Um esforço, com a graça de Deus, de recolocar o cristianismo na via dos debates intelectuais. Não por pedantismo ou orgulho, mas por uma necessidade quase física de dar nomes às minhas intuições e contornar o status quo das idéias hegemônicas deste mundo.
31 dezembro 2005
História triste de bailarinos
Eles se viam ao longe e já se amavam. Admiravam o contraste recíproco dos gestos - doces, para a bailarina, viris, para o bailarino - e ansiavam por dançar juntos um dia.
Naquele que seria, finalmente, seu primeiro ensaio com a bailarina, o bailarino, muito nervoso, subiu ao palco percebendo-se de súbito despreparado e sem vigor suficiente para uma dança com ela. Não lhe disse nada, mas levou adiante seus movimentos e intenções de movimentos. A bailarina, no entanto, sentiu a hesitação do parceiro. Diante disso, ela se viu invadida por um ímpeto de indignação e não se furtou a continuar a dança, mas quis intensificá-la lançando-se com fúria na direção do bailarino para que ele a tomasse nos braços e a transportasse pelo ar. Assustado com a força desmedida da parceira em sua direção, o bailarino não pôde erguê-la graciosamente, mas a conteve com as mãos estendidas, interrompendo toda promessa de movimento conjunto. Tão rápido quanto começou, o ensaio estava terminado.
Depois do esforço, a bailarina confessou que não poderia ter agido diferente, pois precisava da segurança do parceiro para continuar dançando com leveza. Com os dedos machucados, o bailarino prometeu a si mesmo que jamais dançaria com ela novamente. Ela acha que ele poderia tê-la segurado apesar do impulso desmedido; ele crê que ela não poderia ter saltado para ele daquele jeito. Separaram-se sem compreenderem exatamente no que consistira o drama. Ainda se admiram e se amam ao longe, mas já não ousam dançar juntos. Ele ainda esfrega os dedos de nervoso, ela teme ser deixada no chão quando queria voar em seus braços.
28 dezembro 2005
Protestantes e católicos
É significativo que o papa João Paulo II tenha afirmado sobre os protestantes que eles são "nossos irmãos separados". Filhos de mesma mãe, sim, mas para os católicos a mãe é a Santa Igreja. Esta é a questão: para os católicos, os protestantes serão sempre os filhos ingratos, que saíram do lar e rejeitaram a própria Mãe. A coisa só piora se pensamos em Maria, a quem não prestamos a mesma reverência que eles. E que filho teria uma boa convivência com um irmão que negou seu berço em comum? De onde, para minha tristeza, concluo: um católico sincero não pode ver com bons olhos seu irmão separado protestante. Podem sair para almoçar de vez em quando, podem trocar conversas agradáveis sobre Deus, podem até ser excelentes amigos; mas há limites dolorosos que não devem ser ultrapassados. Portanto, projetos em comum, só até certo ponto. As diferenças surgirão fatalmente e eles terão que fazer como Barnabé e Paulo, que se separaram no trabalho de evangelização por não concordarem em alguns pontos, ainda que não centrais para a fé cristã.
Sobre casamentos entre protestantes e católicos? Não me perguntem; para funcionar, talvez um dos dois deva ceder bem mais que o outro. Ou seja: se ambos forem fervorosos e convictos adeptos de sua fé, não dá jeito. Não há coração aberto que resolva isso. Só no céu, acredito. O que não é solução, mas consolo.
27 dezembro 2005
Marx logofóbico
Segundo Voegelin, Marx afirma que sua dialética supera a de Hegel. Porém, para o autor, na prática Marx ignora conscientemente em seus escritos o problema hegeliano da realidade, recusando-se a teorizar. Ou seja, onde ele diz que é "anti-hegeliano", está sendo apenas antifilosófico, tão antifilosófico como a grande maioria das (anti)filosofias ditas "modernas" - que também recusam-se a lidar com o problema da realidade e, conseqüentemente, do conhecimento. Pretendem-se teorias e de fato teorizam, mas seu conteúdo costuma tratar da impossibilidade de teorizar - decorrente da impossibilidade de conhecer a realidade, decorrente, por sua vez, do niilismo que se apossou da filosofia desde o século XVIII, inspirado por Descartes, que inaugura a dúvida radical ao deslocar o mundo (a realidade) e o homem, separando-os. Pretensamente fora da realidade, flutuando em um espaço vazio de dúvidas criadas por sua mente, o antifilósofo descrê em tudo - menos em seu próprio pensamento, autor da dúvida. O que ele pensa passa a ser a realidade última, e tudo que vê e experiencia é mergulhado definitivamente em uma nuvem de irrealidade. A mente do antifilósofo é seu Deus, e em sua direção o mundo se curva devotadamente.
Marx foi um dos apóstolos desse Deus, ensinando a milhares que o mundo não passa de matéria moldável pela mente. Não admira que tenha ajudado a implantar sistemas que atribuíram tão pouco valor à vida humana: se o mundo se curva ao Deus-pensamento, as pessoas que passam pela nossa janela podem muito bem ser apenas projeções de nossa imaginação... Assim é a gênese de um sistema teórico que promove a autoglorificação como meta - um modo de ser que a todo instante precisa negar qualquer experiência de limitação humana, um ilusionismo perpétuo.
Por isso Voegelin trata a teoria marxista como antifilosofia e logofobia - uma aversão a conceitos que hoje está muito viva e atuante através da ênfase moderna na inexistência da verdade. Voegelin não exagerava ao dizer que Marx possuía uma verdadeira doença espiritual, caracterizada pela revolta da consciência imanente contra a ordem espiritual do mundo. Pois bem, essa doença é altamente contagiosa. Um cristão que siga Marx está abrindo portais gigantescos para sérios danos à sua mente e à sua fé.
Este post foi inspirado nos excertos de Voegelin publicados pelo blog Simply the Truth.
Mais sobre Descartes aqui.
18 dezembro 2005
Mensagem de Natal
Não podemos aceitar o mundo sem reservas, por causa do mal que encontramos nele; também não podemos recusá-lo por completo, pois isto seria recusar a própria existência. No entanto, sem Jesus o homem se vê obrigado a uma das alternativas: conformar-se ao mundo (tomar sua forma, explica-nos o apóstolo Paulo) e perder-se, perdendo a capacidade de discernir e ser diferente; ou desistir de tudo e sair do mundo, seja pela via direta do suicídio, seja pelos caminhos mais doces da fantasia indolente, das drogas, das utopias mortíferas, do isolamento, do trabalho excessivo, do sexo sem freios. E, ainda que não recorramos a nenhuma dessas maneiras brandas de autodestruição, sem Jesus somos do mundo mesmo quando queremos fugir do mundo, pois de alguma forma nos vemos obrigados a recorrer ao que nos está disponível, alinhando-nos na frente que tivemos de escolher por pura inevitabilidade.
No entanto, Jesus nos oferece algo que não está no mundo, mas se coloca infinitamente superior a tudo que nos é apresentado aqui – Ele mesmo, a transcendência verdadeira e pessoal. Com Ele a saída do dilema não se dá nem por um sempre desvantajoso pacto com o mal, nem por dissolução ou morte auto-infligida. Dá-se, sim, por morte simbólica: ao morrer concretamente na cruz e ressuscitar em seguida, Jesus nos convida a traçarmos com Ele o mesmo processo de morte e ressurreição. A morte simbólica de que sofremos é a morte para o mal que há no mundo – é o que a Bíblia quer dizer com "morrer para o mundo". A ressurreição é um renascimento em Cristo – é o que a Bíblia quer dizer com "viver para Ele". É assim que não recusamos a existência, mas a aceitamos como mortos para o mundo, ao matarmos em nós as duas pontas da idolatria e deixarmos de enxergar na não-transcendência o ápice de nossos desejos. Em Jesus, morrem a concupiscência e a soberba: desaparecem tanto o idólatra que compactua avidamente com o mal, olhando a tudo com olhos cobiçosos – como se esta fosse a realidade última – , quanto o desiludido que a tudo desdenha, de olhos que nada mais amam.
É Jesus quem nos livra desses dois extremos ao realizar essa tremenda façanha: dar-nos meios de matar em nós o cobiçoso e transformar o soberbo no amador, o que ama apesar, assim como o próprio Deus nos amou. Por isso dizemos com Paulo que, ao morrer para o mundo, não somos nós mesmos que vivemos, mas Cristo vive em nós. E, como Ele é a própria vida, sabemos que só Nele temos a vida plena e verdadeira.
Que neste Natal o Verbo que se fez carne realize mais uma vez o milagre do nascimento no homem que está perdido, e que renove em todos nós de modo maravilhoso as esperanças do amor incondicional – Seu grande e insubstituível presente para a humanidade.
16 dezembro 2005
Ainda "outro deus" e a tarefa de minha vida
1. A Bíblia não pode ser lida cientificamente. É preciso aprender a lê-la como narrativa simbólica da história, mítica e poética.
Até aí, tudo bem. O cartesianismo - que originou o pensamento científico - é ruim para a filosofia e para qualquer reflexão teológica, porque separa o racional do emocional, a mente do coração, o sujeito que pensa da coisa pensada, engendrando oposições falsas. E a Bíblia é mesmo recheada de símbolos, sobretudo Gênesis, Jó, Cantares. Mas essa afirmação deveria ter sido matizada, porque há uma grande distância, por exemplo, entre o livro de Cantares e as cartas de Paulo. Não há como ler as cartas de Paulo como "narrativa simbólica da história, mítica e poética", porque são textos argumentativos com um objetivo muito preciso: conclusões teóricas e práticas do AT e dos ensinamentos de Jesus. Paulo fez um esforço maravilhoso para sistematizar o que Cristo ensinou oralmente aos apóstolos, alicerçando a fé e a justificação na graça de Deus e ampliando Suas palavras para a organização da igreja, a vida conjugal, o trato com os irmãos. Os textos argumentativos falam mais à mente que à imaginação, organizando e estruturando o pensamento. Se tiverem conteúdos "simbólicos e míticos", eles visam a reforçar uma idéia, não constituindo a característica principal desse tipo de texto.
