Anti-oxímoro
Espelho diante de espelho
Transcendência forjada
A mão que crê erguer-se
rumo ao céu
Mas que erra, e segue
indefinidamente para baixo,
para o nada.
Um esforço, com a graça de Deus, de recolocar o cristianismo na via dos debates intelectuais. Não por pedantismo ou orgulho, mas por uma necessidade quase física de dar nomes às minhas intuições e contornar o status quo das idéias hegemônicas deste mundo.
31 agosto 2006
17 agosto 2006
Frei Betto e a Cidade Perdida
O ano é 1958. Havana está mergulhada em um caos de bombas, assassinatos políticos, incerteza quanto ao futuro. Capangas de Batista caçam freneticamente os opositores do governo, enquanto Fidel e Che armam-se nas montanhas e atraem jovens idealistas de todas as classes para o sonho revolucionário. Desesperançado, o pai do personagem principal comenta:
- Até o próprio Cristo se muniu de um chicote para pôr ordem no caos. Acho que estamos precisando de um Cristo com um chicote.
Que ficasse claro: não era uma apologia da violência. Logo em seguida, cita uma palavra hindu para "resistência passiva". Era seu jeito de ver as coisas: transformação social sim, mas pela via democrática, sempre. Havia ajudado um político influente a elaborar um discurso contra Batista e contra o furor da revolução. O texto começava com um precioso lembrete da história antiga: o sábio Sêneca contra os tiranos Nero e Calígula. "Precisamos de líderes que se inspirem em Sêneca, e não dos Neros deste mundo", dizia.
O Nero que reinaria por quarenta anos em Cuba se preparava nas montanhas.
- Parece que chegou o autoproclamado Cristo - comenta o filho algum tempo depois, lembrando-se das palavras do pai. Seu chicote onipotente, a opressão, a mentira, o silêncio. A uniformização da pobreza, a decadência das belas construções, feiúra por todo lado. A humilhação disfarçada de justiça. Todo um povo impedido de gozar das delícias da própria pátria – cubano, sinônimo de pária no lado rico da ilha. Era o mundo que em 58 estava sendo preparado pelo novo Cristo às avessas.
2006. O que faz com que um homem aparentemente são veja o amor de Cristo em um Nero, mesmo muito tempo depois de atestados seus feitos? Que ignore ou finja ignorar que a revolução é a piada macabra dos últimos séculos – de que a aniquilação física e psicológica geraria vida no final? Frei Betto diz ao pastor cubano Raúl Suárez que "somos irmãos em Cristo e em Castro". Não é mero jogo de palavras. O nome do Nero moderno brilha ao lado do nome do Filho de Deus, que está acima de todo nome. Uma blasfêmia sorridente, publicada como corriqueira saudação entre iguais. Insensatez sem tamanho e sem medida, salão de espelhos que multiplica ao infinito as imagens estéreis da vaidade humana.
A frase de Federico, o personagem de Andy Garcia em Lost City, ecoa em meus ouvidos: "Parece que chegou o autoproclamado Cristo." Até quando usarão o nome Dele para perpetuar a iniqüidade? Valem-se de Seu nome, de Sua fama, de Suas palavras de amor eterno – pouco lidas, pouco compreendidas – para ocupar Seu lugar no coração humano. Amantes de si mesmos, usurpadores daquilo que é devido apenas a Deus: a adoração. Idolatria que gera idolatria e impede o verdadeiro Cristo de habitar em nós. "Questão de caráter", diz o pai logo no início do filme. Sim: pois não há mal que por si produza bem, e crer nisso nos transforma em impiedosas máquinas de matar, conforme queria Che Guevara. Do contrário, aprendemos com Cristo que a única morte capaz de gerar vida foi uma morte livremente consentida. "Dou a minha vida por amor de vós."
Anátema a qualquer simulacro deste que é o maior ato de amor da história. Os Anticristos antigos e modernos receberão a paga por sua loucura, e será feita justiça, pois o sangue dos mártires clama através dos séculos. "Para que saibam que só tu, cujo nome é o Senhor, és o Altíssimo sobre toda a terra (Sl 83:18)." Toda glória seja dada a Ele, somente a Ele.
