29 julho 2012

Os livros das palestras, enfim!

Na sexta-feira passada, ministrei uma palestra no Acampamento do GAP, chamada "A secularização do sagrado e a espiritualização do secular". No sábado, para os jovens da Assembleia de Deus em Jaguaretama (interior do Ceará), falei sobre "Fé e razão" e dei uma palavra sobre Romanos 12.1-2. Agradeço muito a Bruno Lima, líder do GAP, e Rudson Almeida, de Jaguaretama, pelos convites que tanto me alegraram nesses dias!

Prometi aos jovens do GAP e de Jaguaretama que iria postar no blog a lista dos livros que usei para as palestras. Aqui vai, com comentários:

Calvinismo, Abraham Kuyper

Predestinação e eleição? Nada disso: esse livro vai impactar qualquer cristão, mesmo o não-calvinista, pois seu foco é outro. Afirmando que "não há um centímetro desta vida que não pertença a Cristo", o autor explora as características de uma cosmovisão genuinamente orientada pela Bíblia e pelo senhorio de Cristo em cada aspecto: cultura, política etc. Imperdível e já mudou a vida de muitos cristãos. Foi o livro que me abriu as portas para a teologia reformada, que, como vim a descobrir depois com Dooyeweerd e Van Til, trabalha de um modo ímpar com a questão das relações entre a fé cristã e tudo o mais, ajudando-nos a olhar para tudo no mundo de uma forma teorreferente (termo do professor Davi Charles Gomes), ou seja, tendo o Deus da Bíblia como referência principal. Tenho percebido que a teologia reformada é a que mais nos orienta para que não vivamos nossa fé debaixo de uma redoma, pois devemos obedecer a Cristo quanto a amar a Deus com TODO o nosso entendimento, além de nosso coração e nossa força.

A morte da razão, O Deus que intervém, O Deus que se revela, O grande desastre evangélico etc., de Francis Schaeffer

Recomendo todos os livros de Schaeffer. De modo especial, os três primeiros analisam com exemplos da cultura contemporânea o grande problema que o pecado nos legou: a fragmentação de nossa cosmovisão. Esses livros também têm o grande potencial de mudar vidas. Li A morte da razão quando nova convertida e desde então tenho visto o quanto as pessoas assumem as divisões artificiais que caracterizam a mente caída: entre natureza e graça, razão e fé, religião e ciência etc. O grande desastre evangélico trata da invasão do liberalismo teológico nas igrejas americanas e das duas formas erradas com que a igreja encara tanto o liberalismo quanto a cultura em geral: ou acatando sem reservas (mundanismo) ou se fechando sem confrontação (redoma).

Ídolos do coração e feira das vaidades, David Powlison

Outro livro que muda vidas! Esse só vende pela internet, no site da editora Refúgio. Demonstrando um conhecimento impressionante das várias vertentes em psicologia e psicanálise, Powlison descreve os mecanismos da idolatria em suas implicações sociopsicológicas. Orienta-nos a identificar em primeiro lugar os ídolos do coração, de acordo com a ênfase bíblica de que, depois da queda, estamos sujeitos à idolatria. Será especialmente útil para quem estuda psicologia ou se interessa por aconselhamento bíblico - mas recomendo a todos, pois a questão da idolatria é central para a cosmovisão cristã.

Criação restaurada, Albert Wolters

Sobre cosmovisão cristã e suas implicações. Didático e bíblico, traz muito material para se pensar a vida toda.

Verdade absoluta, Nancy Pearcey

Outro livro imperdível sobre cosmovisão, também didático e com muitos exemplos da contemporaneidade. Pearcey foi aluna de Francis Schaeffer. Também recomendo A alma da ciência, mais específico, sobre as relações entre ciência e cristianismo.

A busca pela justiça cósmica, Thomas Sowell

Sowell descreve as consequências de uma justiça que, em vez de aplicar as leis, transforma os juízes em heróis do politicamente correto. Uma boa análise da contemporaneidade em suas obsessões políticas muitas vezes autoritárias. Essencial para quem está estudando Direito.

A infelicidade do século, Alain Besançon

O historiador Besançon explica por que, para ele, comunismo e nazismo são, nas palavras de Pierre Chaunu, "gêmeos heterozigotos". Excelente introdução ao tema do totalitarismo e vacina fundamental para nós que, no Brasil, vivemos num "mar" de propaganda comunista. Recomendo cuidado, pois a tradução é de Emir Sader e contém alguns erros que dizem o contrário do que Besançon queria dizer. O melhor seria encontrar uma edição em inglês (o original é em francês). Para aprofundar o assunto, O livro negro do comunismo, de Stéphane Courtois, e o bem mais denso Origens do totalitarismo, da filósofa Hannah Arendt.

Tempos modernos, Paul Johnson

Paul Johnson é um historiador católico conservador que está em franco contraste com o bem mais famoso (no Brasil) Eric Hobsbawn. Enquanto Hobsbawn subscreve todos os massacres da ex-União Soviética (em meu livro, faço menção a isto), Johnson descreve de modo vívido os principais acontecimentos do século XX. A parte sobre a ex-União Soviética me fez chorar algumas vezes.

