Um esforço, com a graça de Deus, de recolocar o cristianismo na via dos debates intelectuais. Não por pedantismo ou orgulho, mas por uma necessidade quase física de dar nomes às minhas intuições e contornar o status quo das idéias hegemônicas deste mundo.
31 dezembro 2005
História triste de bailarinos
Eles se viam ao longe e já se amavam. Admiravam o contraste recíproco dos gestos - doces, para a bailarina, viris, para o bailarino - e ansiavam por dançar juntos um dia.
Naquele que seria, finalmente, seu primeiro ensaio com a bailarina, o bailarino, muito nervoso, subiu ao palco percebendo-se de súbito despreparado e sem vigor suficiente para uma dança com ela. Não lhe disse nada, mas levou adiante seus movimentos e intenções de movimentos. A bailarina, no entanto, sentiu a hesitação do parceiro. Diante disso, ela se viu invadida por um ímpeto de indignação e não se furtou a continuar a dança, mas quis intensificá-la lançando-se com fúria na direção do bailarino para que ele a tomasse nos braços e a transportasse pelo ar. Assustado com a força desmedida da parceira em sua direção, o bailarino não pôde erguê-la graciosamente, mas a conteve com as mãos estendidas, interrompendo toda promessa de movimento conjunto. Tão rápido quanto começou, o ensaio estava terminado.
Depois do esforço, a bailarina confessou que não poderia ter agido diferente, pois precisava da segurança do parceiro para continuar dançando com leveza. Com os dedos machucados, o bailarino prometeu a si mesmo que jamais dançaria com ela novamente. Ela acha que ele poderia tê-la segurado apesar do impulso desmedido; ele crê que ela não poderia ter saltado para ele daquele jeito. Separaram-se sem compreenderem exatamente no que consistira o drama. Ainda se admiram e se amam ao longe, mas já não ousam dançar juntos. Ele ainda esfrega os dedos de nervoso, ela teme ser deixada no chão quando queria voar em seus braços.
28 dezembro 2005
Protestantes e católicos
À parte algumas diferenças doutrinais importantes, muitos evangélicos crêem que há católicos salvos (e vice-versa). Incluo-me entre tais evangélicos. Porém, uma experiência recente me fez chegar a uma conclusão: não há como ter uma comunhão tão profunda entre os cristãos dos dois "braços" como há entre os cristãos de mesma igreja. Infelizmente. Há concessões muito pesadas para ambos os lados.
É significativo que o papa João Paulo II tenha afirmado sobre os protestantes que eles são "nossos irmãos separados". Filhos de mesma mãe, sim, mas para os católicos a mãe é a Santa Igreja. Esta é a questão: para os católicos, os protestantes serão sempre os filhos ingratos, que saíram do lar e rejeitaram a própria Mãe. A coisa só piora se pensamos em Maria, a quem não prestamos a mesma reverência que eles. E que filho teria uma boa convivência com um irmão que negou seu berço em comum? De onde, para minha tristeza, concluo: um católico sincero não pode ver com bons olhos seu irmão separado protestante. Podem sair para almoçar de vez em quando, podem trocar conversas agradáveis sobre Deus, podem até ser excelentes amigos; mas há limites dolorosos que não devem ser ultrapassados. Portanto, projetos em comum, só até certo ponto. As diferenças surgirão fatalmente e eles terão que fazer como Barnabé e Paulo, que se separaram no trabalho de evangelização por não concordarem em alguns pontos, ainda que não centrais para a fé cristã.
Sobre casamentos entre protestantes e católicos? Não me perguntem; para funcionar, talvez um dos dois deva ceder bem mais que o outro. Ou seja: se ambos forem fervorosos e convictos adeptos de sua fé, não dá jeito. Não há coração aberto que resolva isso. Só no céu, acredito. O que não é solução, mas consolo.
É significativo que o papa João Paulo II tenha afirmado sobre os protestantes que eles são "nossos irmãos separados". Filhos de mesma mãe, sim, mas para os católicos a mãe é a Santa Igreja. Esta é a questão: para os católicos, os protestantes serão sempre os filhos ingratos, que saíram do lar e rejeitaram a própria Mãe. A coisa só piora se pensamos em Maria, a quem não prestamos a mesma reverência que eles. E que filho teria uma boa convivência com um irmão que negou seu berço em comum? De onde, para minha tristeza, concluo: um católico sincero não pode ver com bons olhos seu irmão separado protestante. Podem sair para almoçar de vez em quando, podem trocar conversas agradáveis sobre Deus, podem até ser excelentes amigos; mas há limites dolorosos que não devem ser ultrapassados. Portanto, projetos em comum, só até certo ponto. As diferenças surgirão fatalmente e eles terão que fazer como Barnabé e Paulo, que se separaram no trabalho de evangelização por não concordarem em alguns pontos, ainda que não centrais para a fé cristã.
Sobre casamentos entre protestantes e católicos? Não me perguntem; para funcionar, talvez um dos dois deva ceder bem mais que o outro. Ou seja: se ambos forem fervorosos e convictos adeptos de sua fé, não dá jeito. Não há coração aberto que resolva isso. Só no céu, acredito. O que não é solução, mas consolo.
27 dezembro 2005
Marx logofóbico
Não é à-toa que as teorias modernas em voga nas áreas humanas, sempre imanentistas, costumam ter um pezinho ancorado no marxismo. De acordo com Eric Voegelin, Karl Marx teria sido o responsável por um verdadeiro sistema doutrinário-religioso, centrado em um logos "intramundano", ou seja, na divinização do homem e na auto-salvação.
Segundo Voegelin, Marx afirma que sua dialética supera a de Hegel. Porém, para o autor, na prática Marx ignora conscientemente em seus escritos o problema hegeliano da realidade, recusando-se a teorizar. Ou seja, onde ele diz que é "anti-hegeliano", está sendo apenas antifilosófico, tão antifilosófico como a grande maioria das (anti)filosofias ditas "modernas" - que também recusam-se a lidar com o problema da realidade e, conseqüentemente, do conhecimento. Pretendem-se teorias e de fato teorizam, mas seu conteúdo costuma tratar da impossibilidade de teorizar - decorrente da impossibilidade de conhecer a realidade, decorrente, por sua vez, do niilismo que se apossou da filosofia desde o século XVIII, inspirado por Descartes, que inaugura a dúvida radical ao deslocar o mundo (a realidade) e o homem, separando-os. Pretensamente fora da realidade, flutuando em um espaço vazio de dúvidas criadas por sua mente, o antifilósofo descrê em tudo - menos em seu próprio pensamento, autor da dúvida. O que ele pensa passa a ser a realidade última, e tudo que vê e experiencia é mergulhado definitivamente em uma nuvem de irrealidade. A mente do antifilósofo é seu Deus, e em sua direção o mundo se curva devotadamente.
Marx foi um dos apóstolos desse Deus, ensinando a milhares que o mundo não passa de matéria moldável pela mente. Não admira que tenha ajudado a implantar sistemas que atribuíram tão pouco valor à vida humana: se o mundo se curva ao Deus-pensamento, as pessoas que passam pela nossa janela podem muito bem ser apenas projeções de nossa imaginação... Assim é a gênese de um sistema teórico que promove a autoglorificação como meta - um modo de ser que a todo instante precisa negar qualquer experiência de limitação humana, um ilusionismo perpétuo.
