Você certamente já ouviu aquele amigo que se diz social-democrata citar o exemplo da Suécia como de um socialismo bem-sucedido. Bom, faça-lhe dois favores: dê a ele de presente o livro do Janer Cristaldo (já desatualizado, pois é de 1973: procure em sebos) O paraíso sexual democrata, e mostre-lhe o artigo de Gary North (teólogo e economista presbiteriano) do dia de hoje, O estado assistencialista sueco está em chamas. Isso vai funcionar como um panorama bastante amplo da situação daquele país, que de paraíso não tem nada. As “chamas” do título são literais: faz seis dias que a Suécia vem sofrendo na mão de incendiários.
Dois fatores contribuíram para essa situação de guerra civil:
uma grave crise econômica desde os anos 1990 (obrigatória em países com
governos que se encarregam pesadamente da “justiça social”) e a imigração em
massa de gente do Iraque, do Afeganistão, da ex-Iugoslávia, da Somália, da Síria, para o que é considerado um país preferencial em toda a Europa. Alocados
em guetos no subúrbio, sem perspectivas e sem desejo de integração (o governo fornece até cursos gratuitos de sueco), esses imigrantes fomentam um enorme
ressentimento contra o Estado Papai – ressentimento que um dia explode. Perfazem 15% da população e são os mais atingidos pelo desemprego. (Mais sobre isso, em francês, aqui e aqui.) Gary North sentencia: "Um
arranjo que combina imigração livre com Estado provedor está propenso ao
desastre."
Deveria ser o contrário? Não! O Estado é um mau criador de
empregos e oportunidades. Ele é como um pai que mima os filhos ao ponto de assumir todas as rédeas da vida deles. Não sabe dar o “empurrãozinho” de que precisam desde crianças para crescerem por si. Depois, o pai se lamenta
quando precisa sustentar adultos dependentes pelo resto da vida. A metáfora dá conta somente das boas intenções, que podem até existir (muitas vezes duvido), mas nunca vêm sozinhas: governos socialistas assumem tarefas demais, via de regra, para embriagar os governantes de poder e dinheiro público. Desestimulando ou até inibindo a iniciativa privada com assistencialismo, leis abusivas e impostos altos, o Estado socialista diminui drasticamente o número de empregadores e, logicamente, o de empregos. Resultado: a desigualdade social
aumentou muito na Suécia desde 1995. E toda a culpa recai agora sobre o costumeiro bode
expiatório das esquerdas, claro, na figura do primeiro-ministro Frederik
Reinfeldt, eleito em 2006 e decidido a fazer alguns cortes no benefício
da galera. Uma reportagem desinformativa, certamente desejando salvaguardar a (ainda) boa fama da social-democracia sueca no Brasil, afirma que os próprios
incendiários são de “extrema-direita” (direita contra direita?) e completa: “Os
subúrbios afetados pela onda de violência têm em comum uma alta concentração de
imigrante e problemas sociais, que se viram agravados pela política de cortes
implementada há sete anos pelo governo de direita liderado pelo primeiro-ministro
conservador Fredrik Reinfeldt.” Pois é. Se a mamata diminuiu e o povo resolveu
tacar fogo nas ruas, a culpa é de quem reduziu a mamata, não é? Lógica perversa!
Trazida por North, achei tocante
a fala de Marc Abramsson, líder do Partido Nacional Democrata:
Nós somos o país que mais se esforçou para integrar essas pessoas, muito mais do que qualquer outro país europeu; gastamos bilhões em um sistema de bem-estar que foi criado para ajudar imigrantes desempregados e garantir a eles uma boa qualidade de vida. Ainda assim, temos áreas em que existem grupos étnicos que simplesmente não se identificam com a sociedade sueca. Eles veem a polícia e até mesmo as brigadas de incêndio como parte do aparato repressor, e os atacam. Já tentamos de tudo, de tudo mesmo, para melhorar as coisas, mas nada funcionou. Não se trata de racismo; a questão é simplesmente que o multiculturalismo não reconhece como os humanos realmente funcionam.
Ele chegou ao ponto: como os humanos realmente funcionam? Eis a resposta
bíblica: eles são pecadores,
naturalmente inclinados ao mal. Um
sistema de governo que não considere essa verdade revelada (e provada no dia-a-dia), buscando continuamente
fazer surgir a bondade interior do povo por meio de privilégios de todo tipo, como se a
gratidão pudesse ser acionada automaticamente, está fadado ao esgotamento. Não existe a associação –
tão cantada entre os poetas românticos do século XIX – entre pobreza e bondade.
Dentre os imigrantes pobres que recebem assistência especial do governo sueco,
alguns serão gratos e procurarão andar com as próprias pernas depois de algum
tempo; mas outros, muitos outros, serão cruéis, nunca dispostos a ganhar o pão
com o suor do rosto, mas, humilhados, sempre prontos a morder a mão
que os ajuda. São esses que contribuindo para a destruição do país, de dois jeitos: inércia e,
agora, fogo. Inutilizam a própria vida e a dos outros. O sistema não funciona, e mais: produz espertalhões, como aquela mulher que queria o Bolsa Família
para dar à filha uma calça de trezentos reais.
Volto à frase do apóstolo Paulo em 2 Tessalonicenses 3.10: “Quem não quer trabalhar, que também não coma.” A aplicação da Bíblia
ultrapassa nosso egoísmo comezinho: o amor de Deus não se deixa confundir com sentimentalismos destrutivos. O princípio enunciado por Paulo não se esgota no indivíduo que queria viver às custas da igreja congregada dos primeiros séculos da era cristã, mas tem profundidade e amplitude na sociologia, na psicologia, na política. Quem deseja se empenhar na formação da cosmovisão cristã falhará
estrondosamente se continuar lendo a Palavra e mirando somente seu próprio
umbigo – ou o umbigo dos pobres idealizados pela cultura socialista.