O esforço de tornar os Livros Sagrados um só texto é irreal. Não se pode querer fazer Abraão concordar com Paulo, e nem o Qohélet - Eclesiastes - com Tiago. A Bíblia não é só um livro, mas vários e eles não são homogêneos entre si. Seus autores discordam em vários assuntos.
Aqui já temos cheirinho de heresia. Se a Bíblia não é só um livro (o que aliás é ridículo, pois ela é, sim: senão, teríamos que desmontá-la toda), seguem-se várias conclusões que abalam o que estrutura nossa fé: por que ler a Bíblia como um livro só (começo e fim)? por que considerar a Bíblia Palavra de Deus, se ela contém contradições? Se eu levar esse raciocínio ao absurdo - isto é, for até o fim em todas as suas possíveis conclusões - , acabarei afirmando que não vale a pena crer em Cristo, porque a Bíblia inteira aponta para Cristo: se ela não é "uma só", as palavras contidas nela podem muito bem estar todas erradas, e eu estou perdendo meu tempo acreditando ter vindo da parte de Deus um livro que é apenas de homens. Em resumo: questionar a unidade da Bíblia é questionar a revelação divina sobre os homens que a escreveram. Desmonta todo o alicerce da nossa fé. Depois disso, como assistir tranqüilamente a uma pregação de Gondim, visto que ele vai abrir a Bíblia lá na frente crendo que ela não é uma só? Não sei se ele pensou direitinho em todas as conclusões possíveis do que afirmou.
2. A Bíblia não é um livro que se propõe uma revelação codificada e sistematizada de Deus. Ela mostra as percepções de pessoas, tribos, povos e, principalmente, do povo judeu sobre o cuidado de Deus para com seu povo. Ela não revela como Deus construiu a história, mas como os homens o fizeram e como Deus não os abandonou quando agiram mal. Muitas vezes, a compreensão do povo sobre Deus se mostrará ambígua, porque os homens são contraditórios.
"Codificada e sistematizada" realmente não, porque ela não é um tratado de filosofia - ela é bem mais que isso, pois um tratado de filosofia só pode apresentar conceitos, enquanto a Bíblia se propõe a apresentar uma pessoa: Deus, na figura de Jesus Cristo. A revelação de Deus na Bíblia é a revelação de uma pessoa que se apresenta aos homens, dizendo e fazendo coisas fantásticas. As "percepções" dos homens na Bíblia apontam todas para o Deus que hoje pudemos conhecer: onisciente, onipresente, onipotente, apaixonado pela humanidade, bom, gracioso, misericordioso, tardio para irar-se e disposto até a morrer por nós. Tais percepções se unem naquilo que é importante sabermos de Deus, e nisso a Bíblia é de uma unidade impressionante. Toda ambigüidade só se encontra na cabeça de Gondim, que, tal como Voltaire sobre uma tragédia de seu tempo, ficou questionando os desígnios de Deus sobre o Tsunami: "Como pôde um Deus de amor permitir uma coisa dessas?" Ora, bastava ele ir à Bíblia, que ele vê como fragmentária, e se render à evidência: o Deus do AT e o Deus do NT são um só. Deus é ao mesmo tempo criador e pai. Ele nos criou, Ele dispõe de nós como quer, de acordo com Sua infinita sabedoria. Trememos diante do criador e quedamos tranqüilos diante do Pai: eles são a mesma pessoa, mas com esses dois aspectos, que não são opostos, mas complementares. "Deus deu, Deus tomou: bendito seja o nome do Senhor." Como pode a compreensão de Deus Pai abalar a compreensão do Deus criador? Não entendo: para mim, são um só, e se um dia Ele resolvesse fazer um Tsunami na minha vida, eu seria muito burra de questionar Seu amor e bondade. Eu sofreria muito, tal como Jó, mas lhe pediria todos os dias para me explicar o sentido daquele Tsunami, em um esforço de integrá-lo na compreensão de minha vida como um todo.
3. A essência do ser de Deus continua um mistério para a humanidade. O que se conhece é seu cuidado - pathos - divino. Portanto, toda especulação sobre o ser absoluto de Deus deve ser considerada apenas especulação.
Gondim sofre de uma doença do pensamento, descrita por John M. Ellis em Literature Lost como "lógica do tudo ou nada". Nesse raciocínio ela se expressa assim: “se eu não posso saber tudo sobre Deus, logo tudo o que disser sobre Ele não passará de mera especulação”. O caminho do meio - posso não saber tudo sobre Ele, mas algo de objetivo e verdadeiro é possível saber - não lhe passa pela cabeça. Não admira: Ellis expõe essa lógica para afirmar que todo o pensamento moderno está tomado por ela. Os principais autores da modernidade teórica têm a mente estragada por essa incapacidade de enxergar nuances, e por isso dizem e repetem besteiras sem fim como "a verdade não existe", "tudo é subjetivo", "o sentido nunca é um só" etc. etc. Leio e ouço isso há mais de dez anos de educação superior. Ora, Gondim gosta de Marx, Nietzsche, Freud, Sartre "e outros"; Gondim se afina com a Teologia da Libertação; logo...
Mas não preciso ir tão longe: basta dizer que "especulação sobre o ser absoluto de Deus" faz tanto sentido como "especulação sobre o ser absoluto de Norma Braga". Uma pessoa está aí para ser conhecida, não para se oferecer como objeto teórico. Gondim, se você puder me ler agora, entenda, por favor, algo que tem sido uma conclusão minha depois de anos estudando os autores modernos: a fragmentação da modernidade não é um antídoto para o cartesianismo. Os autores modernos propõem que seja assim, mas não é. A modernidade apenas aprofunda o fosso que Descartes cavou, só que, em vez de exaltar a razão, como era antes, resolve exaltar o outro lado, o lado desprezado pelo cartesianismo. A única coisa que enfrenta o cartesianismo com vigor é a unificação daquilo que ele separou. É saber que o universal não prescinde do particular, o objetivo do subjetivo, o abstrato do concreto, mas que são duas pontas da estrutura do pensamento humano. Escolher uma delas é aleijar a mente. Veja: a modernidade escolhe sempre o particular, o subjetivo, o concreto. É por isso que ela aceita um Deus pessoal, mas não um Deus que traz princípios morais objetivos para a humanidade. É por isso que hoje entendemos com facilidade um Deus de amor, mas não um Deus irado (antigamente era o oposto). É por isso que precisamos, hoje, com a mente de Cristo (presente da salvação), jogar fora esse lixo moderno que é apenas a doença vista por outro lado, e trabalhar com a pessoalidade de mãos dadas com a universalidade. Precisamos elaborar teoricamente, com a ajuda de outros autores, aquilo que restabelece a saúde do pensamento e dá suporte à nossa fé, para nosso próprio bem e o bem de muitos que virão depois de nós. Se Deus assim o quiser e permitir, essa será a tarefa de minha vida.
14 dezembro 2005
"outro deus"?
Post de Ricardo Gondim: Pistas para pensar com novas categorias
Não é fácil sair da caixa e olhar de fora para dentro. As bitolas do pensamento religioso são demasiado rígidas. Entendo que essa inflexibilidade seja necessária para que a fé não descambe para o bizarro ou para o caricaturato. Entretanto, ela pode engessar a razão e impedir que se caminhe para as fronteiras.Se crer também é pensar, sentir-se livre para raciocinar enriquece a fé.Algumas pistas para que o evangelicalismo brasileiro ouse pensar sua fé com novas categorias.1. A Bíblia não pode ser lida cientificamente. É preciso aprender a lê-la como narrativa simbólica da história, mítica e poética. O esforço de tornar os Livros Sagrados um só texto é irreal. Não se pode querer fazer Abraão concordar com Paulo, e nem o Qohélet - Eclesiastes - com Tiago. A Bíblia não é só um livro, mas vários e eles não são homogêneos entre si. Seus autores discordam em vários assuntos.2. A Bíblia não é um livro que se propõe uma revelação codificada e sistematizada de Deus. Ela mostra as percepções de pessoas, tribos, povos e, principalmente, do povo judeu sobre o cuidado de Deus para com seu povo. Ela não revela como Deus costruiu a história, mas como o homens o fizeram e como Deus não os abandonou quando agiram mal. Muitas vezes, a compreensão do povo sobre Deus se mostrará ambígua, porque os homens são contraditórios.3. A essência do ser de Deus continua um mistério para a humanidade. O que se conhece é seu cuidado - pathos - divino. Portanto, toda especulação sobre o ser absoluto de Deus deve ser considerada apenas especulação. Os antropomorfismos, tais como paternidade, amizade, cuidado pastoral, se expressaram plenamente na encarnação. A mais alvissareira notícia do cristianismo não é que Jesus seja a imagem de Deus, mas que Deus é a imagem de Jesus.
Meu comentário (Norma):
Hã? Isto significa que, embora devamos encarar a Bíblia como nosso livro de fé e inspiração divina - afinal, foi ela que nos trouxe a revelação e as palavras de Jesus Cristo - , não podemos nos esquecer de que: "Ela mostra as percepções de pessoas, tribos, povos e, principalmente, do povo judeu sobre o cuidado de Deus para com seu povo. Muitas vezes a compreensão do povo sobre Deus se mostrará ambígua, porque os homens são contraditórios." Como assim? Contraditório é esse post. Não consigo deixar de ver nessa confusão mental o previsível resultado da leitura de autores da modernidade (Nietzsche, Sartre, Marx, Foucault). Na teologia isso não se resolve, porque o relativismo sobre a Palavra é a própria negação da teologia. Afinal, se a Bíblia é mais expressão de homens que palavra de Deus, para quê vou devotar a ela maior importância que a Nietszche ou Sartre? Como um pastor sério pode crer nisso? Prefiro o epíteto "fundamentalista": pelo menos, posso me livrar do cartesianismo sem muita dificuldade, ao passo que o relativismo é pior que um vício de droga injetável.