Por isso Voegelin trata a teoria marxista como antifilosofia e logofobia - uma aversão a conceitos que hoje está muito viva e atuante através da ênfase moderna na inexistência da verdade. Voegelin não exagerava ao dizer que Marx possuía uma verdadeira doença espiritual, caracterizada pela revolta da consciência imanente contra a ordem espiritual do mundo. Pois bem, essa doença é altamente contagiosa. Um cristão que siga Marx está abrindo portais gigantescos para sérios danos à sua mente e à sua fé.
Este post foi inspirado nos excertos de Voegelin publicados pelo blog Simply the Truth.
Mais sobre Descartes aqui.
Segundo Voegelin, Marx afirma que sua dialética supera a de Hegel. Porém, para o autor, na prática Marx ignora conscientemente em seus escritos o problema hegeliano da realidade, recusando-se a teorizar. Ou seja, onde ele diz que é "anti-hegeliano", está sendo apenas antifilosófico, tão antifilosófico como a grande maioria das (anti)filosofias ditas "modernas" - que também recusam-se a lidar com o problema da realidade e, conseqüentemente, do conhecimento. Pretendem-se teorias e de fato teorizam, mas seu conteúdo costuma tratar da impossibilidade de teorizar - decorrente da impossibilidade de conhecer a realidade, decorrente, por sua vez, do niilismo que se apossou da filosofia desde o século XVIII, inspirado por Descartes, que inaugura a dúvida radical ao deslocar o mundo (a realidade) e o homem, separando-os. Pretensamente fora da realidade, flutuando em um espaço vazio de dúvidas criadas por sua mente, o antifilósofo descrê em tudo - menos em seu próprio pensamento, autor da dúvida. O que ele pensa passa a ser a realidade última, e tudo que vê e experiencia é mergulhado definitivamente em uma nuvem de irrealidade. A mente do antifilósofo é seu Deus, e em sua direção o mundo se curva devotadamente.
Marx foi um dos apóstolos desse Deus, ensinando a milhares que o mundo não passa de matéria moldável pela mente. Não admira que tenha ajudado a implantar sistemas que atribuíram tão pouco valor à vida humana: se o mundo se curva ao Deus-pensamento, as pessoas que passam pela nossa janela podem muito bem ser apenas projeções de nossa imaginação... Assim é a gênese de um sistema teórico que promove a autoglorificação como meta - um modo de ser que a todo instante precisa negar qualquer experiência de limitação humana, um ilusionismo perpétuo.
Por isso Voegelin trata a teoria marxista como antifilosofia e logofobia - uma aversão a conceitos que hoje está muito viva e atuante através da ênfase moderna na inexistência da verdade. Voegelin não exagerava ao dizer que Marx possuía uma verdadeira doença espiritual, caracterizada pela revolta da consciência imanente contra a ordem espiritual do mundo. Pois bem, essa doença é altamente contagiosa. Um cristão que siga Marx está abrindo portais gigantescos para sérios danos à sua mente e à sua fé.
Este post foi inspirado nos excertos de Voegelin publicados pelo blog Simply the Truth.
Mais sobre Descartes aqui.
18 dezembro 2005
Mensagem de Natal
"Não peço que os tire do mundo, e sim que os guarde do mal", roga Jesus ao Pai pouco antes de ser entregue às autoridades para ir à cruz, conforme nos narra João (17:15). Ele sabia que o que estava pedindo era indissociável de Seu ato de amor, ao oferecer-se voluntariamente para matar os pecados da humanidade com Sua própria morte. Sem Ele, jamais poderíamos alcançar esse estar no mundo sem ser do mundo – como Ele mesmo descreve Sua trajetória até ali.
Não podemos aceitar o mundo sem reservas, por causa do mal que encontramos nele; também não podemos recusá-lo por completo, pois isto seria recusar a própria existência. No entanto, sem Jesus o homem se vê obrigado a uma das alternativas: conformar-se ao mundo (tomar sua forma, explica-nos o apóstolo Paulo) e perder-se, perdendo a capacidade de discernir e ser diferente; ou desistir de tudo e sair do mundo, seja pela via direta do suicídio, seja pelos caminhos mais doces da fantasia indolente, das drogas, das utopias mortíferas, do isolamento, do trabalho excessivo, do sexo sem freios. E, ainda que não recorramos a nenhuma dessas maneiras brandas de autodestruição, sem Jesus somos do mundo mesmo quando queremos fugir do mundo, pois de alguma forma nos vemos obrigados a recorrer ao que nos está disponível, alinhando-nos na frente que tivemos de escolher por pura inevitabilidade.
No entanto, Jesus nos oferece algo que não está no mundo, mas se coloca infinitamente superior a tudo que nos é apresentado aqui – Ele mesmo, a transcendência verdadeira e pessoal. Com Ele a saída do dilema não se dá nem por um sempre desvantajoso pacto com o mal, nem por dissolução ou morte auto-infligida. Dá-se, sim, por morte simbólica: ao morrer concretamente na cruz e ressuscitar em seguida, Jesus nos convida a traçarmos com Ele o mesmo processo de morte e ressurreição. A morte simbólica de que sofremos é a morte para o mal que há no mundo – é o que a Bíblia quer dizer com "morrer para o mundo". A ressurreição é um renascimento em Cristo – é o que a Bíblia quer dizer com "viver para Ele". É assim que não recusamos a existência, mas a aceitamos como mortos para o mundo, ao matarmos em nós as duas pontas da idolatria e deixarmos de enxergar na não-transcendência o ápice de nossos desejos. Em Jesus, morrem a concupiscência e a soberba: desaparecem tanto o idólatra que compactua avidamente com o mal, olhando a tudo com olhos cobiçosos – como se esta fosse a realidade última – , quanto o desiludido que a tudo desdenha, de olhos que nada mais amam.
É Jesus quem nos livra desses dois extremos ao realizar essa tremenda façanha: dar-nos meios de matar em nós o cobiçoso e transformar o soberbo no amador, o que ama apesar, assim como o próprio Deus nos amou. Por isso dizemos com Paulo que, ao morrer para o mundo, não somos nós mesmos que vivemos, mas Cristo vive em nós. E, como Ele é a própria vida, sabemos que só Nele temos a vida plena e verdadeira.
Que neste Natal o Verbo que se fez carne realize mais uma vez o milagre do nascimento no homem que está perdido, e que renove em todos nós de modo maravilhoso as esperanças do amor incondicional – Seu grande e insubstituível presente para a humanidade.
Não podemos aceitar o mundo sem reservas, por causa do mal que encontramos nele; também não podemos recusá-lo por completo, pois isto seria recusar a própria existência. No entanto, sem Jesus o homem se vê obrigado a uma das alternativas: conformar-se ao mundo (tomar sua forma, explica-nos o apóstolo Paulo) e perder-se, perdendo a capacidade de discernir e ser diferente; ou desistir de tudo e sair do mundo, seja pela via direta do suicídio, seja pelos caminhos mais doces da fantasia indolente, das drogas, das utopias mortíferas, do isolamento, do trabalho excessivo, do sexo sem freios. E, ainda que não recorramos a nenhuma dessas maneiras brandas de autodestruição, sem Jesus somos do mundo mesmo quando queremos fugir do mundo, pois de alguma forma nos vemos obrigados a recorrer ao que nos está disponível, alinhando-nos na frente que tivemos de escolher por pura inevitabilidade.
