunidades em ação", com uma participação "maciça, integral e sustentada, inédita", em saúde, habitação, água potável e apoio à produção em 80 municípios, principalmente nos Estados que concentram a 67% [concentram A? deveria ser OS ou nada] da população de extrema pobreza – La Paz, Cochabamba, Oruro e Potosí.

Nas zonas urbanas haverá um programa, [virgulinha danadinha a mais] chamado "Reciprocidade e Solidariedade", junto a [como assim "junto a"? os dois serão lançados ao mesmo tempo? ou são apenas aparentados?] um programa [custava substituir ou elidir essa palavra?] para jovens: [o que esses dois-pontos estão fazendo aqui, se a oração continua???] "Meu primeiro emprego" e "Minha empresa", para o fomento do desenvolvimento de iniciativas produtivas, e "Bolívia sem fome", com subsídios para cafés da manhã e almoços escolares.

Projeta-se a criação de um "Seguro Universal de Saúde" e um programa de "Desnutrição zero", além de um novo pacto social para a refundação da educação pública, a reforma da educação superior, a alfabetização, com um programa "Eu sim, posso" – com apoio de Cuba, para atender a 1,2 milhões de bolivianos. [parágrafo totalmente torto: não há um termo inicial - conector - que garanta seu encadeamento com o parágrafo anterior; "além de" introduz elementos demais para ser apenas um "além de"; há ambigüidade em "com um programa 'Eu sim, posso'": não se sabe se esse programa corresponde ou não ao "novo pacto social"; a repetição "com... com" é de um desleixo primário. Além disso, o travessão e a vírgula da última frase estão "sobrando"]

O plano [seis, com esse] prevê investimentos públicos, em cinco anos, de 6 bilhões e 883 milhões de dólares e 5 bilhões e 839 milhões de investimentos privados, [por amor à clareza e à elegância do estilo, aqui deveria haver um paralelismo, com o segundo número igualmente depois do termo "investimentos privados", assim como o primeiro número vem depois de "investimentos públicos"] principalmente nas minas, nos hidrocarburetos e na indústria manufatureira, incluindo as empresas estrangeiras, [virgulinha!] que se ajustarem à estratégia de desenvolvimento e às leis nacionais. [estilo peixe ensaboado: o que significa "empresas que se ajustarem à estratégia de desenvolvimento e às leis nacionais"? um final como esse, arredio, só atesta o quanto o texto de Emir Sader é capenga, tanto em forma quanto em conteúdo]


Comentário geral da professora: A forma do texto é "picadinha" demais, com parágrafos que poderiam se unir. Há abuso de expressões vagas e uma ausência geral de precisão. Recomendam-se ao autor noções básicas de coesão para corrigir a pontuação, deixar de repetir palavras, evitar frases sem sentido e aprender a encadear parágrafos com mais eficiência. Um maior controle dos lugares-comuns também seria desejável. Além disso, "hidrocarbureto" é tradução errada do espanhol, significando, em português, benzeno. O correto seria "hidrocarboneto". (Devo essa informação a um amigo especialista na área, com a ressalva de que não encontrei "hidrocarbureto" no dicionário.)

Nota: Se o autor fosse um aluno de terceiro ano do segundo grau, eu lhe daria uns seis e meio. Sendo professor universitário e articulista, preciso aumentar o nível de exigência: quatro e meio. Nada que não possa ser resolvido com muita leitura e um bom manual de redação. Idealmente, antes de assumir as funções que ocupa...

53 comentários:

Gustavo Nagel disse...

Sério, muito boa sua idéia!! Haha! Só tem uma coisa: agora você me deixou com um medo absurdo de comentar aqui nesse blog. Na verdade, com medo até de escrever qualquer coisa no meu. Espero as próximas aulas.

Só uma coisa me animou um pouquinho: po, o cara é professor universitário, né? Talvez eu não esteja tão mal assim. :)

Beijão.

Luiz Augusto Silva disse...

Também fiquei um pouco assustado. Pelo menos eu sou aluno do terceiro ano do segundo grau! E acho que conto com um pouco mais de simpatia da professora que o infeliz Emir.
:)

Norma disse...

Hehehe! Bem que um amigo me avisou que o post ia provocar esse efeito! :-)

Não se preocupem, meninos! Sou uma professora muito boazinha (perguntem a meus alunos). :-) Só não sou boazinha com "intelequituais" que acham que estão abafando quando, na verdade, sequer dominam aquilo que é (ou deveria ser) seu principal instrumento de trabalho, o idioma.

