Epitáfio
Sei que esse é assunto um tanto tenebroso para se tratar aos 35 anos – e imagino que Deus ainda me permitirá algumas boas décadas de vida a mais. Porém, se uma idéia surge e precisa ser registrada, qual o melhor momento para fazê-lo, senão agora? Sendo assim, aí vai: meu desejo para epitáfio se inspira em uma de minhas passagens bíblicas preferidas, I Coríntios 13:12, em que Paulo trata da excelência do dom do amor acima de todos os outros. O argumento? No céu apenas o amor será necessário: não precisaremos de dom de profecias, línguas estranhas ou ciência, pois nada haverá de encoberto que precise ser desvelado. Tampouco de fé, pois a fé é “certeza das coisas que não se vêem” (Hebreus 11:1), e lá veremos a tudo. Apenas o amor restará: Dele por nós, em uma presença constante, e nosso por Ele, em uma adoração perpétua.
Esse é meu maior consolo e minha maior esperança, sobretudo quando me sobrevêm o desânimo de vacilar na fé, a impaciência de me ver pecadora, a inconstância no amor, na oração, nos pensamentos. Glorifico a Deus porque, através das palavras do apóstolo, entrevemos um pouquinho do que seremos quando estivermos frente a frente com Ele. Ali não mais precisaremos vencer os duros obstáculos que a semente da fé cristã enfrenta para germinar: a falta de receptividade e entendimento, a superficialidade e o conforto a qualquer preço, os obsessivos cuidados com o mundo. Não mais sofreremos tentação, não mais teremos nossa fé provada.
No entanto, acima de tudo – minha maior alegria – , a revelação sobre o ser de Deus será plena. Saberemos quem Ele é, assim como hoje Ele sabe quem nós somos, ou seja: totalmente. Não parece a esperança mais louca? Mas é essa mesma a esperança de que nos fala o apóstolo:
Porque agora vemos como por espelho, em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei plenamente, como também sou plenamente conhecido.
Conforme a essa palavra que amo, gostaria então que a inscrição fosse:
“Agora conheço tal como sou conhecida.”