No entanto, Jesus nos oferece algo que não está no mundo, mas se coloca infinitamente superior a tudo que nos é apresentado aqui – Ele mesmo, a transcendência verdadeira e pessoal. Com Ele a saída do dilema não se dá nem por um sempre desvantajoso pacto com o mal, nem por dissolução ou morte auto-infligida. Dá-se, sim, por morte simbólica: ao morrer concretamente na cruz e ressuscitar em seguida, Jesus nos convida a traçarmos com Ele o mesmo processo de morte e ressurreição. A morte simbólica de que sofremos é a morte para o mal que há no mundo – é o que a Bíblia quer dizer com "morrer para o mundo". A ressurreição é um renascimento em Cristo – é o que a Bíblia quer dizer com "viver para Ele". É assim que não recusamos a existência, mas a aceitamos como mortos para o mundo, ao matarmos em nós as duas pontas da idolatria e deixarmos de enxergar na não-transcendência o ápice de nossos desejos. Em Jesus, morrem a concupiscência e a soberba: desaparecem tanto o idólatra que compactua avidamente com o mal, olhando a tudo com olhos cobiçosos – como se esta fosse a realidade última – , quanto o desiludido que a tudo desdenha, de olhos que nada mais amam.
É Jesus quem nos livra desses dois extremos ao realizar essa tremenda façanha: dar-nos meios de matar em nós o cobiçoso e transformar o soberbo no amador, o que ama apesar, assim como o próprio Deus nos amou. Por isso dizemos com Paulo que, ao morrer para o mundo, não somos nós mesmos que vivemos, mas Cristo vive em nós. E, como Ele é a própria vida, sabemos que só Nele temos a vida plena e verdadeira.
Que neste Natal o Verbo que se fez carne realize mais uma vez o milagre do nascimento no homem que está perdido, e que renove em todos nós de modo maravilhoso as esperanças do amor incondicional – Seu grande e insubstituível presente para a humanidade.
16 dezembro 2005
Ainda "outro deus" e a tarefa de minha vida
Mataram o blog Outro Deus (ou deus). Eu e outros leitores perguntamos por quê, mas não fomos respondidos. Os dois pastores disseram que "aprenderam lições", mas não explicaram quais... Bom, eu, que não me conformo de ter perdido esse espaço de discussão (que prometia), vou ter de me contentar com explanar mais sobre o que já foi dito. (Ok, isso é uma ironiazinha boba.) Falei pouco sobre o post de Gondim que trata da Bíblia, e acho que o assunto merece mais. Vamos lá. (O que ele escreveu está em vermelho.)
1. A Bíblia não pode ser lida cientificamente. É preciso aprender a lê-la como narrativa simbólica da história, mítica e poética.
Até aí, tudo bem. O cartesianismo - que originou o pensamento científico - é ruim para a filosofia e para qualquer reflexão teológica, porque separa o racional do emocional, a mente do coração, o sujeito que pensa da coisa pensada, engendrando oposições falsas. E a Bíblia é mesmo recheada de símbolos, sobretudo Gênesis, Jó, Cantares. Mas essa afirmação deveria ter sido matizada, porque há uma grande distância, por exemplo, entre o livro de Cantares e as cartas de Paulo. Não há como ler as cartas de Paulo como "narrativa simbólica da história, mítica e poética", porque são textos argumentativos com um objetivo muito preciso: conclusões teóricas e práticas do AT e dos ensinamentos de Jesus. Paulo fez um esforço maravilhoso para sistematizar o que Cristo ensinou oralmente aos apóstolos, alicerçando a fé e a justificação na graça de Deus e ampliando Suas palavras para a organização da igreja, a vida conjugal, o trato com os irmãos. Os textos argumentativos falam mais à mente que à imaginação, organizando e estruturando o pensamento. Se tiverem conteúdos "simbólicos e míticos", eles visam a reforçar uma idéia, não constituindo a característica principal desse tipo de texto.
O esforço de tornar os Livros Sagrados um só texto é irreal. Não se pode querer fazer Abraão concordar com Paulo, e nem o Qohélet - Eclesiastes - com Tiago. A Bíblia não é só um livro, mas vários e eles não são homogêneos entre si. Seus autores discordam em vários assuntos.
Aqui já temos cheirinho de heresia. Se a Bíblia não é só um livro (o que aliás é ridículo, pois ela é, sim: senão, teríamos que desmontá-la toda), seguem-se várias conclusões que abalam o que estrutura nossa fé: por que ler a Bíblia como um livro só (começo e fim)? por que considerar a Bíblia Palavra de Deus, se ela contém contradições? Se eu levar esse raciocínio ao absurdo - isto é, for até o fim em todas as suas possíveis conclusões - , acabarei afirmando que não vale a pena crer em Cristo, porque a Bíblia inteira aponta para Cristo: se ela não é "uma só", as palavras contidas nela podem muito bem estar todas erradas, e eu estou perdendo meu tempo acreditando ter vindo da parte de Deus um livro que é apenas de homens. Em resumo: questionar a unidade da Bíblia é questionar a revelação divina sobre os homens que a escreveram. Desmonta todo o alicerce da nossa fé. Depois disso, como assistir tranqüilamente a uma pregação de Gondim, visto que ele vai abrir a Bíblia lá na frente crendo que ela não é uma só? Não sei se ele pensou direitinho em todas as conclusões possíveis do que afirmou.
2. A Bíblia não é um livro que se propõe uma revelação codificada e sistematizada de Deus. Ela mostra as percepções de pessoas, tribos, povos e, principalmente, do povo judeu sobre o cuidado de Deus para com seu povo. Ela não revela como Deus construiu a história, mas como os homens o fizeram e como Deus não os abandonou quando agiram mal. Muitas vezes, a compreensão do povo sobre Deus se mostrará ambígua, porque os homens são contraditórios.