Post de Ed René Kivitz: E DEUS COM ISSO?
Deus para outro mundo possível. Foi o tema discutido no Fórum Mundial de Teologia da Libertação em janeiro de 2005, em Porto Alegre, RS. A expressão “outro mundo possível” substitui a velha disputa entre capitalismo e socialismo, que durou quase dois séculos. Desde a queda do muro de Berlim, já não faz mais sentido falar da sociedade socialista como alternativa à sociedade capitalista, e como ninguém encontrou uma palavra para colocar no lugar de “socialismo”, o lema é “outro mundo possível”. O fato é que há um desejo latente de que este “outro mundo” apareça, trazendo a superação dos abismos que separam a Califórnia do Piauí.Colocar Deus nesta discussão é um ato atrevido. Muita gente acredita que teologia tem pouco a ver com economia, e religião tem quase nada a ver com política. Mas isso revela uma ingenuidade, para não dizer ignorância, pois deixar de incluir Deus nas discussões a respeito de política e economia é jogar Deus para o ostracismo histórico, num canto remoto chamado céu e num tempo abstrato chamado eternidade.Vivemos dias (e já não é de hoje) em que Deus é chamado ao banco dos réus do processo histórico. Deus está associado aos fundamentalismos (cristão, judeu e muçulmano), e é também usado para justificar guerras chamadas de santas, sustentar teorias econômicas e estados injustos, obstacular o avanço científico, legitimar o atual império do planeta.A teologia deve sim estar a serviço de outro mundo possível. Deve ser capaz de descrever, numa espécie de avant-premiere, o reino de Deus, o novo céu e a nova terra, sob pena de ser taxada de diletantismo.A religião deve sim oferecer caminhos que recoloquem o ser humano na rota da vida, livre de culpas, medos e preconceitos. Deve promover justiça, paz e solidariedade, sob pena de assinar embaixo, admitindo ser mesmo "ópio do povo".Um outro mundo possível: Deus tem tudo a ver com isso.
Meu comentário (Norma):
Dizer que a expressão "um outro mundo possível" substitui a velha disputa entre capitalismo e socialismo em vez de representar este último é um mascaramento do que ocorre no Brasil - se consciente ou não, não sei. Vejamos: 1) O Brasil vive debaixo de um pensamento predominantemente de esquerda nas universidades, onde o marxismo é o solo frutífero para a quase totalidade das teorias de áreas de humanas; 2) No Brasil, "capitalista" ou "de direita" há muito viraram xingamento; 3) Livros didáticos de história vêm há anos inspirando o ódio aos EUA e a condescendência a guerrilhas e movimentos tais como o MST; 4) A igreja não se aparta de nada disso: os discursos dos pastores com maior evidência nos círculos evangélicos - além dos próprios Gondim e Kivitz, donos deste blog, também o Caio Fabio, o Ariovaldo (que tem o mérito de deixar claras publicamente suas posições de esquerda) - costumam não fazer diferença a nada do que foi dito acima. Isto posto, gostaria muito que o nome fosse recolocado no boi: o post deu a impressão de que há uma desejada "neutralidade" no desejo de um "outro mundo possível", quando é, mais uma vez, a velha agenda socialista que se impõe, com todos os seus velhos pressupostos.
Incrível: caem-me nas mãos cada vez mais evidências de que relativismo e esquerdismo são gêmeos siameses, e que na modernidade um nunca dá o ar de sua graça sem o outro. Se Deus permitir, um dia a igreja evangélica brasileira vai perceber isso.
12 dezembro 2005
O caso Roe vs. Wade
Para quem não acompanhou na época, o caso Roe vs. Wade foi uma acirrada batalha jurídica nos Estados Unidos, que se iniciou no Texas e culminou na descriminalização do aborto em todo o país. O desfecho do caso escancarou portas para que as mulheres pudessem facilmente se desembaraçar de seus filhos indesejáveis, anestesiando de uma só vez a consciência de muitos americanos.
Mas nem todo mundo sabe que, recentemente, descobriu-se que o caso é uma farsa do começo ao fim. Henry Wade era um fiscal de Dallas, e Jane Roe, cujo nome verdadeiro é Norma McCorvey, foi estimulada por advogadas inescrupulosas a lutar pelo direito de abortar no Texas. Ela chegou a inventar que havia sido estuprada, o que finalmente funcionara para lhe dar a vitória na Justiça, em janeiro de 1973, mas já era tarde demais para realizar o aborto. Hoje ela se regozija com o aborto não praticado, 25 anos depois: convertida ao catolicismo, Jane abandonou sua militância de abortista e confessou corajosamente que havia mentido para acelerar o processo na Justiça. Mais corajosamente ainda, em janeiro deste ano, ela entrou com uma petição no Supremo Tribunal para pedir a reversão da sentença do caso, apresentando o testemunho legítimo de mais de mil mulheres abaladas psicologicamente pelo aborto e 5.300 páginas de evidências médicas. Ela conta isso tudo em seu livro Won by Love ("Vencida pelo Amor").
A história do caso Roe vs. Wade começa assim, de forma triste e desonesta, para terminar de um modo maravilhoso: com o arrependimento da moça, sua confissão pública e atos concretos para reverter o que tinha feito. Esse é o legítimo arrependimento, que gera frutos de justiça. Como diz a Bíblia, é o Espírito que nos convence do pecado, da justiça e do juízo - de fato, só mesmo Deus pode levar alguém ao arrependimento de forma tão extraordinária quanto levou Jane, a ponto de fazê-la voltar atrás em mentiras tão antigas. Ele a fortaleceu para que ela colocasse a verdade acima de tudo: acima das conquistas no plano social, da fama, do próprio nome.
A parte triste é o quanto as pessoas comprometidas com a agenda politicamente correta (e demoníaca) podem usar de golpes tão baixos para conseguir seus intentos. É preciso que fiquemos de olhos abertos. Essa votação do aborto no Brasil pode estar sendo tão adiada, imagino, por alguma razão espúria. Precisamos pedir a Deus sem cessar para que isso não vingue e continuar alertando as pessoas para que pressionem os políticos que ainda se dizem indecisos.
Embora eu nunca tenha sido a favor do aborto, uma coisa tenho em comum com minha xará: a conversão ao cristianismo também significou uma grande virada na minha vida. Sem Deus, hoje eu estaria destruída, simplesmente.
Veja um trecho de sua entrevista:
- Por que motivo abandonou a causa que vinha defendendo durante vinte anos?
- Simplesmente compreendi que não podemos pegar e tirar a vida de uma criança, e isso não apenas para nós, que cremos em Deus. Na primeira vez em que fui à igreja, num sábado à noite, estava acompanhada de duas garotas pequenas, e senti que devia pertencer àquela comunidade e renegar tudo.
- Você se arrepende de tudo o que fez?
- Por sorte, não cheguei a abortar. Hoje aconselho mulheres desesperadas. A minha missão na vida é ajudá-las e evitar que abortem.
- Você não admite o direito ao aborto em nenhuma hipótese, nem em casos de estupro ou perigo para a vida da mulher?
- Não, não há nenhuma diferença. Continua a ser um assassinato, de um jeito ou de outro.
Leia uma entrevista de Norma McCorvey à Priests for Life (em inglês)
Leia mais sobre o caso Roe vs. Wade (em espanhol/em inglês)
Acompanhe o processo no Brasil
09 dezembro 2005
Querem nos calar
Como muitos evangélicos, não simpatizo com a figura do Bispo Edir Macedo. A Igreja Universal usa de práticas estranhas ao protestantismo para atrair gente, os pedidos de dinheiro nos cultos são sempre excessivos e o ensino da Bíblia é sempre insuficiente, quando não errado.
No entanto, com freqüência me incomodavam as falas insistentes e raivosas contra ele e a Universal. Eu me abstinha de me unir ao círculo do linchamento verbal porque sabia que a coisa não ia prestar: um dia, alguém ia se aproveitar da impopularidade de Macedo para fazer algo muito ruim não só com a igreja dele, mas com todas as igrejas evangélicas.
Pois fizeram. Deu no Estado de São Paulo: "Todos os exemplares do livro Orixás, Caboclos e Guias, deuses ou demônios, do bispo Edir Macedo, deverão ser retirados de circulação imediatamente. A determinação é do desembargador Souza Prudente, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, que manteve liminarmente decisão de primeira instância. (...) Segundo o Ministério Público Federal, a obra de Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, incita a segregação religiosa e a intolerância às religiões afro-brasileiras. No livro, argumenta o Ministério Público, os seguidores destas religiões são tidos como seguidores do demônio."
Essa última frase, acusativa, é um absurdo. Nós evangélicos não cremos que "os seguidores de religiões 'afro' são seguidores do demônio", como se o umbandista fosse um satanista assumido. Isso, sim, seria preconceituoso e ofensivo. Nós cremos conforme nosso livro de fé ensina. É só ler a Bíblia para descobrir que, cada vez que um anjo fala com alguém, é fora do corpo de uma pessoa (como Maria ao receber a anunciação do nascimento de Jesus); cada vez que um espírito se vale do corpo de alguém para se expressar, ele é tido como "espírito enganador", "impuro" ou "imundo", conforme os relatos da Bíblia, e é sempre expulso por Jesus ou pelos apóstolos (Jesus mandando uma legião sair de um homem e correr para uma manada de porcos, por exemplo). Não estou inventando nada: está no Livro Sagrado.