- Até o próprio Cristo se muniu de um chicote para pôr ordem no caos. Acho que estamos precisando de um Cristo com um chicote.
Que ficasse claro: não era uma apologia da violência. Logo em seguida, cita uma palavra hindu para "resistência passiva". Era seu jeito de ver as coisas: transformação social sim, mas pela via democrática, sempre. Havia ajudado um político influente a elaborar um discurso contra Batista e contra o furor da revolução. O texto começava com um precioso lembrete da história antiga: o sábio Sêneca contra os tiranos Nero e Calígula. "Precisamos de líderes que se inspirem em Sêneca, e não dos Neros deste mundo", dizia.
O Nero que reinaria por quarenta anos em Cuba se preparava nas montanhas.
- Parece que chegou o autoproclamado Cristo - comenta o filho algum tempo depois, lembrando-se das palavras do pai. Seu chicote onipotente, a opressão, a mentira, o silêncio. A uniformização da pobreza, a decadência das belas construções, feiúra por todo lado. A humilhação disfarçada de justiça. Todo um povo impedido de gozar das delícias da própria pátria – cubano, sinônimo de pária no lado rico da ilha. Era o mundo que em 58 estava sendo preparado pelo novo Cristo às avessas.
2006. O que faz com que um homem aparentemente são veja o amor de Cristo em um Nero, mesmo muito tempo depois de atestados seus feitos? Que ignore ou finja ignorar que a revolução é a piada macabra dos últimos séculos – de que a aniquilação física e psicológica geraria vida no final? Frei Betto diz ao pastor cubano Raúl Suárez que "somos irmãos em Cristo e em Castro". Não é mero jogo de palavras. O nome do Nero moderno brilha ao lado do nome do Filho de Deus, que está acima de todo nome. Uma blasfêmia sorridente, publicada como corriqueira saudação entre iguais. Insensatez sem tamanho e sem medida, salão de espelhos que multiplica ao infinito as imagens estéreis da vaidade humana.
A frase de Federico, o personagem de Andy Garcia em Lost City, ecoa em meus ouvidos: "Parece que chegou o autoproclamado Cristo." Até quando usarão o nome Dele para perpetuar a iniqüidade? Valem-se de Seu nome, de Sua fama, de Suas palavras de amor eterno – pouco lidas, pouco compreendidas – para ocupar Seu lugar no coração humano. Amantes de si mesmos, usurpadores daquilo que é devido apenas a Deus: a adoração. Idolatria que gera idolatria e impede o verdadeiro Cristo de habitar em nós. "Questão de caráter", diz o pai logo no início do filme. Sim: pois não há mal que por si produza bem, e crer nisso nos transforma em impiedosas máquinas de matar, conforme queria Che Guevara. Do contrário, aprendemos com Cristo que a única morte capaz de gerar vida foi uma morte livremente consentida. "Dou a minha vida por amor de vós."
Anátema a qualquer simulacro deste que é o maior ato de amor da história. Os Anticristos antigos e modernos receberão a paga por sua loucura, e será feita justiça, pois o sangue dos mártires clama através dos séculos. "Para que saibam que só tu, cujo nome é o Senhor, és o Altíssimo sobre toda a terra (Sl 83:18)." Toda glória seja dada a Ele, somente a Ele.
14 agosto 2006
Perdi A Cidade Perdida
Fiquei surpresa de achar A Cidade Perdida na programação de cinema de um jornal aberto ao acaso, no começo da semana passada. Surpresa e muito feliz ao constatar a inexistência de (pelo menos) um bloqueio esquerdista. Imaginei que havia exagerado ao escrever um artigo no Mídia sem Máscara reclamando da ausência do filme de Andy Garcia em telas brasileiras. Bom, de qualquer forma, o filme estava presente em apenas uma sala, o que poderia ser um pouco suspeito. Prometi a mim mesma que iria vê-lo duas vezes, uma para curtir, a outra para fazer anotações extras e desenvolver uma resenha, a ser publicada no site do CIEEP.