"Codificada e sistematizada" realmente não, porque ela não é um tratado de filosofia - ela é bem mais que isso, pois um tratado de filosofia só pode apresentar conceitos, enquanto a Bíblia se propõe a apresentar uma pessoa: Deus, na figura de Jesus Cristo. A revelação de Deus na Bíblia é a revelação de uma pessoa que se apresenta aos homens, dizendo e fazendo coisas fantásticas. As "percepções" dos homens na Bíblia apontam todas para o Deus que hoje pudemos conhecer: onisciente, onipresente, onipotente, apaixonado pela humanidade, bom, gracioso, misericordioso, tardio para irar-se e disposto até a morrer por nós. Tais percepções se unem naquilo que é importante sabermos de Deus, e nisso a Bíblia é de uma unidade impressionante. Toda ambigüidade só se encontra na cabeça de Gondim, que, tal como Voltaire sobre uma tragédia de seu tempo, ficou questionando os desígnios de Deus sobre o Tsunami: "Como pôde um Deus de amor permitir uma coisa dessas?" Ora, bastava ele ir à Bíblia, que ele vê como fragmentária, e se render à evidência: o Deus do AT e o Deus do NT são um só. Deus é ao mesmo tempo criador e pai. Ele nos criou, Ele dispõe de nós como quer, de acordo com Sua infinita sabedoria. Trememos diante do criador e quedamos tranqüilos diante do Pai: eles são a mesma pessoa, mas com esses dois aspectos, que não são opostos, mas complementares. "Deus deu, Deus tomou: bendito seja o nome do Senhor." Como pode a compreensão de Deus Pai abalar a compreensão do Deus criador? Não entendo: para mim, são um só, e se um dia Ele resolvesse fazer um Tsunami na minha vida, eu seria muito burra de questionar Seu amor e bondade. Eu sofreria muito, tal como Jó, mas lhe pediria todos os dias para me explicar o sentido daquele Tsunami, em um esforço de integrá-lo na compreensão de minha vida como um todo.
3. A essência do ser de Deus continua um mistério para a humanidade. O que se conhece é seu cuidado - pathos - divino. Portanto, toda especulação sobre o ser absoluto de Deus deve ser considerada apenas especulação.
Gondim sofre de uma doença do pensamento, descrita por John M. Ellis em Literature Lost como "lógica do tudo ou nada". Nesse raciocínio ela se expressa assim: “se eu não posso saber tudo sobre Deus, logo tudo o que disser sobre Ele não passará de mera especulação”. O caminho do meio - posso não saber tudo sobre Ele, mas algo de objetivo e verdadeiro é possível saber - não lhe passa pela cabeça. Não admira: Ellis expõe essa lógica para afirmar que todo o pensamento moderno está tomado por ela. Os principais autores da modernidade teórica têm a mente estragada por essa incapacidade de enxergar nuances, e por isso dizem e repetem besteiras sem fim como "a verdade não existe", "tudo é subjetivo", "o sentido nunca é um só" etc. etc. Leio e ouço isso há mais de dez anos de educação superior. Ora, Gondim gosta de Marx, Nietzsche, Freud, Sartre "e outros"; Gondim se afina com a Teologia da Libertação; logo...
Mas não preciso ir tão longe: basta dizer que "especulação sobre o ser absoluto de Deus" faz tanto sentido como "especulação sobre o ser absoluto de Norma Braga". Uma pessoa está aí para ser conhecida, não para se oferecer como objeto teórico. Gondim, se você puder me ler agora, entenda, por favor, algo que tem sido uma conclusão minha depois de anos estudando os autores modernos: a fragmentação da modernidade não é um antídoto para o cartesianismo. Os autores modernos propõem que seja assim, mas não é. A modernidade apenas aprofunda o fosso que Descartes cavou, só que, em vez de exaltar a razão, como era antes, resolve exaltar o outro lado, o lado desprezado pelo cartesianismo. A única coisa que enfrenta o cartesianismo com vigor é a unificação daquilo que ele separou. É saber que o universal não prescinde do particular, o objetivo do subjetivo, o abstrato do concreto, mas que são duas pontas da estrutura do pensamento humano. Escolher uma delas é aleijar a mente. Veja: a modernidade escolhe sempre o particular, o subjetivo, o concreto. É por isso que ela aceita um Deus pessoal, mas não um Deus que traz princípios morais objetivos para a humanidade. É por isso que hoje entendemos com facilidade um Deus de amor, mas não um Deus irado (antigamente era o oposto). É por isso que precisamos, hoje, com a mente de Cristo (presente da salvação), jogar fora esse lixo moderno que é apenas a doença vista por outro lado, e trabalhar com a pessoalidade de mãos dadas com a universalidade. Precisamos elaborar teoricamente, com a ajuda de outros autores, aquilo que restabelece a saúde do pensamento e dá suporte à nossa fé, para nosso próprio bem e o bem de muitos que virão depois de nós. Se Deus assim o quiser e permitir, essa será a tarefa de minha vida.
1. A Bíblia não pode ser lida cientificamente. É preciso aprender a lê-la como narrativa simbólica da história, mítica e poética.
Até aí, tudo bem. O cartesianismo - que originou o pensamento científico - é ruim para a filosofia e para qualquer reflexão teológica, porque separa o racional do emocional, a mente do coração, o sujeito que pensa da coisa pensada, engendrando oposições falsas. E a Bíblia é mesmo recheada de símbolos, sobretudo Gênesis, Jó, Cantares. Mas essa afirmação deveria ter sido matizada, porque há uma grande distância, por exemplo, entre o livro de Cantares e as cartas de Paulo. Não há como ler as cartas de Paulo como "narrativa simbólica da história, mítica e poética", porque são textos argumentativos com um objetivo muito preciso: conclusões teóricas e práticas do AT e dos ensinamentos de Jesus. Paulo fez um esforço maravilhoso para sistematizar o que Cristo ensinou oralmente aos apóstolos, alicerçando a fé e a justificação na graça de Deus e ampliando Suas palavras para a organização da igreja, a vida conjugal, o trato com os irmãos. Os textos argumentativos falam mais à mente que à imaginação, organizando e estruturando o pensamento. Se tiverem conteúdos "simbólicos e míticos", eles visam a reforçar uma idéia, não constituindo a característica principal desse tipo de texto.
O esforço de tornar os Livros Sagrados um só texto é irreal. Não se pode querer fazer Abraão concordar com Paulo, e nem o Qohélet - Eclesiastes - com Tiago. A Bíblia não é só um livro, mas vários e eles não são homogêneos entre si. Seus autores discordam em vários assuntos.
Aqui já temos cheirinho de heresia. Se a Bíblia não é só um livro (o que aliás é ridículo, pois ela é, sim: senão, teríamos que desmontá-la toda), seguem-se várias conclusões que abalam o que estrutura nossa fé: por que ler a Bíblia como um livro só (começo e fim)? por que considerar a Bíblia Palavra de Deus, se ela contém contradições? Se eu levar esse raciocínio ao absurdo - isto é, for até o fim em todas as suas possíveis conclusões - , acabarei afirmando que não vale a pena crer em Cristo, porque a Bíblia inteira aponta para Cristo: se ela não é "uma só", as palavras contidas nela podem muito bem estar todas erradas, e eu estou perdendo meu tempo acreditando ter vindo da parte de Deus um livro que é apenas de homens. Em resumo: questionar a unidade da Bíblia é questionar a revelação divina sobre os homens que a escreveram. Desmonta todo o alicerce da nossa fé. Depois disso, como assistir tranqüilamente a uma pregação de Gondim, visto que ele vai abrir a Bíblia lá na frente crendo que ela não é uma só? Não sei se ele pensou direitinho em todas as conclusões possíveis do que afirmou.
2. A Bíblia não é um livro que se propõe uma revelação codificada e sistematizada de Deus. Ela mostra as percepções de pessoas, tribos, povos e, principalmente, do povo judeu sobre o cuidado de Deus para com seu povo. Ela não revela como Deus construiu a história, mas como os homens o fizeram e como Deus não os abandonou quando agiram mal. Muitas vezes, a compreensão do povo sobre Deus se mostrará ambígua, porque os homens são contraditórios.