Uma vez revisei um livro de Paulo Coelho para uma editora e inseri muitos comentários na correção, incluindo explicações gramaticais. Das duas, uma: ou ele foi humilde e usou a revisão para consertar seu texto, ou deu de ombros e deixou para lá. O mesmo pode ocorrer com Sader. Quanto a mim, basta mostrar que não escrevem bem, o que considero um serviço de utilidade pública.

Anônimo disse...

Cara Norma,

Eu também penso que o texto do Emir Sader está mal redigido. Não nego que até me diverti com as "canetadas vermelhas" que você deu.

Creio, entretanto, que bater nele por causa da gramática e da falta de ordem e coesão é desnecessário: algum zé-ruela esquerdista poderia alegar que, sem ter como atacar aquilo que prega o eminente intelectual chique, limitamo-nos a repreender seu pobre e porco estilo.

O que Emir Sader fez no texto em questão foi simplesmente não pensar. Parece que ele transcreveu um panfleto de propaganda. Se não foi mera transcrição, no máximo foi uma tradução ruim de algum panfleto em Espanhol ou Guarani. Talvez o pobre Dr. Sader nem tenha feito coisa alguma e, a exemplo de Chomsky, nem se dê o trabalho de escrever muita coisa, colocando algum subordinado para trabalhar por ele para apenas assinar a obra "acabada", sem lhe dar muita atenção. Afinal, quem o lê ou é meio lesado, e não perceberá o monte de lapsos (não apenas de escrita, mas principalmente de razão), ou é simpatizante (também meio lesado), e assimilará a propaganda como por ressonância dos jargões e lugares comuns, sem que a forma tenha muita importância.

Emir Sader e afins devem ser combatidos porque são mentirosos e advogam a mentira e o mal. Sua arma é a propaganda -- às vezes em forma de palavra --, travestindo de bom e de bem o que é na verdade falso, mau, vil e maligno. Por isso, penso que o combate deve mesmo ficar no terreno das idéias, como você vem fazendo neste blog, através de desmascarar mentiras, de aniquilar falácias, de mostrar que sim é sim e não é não, de revelar que não existe paternalismo sem aumento de imposto, de lembrar qual é a boa, santa e agradável vontade de Deus para o homem.

A título de curiosidade, peço-lhe que, se tiver tempo, critique e corrija este meu texto. Quero ver como anda meu Português e meu "estilo" (e também minha atenção, pois eu costumo cometer muito deslizes na digitação, que quase sempre ficam despercebidos).

Um abraço.
Paulo

Norma disse...

Caro Paulo, você está corretíssimo ao associar o conteúdo pobre de Sader a sua função propagandística. Não esqueça, no entanto, que a forma jamais está separada do conteúdo: ocupar cargo em universidade e escrever em grandes jornais, aceitando os títulos (e as respectivas deferências) de "intelectual" e "formador de opinião", SEM AO MENOS dominar o idioma é uma característica intrínseca a esse tipo de desonestidade - um engodo que deve ser desmascarado em toda a linha, forma e conteúdo. Se o faço com relação à forma também, é porque sou profissional do texto (professora e revisora) e, afinal, alguém tem de fazê-lo. :-)

Quanto a corrigir seu texto, perdoe-me: até imaginei que, depois desse post, alguém ia me pedir isso, mas prefiro negar-me por uma razão muito simples - se abrir esse precedente, terei de corrigir o texto de todos os que me pedirem. Sei que entenderá. Abraços!

Anônimo disse...

Prezada Norma,

Por falar em avaliações de alunos de terceiro ano do segundo grau, lembro que, quando eu estava no terceiro ano (1990), meu professor esquerdista de Redação deu uma nota baixa num texto meu sobre liberdade, com recadinho no papel dizendo que o tema era muito burguês. Quando eu fui reclamar que ele era professor de Redação e não de Ciência Política -- e mesmo que ensinasse esta última, não teria direito de julgar opinião --, aí, sim, foi que ele comentou sobre o estilo pobre.

Concordo que o estilo não era dos melhores, mas o recadinho podia dizer isso para corroborar a nota ruim, ao invés de vir com ideologia.

Um abraço.
Paulo

Anônimo disse...

Cara Norma,

Eu devia ter posto um ":)" ao lado do meu pedido. Pareceu que eu estava levando o pedido a sério. :)

Um abraço.
Paulo

Norma disse...

