Em meados dos anos 1970, por causa da tv, eu já estava familiarizada com os personagens do Sítio do Picapau Amarelo quando, na casa da minha avó, encontrei pelos cantos os livros antigos de Monteiro Lobato que haviam sido do meu pai. Claro, comecei a ler imediatamente: eram histórias do Sítio! Estavam amarelados, com alguns buraquinhos de traça, e tinham um cheiro característico que passei a amar. Continham apenas duas ou três ilustrações em preto e branco: eram os singelos desenhos de André Le Blanc, que eu admirava não apenas pelos traços (mais realistas, se comparados a outros desenhos infantis), mas porque sua Emília, ao contrário da figura coloridíssima que aparecia na televisão, era fiel à descrição do autor em Reinações de Narizinho: morena de cabelos curtos espetados e vestido simples, feinha até. O texto vinha em uma ortografia antiga que me fazia sempre tropeçar na pronúncia das palavras desconhecidas, pois não havia acento em nenhuma proparoxítona. (Foi com espanto que, anos depois, soube como se diziam algumas delas!)
Faz anos que não vejo televisão, mas desconfio de que não há hoje programas para crianças com essa finalidade tão nobre e desinteressada: levá-las da telinha aos livros, inclusive dotando-as de capacidade crítica pela inevitável comparação.
E, apesar das diferenças ortográficas, nunca me cansarei de dizer que o autor a quem mais devo meu português continua sendo Monteiro Lobato.