"Codificada e sistematizada" realmente não, porque ela não é um tratado de filosofia - ela é bem mais que isso, pois um tratado de filosofia só pode apresentar conceitos, enquanto a Bíblia se propõe a apresentar uma pessoa: Deus, na figura de Jesus Cristo. A revelação de Deus na Bíblia é a revelação de uma pessoa que se apresenta aos homens, dizendo e fazendo coisas fantásticas. As "percepções" dos homens na Bíblia apontam todas para o Deus que hoje pudemos conhecer: onisciente, onipresente, onipotente, apaixonado pela humanidade, bom, gracioso, misericordioso, tardio para irar-se e disposto até a morrer por nós. Tais percepções se unem naquilo que é importante sabermos de Deus, e nisso a Bíblia é de uma unidade impressionante. Toda ambigüidade só se encontra na cabeça de Gondim, que, tal como Voltaire sobre uma tragédia de seu tempo, ficou questionando os desígnios de Deus sobre o Tsunami: "Como pôde um Deus de amor permitir uma coisa dessas?" Ora, bastava ele ir à Bíblia, que ele vê como fragmentária, e se render à evidência: o Deus do AT e o Deus do NT são um só. Deus é ao mesmo tempo criador e pai. Ele nos criou, Ele dispõe de nós como quer, de acordo com Sua infinita sabedoria. Trememos diante do criador e quedamos tranqüilos diante do Pai: eles são a mesma pessoa, mas com esses dois aspectos, que não são opostos, mas complementares. "Deus deu, Deus tomou: bendito seja o nome do Senhor." Como pode a compreensão de Deus Pai abalar a compreensão do Deus criador? Não entendo: para mim, são um só, e se um dia Ele resolvesse fazer um Tsunami na minha vida, eu seria muito burra de questionar Seu amor e bondade. Eu sofreria muito, tal como Jó, mas lhe pediria todos os dias para me explicar o sentido daquele Tsunami, em um esforço de integrá-lo na compreensão de minha vida como um todo.
3. A essência do ser de Deus continua um mistério para a humanidade. O que se conhece é seu cuidado - pathos - divino. Portanto, toda especulação sobre o ser absoluto de Deus deve ser considerada apenas especulação.
Gondim sofre de uma doença do pensamento, descrita por John M. Ellis em Literature Lost como "lógica do tudo ou nada". Nesse raciocínio ela se expressa assim: “se eu não posso saber tudo sobre Deus, logo tudo o que disser sobre Ele não passará de mera especulação”. O caminho do meio - posso não saber tudo sobre Ele, mas algo de objetivo e verdadeiro é possível saber - não lhe passa pela cabeça. Não admira: Ellis expõe essa lógica para afirmar que todo o pensamento moderno está tomado por ela. Os principais autores da modernidade teórica têm a mente estragada por essa incapacidade de enxergar nuances, e por isso dizem e repetem besteiras sem fim como "a verdade não existe", "tudo é subjetivo", "o sentido nunca é um só" etc. etc. Leio e ouço isso há mais de dez anos de educação superior. Ora, Gondim gosta de Marx, Nietzsche, Freud, Sartre "e outros"; Gondim se afina com a Teologia da Libertação; logo...
Mas não preciso ir tão longe: basta dizer que "especulação sobre o ser absoluto de Deus" faz tanto sentido como "especulação sobre o ser absoluto de Norma Braga". Uma pessoa está aí para ser conhecida, não para se oferecer como objeto teórico. Gondim, se você puder me ler agora, entenda, por favor, algo que tem sido uma conclusão minha depois de anos estudando os autores modernos: a fragmentação da modernidade não é um antídoto para o cartesianismo. Os autores modernos propõem que seja assim, mas não é. A modernidade apenas aprofunda o fosso que Descartes cavou, só que, em vez de exaltar a razão, como era antes, resolve exaltar o outro lado, o lado desprezado pelo cartesianismo. A única coisa que enfrenta o cartesianismo com vigor é a unificação daquilo que ele separou. É saber que o universal não prescinde do particular, o objetivo do subjetivo, o abstrato do concreto, mas que são duas pontas da estrutura do pensamento humano. Escolher uma delas é aleijar a mente. Veja: a modernidade escolhe sempre o particular, o subjetivo, o concreto. É por isso que ela aceita um Deus pessoal, mas não um Deus que traz princípios morais objetivos para a humanidade. É por isso que hoje entendemos com facilidade um Deus de amor, mas não um Deus irado (antigamente era o oposto). É por isso que precisamos, hoje, com a mente de Cristo (presente da salvação), jogar fora esse lixo moderno que é apenas a doença vista por outro lado, e trabalhar com a pessoalidade de mãos dadas com a universalidade. Precisamos elaborar teoricamente, com a ajuda de outros autores, aquilo que restabelece a saúde do pensamento e dá suporte à nossa fé, para nosso próprio bem e o bem de muitos que virão depois de nós. Se Deus assim o quiser e permitir, essa será a tarefa de minha vida.
14 dezembro 2005
"outro deus"?
Os pastores Ed René Kivitz e Ricardo Gondim, badaladíssimos no meio evangélico, fundaram um blog em conjunto, chamado - sob os suspeitíssimos e aterrorizantes auspícios de Marx, Freud, Nietszche, Sartre e "outros caras do tipo" - de outro deus (não sei se com maiúscula ou minúscula). Já gostei de ler os dois autores em minha adolescência como cristã. Hoje, eu o fiz por um dever de consciência. Um dia, alguém poderá apontar tristemente para indícios da vilipendiação da fé evangélica no Brasil usando esse blog como exemplo. Mas eu ainda espero que isso não aconteça.
Post de Ricardo Gondim: Pistas para pensar com novas categorias
Não é fácil sair da caixa e olhar de fora para dentro. As bitolas do pensamento religioso são demasiado rígidas. Entendo que essa inflexibilidade seja necessária para que a fé não descambe para o bizarro ou para o caricaturato. Entretanto, ela pode engessar a razão e impedir que se caminhe para as fronteiras.Se crer também é pensar, sentir-se livre para raciocinar enriquece a fé.Algumas pistas para que o evangelicalismo brasileiro ouse pensar sua fé com novas categorias.1. A Bíblia não pode ser lida cientificamente. É preciso aprender a lê-la como narrativa simbólica da história, mítica e poética. O esforço de tornar os Livros Sagrados um só texto é irreal. Não se pode querer fazer Abraão concordar com Paulo, e nem o Qohélet - Eclesiastes - com Tiago. A Bíblia não é só um livro, mas vários e eles não são homogêneos entre si. Seus autores discordam em vários assuntos.2. A Bíblia não é um livro que se propõe uma revelação codificada e sistematizada de Deus. Ela mostra as percepções de pessoas, tribos, povos e, principalmente, do povo judeu sobre o cuidado de Deus para com seu povo. Ela não revela como Deus costruiu a história, mas como o homens o fizeram e como Deus não os abandonou quando agiram mal. Muitas vezes, a compreensão do povo sobre Deus se mostrará ambígua, porque os homens são contraditórios.3. A essência do ser de Deus continua um mistério para a humanidade. O que se conhece é seu cuidado - pathos - divino. Portanto, toda especulação sobre o ser absoluto de Deus deve ser considerada apenas especulação. Os antropomorfismos, tais como paternidade, amizade, cuidado pastoral, se expressaram plenamente na encarnação. A mais alvissareira notícia do cristianismo não é que Jesus seja a imagem de Deus, mas que Deus é a imagem de Jesus.