Claudinho, eu deveria ter inventado outra enquete: complete o título do post... :-))

Tem toda razão, Paulo! Professor de redação esquerdista passando lição de correção política é dose... Além disso, se liberdade é ruim porque é tema burguês, totalitarismo é bom porque é tema esquerdista? Haha!

Norma disse...

Hahaha! E eu deveria ter acrescentado: "se não for brincadeira"... :-)

Luís afonso disse...

Norma:
Se o autor lesse o seu post sofreria demais.
Tu terias feito o próprio "Marquês de Sader" sofrer!!!
Muito bom!!
Parabéns!

Anônimo disse...

Norma,
só uma curiosidade: por que você opta pela ortografia portuguesa?

Outra observaçãozinha: no seu comentário você diz "desse post", não devia ser "deste post?" (brincadeirinha)

Gostei muito do seu blog!

Norma disse...

Oi, Anita!

Ortografia portuguesa? Onde?

Ah, usei "esse" em vez de "este" porque o formato dos comentários, em janela pop-up, dá a impressão de que não estamos mais no mesmo ambiente do texto. Coisas de internet, pois! :-)

Obrigada pela visita! Abração!

Anônimo disse...

Adorei as correções, Norma! ;)

Beijos, e saudades!

Anônimo disse...

Cara Norma,

Com relação a "esse" e "este", concordo com você: o que já ficou escrito, mesmo por mim, está perto de que o ler, não de mim. Só não sei se é assim que ensinam nas escolas. Será que o que eu escrevi continua sendo mais meu do que a quem o transmiti? Acho que não.

Um abraço.
Paulo

Moacir Leão disse...

Muito boa a correção, Norma. O Emir Sader seria reprovado em redação. Levaria bomba, e pronto! Eis aí o intelectual "perfeito idiota latino-americano". Não sabe escrever e ensina sem recauchutar a própria "ignorantzia".
Ler um texto do Sader - e isso, juro, não é implicância - é uma tarefa cansativa, enjoada mesmo. É um deseducador daqueles. O pensamento do homem é pura macaqueação, sempre guiado por lugares-comuns e clichês do repertório esquerdista. Pobre universidade, pobres alunos. Emir Sader é ruim demais, e o texto dele, cacareco; tem mesmo de ser feita uma autópsia do dialeto mísero.
Merece destaque a tua ironia, já no título do post, alternando a segunda com a terceira pessoa: "Diga-me como escreves", e não "Diga-me como escreve" ou "Dize-me como escreves". Sader bem merece.
Um abraço do fã (ainda curtindo aquela análise esplêndida que fizeste acerca do evangelho de Judas).
Oigatê guria que deu boa!
Moacir

Adelice disse...

Norma, sua correção me deu saudade. Eu lembro que minha melhor professora de português, que por sinal também é Norma, um dia ensinou tudinho para mim. E então, fui fazer engenharia e nunca mais escrevi decentemente.

Comprei uma gramática. Sempre que tenho que escrever ou que me deparo com um texto bem escrito como o seu e de tantas outras pessoas, penso que eu deveria fazer uma lição por dia, para relembrar tudo.

Tempos atrás, comprei duas gramáticas de inglês. Pensei a mesma coisa, que tinha que fazer uma lição por dia. Mas, como somos preguiços, não? Fiz duas lições.

Vou ver se páro de enrolar no orkut e estudo um pouco para variar. Daí, poderei comentar aqui sem medo, haha.

Adorei o texto. Serve de aulinha para nós também.

Beijos,

Anônimo disse...

Excelente, Norma, parabéns, o Emir dos Crentes (alcunha dada pelo embaixador Meira Penna) é isso aí - e muito menos.

Continue assim.

Abraços,

Correa Filho

Norma disse...

Oi, Leilinhah, saudade também!