Assim, longe de ser um preconceito com os adeptos desses cultos, trata-se das implicações da adesão a uma verdade, verdade evangélica (dos Evangelhos), que agora querem nos fazer calar. Os evangélicos querem ser fiéis à Bíblia e ao que o protestantismo historicamente sempre ensinou. Num país tomado por essas práticas de consulta a espíritos que se expressam através dos corpos das pessoas, como vamos falar da verdade sem incluir esse tema? Impossível. Agora, ouve quem quer, compra o livro quem quer. Nem eu nem nenhum outro evangélico pode obrigar ninguém a abrir mão do que acredita. Mas querem nos melindrar, sob o argumento falacioso do politicamente correto, impedindo-nos de falar toda a verdade sobre o que cremos. Para preservar os ouvidos de quem não precisa nos ouvir, calaram nossa boca.
Ah, OK: você não é evangélico, não gosta dos evangélicos e não está nem aí para essa decisão do Tribunal? Cuidado! A decisão é seriíssima e coloca o Brasil a um passinho de formiga rumo à aplicação maciça dos preceitos politicamente corretos nas obras já em circulação – quaisquer obras. O monstro da censura vai ficar cada vez mais voraz. Leiam o restinho da matéria com a explicação do juiz, que relativiza a liberdade de expressão: "As liberdades públicas não são incondicionais e a liberdade de expressão especificamente não se revela em termos absolutos, como garantia constitucional, mas deve ser exercida, nos limites do princípio da proporcionalidade, proibindo os excessos nocivos à salvaguarda do núcleo essencial de outros diretos fundamentais, como no caso em exame." Isso significa que, agora, qualquer um vai poder alegar "excessos nocivos à salvaguarda de direitos fundamentais" (quanta subjetividade!) para calar quem quer que seja, quando caberia ao incomodado ou ofendido se defender por outros meios – escrevendo outros livros, indo a jornais, por exemplo – , não por essa maneira covarde cala-te-boca. Mas o politicamente correto sempre estimula a covardia, bem como o ódio insensato e as ações arbitrárias, punitivas. É assim que a vigilância ressentida, animosa, começa a dar o tom nas relações entre os brasileiros.
Você quer viver em um país assim? EU NÃO. Portanto, comece a temer: a decisão não diz respeito apenas aos evangélicos, sequer apenas aos religiosos, mas a todos nós.
Em tempo: se nós evangélicos fôssemos correr para clamar a punição de quem nos destrata, acusa e difama há anos, não só em livros mas em todos os veículos midiáticos do Brasil, teríamos um trabalho danado. André Petry nos chamando de "racistas" na revista Veja, por exemplo, sem que um pio seja dado em nosso favor. Racistas porque cremos na Bíblia e não aceitamos como portadores da verdade os espíritos que se manifestam em cultos afro? Será que esse jornalista estava em seu juízo perfeito ao fazer tal raciocínio tronchíssimo? Por favor!
O que querem esses juízes, afinal? Censurar a própria Bíblia? Capaz!
04 dezembro 2005
Se eu encontrasse Nick Drake...
...eu me sentaria no chão a seu lado, de mãos dadas, e tentaria lhe retribuir todo o silêncio que recebi de sua música.
Sou uma flor de obsessão também musical: tenho fases imensas em que ouço de maneira preferencial, quase meditativa, um só músico, um cd ou dois do mesmo músico. Passou a fase (que durou quase dois anos) de Renaissance, inaugurou-se a fase de Nick Drake - especialmente o belíssimo Bryter Layter, com piano, contrabaixo e flauta acompanhando a voz e o violão de Nick. Mas Renaissance provocava um barulhão dentro de mim, deixava-me em contínuo estado de alerta existencial. Nick Drake me abre um lugar de silêncio, de onde posso entrever um toquezinho de Deus aqui, um trançar delicado de Seus dedos ali. Silêncio de espera, mas uma espera quase mágica. Descanso.
30 novembro 2005
A farsa do projeto a favor do aborto
Com a maior pressa - afinal, como eu disse no post anterior, a descriminalização do aborto é um desejo antigo e voraz do partido do governo - , será votado hoje (ou já foi, pois o seria desde as 9h30 da manhã) o Projeto de Lei que, segundo a mídia, prevê a legalização do procedimento até a 12ª semana de gestação.
Isto, no entanto, é uma farsa. Elaborado por uma comissão do governo, de fato o texto do Projeto afirma, logo no início, que a lei proposta "assegura a interrupção voluntária da gravidez até doze semanas de gestação". Porém, a frase é apenas uma cortina de fumaça para o que vem depois. Basta prosseguir com a leitura até o artigo nono para descobrir que a proposta, na verdade, revoga os artigos 124, 126, 127 e 128 do Código Penal* - ou seja, simplesmente todos os artigos no código brasileiro que criminalizam a medida. Assim, qualquer mulher, por qualquer motivo, passa a ter o direito de interromper sua gravidez a qualquer tempo, se assim o desejar e o médico o consentir. Sobram apenas duas exceções ridículas: quando o aborto é praticado contra a vontade da gestante e quando houver risco de lesão corporal ou morte da gestante.
Todos os direitos para a mulher, inclusive sob o propósito mais fútil; nenhum para a criança por nascer. Que tristeza.
E com a cumplicidade da mídia, para variar - já que nenhum jornalista está cobrindo o fato de que o formato textual do projeto foi feito para enganar o povo brasileiro, que é maciçamente contra o aborto. Reproduzem a medida do jeitinho que o governo quer: como se fosse apenas para fetos até a 12ª semana de gravidez.
Mas os cristãos verdadeiros e todos aqueles que são contra o aborto sabem que a questão do tempo de vida do feto é absolutamente irrelevante. Afinal, que critério somente temporal poderia negar o valor da vida de um ser humano dentro do ventre de sua mãe?
Sendo aprovado o cruel Projeto de Lei, só nos resta orar:
- Pelas crianças por nascer, para que Deus não as desampare;
- Pelas mães desesperadas demais ou despreocupadas demais com a concepção, para que sejam tocadas pelo Espírito e deixem seus filhos nascerem, sob a confiança de que Deus lhes proverá os meios para cuidar deles;
- Pelos médicos que forem obrigados a se submeter a esse "direito da mulher", para que tenham a coragem de enfrentar a oposição ao se negarem a praticar o procedimento;
- Por esta nação, para que peçamos perdão a Deus e que Sua ira não se abata sobre o Brasil (um amigo me lembrou de alguns países que sofreram desastres logo após a liberalização do aborto, como Espanha e EUA - vou procurar os dados e depois posto aqui). Com a ira de Deus não se brinca.
* Confira o texto compilado dos artigos: Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque; Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante; Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte; Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
Mais informações: Pró-vida de Anápolis
25 novembro 2005
Considerações pessoais sobre o aborto
Quando eu era adolescente, ainda antes de me converter ao cristianismo, fui com uma amiga, de pura curiosidade, a uma reunião do PT em um anfiteatro no centro do Rio de Janeiro. Nós saímos no meio, muito impressionadas: o clima geral era de um culto religioso bastante inflamado, que atingiu seu paroxismo quando, ao ser enunciada a palavra de ordem "legalização do aborto", as pessoas presentes entraram em uma espécie de delírio coletivo. Vociferavam nos microfones e rompiam em palmas diante da visão de um mundo que encarasse com absoluta tranqüilidade o destroçamento intra-uterino de bebês ainda vivos.
Eu devia ter uns 20 anos na época, estou com 34 hoje. Vê-se que essa diretriz é antiga, entranhada mesmo na mentalidade petista, como macabra missão. Em vez de zelar para que as mulheres só tenham filhos em momento propício, obstinam-se em que não haja culpa nem impedimento para a permissão de um assassinato no interior do corpo feminino - assassinato de seu próprio filho, sua própria filha.
Há mulheres que jamais se recuperam da decisão, mesmo quando têm outros filhos depois. Uma tristeza profunda as abate quando pensam "ele (ou ela) teria tantos anos esse mês". Para mim, a idéia sempre foi bastante estranha, bem antes de me tornar cristã, aos 24 anos. Eu jamais investiria contra uma outra vida dentro de mim. Mas fui uma criança especial nesse sentido, do tipo que pensa em educação dos filhos desde pequenininha. Meus pais enfrentaram dificuldades financeiras quando nasci. Talvez eu tivesse sido uma candidata ao procedimento. Talvez eu não estivesse aqui se minha avó não tivesse se proposto a ajudá-los na época. Quem sabe?
Não posso então deixar de me perguntar por que, afinal, um militante do aborto não consegue se colocar no lugar dos fetos que pretende ajudar a destruir. Um princípio elementar do tipo "não faça com os outros o que não gostaria que fizessem com você" seria suficiente para romper com todas as pretensões de legalidade com relação a um ato tão obviamente infame.
Como cristã, só me resta dizer: que se calem todos esses que, tal como deuses, pretendem assinar decisões sobre a vida e a morte; que Deus os cale. Em nome da saúde coletiva desta nação - se ainda existe alguma - , peço a Deus que cale essas vozes da destruição, que derrame seu Espírito para que percebam o que estão fazendo e se arrependam. Nilcéa Freire, Jandira Feghali e tantas mulheres que cauterizaram seus corações quanto a essa prática de abominação - peço aqui por elas, todas elas, que enxergam nisso alguma "liberdade" para a mulher, para que percebam que não é possível que Deus conceda a nós, que Ele criou e sustenta mesmo quando não O reconhecemos como criador e senhor da vida, a liberdade de matar.
E que, se for mesmo lançado o plebiscito "A interrupção da gravidez até a 12a semana de gestação deve ser permitida?", conforme enunciado no site da Câmara dos Deputados, que esse mesmo Espírito que sustenta a vida possa estar presente no momento em que cada brasileiro sair de sua casa para votar - e que o bom senso, o amor, o temor a Deus prevaleçam. Essa é minha oração.
Obs. Não sou votante do Prona, mas há excelente texto do Dr. Enéas sobre isso. Para ser lido com carinho.