Meu comentário (Norma):
Hã? Isto significa que, embora devamos encarar a Bíblia como nosso livro de fé e inspiração divina - afinal, foi ela que nos trouxe a revelação e as palavras de Jesus Cristo - , não podemos nos esquecer de que: "Ela mostra as percepções de pessoas, tribos, povos e, principalmente, do povo judeu sobre o cuidado de Deus para com seu povo. Muitas vezes a compreensão do povo sobre Deus se mostrará ambígua, porque os homens são contraditórios." Como assim? Contraditório é esse post. Não consigo deixar de ver nessa confusão mental o previsível resultado da leitura de autores da modernidade (Nietzsche, Sartre, Marx, Foucault). Na teologia isso não se resolve, porque o relativismo sobre a Palavra é a própria negação da teologia. Afinal, se a Bíblia é mais expressão de homens que palavra de Deus, para quê vou devotar a ela maior importância que a Nietszche ou Sartre? Como um pastor sério pode crer nisso? Prefiro o epíteto "fundamentalista": pelo menos, posso me livrar do cartesianismo sem muita dificuldade, ao passo que o relativismo é pior que um vício de droga injetável.
Post de Ed René Kivitz: E DEUS COM ISSO?
Deus para outro mundo possível. Foi o tema discutido no Fórum Mundial de Teologia da Libertação em janeiro de 2005, em Porto Alegre, RS. A expressão “outro mundo possível” substitui a velha disputa entre capitalismo e socialismo, que durou quase dois séculos. Desde a queda do muro de Berlim, já não faz mais sentido falar da sociedade socialista como alternativa à sociedade capitalista, e como ninguém encontrou uma palavra para colocar no lugar de “socialismo”, o lema é “outro mundo possível”. O fato é que há um desejo latente de que este “outro mundo” apareça, trazendo a superação dos abismos que separam a Califórnia do Piauí.Colocar Deus nesta discussão é um ato atrevido. Muita gente acredita que teologia tem pouco a ver com economia, e religião tem quase nada a ver com política. Mas isso revela uma ingenuidade, para não dizer ignorância, pois deixar de incluir Deus nas discussões a respeito de política e economia é jogar Deus para o ostracismo histórico, num canto remoto chamado céu e num tempo abstrato chamado eternidade.Vivemos dias (e já não é de hoje) em que Deus é chamado ao banco dos réus do processo histórico. Deus está associado aos fundamentalismos (cristão, judeu e muçulmano), e é também usado para justificar guerras chamadas de santas, sustentar teorias econômicas e estados injustos, obstacular o avanço científico, legitimar o atual império do planeta.A teologia deve sim estar a serviço de outro mundo possível. Deve ser capaz de descrever, numa espécie de avant-premiere, o reino de Deus, o novo céu e a nova terra, sob pena de ser taxada de diletantismo.A religião deve sim oferecer caminhos que recoloquem o ser humano na rota da vida, livre de culpas, medos e preconceitos. Deve promover justiça, paz e solidariedade, sob pena de assinar embaixo, admitindo ser mesmo "ópio do povo".Um outro mundo possível: Deus tem tudo a ver com isso.
Meu comentário (Norma):
Dizer que a expressão "um outro mundo possível" substitui a velha disputa entre capitalismo e socialismo em vez de representar este último é um mascaramento do que ocorre no Brasil - se consciente ou não, não sei. Vejamos: 1) O Brasil vive debaixo de um pensamento predominantemente de esquerda nas universidades, onde o marxismo é o solo frutífero para a quase totalidade das teorias de áreas de humanas; 2) No Brasil, "capitalista" ou "de direita" há muito viraram xingamento; 3) Livros didáticos de história vêm há anos inspirando o ódio aos EUA e a condescendência a guerrilhas e movimentos tais como o MST; 4) A igreja não se aparta de nada disso: os discursos dos pastores com maior evidência nos círculos evangélicos - além dos próprios Gondim e Kivitz, donos deste blog, também o Caio Fabio, o Ariovaldo (que tem o mérito de deixar claras publicamente suas posições de esquerda) - costumam não fazer diferença a nada do que foi dito acima. Isto posto, gostaria muito que o nome fosse recolocado no boi: o post deu a impressão de que há uma desejada "neutralidade" no desejo de um "outro mundo possível", quando é, mais uma vez, a velha agenda socialista que se impõe, com todos os seus velhos pressupostos.
Incrível: caem-me nas mãos cada vez mais evidências de que relativismo e esquerdismo são gêmeos siameses, e que na modernidade um nunca dá o ar de sua graça sem o outro. Se Deus permitir, um dia a igreja evangélica brasileira vai perceber isso.
Post de Ricardo Gondim: Pistas para pensar com novas categorias
Não é fácil sair da caixa e olhar de fora para dentro. As bitolas do pensamento religioso são demasiado rígidas. Entendo que essa inflexibilidade seja necessária para que a fé não descambe para o bizarro ou para o caricaturato. Entretanto, ela pode engessar a razão e impedir que se caminhe para as fronteiras.Se crer também é pensar, sentir-se livre para raciocinar enriquece a fé.Algumas pistas para que o evangelicalismo brasileiro ouse pensar sua fé com novas categorias.1. A Bíblia não pode ser lida cientificamente. É preciso aprender a lê-la como narrativa simbólica da história, mítica e poética. O esforço de tornar os Livros Sagrados um só texto é irreal. Não se pode querer fazer Abraão concordar com Paulo, e nem o Qohélet - Eclesiastes - com Tiago. A Bíblia não é só um livro, mas vários e eles não são homogêneos entre si. Seus autores discordam em vários assuntos.2. A Bíblia não é um livro que se propõe uma revelação codificada e sistematizada de Deus. Ela mostra as percepções de pessoas, tribos, povos e, principalmente, do povo judeu sobre o cuidado de Deus para com seu povo. Ela não revela como Deus costruiu a história, mas como o homens o fizeram e como Deus não os abandonou quando agiram mal. Muitas vezes, a compreensão do povo sobre Deus se mostrará ambígua, porque os homens são contraditórios.3. A essência do ser de Deus continua um mistério para a humanidade. O que se conhece é seu cuidado - pathos - divino. Portanto, toda especulação sobre o ser absoluto de Deus deve ser considerada apenas especulação. Os antropomorfismos, tais como paternidade, amizade, cuidado pastoral, se expressaram plenamente na encarnação. A mais alvissareira notícia do cristianismo não é que Jesus seja a imagem de Deus, mas que Deus é a imagem de Jesus.