Obrigada, Moacir! Sempre digo aos meus alunos de francês que o português brasileiro, sobretudo em comparação, é hoje uma língua cujo uso está totalmente bagunçado (os lingüistas diriam "transformado", mas transformações para pior não me interessam). Uma das bagunças que mais me irrita é justamente essa mistura ironizada no título, decorrente da utilização de "você" (corruptela de "Vossa Mercê", pronome de tratamento de terceira pessoa) como pronome de segunda pessoa, enquanto se mantém a terceira pessoa na conjugação. O resultado disso é que continuamos a usar o pronome "te", por exemplo, mesmo com o "você", pois somos incapazes de usar estruturas como "ele LHE contou", "ela O viu". E tudo só piora: agora, o uso do "lhe" no lugar do pronome de objeto direto cria aberrações como "vou lhe atender" ou "ela já vai lhe receber". Um horror. Quando a sintaxe na fala é tão torta, fica quase impossível a pessoa aprender a escrever bem, a não ser se ler MUITO - e bons textos! - desde a infância. O uso oral de preposição e pronome no Brasil é tão desrespeitado como as leis. É aliás o que eu quis dizer com a impossibilidade de separar forma e conteúdo, já que a língua reflete a confusão mental e moral em que estamos.

Adelice, não se "avexe" :-), continue a comentar tão tranqüilamente quanto antes!

Obrigada, Correa Filho! Pois é, com "intelectuais" como esse, só na base da fé cega mesmo. :-)

O Fantasma de Bastiat disse...

Sensacional. Que o Emir Sádico era burrinho, nós já sabíamos - mas agora nós temos a prova!
Obrigado, professora.

PS: Estou esperando ansiosamente o próximo post da série. O que não falta por aí é "intelequitual" (ótima) esquerdista oligofrênico.

Lateefa disse...

"Profª Norma",

Hehehe... Olha, ainda bem que somos amigas. Não queria ser sua aluna de português. Será que eu seria aprovada? Beijinhos!!

Anônimo disse...

Esse Emir Sader merecia uma avaliação como essa. Parabéns!

Rodrigo Xavier disse...

Obrigado por nos alegrar com esta nota de humor. Continue seu intento.
Abraços.

Anônimo disse...

São 2:45 da manhã...acredito que nunca mais vou dormir tão bem quanto hoje depois de ler o seu post e os comments mais cordiais da internet...
Faz tempo que não apareço por aqui porém é por uma boa causa, estudando francês. Saiba de uma coisa Norma, eu nunca vou postar nada em francês para voce ler, porque se em português eu sou passível de crucificação...imagina em francês....
au revoir!

Edson Camargo disse...

Belo diagnóstico da educação no Brasil, professora. Esse post bem que poderia ir para o MSM também...

Se os líderes da esquerda brasileira escrevem desse jeito, não é seria nos blogs dos militantezinhos semiletrados que veríamos coisas diferentes, não é mesmo? E se vê cada coisa....

Quanto às expressões vagas e a ausência geral de precisão, bem, essas fazem parte dos aspectos mais sujos da retórica. Sem eles o discursinho socialista não pára em pé, isso é sabido.

Quem pensa mal, escreve mal. Fazer o quê.
Bjo.

Anônimo disse...

hahahahahahahaaa... Chorei de rir.
E mijei na cueca quando li a frase final "antes de assumir as funções que ocupa..."
Muito bom!!!
Só acho que você foi muito má. Em um país onde o presidente é semi-analfabeto (coloquei o "semi" pq considerei que ele sabe assinar o próprio nome) até que esse texto está dentro das normas de redação da ABNRL (Associação Brasileira de Normas de Redação Lulalá)

Anônimo disse...

Agradeço a Nemerson Lavoura por ter-me trazido a esta/essa crítica tão contundente e divertida. Só acho que, para a azêmola, zero já é muito. Give them hell, toujours!

Anônimo disse...

Cara Norma:

Permita-me complementar suas correções gramaticais e mostrar uma forma sistemática de um petista produzir um texto.

Convenhamos: a vida de um petista amargurado não é fácil. Além da eterna pose de ser "contra o sistema", tem que ter uma desculpa pronta na ponta da língua para explicar a avalanche de denúncias contra o PT. Assim, para justificar sua mamada nas tetas do Estado, obliterar o cérebro alheio e mentir deslavadamente, resolvi a partir dos chavões petistas vistos aqui, formar um discurso sem forçar muito o cérebro.

Meu revolucionário sistema funciona assim: Pegue um item do post 1 e forme uma frase com um item do post 2, e assim sucessivamente. Se vocês repararem, terão exatamente 78.125 formas diferentes de expressar sua revolta contra os setores reacionários da imprensa golpista.