23 novembro 2005
O Manifesto do Partido Comunista
(a) A sociedade é dividida em classes que estão em luta entre si: classe dominante (burguesia) e classe oprimida (proletariado);
(b) Para acabar com a opressão dos proletários, a solução é acabar com a classe dominante, portanto, com a burguesia;
(c) Em um primeiro momento, o proletariado se une ao Estado para compor uma "classe dominante" só para expropriar e acabar com a burguesia;
(d) Em um segundo momento, não há mais classe dominante - ou, melhor dizendo, o Estado passa a ser a única classe dominante, controladora dos bens e dos modos de produção;
(e) Isto se fará de forma autoritária e/ou violenta.
É simples percebê-lo. Leiam esse trecho:
O proletariado utilizará sua supremacia política para arrancar pouco a pouco todo capital à burguesia, para centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado, isto é, do proletariado organizado em classe dominante e para aumentar, o mais rapidamente possível, o total das forças produtivas. Isto naturalmente só poderá realizar-se, em princípio, por uma violação despótica do direito de propriedade e das relações de produção burguesas (...)
Ou seja: a tal "justiça social", do ponto de vista do comunismo, nada mais é que uma violenta reversão da relação de poder. No trecho acima, em um primeiro momento a conjunção proletariado + Estado passa a ser a nova classe dominante, mas apenas para fins estratégicos: para tirar da burguesia e dar ao Estado. Qual a nobreza disso, se (a) o processo prima pela violência, no melhor estilo "os fins justificam os meios" e (b) o Estado é o beneficiário do processo? Promove-se uma convulsão social (com perdas terríveis para a sociedade) apenas para fortalecer o Estado.
Mais adiante, veja como fica claro que, num segundo momento, o proletariado perde seu status de classe dominante, e o Estado passa a ser o senhor absoluto sobre tudo:
Uma vez desaparecidos os antagonismos de classes no curso do desenvolvimento e sendo concentrada toda a produção propriamente falando nas mãos dos indivíduos associados, o poder público perderá seu caráter político. O poder político é o poder organizado de uma classe para a opressão de outra. Se o proletariado, em sua luta contra a burguesia, se constitui forçosamente em classe; se converte-se, por uma revolução, em classe dominante e, como classe dominante, destrói violentamente as antigas relações de produção, destrói juntamente com essas relações de produção, as condições dos antagonismos entre as classes e as classes em geral e, com isso, sua própria dominação como classe.
O resultado: ex-burgueses empobrecidos e uma fé absurda em que "o aumento das forças produtivas" nas mãos do Estado produza por magia um enriquecimento igualitário da população sob um governo comunista. Em que países comunistas houve esse enriquecimento? Nenhum. Ao empobrecimento geral do povo só se seguiu o enriquecimento do Estado - além do aumento de seu despotismo. Confira abaixo as medidas comunistas para acabar com a classe burguesa e seja sincero: são justas? A grande maioria delas, não. E fique atento: a número 1 e a número 2 já estão em andamento no Brasil, com, respectivamente, o MST (que é exatamente isso: o proletariado expropriando as terras, que passarão ao Estado) e os mais de 30% de impostos sobre o salário em vigor.
1. Expropriação da propriedade latifundiária e emprego da renda da terra em proveito do Estado;
2. Imposto fortemente progressivo;
3. Abolição do direito de herança;
4. Confiscação da propriedade de todos os emigrados e sediciosos;
5. Centralização do crédito nas mãos do Estado por meio de um banco nacional com capital do Estado e com o monopólio exclusivo;
6. Centralização, nas mãos do Estado, de todos os meios de transporte;
7. Multiplicação das fábricas e dos instrumentos de produção pertencentes ao Estado, arroteamento das terras incultas e melhoramento das terras cultivadas, segundo um plano geral;
8. Trabalho obrigatório para todos, organização de exércitos industriais, particularmente para a agricultura;
9. Combinação do trabalho agrícola e industrial, medidas tendentes a fazer desaparecer gradualmente a distinção entre a cidade e o campo;
10. Educação pública e gratuita de todas as crianças, abolição do trabalho das crianças nas fábricas, tal como é praticado hoje. Combinação da educação com a produção material etc.
Em lugar da antiga sociedade burguesa, com suas classes e antagonismos de classes, surge uma associação onde o livre desenvolvimento de cada um é a condição do livre desenvolvimento de todos.
Eu diria: em lugar da antiga sociedade burguesa, com suas classes e antagonismos de classes, surge um Estado superpoderoso que sufoca os indivíduos e se perpetua no poder através da ideologia (pois teme sempre que o povo possa se revoltar a ponto de derrubá-lo, assim como foi derrubada a burguesia), mantendo a todos em uma magnífica pobreza igualitária, financeira e mental. Enquanto os cubanos não têm o direito mais básico de ir e vir nem condições para comprar um simples rolo de papel higiênico - eles se limpam com jornal, todos eles - , Fidel Castro, o representante do Estado cubano, é apontado na revista Forbes como um dos mais ricos do planeta.
Isto é o comunismo, da própria boca dos comunistas: tirar dos mais ricos para dar ao Estado, reduzir a população inteira à pobreza, concentrar todo o poder e a riqueza no Estado. Tudo para o Estado, nada para o povo. Idolatria, em suma: o Estado é o deus do comunismo.
Não fui eu que inventei: está no Manifesto do Partido Comunista. Ainda é aplicado em muitos países no mundo todo. E é ideologia preferencial dos partidos políticos brasileiros, incluindo o que está no poder.
Esquerdistas por eles mesmos
Não digo que lhe darei razão, mas que minha única concessão ao que me pediu consistirá do seguinte: durante algum tempo, ao postar qualquer coisa sobre o esquerdismo, pretendo reduzir ao máximo os textos de minha lavra, em vez disso citando autores - de esquerda. Minha intenção é mostrar que aquilo que nós, anti-esquerdistas, falamos sobre o esquerdismo não é criação da nossa cabeça, mas informações que nos chegaram a partir da leitura deles mesmos - dos esquerdistas.
Assim, para inaugurar a minha nova série de textos anti-esquerdistas, vou fazer apenas isso por enquanto: publicar esquerdistas, com uma ou outra observação adicional. Que o leitor tire sua conclusão quanto a forma e conteúdo.
A começar a partir do próximo post, citação de nada menos que a obra de Marx e Engels, O Manifesto do Partido Comunista, de 1848.
16 novembro 2005
O comunismo morreu?
Forças de esquerda estão se mobilizando no Brasil e na América Latina em geral para tomar o poder de forma gradativa, democrática no início, como uma fachada, mas com fins claramente totalitários, como todo regime comunista que se preze. Não sou eu que afirmo isto, mas um dos fundadores do PT e homem forte por trás das articulações do Foro de São Paulo, que reúne o continente em torno de planos para a implantação de regimes autoritários de esquerda: Marco Aurélio Garcia. O colunista Olavo de Carvalho e o site conservador-liberal Mídia sem Máscara têm tocado insistentemente no assunto, dada a sua gravidade, e até o presidente Lula passou a admitir a existência do Foro, negada há quinze anos! Afirma nosso presidente em discurso atual: "...nesses 30 meses de governo, em função da existência do Foro de São Paulo, o companheiro Marco Aurélio tem exercido uma função extraordinária nesse trabalho de consolidação daquilo que começamos em 1990, quando éramos poucos, desacreditados e falávamos muito."
Mas o que exatamente diz o grande articulador do Foro, Marco Aurélio Garcia? Essa frase reveladora - e assustadora, para quem rejeita os ideais comunistas:
"Primeiramente temos de dar a impressão de que somos democratas. No início, teremos que aceitar certas coisas. Mas isto não durará muito tempo."
Essas informações estão no excelente artigo de Heitor de Paola, A colheita I - O Eixo do Mal Latino-Americano. Aproveite e dê uma passada em Brazilian Plotter Buys Time for Chavez; Has Links to Terrorists and to Saddam. E visite todos os sites que De Paola dá como referência nas notas de seu artigo. Todos.
Quem sabe, assim, aos poucos a gente acabe com o mito de que o comunismo morreu, e acorde para o terror que se avizinha como uma nuvem negra sobre nosso país e todo o continente latino. Quem sabe ainda dê para fazer alguma coisa!
Liberdade na internet ameaçada II: divulguem!
Ninguém? Ok, certo. Maravilha.
Pena que não é a opinião de um negócio que ninguém sabe ainda para que serve, chamado Cúpula Mundial para a Sociedade da Informação, da qual o Brasil é membro ativíssimo, que quer porque quer tirar os EUA do gerenciamento das páginas eletrônicas internacionais. Eles têm se reunido para isso. Com que finalidade, devemos nos perguntar?
Eles aprovaram na noite desta terça-feira a criação do Fórum de Governança da Internet. O governo brasileiro com tudo na brincadeira: o representante da Casa Civil da Presidência da República, André Barbosa, segundo o Globo on line de hoje, "qualificou a aprovação como uma grande vitória" - para quem, cara pálida?
Quem mais está dentro? Eu já disse aqui, mas convém repetir: tão ativos como o Brasil, estão a China, o Irã, a Arábia Saudita. Quais desses três países permite o acesso livre, sem restrições, dos usuários aos conteúdos da internet? Nenhum deles. Eu gostaria, mui sinceramente, que alguém me explicasse em detalhes - a mim e à nação brasileira - o que vai acontecer se o controle mundial da internet sair das mãos de um país democrático, que até agora não tem dado problema nenhum quanto à liberdade de ir e vir no espaço virtual, para se submeter a um grupo de países antidemocráticos e que restringem tal liberdade. O senhor André Barbosa precisa nos explicar o que o Brasil está fazendo em tão excelente companhia tratando desse assunto. Bom, para não ser injusta, devo acrescentar que a Índia também está entre esses países (mas não nos esqueçamos que a internet lá ainda é só basicamente para ricos anglófonos) e a União Européia deu seu derradeiro apoio à criação do Fórum.