Falei com alguns amigos, mas ninguém podia ir ao cinema no meio da semana. Algo como um bichinho incomodando, que agora chamo intuição, dizia-me para ir ver o filme o mais rápido possível. Quase fui na quinta-feira, mas estava cansada e o horário era apertado, entre aulas. Corria o risco de chegar atrasada e ficaria nervosa durante o filme. Decidi que iria sem hesitar no sábado, após minha aula matinal. Essa decisão me deixou cheia de expectativas, e não pude evitar o pensamento de que havia anos, talvez, que não me sentia tão radiante com a promessa de um filme.
Sábado, lá fui eu. Havia um shopping perto do cinema, onde almocei e comprei um casaco lindo que estava em promoção. "Pode fazer frio lá dentro, e eu sou muito friorenta", foi a desculpa. Cheguei lá quarenta minutos antes de o filme começar, pensando no café delicioso e na livraria bonitinha que fazem parte da mesma galeria. Qual não foi a minha decepção quando a funcionária, muito solícita, informou que o filme não estava mais em cartaz.
- Mas não é possível. Eu vi no jornal essa semana!
- Pois é, mas ficou só uma semana mesmo.
- Saiu quando?
- Quinta-feira.
Depois de alguns comentários raivosos sobre a esquerda fidelista brasileira, deixei o cinema com lágrimas nos olhos. Se pudesse, escreveria este post com toda a raiva que me consumia então. Mas decidi não estragar meu sábado e guardei para depois. Vi algumas coisas agradáveis na TV a cabo e relaxei. Algo mais brando, porém não menos forte, indignação, substituiu a raiva. Ou senão, os leitores que me imaginam acometida de algo próximo a uma mania conspiratória respondam-me, por favor, POR QUE CARGAS D'ÁGUA UM FILME SOBRE CUBA E FIDEL CASTRO FICOU APENAS UMA SEMANA EM CARTAZ, EM PLENA ÉPOCA DE POSSÍVEL FIM DO REGIME PELA MORTE DO DITADOR. Não, é inadmissível, de qualquer ângulo a partir do qual se olhe. É contraproducente e antimarqueteiro. É loucura. Digam o que disserem, foram os fidelistas midiáticos deste país que impediram o filme de obter a publicidade e o alcance que merecia. E acreditem-me, no Brasil, esses fidelistas são legião. Se eu não fosse cristã, certamente os xingaria aqui. Porém, a cegueira na qual estão mergulhados talvez seja castigo suficiente para seu autoritarismo.
Falei com alguns amigos, mas ninguém podia ir ao cinema no meio da semana. Algo como um bichinho incomodando, que agora chamo intuição, dizia-me para ir ver o filme o mais rápido possível. Quase fui na quinta-feira, mas estava cansada e o horário era apertado, entre aulas. Corria o risco de chegar atrasada e ficaria nervosa durante o filme. Decidi que iria sem hesitar no sábado, após minha aula matinal. Essa decisão me deixou cheia de expectativas, e não pude evitar o pensamento de que havia anos, talvez, que não me sentia tão radiante com a promessa de um filme.
Sábado, lá fui eu. Havia um shopping perto do cinema, onde almocei e comprei um casaco lindo que estava em promoção. "Pode fazer frio lá dentro, e eu sou muito friorenta", foi a desculpa. Cheguei lá quarenta minutos antes de o filme começar, pensando no café delicioso e na livraria bonitinha que fazem parte da mesma galeria. Qual não foi a minha decepção quando a funcionária, muito solícita, informou que o filme não estava mais em cartaz.
- Mas não é possível. Eu vi no jornal essa semana!
- Pois é, mas ficou só uma semana mesmo.
- Saiu quando?
- Quinta-feira.