1)
a)É necessário
b)Torna-se imprescindível
c)Não se pode deixar de
d)É compromisso do proletariado
e)Chegou a hora de

2)
a)Combater
b)Lutar contra
c)Erradicar
d)Romper com
e)Questionar

3)
a)As mentiras
b)O golpe contra nosso partido
c)A oposição
d)O golpe contra nosso direito de usurpar o Estado
e)A mobilização dos setores conservadores

4)
a) Imposto (a) (os) (as)
b) Defendido (a) (os) (as)
c) Implementado (a) (os) (as)
d) Praticado (a) (os) (as)
e) Mantido (a) (os (as)

5)
a)Por Diogo Mainardi
b)Pelo imperialismo ianque
c)Pela reacionária revista Veja
d)Por FHC
e)Pelos malditos burgueses imperialistas

6)
a)Para que se possa implantar
b)Só assim teremos realizado
c)De forma a alcançar
d)Porque o povo almeja
e)Atingiremos, desta forma

7)
a) A tão almejada justiça social
b) O compromisso histórico com o socialismo
c) Os objetivos propostos por nosso mestre Karl Marx
d) A função social da terra
e) A necessidade social dos excluídos

Se quiser um discurso maior, basta que volte ao início. Quando terminar, é sempre bom gritar um chavão de protesto para arrebatar a platéia. Assim, use um destes:

a) No pasaran !
b) Reacionários burgueses !
c) Abaixo o neoliberalismo !
d) Um, dois, três ! Lulla outra vez !
e) Papai Estado, nós te amamos !

Exemplo:

É necessário erradicar a mobilização dos setores conservadores implementada pelo imperialismo ianque, de forma a alcançar a tão almejada justiça social. Abaixo o neoliberalismo !

Anônimo disse...

Peço licença para falar à Adelice.

Não vejo relação entre fazer Engenharia e ir de mal a pior em Português ou outra língua qualquer. Eu sou um engenheiro que aprecia um bom escrever e um bom falar, e procuro praticar as duas coisas. Confesso que meu estilo não é dos melhores, e meu "pecado" talvez seja não ter o hábito de ler consistentemente gente que tenha um bom estilo, assimilando-o. Mas Gramática e pensamento ordenado não deveriam ser, para quem tem obrigação profissional de compreender e aplicar normas, algortimos e métodos, de forma alguma embaraçosos.

Aliás, a maior ilusão de alguém que ainda vai enveredar pela vida de engenheiro é a de que Engenharia é parte de algo que se chama de "ciências exatas" -- se eu fosse um Olavo de Carvalho da vida, poderia escrever um artigo espinafrando o termo absurdo, que coloquei entre aspas porque não se aplica sequer à Matemática pura, muito menos à Fisica, Química ou qualquer outra ciência, e muito menos à Engenharia, que nem ciência é --, e que o engenheiro é um exímio e dedicado fazedor de contas, cujos precisos resultados fazem toda a diferença entre um prédio manter-se de pé ou cair, ou entre uma máquina fazer ou não o que deve. Felizmente, ainda na faculdade, tive alguns bons mestres, mesmo entre alguns reprováveis exímios fazedores de contas, que alertaram que o engenheiro está mais para o que tem que absorver os mais diferentes conhecimentos de diferentes áreas, saber reuni-los e recomunicá-los e, por fim, fazer relatórios do que para o simples calculista. Matemática e Física são importantes para o engenheiro, certamente, mas não mais do que outras línguas que ele deve dominar.

Diante desse fato, e ainda mais existindo ainda na academia quem o reconheça e divulgue, é surpreendente que a academia tenha suprimido do currículo as cadeiras de Português Instrumental e Inglês Instrumental.

Aliás, talvez não seja surpreendente coisa alguma! Pensando bem, esse nivelamento por baixo é bem consistente com a modernidade e com a filosofia e a estratégia revolucionária. Limitar o leque de conhecimentos das pessoas e as formas de se comunicarem eficientemente deixa-as ao mesmo tempo mais dóceis e vulneráveis. Como todo o resto do proletariado, engenheiros não precisam de pensar: o Estado pode pensar por eles. Basta-lhe fazer suas contas.

É como dar um tiro no próprio pé. Tomara não cheguemos a um estado bolivariano. Se chegarmos, porém, tomara muitos líderes bolivarianos sejam vítimas de acidentes em prédios ou ao usar máquinas projetadas por engenheiros que não pensam, que a brilhante mente comunista vem formando nas últimas décadas.

Um abraço.
Paulo

Prof Shikida disse...