O Brasil parece mesmo ser um país muito empenhado na questão: ainda segundo a notícia do Globo de hoje, partiu de brasileiros a reivindicação de que a convocação do fórum se dê pelo secretário-geral da ONU. Explicações para isso não são dadas. E o representante da Anatel, José Bicalho, explica que "o Fórum terá moldes bem parecidos com o que aplicamos no comitê brasileiro de gestão da internet, como a participação livre da sociedade civil". Explica? Bom, para mim, não parece estar muito explicado, não. "Participação livre da sociedade civil" parece soar tão esquisito como Emir Sader falando de uma "gestão multilateral da internet, transparente e democrática, com a plena participação dos governos, do setor privado e de organizações civis". Ah. Sociedade civil e governo. Entendi.
Depois dizem que a tendência para o totalitarismo seguida por este governo é pura ilusão. Mentira. Ele quer estender tentáculos para todos os lados. Este post é um alerta a todos os que detestam a intervenção governamental excessiva e sobretudo prezam sua liberdade. Divulgue onde e como puder.
A magia da lata
Eu ia postar as duas fotos de que mais gosto aqui, mas o Blogger não deixou... Então, não seja preguiçoso e vá lá para ver as fotos!
Fé cega, faca amolada
O socialista acredita tanto no socialismo que é capaz de sacrificar a própria vida dos outros pela causa. Quanto mais vida alheia sacrificar, mais admirado será no meio dos fiéis do socialismo. Aqui no Brasil, graças a Deus, eles ainda não tiveram coragem de efetuar um genocídio - como seus irmãos cubanos, russos e chineses fizeram - e preferem “apenas” fraudar, roubar, comprar deputados, assaltar banco, mentir sistematicamente aos eleitores, cometer toda sorte de trapaça, seqüestrar, se associar aos produtores e traficantes de droga etc. etc. etc., coisas que também são admiráveis aos olhos marxista-leninistas. Enquanto isto, o “deus” comunismo jamais deu uma única demonstração de que vale tanta vilania, mas os fiéis seguem com seu apoio. Fé é isto.
15 novembro 2005
O processo de islamização da Europa
"O Islã voltará à Europa como conquistador e vitorioso."
Sheik Yusuf al Qaradawi, um dos mais influentes clérigos sunitas
"Um dia, milhões irão deixar o hemisfério do sul e ir para o norte. E não o farão como amigos, mas para conquistar o território: através de seus filhos. Os úteros de nossas mulheres nos darão vitória."
Houari Boumedienne, ex-presidente da Argélia, em discurso na ONU (1974)
Fatos
- Os imigrantes islâmicos radicais começaram a chegar ao continente por volta de 1950, em maioria membros da Irmandade Islâmica fugindo da queda de regimes no Egito e na Síria (onde seriam perseguidos), em minoria estudantes para as universidades européias;
- Esses imigrantes fundaram mesquitas e instituições diversas ligadas ao islamismo - e todo esse movimento de expansão contou com o apoio financeiro maciço da Arábia Saudita e outros países abastados. Era um critério fundamental que os beneficiários do financiamento fossem, para esses países, não moderados, mas radicais, para espalhar o extremismo islâmico pela Europa;
- A generosidade das leis de imigração européia foi outro fator de atração: asilo, benefícios vários (seguro-desemprego, saúde, moradia), liberdade e possibilidades de expansão inexistentes nos países de origem;
- Depois do ataque às torres gêmeas e da evidente ação da al Qaeda no mundo, as autoridades passaram a dar mais atenção ao financiamento exterior e o dinheiro da Arábia Saudita começou a correr mais devagar. Hoje, a principal fonte que sustenta os radicais islâmicos na Europa é o crime, e alguns grupos, principalmente do norte da África, aliam-se a organizações criminosas internacionais, relacionados a contrabando de drogas e imigração ilegal para a Europa. É dessa forma que tais grupos conseguem milhões para a "causa";
- Os imigrantes do Oriente Médio ou do norte da África que chegam à Europa não são necessariamente ligados à religião muçulmana, mas são abraçados no novo continente por uma rede de propaganda e aliciamento que os leva para o extremismo. Aproveitam-se bastante do fato de que a cultura européia, hoje, encontra-se mergulhada em uma eterna e viciada autocrítica, em uma lógica relativista e suicida, principalmente desde os anos 60 - na França, os Foucault e Derrida da vida não me deixam mentir. Neste quadro, o imigrante não tem motivo significativo para se identificar com a cultura local, que considera "fraca", e sim com a "força" do radicalismo islâmico;
- Agências de inteligência locais afirmam que a nova face da al Qaeda na Europa é composta de europeus de nascimento: por exemplo, nos ataques de 4 homens-bomba em Londres, 3 tinham nacionalidade inglesa. É significativo, também, o fato de que grande parte do planejamento do ataque de 11 de setembro ao World Trade Center foi levada a cabo na Espanha e na Alemanha;
- A Europa já não é mais a mesma de trinta anos atrás. Nesse passo de imigração, em questão de poucas décadas a maioria da população européia será composta de descendentes de imigrantes, dos quais boa parte será muçulmana.
Fonte: FrontPage Magazine, entrevista de Jamie Glazov com Lorenzo Vidino, especialista do Investigative Project on Terrorism (Washington)
13 novembro 2005
Conheça René Girard
Somos chamados hoje, mais que nunca, a entender por que a violência parece chegar a níveis assustadores em todo o mundo. Tenho feito referências aqui a um dos autores mais importantes da atualidade, René Girard, cujo pensamento, fundado sobre princípios cristãos - Girard é católico - , faz algo que não é de costume em estudos de religião: lança uma luz rara sobre a história e as motivações humanas.
© 1995 Herlinde Koelbl/Munich
Entrevistas com Girard
- A quem tiver ouvidos (português)
- Sobre o desejo mimético hoje (inglês)
- Anthropoetics (inglês)
- Em francês (Des textes > Marie-Louise Martinez > entretien avec René Girard)
Observação: essa entrevista em francês é maravilhosa e tem o efeito de um verdadeiro curso sobre Girard. Prometo sua tradução para publicação aqui.
- Em italiano
Vídeos com aulas de Girard
Links variados
Trecho da entrevista do Estado de São Paulo - 15/05/2005
O cristianismo é superior às outras religiões? - Sim. Toda a minha obra tem sido um esforço para mostrar que o cristianismo é superior e não apenas mais uma mitologia. Na mitologia, uma multidão enfurecida se mobiliza contra bodes expiatórios responsabilizados por alguma crise enorme. O sacrifício da vítima culpada pela violência coletiva encerra a crise e funda uma nova ordem ordenada pelo divino. A violência e o uso de bodes expiatórios estão sempre presentes na definição mitológica do próprio divino. É verdade que a estrutura dos Evangelhos é semelhante à da mitologia, em que uma crise é resolvida por uma única vítima que une todos contra ela, reconciliando assim a comunidade. Como pensavam os gregos, o choque da morte da vítima provoca uma catarse que reconcilia. Ele extingue o apetite pela violência. Para os gregos, a morte trágica do herói permite a volta das pessoas comuns à sua vida pacata. Entretanto, nesse caso, a vítima é inocente e os "vitimizadores" são culpados. A violência coletiva contra o bode expiatório como ato fundador, sagrado, revela-se uma mentira. Cristo redime os "vitimizadores" ao suportar seu sofrimento, implorando a Deus para "perdoá-los porque eles não sabem o que fazem". Ele se recusa a pedir a Deus para vingar sua vitimação com uma violência recíproca. Prefere mostrar a outra face. A vitória da cruz é a vitória do amor contra o ciclo de violência do bode expiatório. Ela invalida a idéia de que o ódio é um dever sagrado. Os Evangelhos fazem tudo o que a Bíblia, no Velho Testamento, fez antes, reabilitando um profeta vítima, uma vítima erroneamente acusada. Mas eles também universalizam essa reabilitação. Eles mostram que, desde a fundação do mundo, as vítimas de todos os assassinos ao modo da Paixão foram vítimas do mesmo contágio de multidão, como Jesus. Os Evangelhos tornaram essa revelação completa porque dão à denúncia bíblica da idolatria uma demonstração concreta de como os falsos deuses e seus sistemas culturais violentos são gerados. Essa é a verdade que falta à mitologia, a verdade que subverte o sistema violento deste mundo. Essa revelação de violência coletiva como uma mentira é o marco do judaico-cristianismo. É isso que é único no judaico-cristianismo. E esse caráter único é verdadeiro.
Leia também: minhas ressalvas a Girard
12 novembro 2005
O secularismo e o Islã
No dia 2 de novembro o assassinato ritual de Theo Van Gogh fez um ano. Achei hoje por acaso duas entrevistas da deputada holandesa-somali Ayaan Hirsi Ali, que trabalhou junto com Van Gogh no filme que motivou o ódio dos radicais islâmicos e resultou na extensão da Fatwa de morte também a ela. Ela relembra o que sofreu nas mãos da família e da sociedade como mulher muçulmana, forçada a se submeter à ablação do clitóris e a se casar contra a vontade. Enfrentou isso tudo, fugiu e renunciou à religião, tornando-se hoje uma das maiores opositoras do Islã, praticamente a única mulher em evidência nessa situação.
Se os europeus a ouvissem...
Entrevista ao Der Spiegel (em português)
Entrevista ao Die Welt (em português de Portugal)
Coerente com o que passou, Ayaan compreende o perigo da mentalidade islâmica para a democracia, e eu fico muito contente que ela tenha conseguido se libertar do jugo de uma cultura sufocante para denunciar seus males à sociedade ocidental. Porém, é triste constatar que o único Deus que ela conheceu foi o impiedoso Alá do islamismo. Desejo de coração que ela possa reencontrar sua religiosidade perdida nas mãos amorosas - e nada machistas - do Pai de Jesus Cristo, que nos aceita como filhos.