Depois de alguns comentários raivosos sobre a esquerda fidelista brasileira, deixei o cinema com lágrimas nos olhos. Se pudesse, escreveria este post com toda a raiva que me consumia então. Mas decidi não estragar meu sábado e guardei para depois. Vi algumas coisas agradáveis na TV a cabo e relaxei. Algo mais brando, porém não menos forte, indignação, substituiu a raiva. Ou senão, os leitores que me imaginam acometida de algo próximo a uma mania conspiratória respondam-me, por favor, POR QUE CARGAS D'ÁGUA UM FILME SOBRE CUBA E FIDEL CASTRO FICOU APENAS UMA SEMANA EM CARTAZ, EM PLENA ÉPOCA DE POSSÍVEL FIM DO REGIME PELA MORTE DO DITADOR. Não, é inadmissível, de qualquer ângulo a partir do qual se olhe. É contraproducente e antimarqueteiro. É loucura. Digam o que disserem, foram os fidelistas midiáticos deste país que impediram o filme de obter a publicidade e o alcance que merecia. E acreditem-me, no Brasil, esses fidelistas são legião. Se eu não fosse cristã, certamente os xingaria aqui. Porém, a cegueira na qual estão mergulhados talvez seja castigo suficiente para seu autoritarismo.
06 agosto 2006
O Esnobe I
O Esnobe é o lado Mr. Hyde que possuem muitos daqueles que gostam de se dizer "intelectuais". Ou, pelo menos, é uma troça que faço comigo mesma e com meus semelhantes.
Assim, O Esnobe poderá fazer declarações ou pensar frases como essa:
- Não perco meu tempo discutindo com quem não coloca vírgula em vocativo!
Ou secretamente morrer de vergonha porque alguém do meio acadêmico descobriu que ele já viu uma novela da Globo, leu um Paulo Coelho, ouve um rock-pop bobinho...
No fundo, é alguém muito carente, que mesmo sem perceber acaba usando seus conhecimentos para impressionar e cativar. Tem um certo horror da idéia de ter sua imagem arranhada, de ser impopular, mesmo quando está com a razão. Ou, do contrário, pode cultivar um certo gosto em contrariar, chocar, zombar dos outros, tudo para mostrar o quanto não se importa com o que pensam dele (quando, no fundo, importa-se, e muito). É o lado imaturo, oculto, do homem ou da mulher de letras, filosofia, história, cultura. Quanto mais conseguirmos rir dele, mais nos liberaremos de seus transbordamentos indevidos.
Flor de Obsessão também é auto-ajuda! :-)
Assim, O Esnobe poderá fazer declarações ou pensar frases como essa:
- Não perco meu tempo discutindo com quem não coloca vírgula em vocativo!
Ou secretamente morrer de vergonha porque alguém do meio acadêmico descobriu que ele já viu uma novela da Globo, leu um Paulo Coelho, ouve um rock-pop bobinho...
No fundo, é alguém muito carente, que mesmo sem perceber acaba usando seus conhecimentos para impressionar e cativar. Tem um certo horror da idéia de ter sua imagem arranhada, de ser impopular, mesmo quando está com a razão. Ou, do contrário, pode cultivar um certo gosto em contrariar, chocar, zombar dos outros, tudo para mostrar o quanto não se importa com o que pensam dele (quando, no fundo, importa-se, e muito). É o lado imaturo, oculto, do homem ou da mulher de letras, filosofia, história, cultura. Quanto mais conseguirmos rir dele, mais nos liberaremos de seus transbordamentos indevidos.
Flor de Obsessão também é auto-ajuda! :-)
Fidel e Cristo, nada a ver
Saiu uma matéria excelente no Mídia sem Máscara sobre o crescimento das igrejas em Cuba apesar das limitações impostas pelo coma andante Fidel Castro. Há vários aspectos a destacar no texto, mas fico com um deles, que me chamou a atenção quando li o seguinte trecho:
Missionários americanos que trabalham em Cuba bem como pastores cubanos relataram para a revista Charisma recentemente que o reavivamento cristão tem atingido até mesmo a família de Fidel. (...) Os relatos também revelam que grande número de autoridades do governo cubano está se convertendo e deixando seus empregos no governo comunista.