Belo post. Se me criticasse assim, provavelmente eu teria menos pontos ainda. Mas pelo menos eu aprenderia a escrever melhor. :-)

ótima iniciativa. pelo menos ele nao escreveu obscecao ou algo assim... :-)

Anônimo disse...

A professora tem razão em alguns comentários. Mas há também períodos totalmente corretos que ela apontou erros, como por exemplo o uso de vírgulas para os apostos.
Me parece que todos nós, professores universitários ou não, devemos consultar manuais antes de publicarmos textos.

Helena

Norma disse...

Heheheeheheheheh! Os comentários estão rendendo boas risadas. Tem muita gente aí que bem poderia ter um blog!

(Com essa espero também minimizar ou apagar o efeito inibitório que esse post inadvertidamente criou em meus leitores, hehe...)

Oi, Helena! Eu não disse necessariamente que as vírgulas estavam erradas, mas sim, que estão em excesso. O excesso acaba se configurando em erro, ainda mais em um texto todo troncho como esse.

Anônimo disse...

Emir Sader é apenas um mentiroso imundo, uma consciência porca, abjeta, deformada de sentido ético. . .e estamos povoados de gente assim neste país!

Caio Kaiel disse...

Olá Professora,

Ótimo texto, gostei.
Penso que o domínio da língua é instrumento que manifesta a capacidade intelectiva de alguém...ou será o contrário? Enfim, você entendeu. ;)

Bjo Norma! Aliás, "A NORMA É CLARA".

Anônimo disse...

Norma, Norma, seu comentário só se ressente de um pH muito baixo, hehe. Ácida crítica, para quem não tem muita vivência em química.
O artigo é um belo exemplo de que não só a sintática não implica em uma semântica, como que a ausência de boa sintática pode por si só SER a própria semântica: Se você não tiver algo de claro a dizer, enrole com algumas expressões de efeito, e pronto. Especialmente úteis são frases ou expressões de conteúdo politicamente correto que tenham algum contato tangencial com o assunto em questão.
Aprendi direitinho?

Denise disse...

Norma,
Chego atrasada nos comments,
mas queria dizer que adorei esta idéia. Não sou estudante, nem professora (mto menos universitária), mas adoro ler pessoas que escrevem bem, e é mto interessante ver avaliados os erros de quem deveria escrever bem. (será que tbém abusei das vírgulas??? :)))
Um beijo, adorei seu trabalho.
Denise.
PS: ser revisora de Paulo Coelho deve realmente ter sido uma tarefa árdua.

José Eduardo disse...

Não sei se foi colocado por alguém em um dos 40(!) comentários anteriores, assim comento eu. Você poderia comentar bons textos nessa proposta. Seria como ver os dois lados da moeda.

Abraços
José Eduardo (sou aluno do STEP e soube que vc é professora lá, mas nunca te vi. Deve ser uma questão de horários)

Anônimo disse...

gostei, assim, da sua, digamos, boa, ou melhor, ótima, idéia.

Anônimo disse...

Cara Norma

O que você fez é realmente prodigioso: nunca eu imaginara que ficaria contente após ler um texto do Emir dos Crentes. É o "Imbecil Coletivo" do vernáculo.

Contudo, não vim apenas elogiá-la, mas também fazer-lhe uma pergunta. Lá pelas tantas, fala-se em "bom manual de redação. Qual seria, pois? Estou necessitado de um, visto que, toda vez que me meto a escrever, cada linha é uma angústia de parto e o texto, um aborto.

Desde já agradeço.

Solano Portela disse...

Norma:
Adorei as correções.
Solano

Anônimo disse...

Idiotas somos nós, que não aderimos à esquerda acadêmica quando tivemos oportunidade. Nesse espaço privilegiado do mundo qualquer idiota vira sábio, semi-analfabetos tornam-se escritores de sucesso e não é preciso saber escrever nem pensar para galgar as honrarias intelectuais. Azar de quem tem vergonha na cara. Isso inibe e limita muito na vida.

Anônimo disse...

Professora:

A senhora não encontrou "hidrocarbureto" no dicionário porque esquerdopata só consulta dicionário feito por esquerdopata. O Houaiss registra "hidrocarbureto" e diz que é "o mesmo que hidrocarboneto".

O Emir Sader está salvo!

O catecismo NA novilíngua portuguesa do Houaiss sempre salva os socialistas (um 'tour' interessante visita os verbetes esquerda, esquerdismo, progressismo e socialismo).

Quem sabe se não existe até uma gramática esquerdista?

Até logo!