Desejo isto sobretudo porque sei que, escorada apenas no liberalismo e no laicismo, a luta de Ayaan se torna praticamente inócua contra a fúria do autoritarismo islâmico. Como cristã, sei que só o Deus da Bíblia é páreo para Maomé - com o acréscimo da verdadeira liberdade interior, do espaço para a subjetividade que o cristianismo, ao contrário do islamismo, proporciona a quem crê em Jesus. Certamente, é pela consciência da fraqueza do laicismo que os analistas mais perspicazes já vêem a Europa como fadada a se islamizar por completo - a "satisfação", segundo o jornal Le Monde, do Ministro do Interior Nicolas Sarkozy com a instituição da Fatwa pela UOIF para acalmar os levantes em Paris, sem entender o que isso significa para o Estado e suas leis, denota o quanto os europeus estão cegos para com o processo de islamização que se acelera a olhos vistos: seja pela ocupação espacial (o número de descendentes de muçulmanos aumenta em progressão geométrica comparado ao dos europeus, uma população envelhecida que quase não tem filhos), seja pelas conversões crescentes que vêm ocupar o vazio deixado pelo abandono maciço do cristianismo, funcionando como um (falso) antídoto para o desespero de quem se sente esmagado sob o peso do relativismo e da ausência de sentido preconizados pela modernidade.
A Europa não soube entender nem preservar o imenso tesouro que tinha nas mãos... e agora caminha, em silêncio, cegamente, para uma prisão religiosa que, diante da aridez do secularismo, lhe parecerá confortável demais - tristemente confortável.
11 novembro 2005
Mentiras da esquerda e os Neos ao contrário
A esquerda ainda está propagando as mentiras mortais de que Saddam 1) era um homem sem religião que não apoiava a al-Qaeda, 2) não participou dos ataques muçulmanos que se iniciaram nos EUA com a explosão do World Trade Center em 1993, 3) não providenciou proteção em solo iraquiano a terroristas islâmicos como Zarqawi, e 4) não teve seus planos frustrados pela guerra de março de 2003: fabricar armas de destruição em massa para uso contra os EUA e seus aliados. Todas essas mentiras da esquerda foram refutadas cuidadosamente, mas mesmo assim continuam a ser propagadas.
O filósofo brasileiro Olavo de Carvalho nos informa em artigo recente:
Quem disse que não havia armas de destruição em massa no Iraque? (...) Os relatórios militares dizem que foram encontrados até agora: 1,77 toneladas métricas de urânio enriquecido; 1.500 galões de agentes químicos usados em armas; 17 ogivas químicas com ciclosarina, um agente venenoso cinco vezes mais mortal que o gás sarin; mil materiais radiativos em pó, prontos para dispersão sobre áreas populosas; bombas com gás de mostarda e gás sarin. Se essas coisas não são armas de destruição em massa, são o quê? Peças do estojo “O Pequeno Químico”? [As informações, revela ele, estão no livro do jornalista famoso Richard Miniter, Disinformation: 22 Media Myths That Undermine the War on Terror.]
O autor francês David Dawidowicz escreve no site Liberty Vox:
Entre os nomes dessas "testemunhas" [comunistas em geral, entre eles muitos judeus] que assinaram [um documento atestando a culpabilidade dos "Camisas Brancas", grupo de médicos, na maioria judeus, que teriam atentado contra a vida de Stálin em hospital na URSS], eu ainda me lembro do Dr. Leibovici, burguês abastado dos bairros chiques (...), que eu conhecia por ter me operado uma vez. Quando tive a oportunidade de lhe perguntar sobre a prova de que ele dispunha para afirmar que os "Camisas Brancas" eram culpados, ele me respondeu: "Não tenho! Mas confio no Partido. Qualquer dúvida só serviria aos objetivos imperialistas dos inimigos da URSS. Lembre que, sem a URSS, o mundo estaria hoje sob o domínio nazista e você reduzido a picadinho hoje."
O autor prossegue, discorrendo sobre os estranhos escrúpulos da esquerda militante:
Ela [a esquerda] jamais se manifestou em defesa das dezenas de milhões de vítimas do bolchevismo de Lênin, Trotski, Stálin, Mao Tsé-Tung ou Pol-Pot; jamais em defesa das centenas de milhares de chechenos vítimas da repressão assassina da ex-URSS, jamais pelas milhões de vítimas do racismo árabe do Sudão, nem pelos infelizes habitantes da Aceth, submetidos a chantagem e às aterrorizantes extorsões do exército indonésio. Ela nunca se manifestará em defesa das centenas de milhões de mulheres vítimas da brutalidade machista e obcecada do Islã, nunca pelos reféns assassinados pelos narcomarxistas da América do Sul, nunca em defesa das vítimas do totalitarismo castrista, jamais contra a colonização do Tibete pela China comunista. (...) Curiosamente, seu senso de humanidade só se manifesta de modo escandaloso quando o pretenso opressor é americano ou, principalmente, judeu.
Termina seu texto com um verso revelador de Louis Aragon, poeta do comunismo. Tradução livre:
Que nos enganem, que nos seduzam / Dando-nos o mal pelo bem / Aquele que de nada sabia / E que considera o mal como bem / Não é pelo bem que morre? Isso tudo só evidencia que - pela revolução, pelo ideário, pela "causa" - mentiras já são parte fundamental da estratégia de ação das esquerdas, propagando-se tranqüilamente pela boca de professores, escritores, filósofos, religiosos, jornalistas... No entanto, em que bem isto pode resultar no longo prazo? E, perdidos entre tantas mentiras, sem conseguir nem querer mais distingui-las da verdade - releia o poema de Aragon - , os militantes de esquerda corrompem em primeiro lugar a própria consciência, em seguida a alheia, realizando um efeito dominó que permitiu e continuará permitindo, travestidas de lisura, as maiores torpezas, as maiores tragédias.
Infelizmente, o mundo ocidental está todo tomado pela ideologia de esquerda, politicamente correta, dona dos preconceitos, propagadora da positivação da inveja e do totalitarismo da vítima, que, ao justificar até assassinato, fomentam mais e mais violência. No Brasil, o movimento dos poucos que ousam desafiar esse estado de coisas ainda é pequeno. Resta perguntar: quando finalmente romperemos o cordão de isolamento esquerdista que impede o brasileiro de participar das discussões mundiais relevantes sem viés ideológico, com real acesso às recentes descobertas? Quando é que o brasileiro descobrirá que o mito tranqüilizador é mortal, enquanto a verdade, mesmo cruel, é libertadora? Às vezes tenho a impressão de que o Brasil é todo composto por Neos (personagem principal do filme "Matrix") ao contrário: todo mundo toma diariamente a pílula do esquecimento e da enganação, fornecida em doses maciças por outros enganadores e enganados. Só resta suspirar de alívio pelos gatos pingados que ainda constituem a lucidez do país.
10 novembro 2005
Paris 2005 = guerra civil do Líbano!
Tradução minha
"Uma palavrinha para dizer a vocês que no Líbano ninguém está surpreso com a situação atual na França. Todos aqui esperavam por isso e infelizmente nós acreditamos que será pior nos próximos anos. Os acontecimentos são parecidos com os dos anos de 1969-1970 quando os habitantes dos burgos - os palestinos - começaram a promover agitações, queimar carros, fazer reféns etc. E a reação da França é a mesma do Líbano de trinta anos atrás.
Os partidos de esquerda vêem a solução no social; viu-se no entanto que não pode ser assim: milhares foram gastos no Líbano, mas isso só reforçou as reivindicações dos revoltosos. Eu espero que as coisas se acalmem nos próximos dias, mas sei também que esses acontecimentos trazem as premissas de uma guerra civil nos próximos anos. Pois, diante de um Estado fraco que não envia suas tropas em campo (foi o caso do Líbano nos anos 70), os revoltosos se tornam mais confiantes e melhor equipados, e os habitantes acabam pegando em armas para se defender. O resultado é a criação de milícias e fracasso total. Esse cenário é "triste" mas infelizmente foi o que ocorreu aqui. Não vejo por que não ocorrerá na França, diante dos fatos:
1- Mais de 10 000 veículos [ver nota 1, lá embaixo] queimados em 10 dias. Esse número ultrapassa o de veículos queimados em 15 anos de guerra no Líbano!
2- As autoridades sunitas [nota 2] na França emitiram uma Fatwa [notas 3 e 4] para conclamar os revoltosos à calma. Isso é muito perigoso, pois a qualquer hora pode ser emitida uma Fatwa para levá-los a se manifestarem contra ou a favor qualquer um ou qualquer coisa. Dá a impressão de que se está no Irã ou na Arábia! Nem no Líbano isso aconteceu durante a guerra.
3- Igrejas e escolas foram atacadas. É preciso reconhecer a realidade de que não se trata de uma luta de classes, é bem mais perigoso que isso. Tudo o que está acontecendo me é doloroso, até porque conheço onde isso pode dar e e não queria que vocês vivessem o que eu já vivi.
Abraços,
C.C."
Nota 1: Os jornais franceses disseram que iam "parar de noticiar esse tipo de dado por causa de sensacionalismo", que em novilíngua significa "peneira tentando tapar sol". Você pode não achar esse número em lugar nenhum.
09 novembro 2005
Violência em Paris (VI) - blogs e islamização
Reproduzo aqui dois dos exemplos mais impressionantes:
Brahim diz:
"Bom trabalho, pessoal. A polícia está morrendo de medo da gente, tudo vai ter que queimar, começando na segunda-feira, Operação Sol da Meia-Noite agora, diga a todo mundo, encontro com Momo e Abdul na Zona 4 ... jihad Islamia Allah Akhbar."
"Jihad Islamia Allah Akhbar" fala por si, não?