Não posso evitar a pergunta: por que o cristão cubano sabe que seguir a Cristo e ser comunista são excludentes, enquanto tantos cristãos brasileiros não só se dizem comunistas, mas expressam abertamente sua admiração por Fidel? Simples: porque lá, em Cuba, o comunismo é vivido e mostrado sem os falsos adornos de um falso cristianismo. Afinal, eles já chegaram à revolução - modalidade truculenta, não gramscista. Nós estamos imersos no caldo grosso do gramscismo, do marxismo cultural, em que todo híbrido posa de criatura possível, apesar de horrenda aberração. Creia em Cristo e no comunismo, e sua fé não passará disso: um híbrido natimorto, um ser impossível, gerador da tremenda violência para o espírito que consiste em afirmar e negar a transcendência ao mesmo tempo.
Missionários americanos que trabalham em Cuba bem como pastores cubanos relataram para a revista Charisma recentemente que o reavivamento cristão tem atingido até mesmo a família de Fidel. (...) Os relatos também revelam que grande número de autoridades do governo cubano está se convertendo e deixando seus empregos no governo comunista.
Não posso evitar a pergunta: por que o cristão cubano sabe que seguir a Cristo e ser comunista são excludentes, enquanto tantos cristãos brasileiros não só se dizem comunistas, mas expressam abertamente sua admiração por Fidel? Simples: porque lá, em Cuba, o comunismo é vivido e mostrado sem os falsos adornos de um falso cristianismo. Afinal, eles já chegaram à revolução - modalidade truculenta, não gramscista. Nós estamos imersos no caldo grosso do gramscismo, do marxismo cultural, em que todo híbrido posa de criatura possível, apesar de horrenda aberração. Creia em Cristo e no comunismo, e sua fé não passará disso: um híbrido natimorto, um ser impossível, gerador da tremenda violência para o espírito que consiste em afirmar e negar a transcendência ao mesmo tempo.
02 agosto 2006
A morte de Fidel Castro
Sei que é pecado desejar a morte de alguém. Mas, quando a morte de alguém é um sinal alvissareiro do fim do sofrimento de muitas pessoas, continua sendo pecado?
Eis que estou com o mesmo dilema por que deve ter passado o pastor Dietrich Bonhoeffer... resolvido com a decisão de participar do assassinato de Hitler.
Jamais, espero, pretenderei participar do assassinato de quem quer que seja, mas não deixo de me sentir um pouco cúmplice – uma cúmplice calada, introspectiva, pudica – da doença de Fidel, ao não conseguir deixar de desejar sua morte. Participo assim um pouquinho, dessa maneira discretíssima (sem falar nada a ninguém e sem sentir uma verdadeira satisfação interior), da esperança dos cubanos diante do desenlace final que poderá abreviar mais de 40 anos de cerceamento do ir-e-vir, sentinelas do pensamento, pobreza generalizada, mortes e prisões arbitrárias. São as máculas de Fidel, que o acompanham por onde quer que ele vá e lhe legam o justo e terrível apelido, na ilha, de coma andante: um espírito de quase morte não só carrega seu corpo, mas transborda e se espalha feito nuvem negra desde 1957, abatendo-se sobre os 17 mil cubanos fuzilados pelo governo, os outros que feneceram de fome e sede em masmorras cujo número ninguém sabe, os outros tantos que morreram em alto-mar buscando liberdade em Miami, os cristãos oprimidos por prisões e autoritarismos (não podem reunir-se, evangelizar e construir igrejas livremente), os que um dia cooperaram com o regime mas se arrependeram e lutam, a altos preços, pela liberação da ilha.
Desses últimos, destaco um nome, Hilda Molina, neurocirurgiã cubana que se levantou contra o tráfico de órgãos humanos e passou a ser perseguida por sua dissidência do regime castrista. Segundo a Folha de São Paulo de 25/07, Hilda tem um filho na Argentina e o próprio presidente Kirchner intercedeu pessoalmente junto a Fidel por ela, em um evento em Córdoba mês passado, para obter do ditador uma permissão de viajar. Fidel fechou a cara para o líder argentino e até hoje não respondeu. Impiedoso para com os "rebeldes", o governo cubano fez algo terrível a ela: privou-lhe de sua aposentadoria, obrigando-a a viver do lauto salário da mãe, 160 pesos (o equivalente a oito dólares por mês). Não satisfeito com isso, ameaça agora privar-lhe da presença do filho, de valor emocional incalculável.