Luiz

Anônimo disse...

Adorei a sua crítica. Sensacional. O que se pode verificar é que comunas caricatos como Sader, verdadeiros marxistas vulgares, não se dão ao trabalho de estudar, de evoluir. O negócio é panfletar, é militar o tempo todo. Nada mais justo que a sua condenação.
Um abraço,
Cristiano Carvalho

Anônimo disse...

Não quero dedar ninguém, professora, mas por que a palavra "plano" está com a inicial em letra maiúscula no quarto parágrafo?

Acho que a senhora vai ter que diminuir a nota do professor aloprado.

Anônimo disse...

Cara Norma Braga,
já havia lido alguns ótimos textos seus no site Midia Sem Máscara, e tive muito prazer em acompanhar a sua aventura coprológica. Tenho uma sugestão para outra análise: o texto do mesmo Emir Sader no qual ele acusa Bornhausen de racista. Eu mesmo, sem conhecimento, tempo ou estômago para uma empreitada deste porte, postei um comentário no site da carta menor sobre o fato - indiscutível e impressionante - de que a esmagadora maioria dos "posts" a favor do "professor" continha erros de português, alguns com certeza importados dos escritos de Sader.
Outro alvo natural seria o bofe (como o denomina nosso diplomata Meira Penna). Quem deveria tê-lo proibido de escrever uma linha, até mesmo de assinar seu próprio nome (que, aliás, é Genésio Darci), seriam seus professores do primário, muito antes da Igreja Católica!

Professor Arthur disse...

Esse apego à formalidade da escrita é típico de direitistas. Ao invés do conteúdo, privilegiam a forma. Nem mesmo discutem o que está escrito. É o último recurso de quem não tem como refutar as verdades contidas na mensagem. Lamentável que uma senhora que se intitula "professora de português", restrinja sua análise redacional ao estilo parnasiano e vazio...

Norma disse...

Pessoal, obrigada pelos comentários.

Professor Arthur:

"Último recurso" nenhum! Assunto é o que não me falta. Além disso, há tanta gente refutando o conteúdo saderiano (leia Olavo de Carvalho, leia Reinaldo Azevedo) que resolvi refutar a forma, igualmente ruim. Não sei quanto aos direitistas, mas profissionais de Letras costumam se apegar aos dois, indissociavelmente. Aliás, opor forma a conteúdo é coisa de quem não sabe que o melhor conteúdo não pode vir em uma forma ruim, pois um fala do outro.

Lamentável, portanto, sua intervenção. E cheia de bobices adicionais, como o recurso pobre de desclassificar o oponente com a frase-feita "essa senhora que se intitula"... Eu não me "intitulo" professora, mas sou mesmo. E o que isso tem a ver com o post? Torno-me menos professora por ter corrigido o artigo do Sader?

Agora, lamentável, lamentável MESMO é que um professor (não duvido de sua titulação) cometa um erro primário como vírgula depois do sujeito. Isso é realmente de se lamentar, ainda mais nesse post!

Então, um conselho generoso da professora aqui: aprimore seu português e leia mais para desenvolver sua aptidão de argumentar sem lançar mão de acusações vazias ou lugares-comuns. Isso lhe fará bem.

Professor Arthur disse...

http://profarbitrio.blogspot.com/2007/01/apoio-emir-sader-e-crtica-ao-apego.html

Norma disse...

Um professor com tamanho desapego ou desprezo à boa escrita me assusta muito... Se crê que dominar o idioma não é importante - algo básico para quem tem na linguagem seu instrumental primeiro, como escritores, jornalistas, professores - , o que será então importante? Um bom texto é o primeiro passo para dar seu recado ao mundo com excelência. É como aprender as quatro operações da matemática para depois resolver equações. Quem não escreve direito muito provavelmente não pensa direito.

Queria não estar dizendo aqui coisas tão óbvias, mas já vi que a associação macabra entre a boa escrita e a "classe dominante" já fez escola entre a esquerda universitária... Culpa, mais uma vez, da odiosa dicotomia inaugurada por Marx. Qual o possível resultado disso? Crianças e jovens presunçosos que se orgulham de seu mau português e que terão bastante dificuldade em arrumar um bom emprego, já que o domínio do idioma está cada vez mais valorizado no mercado de trabalho. É um bom resultado para você, professor?