Samir diz:
"Você acha mesmo que a gente vai parar agora? Tá doido? Vai continuar, non-stop. Ninguém vai desistir. Os franceses não vão fazer nada e logo logo a gente vira maioria aqui."
Como é que Samir sabe que "os franceses" - repare como eles não se sentem franceses, mesmo tendo nascido lá - não vão reagir? E por que a promessa de "virar maioria" é tão atraente? Isso mesmo: a consciência do politicamente correto que paralisa a França e o separatismo da cultura islâmica. Eles não estão reclamando por serem "excluídos", eles estão se insurgindo para se distinguirem cada vez mais do establishment liberal que os acolheu, constituírem suas próprias leis e "engolirem" por fim a sociedade francesa. É notório que, quando dizem "os franceses não vão fazer nada", estão bastante cientes da fraqueza de quem eles querem atingir.
O processo de islamização da Europa a que muitos analistas aludem (em português, Olavo de Carvalho e MSM; em inglês, Jihad Watch, FrontPage Magazine, por exemplo) não é brincadeira, mas uma realidade. Na Holanda mesmo, onde o cineasta Van Gogh foi assassinado, uma amiga que morou lá há quinze anos - há quinze anos! - me disse esses dias que os ônibus, metrôs e vias públicas em geral já traziam placas em holandês e em árabe. A islamização é galopante e acontece pelas duas vias: pacificamente ou não.
O próximo que vier me dizer que "a causa dos levantes é a pobreza" vai ouvir simplesmente "leia as notícias" - mas notícias de verdade, não esse negócio água-com-açúcar da grande mídia.
Violência em Paris (V) e a "Al Reuters"
Mais sobre o Egito, especificamente sobre a mudança de mentalidade que a conversão ao cristianismo proporciona a sacerdotes islâmicos, você encontra (em inglês) aqui.
Violência em Paris (IV) - BILAN
No blog Architecture and Morality, leio que um dos autores teve uma experiência muito ruim com alguns descendentes de imigrantes norteafricanos antes dos levantes de Paris. Episódios de violência gratuita são relatados por ele, como depredação de predios, ataques com pedras e tijolos a lugares públicos e um em especial testemunhado por ele: a agressividade explícita de um rapaz que recusou esperar seu lugar atrás dos outros em uma fila - agressividade finalmente recompensada com a desistência geral de protestar quando ao rapaz se junta um grupo anteriormente escondido e, pela força, eles conseguem passar à frente de todos. Vale a pena ler o texto. A foto de um dos conjuntos planejados, em Clichy, é desse interessantíssimo blog.
Mas vamos ao bilan (em francês, balanço geral de uma situação): quanto mais leio sobre os levantes em Paris, mais me convenço da impossibilidade de sustentar a tese da pobreza como causa de tanta violência. Os jovens em questão são descendentes de imigrantes da África do norte e subsaariana, em sua maioria de cultura islâmica; têm moradia subsidiada (prédios como esse da foto, de Clichy, com arquitetura planejada); têm saúde de graça e ainda recebem seguro-desemprego; costumam ser bem-vestidos (segundo testemunho de amigos que moraram perto dos subúrbios); os ataques à cidade têm sido organizados por celular e internet - o pobre que é pobre mesmo não tem isso. Em tudo, estão em condições infinitamente melhores que os pobres brasileiros. Afirmei isso a uma conhecida, que me respondeu: "Mas isso tudo, comparado com o padrão da França, é pouco."
Ah, sim. Mas então, esta é a justificativa para atos de violência: inveja. Parece-me bizarro que as pessoas estejam tão prontas a compreender que, em nome da inveja, sejam cometidas as maiores barbaridades. Essa é uma das conseqüências de se utilizar o materialismo marxista como chave de compreensão para todas as motivações humanas. As pessoas se tornam cegas para tudo o mais. Porém, se tal redução não é aceitável de forma geral, menos o é nesse caso específico.
O desemprego é real, mas o fato é que, na França de hoje, não há emprego para ninguém. A situação está difícil em toda a Europa. E o racismo remanescente na cultura européia é um dado a não ser desprezado, dificultando a integração desses filhos de imigrantes, que já são discriminados pelo nome árabe. No entanto, o que parece mesmo pairar acima de todas essas considerações, como uma dominante, é o fato de que, ao se rebelarem com tamanha fúria, os jovens não o fazem no vazio, mas usam a força destrutiva do radicalismo muçulmano - a mesma que sustenta ideologicamente a Jihad, ou seja, a guerra santa. Por mais politicamente corretos que os franceses queiram ser, precisam ter a coragem de reconhecer que há culturas no mundo que são mais difíceis de se integrar que outras. O islamismo tem se mantido estável por séculos. Os países islâmicos não passaram pelo processo ocidental de abertura para a diferença, de igualdade da mulher ou de liberação sexual. Nós temos um background cultural que eles não têm ou têm de viés, por influência paralela mas não significativa. Intoxicados de individualismo, temos a tendência de esquecer o quanto a cultura nos molda. Assim, se os esforços do governo para tornar franceses os descendentes de imigrantes parecem inúteis, não é uma crise de consciência socialista, mero mea culpa concentrado na questão econômica, que vai ajudar a França a enfrentar o problema.
Mas, a essas alturas, em um processo adiantado de decomposição dos valores franceses - cuja elite intelectual jogou fora a própria noção de "verdade" e se desembaraçou de seu cristianismo fundador em favor de uma laicidade porosa e estéril - , não sei mais o que a ajudará.
08 novembro 2005
Liberdade na internet ameaçada
Resumo (com as palavras do artigo)
A internet é gerida pela Icann (Corporação da Internet para a Designação de Nomes e Números), uma entidade privada, sem fins lucrativos, que funciona no Estado da Califórnia. Administrativamente, a Icann está vinculada ao Departamento de Comércio dos Estados Unidos. Esse é um dos motivos pelos quais se atribui aos EUA a hegemonia sobre a internet. Na verdade, o governo americano sempre respeitou os termos do memorando de entendimento pelo qual cedeu a internet ao uso público, não se conhecendo um só caso de interferência sua nas decisões da Icann.
Há dias, numa reunião preparatória para a Cúpula Mundial da Sociedade da Informação, em Genebra, representantes de vários países lançaram uma ofensiva contra o que chamam de “hegemonia norte-americana sobre a internet”. Os países mais ativos desse grupo são o Brasil, a Arábia Saudita, o Irã e a China. Pretendem atribuir as decisões políticas da internet a um organismo intergovernamental – e dizem que, assim, reforçarão o multilateralismo, a transparência e a democracia. Desse grupo, no entanto, só o Brasil permite que seus cidadãos utilizem, sem restrições, a internet. Os demais proíbem o acesso ou impõem severas restrições ao uso da rede, submetendo seus súditos a pesadas penas, em caso de infração. Estão interessados em tudo – principalmente em exercer o controle político da internet, ou seja, poder censurar seus conteúdos –, menos em multilateralismo, transparência e democracia. O grupo que quer destituir os EUA do “controle” da internet é constituído por países sem vocação democrática – exceto o Brasil – e com forte vezo estatizante – e aí o governo brasileiro não é exceção. Daí quererem que a internet passe a ser administrada pela União Internacional de Telecomunicações, organismo da ONU que representa os interesses dos monopólios estatais – cuja existência é ameaçada pela própria internet. A sobrevivência de um sistema inovador e relativamente livre da interferência estatal está sendo seriamente ameaçada.
De fato, já tem gente por aí (como um certo professor da USP bastante badalado na mídia) falando a favor de uma "gestão multilateral da internet, transparente e democrática, com a plena participação dos governos, do setor privado e de organizações civis". Em Novilíngua (leia 1984 e desconfie cada vez que alguém de esquerda falar em "democracia"), isto significa controle, sobretudo estatal, sobre os conteúdos lidos. Quem não quer que a internet seja controlada pelo governo, tal como é na China, no Irã e na Arábia Saudita (o que o Brasil está fazendo no meio desse pessoal, meu Deus?), levante a mão e divulgue esse horror anunciado!
07 novembro 2005
Violência em Paris (III): evasivas de Villepin
À pergunta "Por trás disso tudo não está a mão dos islamismo?", o primeiro-ministro [Dominique de Villepin] respondeu: "Claro que há uma preocupação sobre isso, sobre o islamismo como uma influência radical. Mas não creio que seja o principal, ainda que não se possa deixar de levar em conta esse dado. É preciso considerar com cuidado o conjunto dessas ações, mas não é o principal", concluiu.
Então tá. Em sua grande maioria de origem islâmica, vindos de países como a Argélia, os jovens das periferias de Paris, sustentados pelo governo com o seguro social (sem nem precisar trabalhar), estariam fazendo tudo aquilo para chamar a atenção do país para sua desigualdade social? Ou por serem vítimas de racismo? Quer dizer que tamanho ódio - capaz de inspirar adolescentes a assassinar a pauladas um homem diante dos olhos da família, ou a jogar gasolina e tacar fogo em uma senhora aleijada olhando fixamente em seus olhos - deve-se a insatisfação com uma condição de vida precária? E por que a suposta falta de dinheiro não impediu a instalação de uma fábrica de bombas clandestina em um dos bairros de periferia - quase como nas favelas cariocas? Quem é capaz de explicar isso sustentando a tese da pobreza?
Incrível: o politicamente correto parece ter lobotomizado a França. Das duas, uma: ou as afirmações do primeiro-ministro são produções abobalhadas de uma mente doente ("não é o principal, não é o principal..."), ou ele tem contas a prestar ao mundo árabe - a quem o governo francês tem apoiado sistematicamente durante anos. Houve bastante coragem para vender armas a Saddam Hussein em pleno embargo da ONU, mas cadê a coragem para enfrentar a realidade sobre os levantes?
O pior é brasileiro acreditando nisso tudo... Leiam o Primeira Leitura! Leiam o MSM!