Meu comentário (Norma):
Hã? Isto significa que, embora devamos encarar a Bíblia como nosso livro de fé e inspiração divina - afinal, foi ela que nos trouxe a revelação e as palavras de Jesus Cristo - , não podemos nos esquecer de que: "Ela mostra as percepções de pessoas, tribos, povos e, principalmente, do povo judeu sobre o cuidado de Deus para com seu povo. Muitas vezes a compreensão do povo sobre Deus se mostrará ambígua, porque os homens são contraditórios." Como assim? Contraditório é esse post. Não consigo deixar de ver nessa confusão mental o previsível resultado da leitura de autores da modernidade (Nietzsche, Sartre, Marx, Foucault). Na teologia isso não se resolve, porque o relativismo sobre a Palavra é a própria negação da teologia. Afinal, se a Bíblia é mais expressão de homens que palavra de Deus, para quê vou devotar a ela maior importância que a Nietszche ou Sartre? Como um pastor sério pode crer nisso? Prefiro o epíteto "fundamentalista": pelo menos, posso me livrar do cartesianismo sem muita dificuldade, ao passo que o relativismo é pior que um vício de droga injetável.
Post de Ed René Kivitz: E DEUS COM ISSO?
Deus para outro mundo possível. Foi o tema discutido no Fórum Mundial de Teologia da Libertação em janeiro de 2005, em Porto Alegre, RS. A expressão “outro mundo possível” substitui a velha disputa entre capitalismo e socialismo, que durou quase dois séculos. Desde a queda do muro de Berlim, já não faz mais sentido falar da sociedade socialista como alternativa à sociedade capitalista, e como ninguém encontrou uma palavra para colocar no lugar de “socialismo”, o lema é “outro mundo possível”. O fato é que há um desejo latente de que este “outro mundo” apareça, trazendo a superação dos abismos que separam a Califórnia do Piauí.Colocar Deus nesta discussão é um ato atrevido. Muita gente acredita que teologia tem pouco a ver com economia, e religião tem quase nada a ver com política. Mas isso revela uma ingenuidade, para não dizer ignorância, pois deixar de incluir Deus nas discussões a respeito de política e economia é jogar Deus para o ostracismo histórico, num canto remoto chamado céu e num tempo abstrato chamado eternidade.Vivemos dias (e já não é de hoje) em que Deus é chamado ao banco dos réus do processo histórico. Deus está associado aos fundamentalismos (cristão, judeu e muçulmano), e é também usado para justificar guerras chamadas de santas, sustentar teorias econômicas e estados injustos, obstacular o avanço científico, legitimar o atual império do planeta.A teologia deve sim estar a serviço de outro mundo possível. Deve ser capaz de descrever, numa espécie de avant-premiere, o reino de Deus, o novo céu e a nova terra, sob pena de ser taxada de diletantismo.A religião deve sim oferecer caminhos que recoloquem o ser humano na rota da vida, livre de culpas, medos e preconceitos. Deve promover justiça, paz e solidariedade, sob pena de assinar embaixo, admitindo ser mesmo "ópio do povo".Um outro mundo possível: Deus tem tudo a ver com isso.
Meu comentário (Norma):
Dizer que a expressão "um outro mundo possível" substitui a velha disputa entre capitalismo e socialismo em vez de representar este último é um mascaramento do que ocorre no Brasil - se consciente ou não, não sei. Vejamos: 1) O Brasil vive debaixo de um pensamento predominantemente de esquerda nas universidades, onde o marxismo é o solo frutífero para a quase totalidade das teorias de áreas de humanas; 2) No Brasil, "capitalista" ou "de direita" há muito viraram xingamento; 3) Livros didáticos de história vêm há anos inspirando o ódio aos EUA e a condescendência a guerrilhas e movimentos tais como o MST; 4) A igreja não se aparta de nada disso: os discursos dos pastores com maior evidência nos círculos evangélicos - além dos próprios Gondim e Kivitz, donos deste blog, também o Caio Fabio, o Ariovaldo (que tem o mérito de deixar claras publicamente suas posições de esquerda) - costumam não fazer diferença a nada do que foi dito acima. Isto posto, gostaria muito que o nome fosse recolocado no boi: o post deu a impressão de que há uma desejada "neutralidade" no desejo de um "outro mundo possível", quando é, mais uma vez, a velha agenda socialista que se impõe, com todos os seus velhos pressupostos.
Incrível: caem-me nas mãos cada vez mais evidências de que relativismo e esquerdismo são gêmeos siameses, e que na modernidade um nunca dá o ar de sua graça sem o outro. Se Deus permitir, um dia a igreja evangélica brasileira vai perceber isso.
12 dezembro 2005
O caso Roe vs. Wade
Para quem não acompanhou na época, o caso Roe vs. Wade foi uma acirrada batalha jurídica nos Estados Unidos, que se iniciou no Texas e culminou na descriminalização do aborto em todo o país. O desfecho do caso escancarou portas para que as mulheres pudessem facilmente se desembaraçar de seus filhos indesejáveis, anestesiando de uma só vez a consciência de muitos americanos.
Mas nem todo mundo sabe que, recentemente, descobriu-se que o caso é uma farsa do começo ao fim. Henry Wade era um fiscal de Dallas, e Jane Roe, cujo nome verdadeiro é Norma McCorvey, foi estimulada por advogadas inescrupulosas a lutar pelo direito de abortar no Texas. Ela chegou a inventar que havia sido estuprada, o que finalmente funcionara para lhe dar a vitória na Justiça, em janeiro de 1973, mas já era tarde demais para realizar o aborto. Hoje ela se regozija com o aborto não praticado, 25 anos depois: convertida ao catolicismo, Jane abandonou sua militância de abortista e confessou corajosamente que havia mentido para acelerar o processo na Justiça. Mais corajosamente ainda, em janeiro deste ano, ela entrou com uma petição no Supremo Tribunal para pedir a reversão da sentença do caso, apresentando o testemunho legítimo de mais de mil mulheres abaladas psicologicamente pelo aborto e 5.300 páginas de evidências médicas. Ela conta isso tudo em seu livro Won by Love ("Vencida pelo Amor").
A história do caso Roe vs. Wade começa assim, de forma triste e desonesta, para terminar de um modo maravilhoso: com o arrependimento da moça, sua confissão pública e atos concretos para reverter o que tinha feito. Esse é o legítimo arrependimento, que gera frutos de justiça. Como diz a Bíblia, é o Espírito que nos convence do pecado, da justiça e do juízo - de fato, só mesmo Deus pode levar alguém ao arrependimento de forma tão extraordinária quanto levou Jane, a ponto de fazê-la voltar atrás em mentiras tão antigas. Ele a fortaleceu para que ela colocasse a verdade acima de tudo: acima das conquistas no plano social, da fama, do próprio nome.
A parte triste é o quanto as pessoas comprometidas com a agenda politicamente correta (e demoníaca) podem usar de golpes tão baixos para conseguir seus intentos. É preciso que fiquemos de olhos abertos. Essa votação do aborto no Brasil pode estar sendo tão adiada, imagino, por alguma razão espúria. Precisamos pedir a Deus sem cessar para que isso não vingue e continuar alertando as pessoas para que pressionem os políticos que ainda se dizem indecisos.
