Sou humana o suficiente para admitir: há duas coisas que inclinam minhas simpatias a Bolsonaro. A primeira, que já expus algumas vezes no Facebook, é o fato de que a pior parcela da esquerda brasileira - essa esquerda odienta que se acha a reserva moral do país, tem os bolsos cheios de privilégios estatais, nunca admite seus erros e jamais ergue a voz contra as injustiças do socialismo no mundo - o escolheu para bode expiatório. Essa unanimidade, para mim, quase positiviza o candidato. A segunda foi a facada que ele recebeu, confirmando-o como catalisador de fúria criminosa e tornando-o objeto da mais doída compaixão.
Porém, toda essa carga emotiva resultante do bode e da faca não pode nos fazer esquecer que, de certa forma, Bolsonaro na cadeira presidencial é uma caixinha de surpresas. Não sabemos qual tendência sua vai prevalecer: se a autoritária, que lhe valeu a má fama ao longo dos anos, ou se a que parece mas humilde, quando expressa abertamente sua ignorância ou recorre a Paulo Guedes sobre economia. De um jeito ou de outro, ele se mostra ainda o único a colocar o dedo insistente nas mazelas tão impronunciáveis pela galera do "ele não" quanto seu nome: violência, corrupção, impunidade, impostos excessivos. A ira que demonstra no semblante carregado muitas vezes se dirigiu aos alvos corretos - enquanto não deixa de ser patético que o chuchu Alckmin e a afável Marina coloquem de lado sua doçura comum para unirem-se aos furiosos sacrificadores nesta reta final de campanha.
A grande questão, para mim, é: arrisco o voto, mesmo sabendo que o autoritarismo bolsonariano pode ser uma ameaça velada prestes a explodir na primeira oportunidade? Ou arrisco a democracia ao permitir que o PT volte ao poder na figura do Haddad? No primeiro caso, o conservadorismo (ou uma sombra disso) receberá uma chance que dificilmente se repetirá após este mandato. No segundo... bem, no segundo, é muito provável que sequer haja país em que se possa votar livremente.
Diante de tudo isso, não parece haver melhor opção que o 17. Sigo com essa ideia, ao mesmo tempo em que oro todos os dias para que Deus socorra o nosso Brasil.