Não entendo esse desejo esquerdista - e demoníaco - de nivelar a todos por baixo. Nem todos sabem escrever? Então, que ninguém escreva bem, é a meta deles. Nem todos conseguem ganhar bem? Então, que todos sejam pobres, é o nobre ideal da esquerda.

O fato é que o conteúdo de Emir Sader tem a mesma qualidade de seu português - como já também demonstrado por Olavo e Reinaldo. Se o professor Arthur insiste em que os "direitistas privilegiam forma ao conteúdo", é porque não os lê devidamente. Eu mesma canso de apontar aqui os problemas básicos nos CONCEITOS subjacentes ao pensamento de esquerda. Mas para defender Sader vale tudo, não é, professor?

Aos leitores, que a participação do professor Arthur seja motivo para mais reflexões sobre até onde pode chegar o pensamento esquerdista.

Professor Arthur disse...

"Quem não escreve direito muito provavelmente não pensa direito."

Se fosse verdade isso, Sócrates não teria "pensado direito", uma vez que nem escrever ele sabia...
O que me diz da tradição oral grega antiga? Eram todos burros porque não transmitiam conhecimento através da escrita e sim oralmente?

Está por fora da situação de emprego no país e no mundo capitalista que vocês tanto amam. Muitos que escrevem bonitinho e falam educadamente estão trabalhando por salário mínimo, enquanto os "burros" e semi analfabetos ganham muito mais com mão de obra. Nesse mundo nojento que vocês construiram, resta agora emprego apenas para mão de obra braçal, pois todos estão se tornando letrados e não servem mais para esse tipo de trabalho. Se fosse para aconselhar jovens hoje em dia, diria a eles para se treinarem como serventes de pedreiro desde cedo, pois no futuro poderão ser um mestre de obras...Esse é o mundi vil que vocês criaram...A intelectualidade não tem valor nenhum.

Anônimo disse...

Olá Norma!

Sei que já faz algum tempo que você escreveu esse artigo, mas resolvi comentar porque ando muito indignada.
Ando indignada porque vejo que o esquerdismo está impregnado em tudo e o que é pior, querendo destruir tudo!
Estou quase desistindo da carreira docente, porque creio não ser capaz de desconsiderar a velha e boa gramática como querem os esquerdistas.
Há um livro de um tal Sírio Possenti intitulado: "Por que (não) ensinar gramática na escola", que se propõe a questionar o ensino da língua culta.
Fico impressionada com a capacidade esquerdista de nivelar tudo por baixo, em nome da velha luta de classes e do combate ao elitismo, afinal; para os esquerdistas escrever bem é coisa da elite e isso exclui a massa.
Sei que não sou um exemplo perfeito de correção gramatical, mas valorizo o ensino da gramática na escola, penso que ela é um instrumento de ascensão social.
Sei que isso vai contra o pensamento esquerdista de nivelar tudo por baixo.Se não for dessa forma, como é que eles vão controlar com ração um povo que já experimentou o que há de melhor?

leandro disse...

ahuahuah O fake professor arthur está aqui? Deixe-me rir.
Já deu furos em todos os assuntos, desde redação básica (parágrafo mesmo) até copia e redação de artigos vagos e proxilos ao extremo.

Por favor, deixem ele postar mais que o domingo está muito sem graça!

Pérsio Menezes disse...

Que ótimo texto! Muito obrigado! Esse Emir Sader precisava vir com uma advertência do tipo daquelas das embalagens de cigarro.

LABORESCRITA disse...

É uma corajosa iniciativa! Certo dia vi no Brique de Porto Alegre, em uma banca de quadrinhos bem humorados um que dizia assim: "HERRAR É UMANO". Adotei no meu Laboratório de Escrita. Eu que nunca tive professor de português, já que estudei até os 17 anos em Montevidéu! Espero que as ilustres figuras alvo de críticas não se milindrem, pois dessa forma estarão dando um belo exemplo no sentido de desmistificar autores e derrubar barreiras entre supostas sumidades inatingíveis e os pobres mortais. Herrar é umano... e os revisores precisam trabalhar... tem muitíssimos erros terríveis no banco da CAPES, de envergonhar quem faz parte da Comunidade Cinetífica - porém... explicáveis pela história elitista brasileira. Trabalhemos para que mais gente escreva e apontemos erros, tendo consciência, entretanto, que não há professor de português que não os cometa... e assim a vida segue! Ninguém à salvo... mas ocupando o espaço público! Abraços
Ana Maria Netto Machado - PPGE/UNIPLAC - Lages/SC