Leio esses casos – quem quiser receber notícias como essa, é só se inscrever na Frente Universitária Lepanto – e minha indignação aumenta. O que desejar para o monstro Fidel, responsável pelo encarceramento e pela vida miserável, quando não pela morte miserável, de um povo tão gentil e festivo quanto o cubano? O arrependimento, em primeiro lugar. Mas, se tal não ocorrer, que Deus o leve, pela alforria de um povo inteiro e pela vitória da vida e da liberdade. Oro então: Senhor, liberta Cuba e os cubanos da ditadura castrista. Se para isso for preciso a morte de Fidel Castro, que seja. Tu o sabes. Obrigada. Amém.
Eis que estou com o mesmo dilema por que deve ter passado o pastor Dietrich Bonhoeffer... resolvido com a decisão de participar do assassinato de Hitler.
Jamais, espero, pretenderei participar do assassinato de quem quer que seja, mas não deixo de me sentir um pouco cúmplice – uma cúmplice calada, introspectiva, pudica – da doença de Fidel, ao não conseguir deixar de desejar sua morte. Participo assim um pouquinho, dessa maneira discretíssima (sem falar nada a ninguém e sem sentir uma verdadeira satisfação interior), da esperança dos cubanos diante do desenlace final que poderá abreviar mais de 40 anos de cerceamento do ir-e-vir, sentinelas do pensamento, pobreza generalizada, mortes e prisões arbitrárias. São as máculas de Fidel, que o acompanham por onde quer que ele vá e lhe legam o justo e terrível apelido, na ilha, de coma andante: um espírito de quase morte não só carrega seu corpo, mas transborda e se espalha feito nuvem negra desde 1957, abatendo-se sobre os 17 mil cubanos fuzilados pelo governo, os outros que feneceram de fome e sede em masmorras cujo número ninguém sabe, os outros tantos que morreram em alto-mar buscando liberdade em Miami, os cristãos oprimidos por prisões e autoritarismos (não podem reunir-se, evangelizar e construir igrejas livremente), os que um dia cooperaram com o regime mas se arrependeram e lutam, a altos preços, pela liberação da ilha.
Desses últimos, destaco um nome, Hilda Molina, neurocirurgiã cubana que se levantou contra o tráfico de órgãos humanos e passou a ser perseguida por sua dissidência do regime castrista. Segundo a Folha de São Paulo de 25/07, Hilda tem um filho na Argentina e o próprio presidente Kirchner intercedeu pessoalmente junto a Fidel por ela, em um evento em Córdoba mês passado, para obter do ditador uma permissão de viajar. Fidel fechou a cara para o líder argentino e até hoje não respondeu. Impiedoso para com os "rebeldes", o governo cubano fez algo terrível a ela: privou-lhe de sua aposentadoria, obrigando-a a viver do lauto salário da mãe, 160 pesos (o equivalente a oito dólares por mês). Não satisfeito com isso, ameaça agora privar-lhe da presença do filho, de valor emocional incalculável.
Leio esses casos – quem quiser receber notícias como essa, é só se inscrever na Frente Universitária Lepanto – e minha indignação aumenta. O que desejar para o monstro Fidel, responsável pelo encarceramento e pela vida miserável, quando não pela morte miserável, de um povo tão gentil e festivo quanto o cubano? O arrependimento, em primeiro lugar. Mas, se tal não ocorrer, que Deus o leve, pela alforria de um povo inteiro e pela vitória da vida e da liberdade. Oro então: Senhor, liberta Cuba e os cubanos da ditadura castrista. Se para isso for preciso a morte de Fidel Castro, que seja. Tu o sabes. Obrigada. Amém.
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