Onde é que Cristo está ainda a ser perseguido?, Richard Wumbrandt; O homem do céu, Irmão Yun; Torturado por sua fé, Haralan Popov Nada mais instrutivo que conhecer o que os regimes comunistas podem fazer à igreja cristã. Relatos tocantes de irmãos que sofreram muito sob perseguição estatal na Romênia, na China e na Bulgária.

Cuba, a tragédia da utopia, Percival Puggina Conservador católico, Puggina esteve em Cuba e desmente todas as maravilhas que a propaganda castrista divulga sobre o regime.

E, claro, não poderia deixar de recomendar meu livro A mente de Cristo: conversão e cosmovisão cristã, que não deixa de ser uma introdução a todos esses temas, muitas vezes de um modo bastante pessoal. Ontem estive com Yago Martins, que me disse que o livro era como "a cosmovisão cristã em prática". Adorei a descrição e acho que de fato caracteriza muito bem o que tentei fazer.

Podem ler e comentar aqui, que eu respondo! :-)

10 julho 2012

Um só livro

Não entendo que muitos que se denominam "cristãos" hoje consigam tranquilamente negar a base de toda a nossa fé: a unidade da Bíblia.

Em primeiro lugar, eles demonstram com isso uma tremenda falta de confiança nos irmãos que tanto trabalharam, antes deles, durante séculos, nas mais variadas áreas, para reconhecer e confirmar a autenticidade de todos os 66 livros das Escrituras. Exibem-se assim não só como pretensos "descobridores da pólvora" - e Deus sabe o quanto a tentação do ineditismo, em nossos dias, é avassaladora - , mas sobretudo como desdenhosos (e, não duvido, ignorantes) de todo o generoso encaminhamento investigativo que Deus permitiu para que tivéssemos esse impressionante Livro, coeso, em nossas mãos.

Em segundo lugar, fazem com a Bíblia algo que jamais fariam com seu autor literário predileto: ignoram pedaços inteiros como "corpos estranhos" para dar coerência a uma ideia previamente estabelecida por eles, imputando-a ao todo como uma camisa-de-força. Agem assim como verdadeiros Jacks Estripadores do livro que sustenta todo o cristianismo. Fico imaginando um crítico literário que, diante de um romance de Albert Camus como A peste, tentasse provar intenções espúrias do personagem principal, doutor Rieux, argumentando que todas as páginas que descrevem seus esforços contra a praga "não foram, na verdade, escritas por Camus e não pertencem ao livro". Será que daríamos tanta atenção a esse crítico quanto damos aos teólogos universalistas, por exemplo - que, contra toda palavra do próprio Cristo sobre o inferno, preferem "pular" os trechos que os tiram de sua zona de conforto ou, pior, preferem interpretá-los esotericamente? Por que levaríamos as Escrituras menos a sério, em sua inteireza, do que consideramos uma obra de literatura? Posso entender essa leitura afrouxada por parte de um descrente, mas não de um crente em Cristo, sobretudo quando pensamos o quanto Cristo conhecia, estudava e amava a Palavra que tinha em suas mãos: o Antigo Testamento.

Diante de qualquer texto, requer-se do leitor que não projete seus próprios anseios e preconceitos por sobre a leitura. Caso proceda assim, será um mau leitor e não conseguirá formar uma ideia adequada do que está lendo, seja uma narração, uma descrição ou uma peça argumentativa. A Bíblia precisa de leitores que a abordem, no mínimo, como a um texto coerente, não um amontoado de frases ou livros sem conexão entre si. Mas, sobretudo, precisa de leitores que se aproximem dela como se aproximariam do próprio Cristo: com "ouvidos para ouvir", ou seja, humildade para aprender e coração fértil para as mudanças que Deus quer operar em nós, para a Sua glória. Só para esse leitor humilde a Bíblia será, como foi para Timóteo, "as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus" (2Tm 3.15).


Saiba mais: Augustus Nicodemus trata da autoridade das Escrituras; A Palavra, não a tradição.

02 julho 2012

Textos no Teologia Brasileira!

O reino da interioridade é meu primeiro artigo publicado no site Teologia Brasileira. É parte de meu livro A mente de Cristo, apenas levemente adaptado. Confira um trecho:
“Missão” é primordialmente oferecer-se a Deus, todos os dias, para ser santificado. Também é guiar espiritualmente a família e os mais próximos, em um trabalho lento, cotidiano e interior. Quando as “missões” são consideradas apenas em uma dimensão exterior, em que não se contempla a interior, somos como pobres legalistas pragmáticos, orientados somente para o fazer, imprestáveis para adorar a Deus e pôr em prática o amor ao próximo, algo só possível com paciência e olhos atentos. Porém, quando privilegiamos o alvo correto, não somos tão ativistas, mas vivemos a missão primordialmente onde deve ser vivida: dentro de nós, em nossos corações, onde está o trono de Deus; e, dali, espraiando-se para fora. É nesse reino da interioridade, habitação do Espírito Santo, que serão esmagados, pela graça de Deus, todos os pecados graves que nos impedem de ter a disposição para amar. É ali que tudo começa; se não começar ali, não terá começado de modo algum (e precisa recomeçar a cada dia!).
Aproveitem para ler também o artigo importantíssimo de Franklin Ferreira, Uma resposta ao artigo de Jung Mo Sung, muito bem documentado e argumentado. Uma das impressões mais vívidas que o artigo me deixou é que o teólogo coreano entende bem pouco de Bíblia. Boa leitura!