Embora eu nunca tenha sido a favor do aborto, uma coisa tenho em comum com minha xará: a conversão ao cristianismo também significou uma grande virada na minha vida. Sem Deus, hoje eu estaria destruída, simplesmente.
Veja um trecho de sua entrevista:
- Por que motivo abandonou a causa que vinha defendendo durante vinte anos?
- Simplesmente compreendi que não podemos pegar e tirar a vida de uma criança, e isso não apenas para nós, que cremos em Deus. Na primeira vez em que fui à igreja, num sábado à noite, estava acompanhada de duas garotas pequenas, e senti que devia pertencer àquela comunidade e renegar tudo.
- Você se arrepende de tudo o que fez?
- Por sorte, não cheguei a abortar. Hoje aconselho mulheres desesperadas. A minha missão na vida é ajudá-las e evitar que abortem.
- Você não admite o direito ao aborto em nenhuma hipótese, nem em casos de estupro ou perigo para a vida da mulher?
- Não, não há nenhuma diferença. Continua a ser um assassinato, de um jeito ou de outro.
Leia uma entrevista de Norma McCorvey à Priests for Life (em inglês)
Leia mais sobre o caso Roe vs. Wade (em espanhol/em inglês)
Acompanhe o processo no Brasil
09 dezembro 2005
Querem nos calar
Como muitos evangélicos, não simpatizo com a figura do Bispo Edir Macedo. A Igreja Universal usa de práticas estranhas ao protestantismo para atrair gente, os pedidos de dinheiro nos cultos são sempre excessivos e o ensino da Bíblia é sempre insuficiente, quando não errado.
No entanto, com freqüência me incomodavam as falas insistentes e raivosas contra ele e a Universal. Eu me abstinha de me unir ao círculo do linchamento verbal porque sabia que a coisa não ia prestar: um dia, alguém ia se aproveitar da impopularidade de Macedo para fazer algo muito ruim não só com a igreja dele, mas com todas as igrejas evangélicas.
Pois fizeram. Deu no Estado de São Paulo: "Todos os exemplares do livro Orixás, Caboclos e Guias, deuses ou demônios, do bispo Edir Macedo, deverão ser retirados de circulação imediatamente. A determinação é do desembargador Souza Prudente, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, que manteve liminarmente decisão de primeira instância. (...) Segundo o Ministério Público Federal, a obra de Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, incita a segregação religiosa e a intolerância às religiões afro-brasileiras. No livro, argumenta o Ministério Público, os seguidores destas religiões são tidos como seguidores do demônio."
Essa última frase, acusativa, é um absurdo. Nós evangélicos não cremos que "os seguidores de religiões 'afro' são seguidores do demônio", como se o umbandista fosse um satanista assumido. Isso, sim, seria preconceituoso e ofensivo. Nós cremos conforme nosso livro de fé ensina. É só ler a Bíblia para descobrir que, cada vez que um anjo fala com alguém, é fora do corpo de uma pessoa (como Maria ao receber a anunciação do nascimento de Jesus); cada vez que um espírito se vale do corpo de alguém para se expressar, ele é tido como "espírito enganador", "impuro" ou "imundo", conforme os relatos da Bíblia, e é sempre expulso por Jesus ou pelos apóstolos (Jesus mandando uma legião sair de um homem e correr para uma manada de porcos, por exemplo). Não estou inventando nada: está no Livro Sagrado.
Assim, longe de ser um preconceito com os adeptos desses cultos, trata-se das implicações da adesão a uma verdade, verdade evangélica (dos Evangelhos), que agora querem nos fazer calar. Os evangélicos querem ser fiéis à Bíblia e ao que o protestantismo historicamente sempre ensinou. Num país tomado por essas práticas de consulta a espíritos que se expressam através dos corpos das pessoas, como vamos falar da verdade sem incluir esse tema? Impossível. Agora, ouve quem quer, compra o livro quem quer. Nem eu nem nenhum outro evangélico pode obrigar ninguém a abrir mão do que acredita. Mas querem nos melindrar, sob o argumento falacioso do politicamente correto, impedindo-nos de falar toda a verdade sobre o que cremos. Para preservar os ouvidos de quem não precisa nos ouvir, calaram nossa boca.
Ah, OK: você não é evangélico, não gosta dos evangélicos e não está nem aí para essa decisão do Tribunal? Cuidado! A decisão é seriíssima e coloca o Brasil a um passinho de formiga rumo à aplicação maciça dos preceitos politicamente corretos nas obras já em circulação – quaisquer obras. O monstro da censura vai ficar cada vez mais voraz. Leiam o restinho da matéria com a explicação do juiz, que relativiza a liberdade de expressão: "As liberdades públicas não são incondicionais e a liberdade de expressão especificamente não se revela em termos absolutos, como garantia constitucional, mas deve ser exercida, nos limites do princípio da proporcionalidade, proibindo os excessos nocivos à salvaguarda do núcleo essencial de outros diretos fundamentais, como no caso em exame." Isso significa que, agora, qualquer um vai poder alegar "excessos nocivos à salvaguarda de direitos fundamentais" (quanta subjetividade!) para calar quem quer que seja, quando caberia ao incomodado ou ofendido se defender por outros meios – escrevendo outros livros, indo a jornais, por exemplo – , não por essa maneira covarde cala-te-boca. Mas o politicamente correto sempre estimula a covardia, bem como o ódio insensato e as ações arbitrárias, punitivas. É assim que a vigilância ressentida, animosa, começa a dar o tom nas relações entre os brasileiros.
Você quer viver em um país assim? EU NÃO. Portanto, comece a temer: a decisão não diz respeito apenas aos evangélicos, sequer apenas aos religiosos, mas a todos nós.
Em tempo: se nós evangélicos fôssemos correr para clamar a punição de quem nos destrata, acusa e difama há anos, não só em livros mas em todos os veículos midiáticos do Brasil, teríamos um trabalho danado. André Petry nos chamando de "racistas" na revista Veja, por exemplo, sem que um pio seja dado em nosso favor. Racistas porque cremos na Bíblia e não aceitamos como portadores da verdade os espíritos que se manifestam em cultos afro? Será que esse jornalista estava em seu juízo perfeito ao fazer tal raciocínio tronchíssimo? Por favor!
O que querem esses juízes, afinal? Censurar a própria Bíblia? Capaz!
04 dezembro 2005
Se eu encontrasse Nick Drake...
...eu me sentaria no chão a seu lado, de mãos dadas, e tentaria lhe retribuir todo o silêncio que recebi de sua música.
Sou uma flor de obsessão também musical: tenho fases imensas em que ouço de maneira preferencial, quase meditativa, um só músico, um cd ou dois do mesmo músico. Passou a fase (que durou quase dois anos) de Renaissance, inaugurou-se a fase de Nick Drake - especialmente o belíssimo Bryter Layter, com piano, contrabaixo e flauta acompanhando a voz e o violão de Nick. Mas Renaissance provocava um barulhão dentro de mim, deixava-me em contínuo estado de alerta existencial. Nick Drake me abre um lugar de silêncio, de onde posso entrever um toquezinho de Deus aqui, um trançar delicado de Seus dedos ali. Silêncio de espera, mas uma espera quase mágica. Descanso.
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